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Braguil e Paris

«A história mostrou-nos que, nas movimentações demográficas, sempre foi a hegemonia dos falantes por unidade geográfica que definiu idiomas, acentos e sotaques. A exponencialidade do aumento da “demografia brasileira” em Portugal antecipa uma nova era normativa para a língua portuguesa.»
«“O futuro da língua portuguesa e a sua grande potência é o Brasil”. Precisará de Portugal?»
[postA língua brasileira é «língua oficial de Portugal»”]
[José Manuel Diogo, Presidente da Associação Portugal Brasil 200 anos, director da Câmara Luso Brasileira de Comércio e Indústria e “curador” (?) da Casa da Cidadania da Língua]

Pode-se dizer que Braga encantou pela empatia. Consciente, ou não, percebeu-se que a diáspora brasileira de profissionais de todos os perfis era uma possibilidade de acolhimento. Em uma cidade que já comemora o Carnaval com bloco brasileiro e colocou ecrã em praça pública para ver a final entre Flamengo e RiverPlate, na Libertadores da América de 2019, a sensação que fica é que o fim da pandemia descortinará um mundo de possibilidades dessa renovada conexão entre os países. [DN]

Braguil, essa fusão entre Braga e Brasil, que se materializou num crescimento muito significativo, e é um sotaque que se está presente em todas as nossas vivências do cotidiano: quando vamos ao café, quando vamos a um evento cultural, quando vamos ao supermercado. Hoje temos escolas em que um terço de uma turma pode ser de alunos brasileiros”, revela. [RFI]

A comunidade brasileira continua a crescer em Braga. Universidade do Minho e segurança justificam a preferência. Tanto a nível nacional, como numa recente reportagem do Globo, a câmara tem apelado a este movimento em direcção à cidade minhota. Contrariando a tendência nacional, a cidade de Braga tem vindo a crescer em termos populacionais. Segundo os dados preliminares dos Censos 2021, Braga terá, actualmente, mais de 193 mil habitantes. Um ouvido atento pelas ruas da cidade bastará para constatar a forte presença brasileira na cidade dos arcebispos, uma escolha que contribui para este aumento demográfico. [“Público”]
Fruto de cinco movimentos distintos de brasileiros na direção da antiga potência colonial ocorridos nos últimos cinquenta anos — o mais numeroso deles justamente nos últimos meses —, uma onda de transformações está sacudindo a sociedade portuguesa e incutindo nela uma maneira de viver, de falar, de lidar com as redes sociais e de morar com nítido sotaque dos trópicos. “A absorção de hábitos e do jeito dos brasileiros nunca foi tão intensa. O que começou com a influência de livros, novelas e música tomou a forma de um impacto maciço em todos os segmentos da vida”, observa o brasileiro Victor Barros, professor de sistemas de informação na Universidade do Minho, em Guimarães, no norte de Portugal e próximo a Braga — ou Braguil, como a cidade é chamada, de tanta gente do Brasil que foi parar lá. [“Veja” (Brasil)]

Portugal está a envelhecer e só a imigração em massa poderá retardar o processo (note-se o sublinhado), servindo a “redução da emigração” como contribuição (outro sublinhado) para esse retardamento. Quanto ao retorno de nacionais, nada de concreto, e no que diz respeito a, por exemplo, medidas de incentivo à natalidade, outro tanto, ou seja, nada. O objectivo político confunde-se com uma espécie de wishful thinking; muito à portuguesa, bem ao jeito do nacional chico-espertismo, será portanto a velha política do “deixa andar e depois logo se “.
[
…E a “igualdade” demográfica – 01.02.23]

Emigração jovem: esta cidade já é conhecida como a “segunda capital de Portugal”

Milhares de jovens qualificados têm deixado Portugal devido aos salários baixos e à falta de oportunidades. A taxa de emigração é de 30%, a mais alta da Europa. Há quem considere que Portugal tem melhorado, mas também quem admita ter desistido do país.

Guilherme Monteiro
“SIC Notícias”, 22.01.24

Em Paris, há quem diga, em tom de brincadeira, que a cidade é uma segunda capital de Portugal. Vivem em Paris mais de 200.000 portugueses, e os que chegam mais recentemente vêm com qualificações cada vez mais altas.

