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As 10 pragas do “Egito” em Angola

“Click” na imagem para aceder a notícias sobre este assunto no (hiper-acordista) jornal “Observador

O aparente laicismo de uns e a religiosidade fingida de outros consistem basicamente (e comummente) na propagação de uma fé inabalável no dinheiro e na prossecução da sua crença no enriquecimento pelo enriquecimento. Para tal desiderato, no qual crêem cegamente, uns e outros socorrem-se de lacaios especializados para as tarefas mais sujas e plebeias, como lavar vestígios ou “abrir portas”, com tudo o que implicam os trabalhos de tais criados pagos à peça ou à ordem, em espécie ou numerário, por grosso ou por atacado.
[
Sociedades secretas, negócios discretos]

Se sequenciarmos “migrantes” e “inculturação” com “diáspora da língua portuguesa” (leia-se, “da língua brasileira”, que a IC tuga se apressou a “adotar”), ficamos de imediato com uma ideia clara daquilo que pretendem as sotainas — em particular o galho dos seguidores de Josemaría Escrivá.
[Ecclesia passará a “Elesia”?]

Que envolvessem assuntos internos de qualquer das ex-colónias portuguesas, nunca aqui foram alguma vez sequer afloradas as ligações perigosas entre a chamada questão ortográfica e assuntos de alguma forma religiosos ou organizações mais ligadas ao “espírito”. Até hoje, neste Apartado, somente foram referidas as mais do que óbvias conotações entre a “adoção” da cacografia brasileira por parte de alguns governantes portugueses e a torpe influência que nesse processo teve a Igreja Católica portuguesa, em estreito, escarrapachado, obsceno conluio com o ramo brasileiro da mesma confissão.

Ora, pelo menos naquilo que a Angola diz respeito, alguns acontecimentos recentes vieram agitar precisamente essa espécie de modorra “espiritual”, esse bizarro conformismo que vai alastrando como uma marabunta não apenas em Portugal como em toda a CPLB.

Este é um daqueles casos — aliás à imagem e semelhança de quaisquer outros que envolvam dinheiro, poder e brasileirofonia, ou seja, como sucede em todos os casos — sobre os quais a imprensa “mainstream” portuguesa conserva o mais sepulcral silêncio. Esse tipo de mutismo corporativista obedecerá certamente a mistérios insondáveis, quiçá bíblicos, se bem que facilmente desmontáveis (e desmistificáveis). Por maioria de razões, como de costume, quando a matéria incide sobre movimentação de capitais e o entulho que, por inerência, tão “sensível” assunto implica: facções que se digladiam, lutas pelo poder, criminalidade e todo o “circo” jurídico-político inerente.

O que se está a passar em Angola, se bem que em traços muito gerais, aí fica. Assim como deles ficará a interpretação de cada qual à consciência de cada um.

MPLA declara apoio à facção brasileira da IURD

 

“Novo Jornal” (Angola), 17 de Janeiro 2024

“Os fiéis da IURD depositaram plena confiança no bispo Alberto Segunda, para os conduzir até à terra prometida” e assim ele pode contar com o MPLA”, clarificou um enviado à cerimónia de tomada de posse do bispo Segunda.

Esse apoio prometido pelo MPLA “resulta da política do partido definida para trabalhar com as igrejas“, disse o membro do Comité Central do MPLA Fernando Mukete, em representação da vice-presidente do MPLA, Luísa Damião. (mais…)

Ecclesia passará a “Elesia”?

enviadas à Agência ECCLESIA.

A estátua de Cristo Redentor, existente no Rio de Janeiro, no Brasil, inspirou, em 1934, durante uma visita àquela cidade, o Cardeal-Patriarca de Lisboa de então, Dom Manuel Gonçalves Cerejeira, a construir um monumento similar em Lisboa. [Wikipedia]

Se descontarmos a oratória litúrgica e ignorando a retórica “pastoral” do documento, esta espécie de programa de acção da organização “Ecclesia” contém orientações políticas relevantes para os católicos portugueses, com tudo o que isso implica no tecido social do país, como base, e, sobretudo, pelos reflexos que as ditas orientações inevitavelmente provocarão nas estruturas políticas do Estado português, do qual, aliás, a Igreja Católica é parte integrante e activa, quando não decisiva, desde pelo menos 1143.

Pois bem, quase novecentos anos depois do Tratado de Zamora e da bula Manifestis Probatum (1179), é manifesto que as coisas não mudaram grande coisa naquilo que à política vaticana concerne ou, pelo menos, ao que verdadeiramente interessa a um dos seus ramos mais influentes.

