A primeira notícia tinha um título que poderia levantar algumas dúvidas: «Veja algumas novas palavras que se tornaram oficiais na Língua Portuguesa». Desenvolvendo e “explicando” o tema, a jornalista Kimberly Caroline (brasileira, evidentemente) utilizava como exemplo das tais novas palavras o termo “deletar“, esclarecendo que «passa a ser aceito como uma palavra da língua portuguesa escrita no Brasil»; e acrescentava ainda, para deixar bem claro quem são afinal os donos da língua, que «Deletar” faz parte de um conjunto de cerca de 6 mil novas palavras incluídas na recente edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa».
Aquele artigo foi publicado no dia 21 e aqui reproduzido a 28 de Dezembro p.p. O que ressalta do teor “oficial” dessa e de outras notícias de igual teor publicadas no Brasil — nos media portugueses, está bem de ver, nem uma palavra sobre o assunto — é, como de costume, a sua absoluta falsidade. Trata-se da mais pura e dura desinformação.
Como aliás ficou bem claro logo de entrada, no título do “post” em que aquela bambochata foi reproduzida (“Novas palavras no porrtugueiss univérrsau“). E ainda mais claro ficou, com todos os éfes e érres, no texto de introdução ao dito “post”:
Apenas com má-fé poderá alguém persistir ainda na peregrina ideia de que estes novos ditames da ABL diferem seja em que medida for das imposições anteriores. A lógica subjacente ao #AO90 — o plano de terraplanagem cultural, linguística, histórica, identitária — está agora a revelar-se de uma forma absolutamente evidente… e é tudo. A apropriação da designação “língua portuguesa” (ou “português”) para fins político-económicos e geoestratégicos servem exclusivamente os interesses (neo-imperialistas) do Brasil e a ganância de meia dúzia de lacaios brasileiristas portadores de passaporte português.
A propalada “língua universau” não passa, afinal, da imposição a Portugal e PALOP do crioulo brasileiro, o que aliás seria mais do que previsível; bastaria para o efeito ter lido o texto do “acordo” de 1990, os seus pressupostos e “objetivos”, para com a maior das facilidades concluir esta ridiculamente comezinha evidência.
Comezinha evidência essa que — não muito estranhamente, atendendo aos “pacifistas” que dizem não querer “guerras com o Brasil” — ainda assim tem passado pelos intervalos da chuva mediática em que estamos atolados, entre inúmeros escândalos e roubalheiras — como se não estivesse a decorrer o mais colossal assalto da História ao património colectivo e identitário de Portugal.
Pois se são os próprios brasileiros a desmentir-se a si mesmos, como pode ainda alguém sequer duvidar de que esse processo de extermínio está em curso?
Ou esta outra notícia, igualmente publicada no Brasil, ainda não chega?
Acordo ortográfico: 15 palavras que entraram para a Língua
Portuguesabrasileira.Luciana Gomides
“Mundo em Revista” (Brasil), 03.01.24A adição das palavras à Língua
Portuguesabrasileira representa, sobretudo, os contextos e evoluções da sociedadeA língua
portuguesabrasileira está em constante evolução, adaptando-se às novas realidades e necessidades da sociedade. Isso implica na incorporação de novas palavras e expressões em seu vocabulário. Nesse contexto, ganha destaque o Acordo Ortográfico da LínguaPortuguesabrasileira, que foi assinado em 1990 e está em vigor desde 2016. Seu objetivo é unificar a ortografia em todos os países lusófonos.O Acordo trouxe diversas modificações, como a exclusão do trema e novas regras de acentuação, entre outras considerações. Além disso, oficialmente, foram adicionadas 15 palavras à língua
portuguesabrasileira.Vale ressaltar que a maioria dessas palavras reflete avanços e mudanças nas áreas social, tecnológica e cultural. São termos que antes eram restritos ao ambiente acadêmico, como “decolonialidade”. Também há palavras que surgiram recentemente, como “crossfit” e “podcast”, relacionadas a atividades físicas e entretenimento.
15 novas palavras, de acordo com o Acordo Ortográfico
Podcast
Conceitua um formato de áudio digital com notícias, informações ou entretenimento.
Mocumentário
Gênero cinematográfico ou televisivo que imita documentários, com uma abordagem humorística e fictícia sobre determinados assuntos.
Ciclofaixa
Faixa exclusiva para bicicletas, delimitada por sinalização em vias públicas ou privadas.
Aporofobia
Corresponde ao medo, aversão ou discriminação contra pessoas pobres, desfavorecidas e marginalizadas.
Crossfit
Método de treinamento físico que combina exercícios de força, resistência, agilidade e flexibilidade, utilizando também pesos.
Delay
Refere-se a demora ou erro de transmissão, especialmente relevante no contexto tecnológico, como atrasos em plataformas de mídia ou jogos.
Decolonialidade
Movimento intelectual, político e cultural que busca superar os efeitos do colonialismo na sociedade.
Infodemia
É o esgotamento mental gerado pelo excesso de informação, causando ansiedade e reflexões sobre os efeitos desse excesso na sociedade, como a enxurrada de dados e notícias falsas sobre a Covid-19.
Telemedicina
Corresponde às consultas médicas à distância, utilizando as telecomunicações e a internet. Essa palavra se tornou ainda mais conhecida durante a pandemia.
Live-action
São filmes, séries ou animações que utilizam atores reais, como o live-action da Pequena Sereia.
Personal Trainer
Profissional dedicado ao acompanhamento de alunos que buscam evolução física.
Cibersegurança
São medidas, técnicas e ferramentas para proteger dados, sistemas e redes informativas.
Homoparental
Representa famílias formadas por pais ou mães do mesmo sexo e seus filhos.
Astroturismo
Trata-se de uma atividade turística que busca lugares com pouca poluição luminosa para observar fenômenos astronômicos, muito comum em regiões como a Chapada dos Veadeiros, em Goiás.
Laudar
Significa elogiar, enaltecer ou aplaudir alguém ou algo por suas qualidades, méritos ou feitos.
Assim, as novas palavras que foram oficialmente incorporadas à Língua
Portuguesabrasileira representam bem os contextos sociais, econômicos e culturais atuais, como os termos relacionados à pandemia ou aqueles que foram emprestados de outros idiomas.
[Transcrição integral, conservando o brasileiro do original
(de jornalista brasileira, publicado em jornal do Brasil).
Corrigi a apropriação abusiva da palavra “portuguesa”.
Destaques e “links” meus.]