João Cardoso, formado em Economia, decidiu, há sete anos, fundar uma start-up de seguros digitais – a Lovys – com um conceito inovador. Os clientes chamam-lhe a “a Spotify ou a Netflix dos seguros”.

As subscrições são mensais, 100% digital, basta aceder ao site para assegurar em minutos a casa, o animal de estimação ou o smartphone, e já mais de 45.000 clientes o fizeram. Emprega 55 pessoas de dezenas de nacionalidades. Opera também em Portugal, onde tem escritórios em Leiria, Lisboa e Porto, mas a sede ficou em França.

Filipe gostava de viver em Portugal, mas não vê como

A economia portuguesa ainda não consegue fixar jovens como Filipe Freitas, dentista, que logo após acabar o curso mudou-se para França, onde está há cerca de dois anos.

“Um jovem acabado de chegar consegue ganhar quatro vezes mais que em Portugal nos primeiros meses. Esse valor pode duplicar ao final de um ano”, diz Filipe, que gostaria de viver em Portugal, mas não vê como.

Esta é uma das razões que leva Portugal a ter a maior taxa de emigração da Europa: 30% dos jovens entre os 18 e 39 anos que nasceram no país saíram, segundo uma estimativa do Observatório da Emigração revelada este mês pelo jornal Expresso.

E longe das origens, os jovens emigrados parecem dividir-se entre os que já desistiram do país e os que ainda têm esperança.

Há famílias inteiras, novos e velhos, portugueses e imigrantes a viver na Gare do Oriente

“Observador”, 30.01.24

Esqueça a imagem de caixas de cartão a fazer a vez de cobertores e o estereótipo dos pacotes de vinho vazios ao lado de um corpo adormecido. Aqui há “camas” com várias mantas, almofadas bordadas, cestos cheios de medicamentos e produtos de higiene. E, ainda, frascos de perfume e roupões de quarto. (mais…)

A língua do Brasil é a brasileira

Language is a structured system of communication that consists of grammar and vocabulary. It is the primary means by which humans convey meaning, both in spoken and written forms, and may also be conveyed through sign languages. The vast majority of human languages have developed writing systems that allow for the recording and preservation of the sounds or signs of language. Human language is characterized by its cultural and historical diversity, with significant variations observed between cultures and across time.[1] Human languages possess the properties of productivity and displacement, which enable the creation of an infinite number of sentences, and the ability to refer to objects, events, and ideas that are not immediately present in the discourse. The use of human language relies on social convention and is acquired through learning. [Wikipedia]

 

Diz a autora do “post”: «That was exactly what happened to the Portuguese.»Pois foi exactamente o que aconteceu com os portugueses.»)

Bem, não exactamente. Não existe “língua americana”, mas existe — de facto, se bem que (ainda) não oficialmente — língua brasileira. A Língua inglesa é a nacional, adoptada federalmente e instituída nos 50 estados da República Federativa dos Estados Unidos da América do Norte (USA). Salvas as devidas e naturais diferenças de sotaque e mesmo de algum vocabulário específico entre os estados mais a Norte em relação aos do Sul e daqueles mais próximos da costa atlântica, a Leste, face aos da costa do Pacífico, a Oeste, a Gramática da Língua falada e escrita nos USA é a do Inglês canónico — aliás, comum a todas as ex-colónias da Coroa britânica

Isto não sucede, de todo, com a língua brasileira; por motivos políticos e consoante as respectivas incidências históricas (processo de independência, influências linguístico-culturais externas e internas, fluxos migratórios, convulsões geoestratégicas, organização social etc.), a Língua da antiga potência colonial sofreu um processo de erosão, primeiro, de re-construção (não confundir com reconstrução), a seguir, e de pura e simples destruição, por fim, da matriz linguística original. Hoje em dia, a língua brasileira é simultaneamente tão parecida e tão diferente do Português como o são o Galego, o Crioulo de Cabo Verde (por exemplo) ou até o Papiamento, o Patuá ou qualquer dos outros crioulos de base portuguesa espalhados pelo mundo.

Não existem, por conseguinte, a não ser nos discursos de brasileiristas e na conversa fiada de “linguistas” e “especialistas” a soldo (e em saldo), outras “variantes” do Português — Língua oficial — além das de Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe; ou seja, nos PALOP. Os casos de Timor-Leste, de Macau e mesmo da antiga “Índia portuguesa” não entram na categoria de “variantes”, dadas as suas exiguidade e particularidade.