As verdadeiras intenções subjacentes ao documento agora transcrito ficam desde logo claramente expressas na repetição obsessiva de algumas palavras-chave: “diversidade”, “migrantes” (ou “migração”) e “inculturação” (ou “inculturada”). Palavras-chave estas que se articulam com certas expressões pontuais para formar um todo.

Se sequenciarmos “migrantes” e “inculturação” com “diáspora da língua portuguesa” (leia-se, “da língua brasileira”, que a IC tuga se apressou a “adotar”), ficamos de imediato com uma ideia clara daquilo que pretendem as sotainas — em particular o galho dos seguidores de Josemaría Escrivá.

Se a tal concatenação lógica anexarmos a “diáspora” (de sentido único, evidentemente) e o esconjuro de “racismo e xenofobia” — o omnipresente espantalho que, à esquerda, à direita e ao centro, convém sempre agitar –, então já teremos o quadro completo: a IC tuga, isto é, as editoras, escolas e colégios, investimentos e toda a sorte de negócios em que são parte interessada, em parceria ou exclusivamente, toda a filial tuga da organização romana está não apenas muito satisfeita pela “adoção” da “língua universau” como manifesta interesse no mercado do “gigante” e, em especial, nas esmolas que da Igreja brasileira (e de Roma) poderão escorrer para umas quantas paróquias da “terrinha”.

Ou quantas benesses pontifícias, em vestes e paramentos, em espécie ou em contado, poderá valer o fervor brasileirista, a devoção ao Cristo Redentor do Rio de Janeiro, a fé na cotação do Real.

Migrações: A diversidade cultural «não é ameaça» à unidade da Igreja

 

Missionários da diáspora da língua portuguesa estiveram reunidos, em Roma, para reflectirem sobre «diversidade de rostos da igreja».

Roma, Itália, 31 Out 2023 (Ecclesia) – A diversidade cultural “não é ameaça” à unidade da Igreja, concluíram os missionários da diáspora da língua portuguesa que estiveram reunidos, de 23 a 27 deste mês, em Roma (Itália) para reflectir sobre «diversidade de rostos da igreja».

“A diversidade cultural, fruto da aceleração da globalização, que está sempre mais presente nas paróquias, movimentos e comunidades migrantes não é, de maneira nenhuma, ameaça à unidade da Igreja: família de rosto pluriforme”, lê-se nas conclusões enviadas à Agência ECCLESIA.
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A “profissão” de “bispo” na “terrinha”

Será mesmo preciso fazer mais um desenho? Quanto a coisas do “Jizuiss”, surge agora mais este bodo aos ricos, generosamente providenciado pelos honestíssimos capatazes do 28.º Estado. Eis, em termos vagamente bíblicos, o maná para a Maná, para a igreja “universau”, para a “dos últimos dias” (ou lá o que é), para o dono daquilo tudo (um tal Edir Não Sei quê) e para todos aqueles que, do lado de lá e do lado de cá, andam à babugem, salivando, à espera de que algum coroné lhes atire um osso. E se não for um coroné, então que seja um “bispo”, já não é mau de todo.

Para entender o que se está a passar nesta cadeia industrial das fés, um mercado emergente que encontrou no Brasil terreno fértil para germinar (e congeminar), nem é preciso sequer ligar os pontos — um exercício complicadíssimo, algo ao nível da resolução do Último Teorema de Fermat –, basta ler sequencialmente estas duas peças, a do escritório de advogados ligados ao ramo do import/export de brasileiros e a outra, do “Página Um”, jornalismo de investigação expondo golpadas, conivências e coberturas, desta vez sobre uma das tais seitas brasileiras e as “entidades” tugas que lhes proporcionam cobertura.

E lá voltamos à questão habitual, que de resto resume perfeitamente aquilo que no essencial está em causa: alguém imagina que isto poderia suceder sem a invenção do #AO90, sem o pretexto da “língua universau” e sem a conivência canina dos implicados acordistas-brasileiristas?

Visto D7 para Religiosos em Portugal: Requisitos e Processo

NacionalidadePortuguesa.com.br.

Muitos buscam Portugal como destino para viver, e o visto D7 surge como uma das opções viáveis, especialmente para aqueles com renda própria e atividades religiosas.

Neste artigo, vamos explorar os requisitos, documentação e benefícios do visto D7 para religiosos, guiando você através do processo e esclarecendo as principais dúvidas sobre essa categoria de visto.

