Quanto aos negócios, pois tende paciência, senhores lusofonistas, isso já está tudo tomado: o Brasil agradece, está claro, se bem que pela calada e em absoluta surdina, e até parece que nos estão fazendo um grande favor quando passam a ocupar, à conta do AO90 e sob o disfarce da CPLP, as nossas posições económicas (e políticas e culturais) um pouco por todo o mundo, nos países e territórios a que outrora aportaram nossos maiores; “do Minho a Timor”, sim, passando por Macau (China) e em breve por Goa (Índia), o novo império dos negócios brasileiros segue pujante e das migalhas sobrantes vão debicando os vendidos tugas, esses galináceos com muito cócórócó na garganta e imenso cocó na cabeça.
[O tubarão fantasma, 23.06,21]
Finalmente, o Brasil declara oficialmente quais são as suas reais intenções quanto à Comunidade dos Países de Língua Oficial Brasileira (CPLB) e assim destapa o verdadeiro significado dos chavões propagandísticos que desde 1996 utiliza para camuflar a “expansão” da sua influência política e, sobretudo, dos seus interesses económicos.
A expressão-chave, agora utilizada pela primeiríssima vez, é “Sul Global”. Certamente, esta estreia mundial — no âmbito da CPLB e, por conseguinte, da “língua universau” — terá surgido por simples lapsus linguae de algum jornalista mais inexperiente nos meandros da alta finança mundial e na avassaladora corrupção que esse milieu envolve.
“Sul Global” é, afinal, uma forma simplista de designar algo extremamente complexo. Tentando reduzir o conceito à sua essência mais elementar e facilmente compreensível, “Sul Global” foi uma fórmula inventada recentemente para rebaptizar aquilo que anteriormente se designava como “Terceiro Mundo” ou “países em vias de desenvolvimento”; mais popular e claramente falando, era o conjunto de inúmeras “repúblicas das bananas” a reboque e/ou sob o domínio da Rússia, da China e da Índia.
Trata-se, portanto do bloco económico oposto ao das grandes potências capitalistas do chamado “Grupo dos Sete” (G7): Estados Unidos da América, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão e Reino Unido.
Por contraponto à designação dos países mais ricos, apesar de o G7 carregar um nome que parece tão inócuo como o da colecção homónima de Enid Blyton mas não ter absolutamente piada alguma, o dito “Sul Global” apresenta-se assim para esconder as mesmíssimas pretensões hegemónicas, mas desta vez com outros protagonistas: em vez dos “exploradores” americanos, ingleses, alemães e franceses, o mundo passará a gozar de “amplas liberdades”, imensa “fartura” e não muito mudos “amanhãs que cantam” sob o altruísta jugo da República de Xi Jinping, da República de Putin, da espécie de califado de Narendra Modi e agora, por fim, da “abençoada por Deus” (em pessoa) República Federativa de Lula da Silva.
A este poker de ases juntam-se alguns jokers (África do Sul, Indonésia, México) e uma ou outra dama (Filipinas, Nigéria), tudo escoltado, como sempre sucede no jogo político, por imensos duques e senas tristes. E pronto, é só baralhar e tornar a dar — ou seja, a tirar. Trata-se, portanto, este “Sul Global”, de uma versão revista e aumentada de uma coisa conhecida por BRICS (“tijolos”, no original em Inglês): Brazil, Russia, India, China, South Africa.
No caso particular do B dos tijolos, os negócios vão de vento em pompa, como se vê, não apenas para a “turma” do doutorado pela Universidade de Coimbra, esse primor de sabedoria e cultura (viu?); e também não vão tendo razões de queixa os brasileiristas, lacaios e homens-de-mão que na tugalândia — sempre a expensas da manada contribuinte da “terrinha” — vão desbravando terreno para que nada falte aos “irmãos” deles e, sobretudo, ao seu paizinho “espirituau”.
0 28.º Estado serve como quintal e porta dos fundos de excedentários para a Europa. Timor, S. Tomé e Cabo Verde são três excelentes porta-aviões para a gloriosa Marinha brasileira. Os diamantes de Angola e o gás natural de Moçambique, em especial se ou quando aqueles dois países aderirem à nova versão dos BRICS (mas que grande golpada, realmente, o “metalúrgico” sabe-a toda), até mais ver ficarão em standby. Macau é um enclave que dá imenso jeito como alçapão para verdadeiros negócios da China.
Só faltava mesmo isto: Goa.
Goa sedia o Festival Internacional da Lusofonia
Após o 53º Festival Internacional de Cinema da Índia (FICI), Goa está pronta para sediar outro evento. Em dezembro, o estado sediará o Festival Internacional da Lusofonia (Comunidades dos Países de Língua Portuguesa, CPLP).
A lusofonia, em sentido amplo, se refere à população de língua portuguesa do planeta: Brasil, Portugal, Angola, Moçambique e Timor Leste. A lusofonia se desenvolveu nos marcos dos quinhentos anos de Império Português.
O festival será aberto com pompas em 3 de dezembro de 2023 por PramodSawant, Ministro-Chefe de Goa, no Durbar Hall da Casa do Governo (RajBhavan). A Ministra de Estado das Relações Exteriores e Ministra de Estado da Cultura, MeenakshiLekhi, será a convidada de honra do festival. O festival foi organizado pelo Ministério das Relações Exteriores, em associação com o Conselho Indiano de Relações Culturais (CIRC) e o governo do Estado de Goa.
Goa possui laços históricos com o mundo de língua portuguesa, fomentados pela presença de instituições culturais portuguesas, como a Fundação Oriente e o Instituto Camões, que promovem a língua e a cultura portuguesas na Índia. O que permite fortalecer os laços econômicos, culturais e interpessoais entre os países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
O festival contará com apresentações de grupos culturais visitantes dos países membros da CPLP (70 artistas) em diversos locais em Goa, seminários sobre música dos países de língua portuguesa para artistas e voluntários, vários workshops, exposições de fotocópias de documentos históricos, da arquitetura única, do artesanato e do mobiliário de Goa.
Além disso, o LusophoneFoodandSpirits Festival apresentará os laços culinários entre a Índia e o mundo de língua portuguesa. Mesas-redondas sobre “O ingresso da Índia no Sul Global – Em busca de um caminho de aproximação com a CPLP” e “Os laços históricos e culturais da Índia com os lusófonos: retrospecto e perspectivas” não só enfocarão os laços históricos e já existentes da Índia com o mundo lusófono, mas também discutirão formas de maior cooperação.
A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, também conhecida como Comunidade Lusófona, é um fórum multilateral criado em 17 de julho de 1996, na primeira Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da CPLP, em Lisboa. Os membros-fundadores foram Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe, com a adesão posterior de Timor Leste e Guiné Equatorial. Os países lusófonos abrigam cerca de 300 milhões de pessoas em quatro continentes diferentes (África, América Latina, Ásia e Europa). A Índia entrou para a CPLP como observador associado em julho de 2021.
Como parte da cooperação entre a Índia a CPLP, o Ministério das Relações Exteriores celebrou o Dia Mundial da Língua Portuguesa, em Nova Délhi, em 5 de maio de 2022, logo após a adesão à comunidade, segundo informa ANI, o parceiro da rede TV BRICS.
Fotografia: istockphoto.com
[Transcrição integral mantendo o brasileiro do original. Acrescentei “links”. Imagem de topo de: “The Business Post“.]