O factor comum, logo, unificador, logo, identitário, é o mesmo que regula os vastíssimos e imensamente diversificados espaços da Commonwealth e, também mas não de igual forma, da Francophonie: a Gramática é comum, o vernáculo é estável (se não o fosse, não seria vernáculo), a ortografia — suportando apenas variações pontuais e de pormenor — a mesma. Nada disto sucede com a língua brasileira, o que, pela própria noção conceptual, exclui liminarmente e por definição sequer a possibilidade de aquilo ser uma “variante” da Língua Portuguesa.

Por mais cambalhotas “linguísticas”, por mais malabarismos neo-imperialistas e por mais vigarices que marionetas a soldo (“linguistas”, “académicos”) tentem impingir a papalvos, a verdade é que já nem Jorge Amado ou Chico Buarque, nem Machado de Assis ou José Mauro de Vasconcelos, nem Olavo Bilac ou Jô Soares conseguirão reverter ou ao menos parar o processo — aliás tão natural como a própria marcha da História — de… rompimento linguístico: será mera questão de tempo até que a Língua Brasileira seja oficialmente reconhecida como “língua de trabalho” da ONU e finalmente assumida pelos poderes políticos instituídos no Brasil e em Portugal como sendo aquilo que na realidade o Português e o Brasileiro já são: línguas diferentes. Uma, filha do Latim, europeia e adoptada por alguns países africanos; a outra, trineta (ou pentaneta) da tal filha do Latim, esgarçada pelos próprios brasileiros com a ajuda de italianos, libaneses, japoneses e até dos brasileiros que já lá estavam antes de existir o país Brasil e sequer a ideia de “país” — índios de inúmeras tribos.

How do you explain the inexplicable?

Cátia Cassiano

“In The Eyes Of A Translator”, 28 August 2023

How do you explain the inexplicable? As an entrepreneur, I have a duty of care to my clients. I must provide them with great service, transparency, and all the relevant information they need to make their own decisions. This would be a straightforward task if you work in the legal industry or if you sell a product. You both speak the same language and you both know the desired outcome. What about language service providers? For us, it may be a little more complicated because we are dealing with different languages and cultures and one side might not have any knowledge or contact with the language or culture. So, what do you do?

Making a connection

As linguists, our duty is to make a connection between those two languages and cultures. In other words, that document our client gave us to be translated needs to be converted into something the readers of the other language perceive as native and written for them. This is why we need translators after all!

The broken link

What if there is a broken link in the process? You must solve it and restore that link as soon as you possibly can. This usually happens when there are variants in the languages you are working with. We need to explain to our clients why being aware of these variants is essential to the success of their projects. Because if they don’t have any contact with the language they might not understand that a text in the wrong variant may damage their reputation in that country and that might be a problem for them.

Cultural assassination

This all seems doable. You can explain the diversity of the cultures that speak that language and why the variants might be so different from the main language from which they originated. But, what if the government of that country is the one trying to erase that culture and language, how can you explain it? How do you explain to your clients that the government of the country they are doing business with is trying to assassinate the culture and language of that country? Impossible isn’t it?

This is what is currently happening in Portugal, and that is the situation I and all my colleagues who work with the Portuguese Language have to face. The elected Government signed an agreement without public consultation, forcing the Portuguese to write according to the Brazilian variant of the language. No linguist was consulted, the constituents were not consulted, and no one was consulted. The result was something abhorrent and confusing.

They claimed they wanted to unify the language but all they did was create more division. People don’t know how to write, there are errors everywhere and it is an absolute disgrace. Citizens have been fighting for this for a long time, but the same corrupt politicians who signed this absurd are the ones ignoring the people who put them there!

So how can you explain to your clients why it is essential to respect the language and culture of the country they are doing business with if the government of that country is the first one to do the opposite? I try, I even try to explain what is happening here, but it is so absurd that even that is difficult. Let me try … just think about it … what would you say if you read or someone told you that Rishi Sunak signed an agreement with all other English-speaking countries so the United Kingdom and all other countries start speaking the American variant of English? What would you say about this? What would Kind Carles say about this? That was exactly what happened to the Portuguese. Absurd isn’t it?