Se você é um profissional religioso ou possui rendimentos próprios e considera Portugal como seu próximo lar, continue lendo e descubra como o visto D7 pode ser sua porta de entrada.

O que é o visto D7?

O visto D7 é uma permissão para viver em Portugal, concedida a pessoas que tenham renda própria no Brasil, podendo usá-la para se sustentar no exterior.

No visto D7, Portugal reconhece a possibilidade de residência para aposentados, pensionistas, detentores de rendimentos próprios e religiosos.

Portanto, o visto abrange diversas possibilidades, desde que seja comprovado o preenchimento dos requisitos exigidos, incluindo o valor mínimo anual, com apresentação da documentação adequada.

Categorias de pessoas que podem se candidatar ao visto D7

Podem solicitar o visto D7 para Portugal:

  • Quem já é aposentado e pode comprovar o recebimento dos valores de aposentadoria ou pensões;
  • Quem possui rendimentos de imóveis, bens móveis ou aplicações financeiras, por exemplo;
  • Estrangeiros que vão viver em Portugal para exercer atividades religiosas.
Requisitos para o visto D7 para religioso

Aqueles que exercem atividades religiosas no Brasil também podem ter direito a obter o visto D7 para religiosos.

Neste caso, os indivíduos necessitam ser integrantes de entidades de vida consagrada, ministros aptos a realizar cultos ou que desempenhem a função religiosa profissionalmente.

Ainda assim, sua condição deve ser certificada pela comunidade religiosa a que pertencem, e devidamente reconhecida pela ordem jurídica portuguesa.

No entanto, essa certificação de trabalho religioso ainda deve estar de acordo com todas as normas pedidas pela legislação em vigor em Portugal.

Documentação necessária para comprovar a atividade

Veja a lista dos documentos para requerer o visto D7 para religiosos:

  • Comprovante de hospedagem;
  • Certificado de Registro Criminal da Polícia Federal (PF) e ter o selo da Apostila de Haia;
  • Solicitação para Consulta de Registro Criminal Português: autorização que será repassada ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) para verificar se o solicitante do visto possui algum histórico criminal no país europeu.
  • Seguro médico para viagem internacional ou PB4;
  • Uma cópia simples do passaporte do requerente, com validade acima de 90 dias;
  • Uma fotografia colorida e atual no formato 3×4;
  • Cadastro de solicitação de visto totalmente preenchido e com assinatura;
  • Comprovação original de moradia dos últimos 90 dias com nome do solicitante ao visto (conta de água, energia elétrica ou telefone);
  • Carta original da Igreja ou Entidade nacional com reconhecimento em cartório. O objetivo é oficializar a atuação do religioso em um local específico no território português;
  • Carta original da igreja ou entidade portuguesa devidamente reconhecida confirmando a atuação do religioso brasileiro;
  • Documentação de responsabilidade financeira, que pode ser enviada por uma das duas igrejas e/ou entidades religiosas.
Comprovação da renda gerada

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‘Sem Papas na Língua’

Bula “Manifestis Probatum”, de 23 de Maio de 1179, do Papa Alexandre III. Declara a independência do Condado Portucalense e D. Afonso Henriques como seu soberano.

O Papa João Paulo II fez absoluta questão de discursar sempre utilizando a Língua Portuguesa nas três ocasiões (1982, 1991 e 2000) em que visitou o nosso país. O mesmo vale para a visita do Papa Paulo VI, em 1967. E outro tanto sucedeu aquando da visita de Bento XVI em 2010.

Algo de bizarro — ou, pelo menos, de intrigante — poderá ter sucedido para que, na mais recente visita papal, o actual líder da Igreja Católica, Francisco, tenha evitado — se não recusado — comunicar em Português; à excepção das duas vezes em que usou a expressão “bom dia” (pronunciando bom djia, o equivalente brasileiro) e das três ou quatro ocasiões em que se dignou usar o agradecimento português, este pontífice exprimiu-se sistematicamente em Italiano, a Língua do Vaticano, ou em Castelhano, que é a sua língua materna.

Sucede, portanto, que tivemos três Papas na Língua e um Papa fora dela… a não ser quando vai ao Brasil.

Francisco presidiu há 10 anos, no Rio de Janeiro, ao mesmo evento que agora se realizou em Lisboa; enquanto permaneceu no Brasil usou nos seus discursos o Português correcto, escrito para ser lido, o que nada tem a ver com “sotaques”; então será legítimo indagar qual o impedimento ou quais os motivos para tal. Porque falou este Papa em Português no Brasil e em Castelhano e em Italiano em Portugal?