[Transcrição integral, com ligeiras alterações apenas no aspecto gráfico.
Acrescentei “links”.]

[tradução]

Como explicar o inexplicável?

Cátia Cassiano
“In The Eyes Of A Translator”, 28 August 2023

Como é que se explica o inexplicável? Como empresária, tenho o dever de cuidar dos interesses dos meus clientes. Tenho de lhes prestar um bom serviço, com transparência e providenciando toda a informação relevante de que necessitam para tomarem as suas próprias decisões. Esta é uma tarefa simples para quem trabalha no sector jurídico ou se vendermos um produto; ambos falam a mesma língua e ambos sabem qual o resultado pretendido. E os prestadores de serviços linguísticos? Para nós pode ser um pouco mais complicado, porque estamos a lidar com línguas e culturas diferentes e uma das partes pode não ter qualquer conhecimento ou contacto com a língua ou cultura da outra. Então, o que é que se faz?

Estabelecer uma ligação

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“Arranha-nos a mente”

«De qualquer modo, mesmo em relação ao Brasil, não se trata de uma simples questão de ortografia, é o léxico e a sintaxe, que são muito diferentes. Um livro de Portugal, para os brasileiros, que inovam muito em termos linguísticos, soa sempre a arcaico. É muito difícil exportar para lá. E quando um livro em português do Brasil aparece em Portugal, escrito por um autor mais idiossincrático, parece mais estranho do que ler em francês ou inglês. Arranha-nos a mente. O Acordo Ortográfico não facilitou o intercâmbio cultural e não teve qualquer papel positivo nas exportações.» [Francisco Vale, director da editora Relógio d’Água, 8 de Fevereiro de 2018]

A expressão “português do Brasil”, infinitamente repetida, martelada, a ver se cola.

  • «o português do Brasil é diferente do que se fala e escreve em Portugal» [Nuno Pacheco, “Público”, 14.06.23]
    A língua brasileira não é nem tem nada a ver com “português do Brasil”. Esta é uma expressão obsoleta em que apenas alguns persistem, provavelmente à falta de melhor “argumento” para continuarem a fingir que as duas línguas são uma só — a língua univérsáu brasileira. [post “Uirapuru, saci, cocada”]

Não existe “português do Brasil”. Existe a Língua Portuguesa e existe a língua brasileira. Por mais patacoadas que alguns tugas vendidos aos interesses geopolíticos e económicos brasileiros tentem impingir às pessoas normais, o Português é a língua nacional de Portugal e a oficial dos PALOP, enquanto que o brasileiro é a língua nacional da República Federativa do Brasil.

À boleia do inexistente “português do Brasil”, este artigo da CNN-Portugau incide sobre uma nova rapsódia, a turbo-tradução (ou tradução a granel) via estupidez artificial, retomando as já velhas historinhas sobre o “mercado editorial brasileiro” — outra inexistência –, a admiração bacoca pelo “gigante” brasileiro (“ah, e tal, eles são 230 milhões e nós somos só 10 milhões“) e a habitual, geral, nacional tergiversação: nunca, ou muito, muito, muito raramente alguém se atreve a ligar os pontos ou a, ainda que apenas pela rama, relacionar causas e efeitos — nomeadamente entre o #AO90 e as suas desastrosas consequências nos planos educacional, editorial, patrimonial, identitário, histórico e cultural.

Tarefa essa que fica a cargo daquilo que jamais poderá ser substituído: a inteligência natural (passe a redundância).

Fundador da Relógio d’Água acusa BookCover de fazer traduções com Google Translate e ChatGPT. Editora diz que “é mentira”

Francisco Vale diz que esmagadora maioria das traduções da BookCover Editora são assinadas por Lúcia Nogueira, “a tradutora mais eficiente do planeta”, sugerindo que há recurso a ferramentas de tradução automática ou a uma equipa de tradutores que não são identificados. Responsável da BookCover garante que acusações são infundadas, tradutora também

A polémica começa com uma longa publicação no Facebook, assinada por Francisco Vale, editor e fundador da editora Relógio d’Água. O título é auto-explicativo e não deixa dúvidas sobre o tema e as acusações que se seguem: “Traduções por Inteligência Artificial (IA) Chegam a Portugal sem Se Fazer Anunciar”.

Francisco Vale alega que circulam em Portugal “nas livrarias, em feiras do livro ou na companhia de alguns jornais, centenas de milhares de exemplares de clássicos ingleses, franceses, alemães, italianos ou russos traduzidos com recurso a programas de inteligência artificial (IA), do Google Translate ao ChatGPT, passando pelo DeepL”. Mas vai mais longe e identifica mesmo a editora que é a visada nas suas críticas: “Tudo indica que um dos principais agentes desta situação seja a BookCover Editora, que tem publicadas centenas de clássicos de diversas línguas, o mais das vezes com preços de cerca de 5 euros. À primeira vista trata-se de uma oferenda aos leitores — clássicos a preços acessíveis. Mas na verdade a BookCover é uma esfinge com alguns mistérios”.

Segundo Francisco Vale, todos os livros da BookCover, excepto a série ConanDoyle, são traduzidos por Lúcia Nogueira, “a tradutora mais eficiente do planeta” porque, só em 2023, “aparece na ficha técnica como tradutora de dezenas de obras, entre elas ‘Guerra e Paz’, com as suas mais de mil páginas, e outros romances volumosos. Nos últimos dois anos e meio terá traduzido cerca de 80 clássicos, muitos deles extensos, como ‘Os Miseráveis’, ‘E Tudo o Vento Levou’ ou ‘Vinte Mil Léguas Submarinas'”. O fundador da Relógio d’Água aponta: “Qualquer editor sabe que mesmo tradutores a tempo inteiro e com larga experiência são incapazes de traduzir mais de 10 a 15 páginas por dia, o que a incansável Lúcia Nogueira parece fazer antes do pequeno-almoço, seja a partir do inglês, do alemão, do italiano, do cirílico russo e em breve talvez do mandarim ou grego antigo. As fichas técnicas da BookCover não indicam o título original nem a língua de que se traduz, nem o nome de revisores”.

O editor assinala ainda outro problema: Francisco Vale diz que existem nos textos traduzidos “numerosas gralhas, erros ortográficos e gramaticais, confusão de Acordos, termos brasileiros e outras incongruências”, pelo que defende que Lúcia Nogueira fará apenas uma correcção dos erros mais graves de uma tradução automática. “É muitíssimo mais provável que se trate de uma tradutora experimentada em tecnologias de tradução automática, que começaram no Google Translate, evoluindo para a tradução neuronal do DeepL e, mais recentemente, o ChatGPT“, aponta.

“Outra hipótese, menos provável por exigir que se escrevam os textos ao computador, é a de que dirija uma equipa de tradutores/revisores que usam o inglês, o que deveria ser referido e individualizado”, lamenta ainda o fundador da Relógio d’Água, no texto partilhado nas redes sociais.

A resposta da BookCover

A CNN Portugal contactou a BookCover Editora e chegou à fala com Francisco Melo, proprietário e editor, que quis fazer um único comentário breve ao texto de Francisco Vale sobre recurso a Inteligência Artificial: “É mentira”, respondeu ao telefone, sem querer alongar-se no tema ou detalhar processos de tradução, revisão e edição da editora que fundou no Porto.

Segundo um texto publicado no site, a BookCover Editora nasceu em 2017 e iniciou actividade com a publicação da obra “… da Descolonização” do general Pedro de Pezarat Correia. “Este livro, entretanto faz parte do Plano Nacional de Leitura, anunciava o programa editorial que se tem vindo a concretizar”, lê-se ainda. “Editora fundada no Porto, com distribuição própria, tem como objectivo principal a divulgação de autores portugueses, essencialmente investigadores de história de Portugal, património material e imaterial. Tem também nas suas edições duas colecções de grande fôlego, os Essenciais da Literatura Portuguesa e Estrangeira. Hoje, com mais de 150 títulos publicados, a BookCover Editora mantém o seu objectivo de editar obras de referência e apostar em novos autores portugueses e estrangeiros”, resume o texto que apresenta a editora portuense.
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O “top” de coisa nenhuma

https://keywordtool.io/blog/most-spoken-languages-in-the-world/O quadro acima é (propositadamente) enorme, apesar de se referir a um assunto que parece interessar a umas quantas mentes pequeninas, na (vã) esperança de que assim, em grande, finalmente vejam os exíguos mentais, pela crueza dos números, o gigantismo da estupidez que nos tentam impingir.