Julgará porventura que no Brasil — o tau da língua universau — é que se usa o Português, até porque é esse o nome que ali deram à língua nacionau? Os assessores de Sua Eminência não tentaram sequer “googlar” qual é a Língua que se fala e escreve em Portugal, antes de meterem a dita eminência no avião com destino a Figo Maduro? Acharão eles — ou, mil vezes pior, pensará o próprio — que na Península Ibérica é tudo espanhol e, por conseguinte, em Espanhol?

O ridículo da situação ecoa em igual medida no ridículo de tão absurdas “questões”. Mas o assunto, até porque parece ter passado despercebido aos media (e às redes anti-sociais, sempre muitíssimo atentas e ainda mais indignadas), pouco ou nada tem de irrelevante.

E não será por a ninguém ter ocorrido a menor dúvida sobre o assunto, talvez devido à habitual e tão idiossincrática passividade tuga, que ficarão por formular algumas perguntas — já noutro tom, que o assunto é demasiadamente sério para brincadeiras ou trocadilhos –, as que se impõem pela própria natureza daquilo que está aqui e agora em causa: este Papa no Brasil falou em Português mas assim que aterrou em Portugal ter-se-á de repente esquecido de mais do que “bom djia” e “obrigado”. Ignorou — falta apenas determinar se ostensivamente — a Língua Portuguesa. Mais um vergonhoso enxovalho ao qual não serão certamente alheios os (ir)responsáveis que venderam a Língua nacional àqueles que hoje por hoje se julgam donos dela.

Então, assim sendo, tiremos as maiúsculas ao título e fiquemo-nos pela expressão idiomática: sem papas na língua…

  • O Governo e o Presidente sabiam de antemão que isto iria suceder, ou seja, que o Papa não falaria em Português enquanto estivesse em Portugal?
  • Terá o Papa Francisco premeditado em ambos os casos (falar em Português no Brasil mas Espanhol em Portugal) ou isso sucedeu por qualquer outro motivo? E se houve outro motivo, qual foi ele?
  • Se não foi premeditado, poderá vir a ser alegado pelo Vaticano que numa visita de Estado ocorrem factos por mera casualidade ou “consoante calha”?
  • Se houve outro motivo para o banimento da Língua Portuguesa (que o Papa conhece e fala), como poderá o mesmo ser explicado, em termos de relações diplomáticas e disposições protocolares?
  • As autoridades eclesiásticas portuguesas tiveram naturalmente conhecimento prévio, em sede de reunião preparatória (ou várias) da visita e de organização das Jornadas. Que posição tomou a hierarquia da IC portuguesa quanto a esta matéria em concreto? Existiram pressões? De quem ou de que empresas, organizações ou instituições?
  • Qual será a posição pessoal do cidadão argentino Jorge Mario Bergoglio quanto a questões político-linguísticas em geral e quanto à língua universau brasileira em particular?
chegada JMJ Rio 2013: em Português

chegada JMJ Lisboa 2023: em Italiano

discurso aos voluntários JMJ Rio 2013: em Português

discurso aos voluntários JMJ Lisboa 2023: em Castelhano

despedida JMJ Rio 2013: em Português

despedida JMJ Lisboa 2023: em Castelhano

 

Da página em “português” no site do Vaticano: discurso no encontro com Centros de Assistência e Caridade, 4 de Agosto. O Papa fala em Castelhano, à excepção da saudação incial (“bom djia”); o discurso é “dublado” em brasileiro.
  1. outros vídeos JMJ Rio 2013
  2. outros vídeos JMJ Lisboa 2023

10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e da Língua Portuguesa

Eis aqui, quási cume da cabeça
De Europa toda, o Reino Lusitano,
Onde a terra se acaba e o mar começa
E onde Febo repousa no Oceano.
Este quis o Céu justo que floreça
Nas armas contra o torpe Mauritano,
Deitando-o de si fora; e lá na ardente
África estar quieto o não consente.

Esta é a ditosa pátria minha amada,
À qual se o Céu me dá que eu sem perigo
Torne, com esta empresa já acabada,
Acabe-se esta luz ali comigo.
Esta foi Lusitânia, derivada
De Luso ou Lisa, que de Baco antigo
Filhos foram, parece, ou companheiros,
E nela antão os íncolas primeiros.