Claro que também essa “lógica” algébrica, como se a Língua nacional pudesse ser escolhida consoante o número de votos (falantes), faz parte de todo um pacote de patacoadas a granel que os brasileiristas pensam ser suficiente para arrebanhar gado — porque julgam estar a lidar com uma récua de jumentos para os quais o II Império brasileiro é uma bela cenoura. Bom, o facto é que infelizmente até acertam em alguns casos: andam por aí umas bestas a zurrar loas à “língua univérsau”.

Como muito bem diz o autor do texto agora transcrito, «Alguém na Dinamarca, Polónia ou Itália está preocupado por ter um idioma que está longe dos mais falados no mundo?»

Pouco importa que a população dos 27 estados brasileiros seja atirada para o monte dos “falantes de Português”. Trata-se de mera estatística histórica, por assim dizer; assim que o Brasil acabar de uma vez por todas com as suas pretensões neo-imperialistas e, por conseguinte, reconhecer oficialmente que a sua língua nacional é o Brasileiro e não o Português — mera questão de tempo –, então os 257 milhões do total contabilizado administrativamente em 2023 passarão a ser cerca de 50 milhões. Óptimo. Desapareceremos daquele “top-20”, o da contagem de cabeças. E então? Além de dinamarqueses, polacos e italianos, quantos gregos, finlandeses, suecos, noruegueses, ucranianos, romenos, húngaros, turcos ou islandeses se ralam com tal coisa?

Vamos a isso!

Força, brasileiros! Viva a Língua Brasileira! Até pode ser já em 2024…

Ou, dito de outra maneira: força, portugueses! Viva a Língua Portuguesa! Há 800 anos e para sempre, viva!

Pobrezinhos, mas ‘influencers’? Não, senhor Presidente

Tiago Matos Gomes
“Diário de Notícias”, 14.06.23

“(…) Só somos verdadeiramente portugueses na medida em que sempre fomos, e somos, universais. (…) Partimos há mais de seis séculos e nunca deixámos de ir e de vir, de largar e de voltar. Por pobreza, por aventura, por desejo de horizontes mais largos, por sobrevivência, algumas vezes e tantas vezes convertida em realização. (…) Seremos mesmo assim, como vos garanto, influentes no mundo? É recordar a quinta língua mais falada no mundo, a segunda língua mais falada no hemisfério sul e também no hemisfério sul a mais usada no digital.”

Acima um excerto do discurso do nosso Presidente da República no 10 de Junho celebrado no Peso da Régua, fazendo-nos acreditar que os portugueses são universais, que têm esta particularidade intrínseca de estarmos em todo o mundo. Não, não temos essa particularidade intrínseca. Muitos portugueses saíram e saem de Portugal porque o país não lhes dá as condições que qualquer outro país da Europa ocidental lhes dá. Nenhum português, com algumas excepções que sempre existem, gosta de ir embora, de deixar a sua família, de deixar os seus amigos, de deixar os locais que frequenta.

A segunda falácia é acharmos que somos influentes no mundo, nomeadamente por causa da língua. Até porque o português europeu é bem distinto do português falado na América do Sul. E é este segundo que tem peso no digital. E não nos iludamos com o facto de estas duas formas de falar se designem por “português” quando os falantes brasileiros nem entendem o que os falantes portugueses dizem, sendo que o oposto, sendo mais raro, também acontece. Algo que nem o inútil e desastrado acordo ortográfico conseguiu unir, com a enorme desvantagem de estar a destruir a língua portuguesa falada e escrita em Portugal. Não se entende sequer esta obsessão que os políticos portugueses têm por uma hipotética grandeza da língua portuguesa que em tempo algum nos trouxe vantagens. Alguém na Dinamarca, Polónia ou Itália está preocupado por ter um idioma que está longe dos mais falados no mundo? Algum dinamarquês recebe um pior salário por causa de terem uma língua minoritária? E nem por isso a sua literatura é considerada menor. Todos os portugueses prefeririam que o português fosse uma língua minoritária como é o dinamarquês e recebesse um salário ao nível da Dinamarca.

“É recordar o secretário-geral das Nações Unidas eleito e reeleito por aclamação por quase 200 estados do universo. Ou as nossas forças nacionais destacadas a construírem a paz no nosso continente de origem e em muitos outros, sendo as mais pedidas e as mais louvadas de todas. (…)”

Continuou o Presidente no seu discurso. É verdade que vários portugueses têm estado em cargos internacionais de prestígio. E isso passa uma boa imagem de Portugal. Não só com António Guterres, mas também com Durão Barroso como presidente da Comissão Europeia, com Freitas do Amaral como presidente da Assembleia Geral das ONU… Que vantagem tiraram os portugueses destes cargos? Portugal não foi, nem podia ser, beneficiado por ter Durão Barroso à frente da governança europeia. E a verdade é que isso não aconteceu. Até foi muito penalizado no tempo da troika. Podemos (e devemos) ficar orgulhosos por portugueses chegarem a tão altos cargos mundiais. Mas não passa disso.

E Marcelo Rebelo de Sousa disse mais: “(…) Temos um peso no mundo, muito, muito maior, de longe, do que o nosso território terrestre. (…) Mas pergunto: De que nos serve termos essa influência mundial se entre portas temos tantos problemas por resolver? (…) Não podemos desistir nunca de criar mais riqueza, mais igualdade, mais coesão, distribuindo essa riqueza com mais justiça. Porque só isso nos permite e permitirá podermos ter e continuarmos a ter a projecção no mundo, que é o nosso desígnio nacional, é a nossa vocação de sempre. Fazermos pontes, sermos plataforma entre oceanos, continentes, culturas e povos.”

A pergunta do Presidente é certeira. E volta a acertar que é necessário fazer o nosso trabalho dentro de portas, nomeadamente na redução das desigualdades. Mas volta a errar quando afirma que o desígnio de Portugal e dos portugueses é termos projecção no mundo, que é essa a nossa vocação. Não é nem deve ser. Muito menos plataformas. É tempo de deixarmos para trás este complexo de grandiosidade por impérios que não voltarão. Olhar para Portugal como tendo um desígnio global, quiçá um quinto império, é adiar o trabalho que temos de fazer internamente. É adiar o trabalho de nos empenharmos na tarefa europeia. Essa sim deve ser encarada como um desígnio que nos pode tirar da estagnação estrutural em que estamos mergulhados.

“Outros há e haverá que são e serão mais ricos do que nós e mais coesos do que nós, mas com línguas que poucos conhecem, incapazes de compreenderem o mundo, de o tocarem e de o influenciarem, mesmo aquele mundo que está mesmo à beira da sua porta. Nós nascemos diferentes. Uma pátria improvável feita a pulso, contra o vento, muito cedo universal, muito cedo chamada e condenada a ser mais importante lá fora do que cá dentro. (…)”

E este último excerto é ainda mais preocupante. É o Presidente da República dizer-nos que temos de nos resignar à pobreza ou, na melhor das hipóteses, à mediania, quando o nosso objectivo e desígnio devia ser a equiparação aos mais ricos da nossa Europa. Não nascemos diferentes. Somos tão europeus como os restantes e temos de ter o mesmo nível de vida que têm os europeus mais ricos. Diz Marcelo Rebelo de Sousa que os outros até podem ser mais ricos, mas têm idiomas que não valem nada e que nem sequer entendem o mundo… E nós? Pobrezinhos mas influencers? Não, senhor Presidente, não estamos condenados a nada. Muitos menos a sermos mais importantes lá fora do que cá dentro. Portugal será aquilo que os portugueses quiserem e que as elites políticas deixarem. É necessária uma outra ambição. A começar pelo mais alto representante do Estado.

Tiago Matos Gomes
Presidente do movimento Partido Democrata Europeu

[Transcrição integral. Inseri “links”. Destaques meus.]

[Imagem de topo (gráfico) de: “Keyword Tool“.]