Desta o pastor nasceu que no seu nome
Se vê que de homem forte os feitos teve;
Cuja fama ninguém virá que dome,
Pois a grande de Roma não se atreve.
Esta, o Velho que os filhos próprios come,
Por decreto do Céu, ligeiro e leve,
Veio a fazer no mundo tanta parte,
Criando-a Reino ilustre; e foi destarte:

Um Rei, por nome Afonso, foi na Espanha,
Que fez aos Sarracenos tanta guerra,
Que, por armas sanguinas, força e manha,
A muitos fez perder a vida e a terra.
Voando deste Rei a fama estranha
Do Herculano Calpe à Cáspia Serra,
Muitos, pera na guerra esclarecer-se,
Vinham a ele e à morte oferecer-se.

Luís Vaz de Camões, “Os Lusíadas” (Canto III – estâncias 20 a 23)

Eu el-rei faço saber aos que este alvará virem que eu hei por bem e me praz dar licença a Luiz de Camões para que possa fazer imprimir, nesta cidade de Lisboa, uma obra em oitava rima chamada Os Lusiadas, que contém dez cantos perfeitos, na qual por ordem poética em versos se declaram os principais feitos dos portugueses nas partes da Índia depois que se descobriu a navegação para elas por mandado de el-rei D. Manuel, meu visavô, que santa glória haja, e isto com privilégio para que em tempo de dez annos, que se começarão do dia que se a dita obra acabar de imprimir em diante, se não possa imprimir nem vender em meus reinos e senhorios nem trazer a eles de fora, nem levar às ditas partes da Índia para se vender sem licença do dito Luiz de Camões ou da pessoa que para isso seu poder tiver, sob pena de quem o contrário fizer pagar cinquenta cruzados e perder os volumes que imprimir, ou vender, a metade para o dito Luiz de Camões, e a outra metade para quem os acusar. E antes de se a dita obra vender lhe será posto o preço na meza do despacho dos meus Desembargadores do paço, o qual se declará e porá impresso na primeira folha da dita obra para ser a todos notorio, e antes de se imprimir será vista e examinada na meza do conselho geral do santo oficio da Inquisição, para com sua licença se haver de imprimir, e se o dito Luiz de Camões tiver acrescentados mais alguns cantos, também se imprimirão havendo para isso licença do santo oficio, como acima é dito. E este meu alvará se imprimirá outrosim no princípio da dita obra, o qual hei por bem que valha e tenha força e vigor, como se fosse carta feita em meu nome, por mim assinada, e passada por minha Chancelaria, sem embargo da ordenação do segundo livro, titulo XX, que diz que as cousas cujo efeito houver de durar mais que um anno, passem por cartas, e passando por alvarás não valham. Gaspar de Seixas o fiz em Lisboa a 24 dias do mês de Setembro de MDLXXI.»

Os Lusíadas/Alvará Régio da Edição de 1572

Vi por mandado da santa & geral inquisição estes dez Cantos dos Lusiadas de Luis de Camões, dos valerosos feitos em armas que os Portugueses fizerão em Asia & Europa, e não achey nelles cousa algűa escandalosa nem contrária â fe & bõs custumes, somente me pareceo que era necessario aduertir os Lectores que o Autor pera encarecer a difficuldade da nauegação & entrada dos Portugueses na India, usa de hűa fição dos Deoses dos Gentios. E ainda que sancto Augustinho nas sas Retractações se retracte de ter chamado nos liuros que compos de Ordine, aas Musas Deosas. Toda via como isto he Poesia & fingimento, & o Autor como poeta, não pretende mais que ornar o estilo Poetico não tiuemos por inconueniente yr esta fabula dos Deoses na obra, conhecendoa por tal, & ficando sempre salua a verdade de nossa sancta fe, que todos os Deoses dos Gentios sam Demonios. E por isso me pareceo o liuro digno de se imprimir, & o Autor mostra nelle muito engenho & muita erudição nas sciencias humanas. Em fe do qual assiney aqui.Frei Bertholameu Ferreira.

Os Lusíadas/Parecer do censor do Santo Ofício na edição de 1572

Nota: procurei, confesso que de forma algo desesperada, um vídeo em que se pudesse ouvir uma leitura decente de alguma estância ou canto de “Os Lusíadas”. Miseravelmente, aliás como é costume quando se procura alguma coisa em Português na internet, só esbarrei em vídeos feitos por brasileiros, logo, falados em brasileiro. Este post vai assim mesmo, portanto, sem vídeo. Era só o que mais faltava, estar agora a levar com brasileiradas no Dia da Língua Portuguesa; já bastam os outros 364.

[Imagem de topo de: “Get Lisbon“.]