A.I. (artificial intelligence) ou E.I. (estupidez artificial)

Já aqui foi referida, aliás por diversas vezes, uma das facetas (mais) visíveis da operação de limpeza étnico-linguístico-cultural em curso: a começar pela substituição do código de página da Língua Portuguesa (CHCP 860) pelo do crioulo brasileiro (CHCP 850), todas as plataformas e serviços da Internet, assim como os sistemas operativos de computadores e redes, incluindo as telecomunicações pessoais (telemóvel, e-mail, chat) e ainda os programas de computador mais comummente utilizados (Windows, Word etc.), tudo passou a estar em língua brasileira.

Não interessa agora que uma parte dos portugueses se alheie da questão, que não queira saber o que se passou, o que se está a passar e o que isso implica. Há quem finja não ver o que tem diante dos olhos, assim como quem se entretenha a arranjar explicações para o inexplicável; há os parolos, fatalistas e bajuladores armados em pragmáticos (“eles são 230 milhões e nós só 10 milhões“), há os “espertalhões” armados em pacifistas (“não queremos guerras com o Brasil“) e há também os “puristas”, aquela misteriosa espécie de zombies que embirram solenemente com anglicismos, francesismos, espanholismos ou estrangeirismos em geral, mas que pouco ou nada se ralam (alguns até apreciam esse tipo de escatologia linguística) por terem “virado” qualquer coisa de nada recomendável (e até “adotaram” um “xodó”, ou o “escambau”, qui légau).

Há por aí de tudo, em suma, do mais nojento ao mais intolerável, mas felizmente há também quem não se deixe abater pela propaganda sistemática, ignorando a campanha de desinformação dos media avençados e dos mercenários contratados.

Dessa resistência é exemplo este leitor do “Público” que, em “Cartas ao Director”, refere o ChatGPT — a mais recente invenção no vastíssimo campo da estupidez artificial — como sendo mais uma demonstração prática das manobras que visam a substituição da Língua Portuguesa pela brasileira… e daí a liquidação da Cultura, do património, da identidade nacional. Embora já contaminado — pelo menos, aparentemente — pelo “purismo” (ou puritanismo) anti-estrangeirismos, este leitor revela a sua preocupação com o que se passa naquela máquina de encher chouriços mentais.

Máquina esta cuja disfunção está ilustrada no “diálogo” mais abaixo, em que à minha afirmação, «Português só há um», o imbecil real que programou a besta virtual responde com propaganda acordista, desinformação brasileirista, intoxicação política.

O ChatGPT e o futuro do Português

São muitas as preocupações relativas à popularização de uma nova ferramenta da inteligência artificial: o ChatGPT. Como o nome indicia, desde logo, trata‑se de um programa interactivo, cujas virtudes residem na capacidade progressiva de responder às perguntas dos cibernautas num registo multímodo (da resolução de dúvidas pontuais, por exemplo, à produção integral de artigos científicos). Entre essas preocupações, por conseguinte, destacam‑se as de natureza académica e política.

Mas não devem ser apenas a pirataria intelectual e a propaganda da desinformação os motivos maiores do nosso desassossego. No que diz directamente respeito a Portugal, o uso intensivo dos “autómatos de conversação” há‑de erodir irreversivelmente o génio da língua portuguesa — por força de um duplo constrangimento, a saber: a actual predominância do “portinglês” e ainda a pressão crescente (acentuada pelo novo acordo ortográfico) do Português do Brasil. Entre Cila e Caríbdis, perguntar‑se‑á, haverá futuro para o idioma de Camões?

Eurico de Carvalho, Vila do Conde

[“Cartas ao Director”, jornal “Público” de 14.02.23. “Links” e destaques meus.]

resposta do sistema de estupidez artificial ChatGPT

Essa afirmação não é correta. Embora a língua portuguesa tenha se originado em Portugal e tenha sido desenvolvida ao longo dos séculos pelos povos que falam essa língua em todo o mundo, é importante reconhecer que existem várias variações regionais e nacionais do português.

Por exemplo, no Brasil, a variante do português falada é diferente daquela falada em Portugal, com diferenças no vocabulário, pronúncia e até mesmo na gramática. Além disso, os países africanos de língua portuguesa (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe) também têm suas próprias variantes do português, que foram influenciadas pelas línguas locais e pelas culturas desses países.

Em resumo, embora o português tenha uma raiz comum em Portugal, a língua evoluiu de maneiras diferentes em diferentes partes do mundo, dando origem a uma variedade de variantes regionais e nacionais do português.