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Novas palavras brasileiras no #AO90

Línguas disponíveis na APP do ChatGPT

A primeira notícia tinha um título que poderia levantar algumas dúvidas: «Veja algumas novas palavras que se tornaram oficiais na Língua Portuguesa». Desenvolvendo e “explicando” o tema, a jornalista Kimberly Caroline (brasileira, evidentemente) utilizava como exemplo das tais novas palavras o termo “deletar“, esclarecendo que «passa a ser aceito como uma palavra da língua portuguesa escrita no Brasil»; e acrescentava ainda, para deixar bem claro quem são afinal os donos da língua, que «Deletar” faz parte de um conjunto de cerca de 6 mil novas palavras incluídas na recente edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa».

Aquele artigo foi publicado no dia 21 e aqui reproduzido a 28 de Dezembro p.p. O que ressalta do teor “oficial” dessa e de outras notícias de igual teor publicadas no Brasil — nos media portugueses, está bem de ver, nem uma palavra sobre o assunto — é, como de costume, a sua absoluta falsidade. Trata-se da mais pura e dura desinformação.

Como aliás ficou bem claro logo de entrada, no título do “post” em que aquela bambochata foi reproduzida (“Novas palavras no porrtugueiss univérrsau“). E ainda mais claro ficou, com todos os éfes e érres, no texto de introdução ao dito “post”:

Apenas com má-fé poderá alguém persistir ainda na peregrina ideia de que estes novos ditames da ABL diferem seja em que medida for das imposições anteriores. A lógica subjacente ao #AO90 — o plano de terraplanagem cultural, linguística, histórica, identitária — está agora a revelar-se de uma forma absolutamente evidente… e é tudo. A apropriação da designação “língua portuguesa” (ou “português”) para fins político-económicos e geoestratégicos servem exclusivamente os interesses (neo-imperialistas) do Brasil e a ganância de meia dúzia de lacaios brasileiristas portadores de passaporte português.

A propalada “língua universau” não passa, afinal, da imposição a Portugal e PALOP do crioulo brasileiro, o que aliás seria mais do que previsível; bastaria para o efeito ter lido o texto do “acordo” de 1990, os seus pressupostos e “objetivos”, para com a maior das facilidades concluir esta ridiculamente comezinha evidência.

Comezinha evidência essa que — não muito estranhamente, atendendo aos “pacifistas” que dizem não querer “guerras com o Brasil” — ainda assim tem passado pelos intervalos da chuva mediática em que estamos atolados, entre inúmeros escândalos e roubalheiras — como se não estivesse a decorrer o mais colossal assalto da História ao património colectivo e identitário de Portugal.

Pois se são os próprios brasileiros a desmentir-se a si mesmos, como pode ainda alguém sequer duvidar de que esse processo de extermínio está em curso?

Ou esta outra notícia, igualmente publicada no Brasil, ainda não chega?

Acordo ortográfico: 15 palavras que entraram para a Língua Portuguesa brasileira.

Luciana Gomides
“Mundo em Revista” (Brasil), 03.01.24

A adição das palavras à Língua Portuguesa brasileira representa, sobretudo, os contextos e evoluções da sociedade

A língua portuguesa brasileira está em constante evolução, adaptando-se às novas realidades e necessidades da sociedade. Isso implica na incorporação de novas palavras e expressões em seu vocabulário. Nesse contexto, ganha destaque o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa brasileira, que foi assinado em 1990 e está em vigor desde 2016. Seu objetivo é unificar a ortografia em todos os países lusófonos.

O Acordo trouxe diversas modificações, como a exclusão do trema e novas regras de acentuação, entre outras considerações. Além disso, oficialmente, foram adicionadas 15 palavras à língua portuguesa brasileira.

Vale ressaltar que a maioria dessas palavras reflete avanços e mudanças nas áreas social, tecnológica e cultural. São termos que antes eram restritos ao ambiente acadêmico, como “decolonialidade”. Também há palavras que surgiram recentemente, como “crossfit” e “podcast”, relacionadas a atividades físicas e entretenimento.

15 novas palavras, de acordo com o Acordo Ortográfico
Podcast

Conceitua um formato de áudio digital com notícias, informações ou entretenimento.

Mocumentário

Gênero cinematográfico ou televisivo que imita documentários, com uma abordagem humorística e fictícia sobre determinados assuntos.

Ciclofaixa

Faixa exclusiva para bicicletas, delimitada por sinalização em vias públicas ou privadas.

Aporofobia

Corresponde ao medo, aversão ou discriminação contra pessoas pobres, desfavorecidas e marginalizadas.

Crossfit

Método de treinamento físico que combina exercícios de força, resistência, agilidade e flexibilidade, utilizando também pesos.

Delay

Refere-se a demora ou erro de transmissão, especialmente relevante no contexto tecnológico, como atrasos em plataformas de mídia ou jogos.

Decolonialidade

Movimento intelectual, político e cultural que busca superar os efeitos do colonialismo na sociedade.

Infodemia

É o esgotamento mental gerado pelo excesso de informação, causando ansiedade e reflexões sobre os efeitos desse excesso na sociedade, como a enxurrada de dados e notícias falsas sobre a Covid-19.

Telemedicina

Corresponde às consultas médicas à distância, utilizando as telecomunicações e a internet. Essa palavra se tornou ainda mais conhecida durante a pandemia.

Live-action

São filmes, séries ou animações que utilizam atores reais, como o live-action da Pequena Sereia.

Personal Trainer

Profissional dedicado ao acompanhamento de alunos que buscam evolução física.

Cibersegurança

São medidas, técnicas e ferramentas para proteger dados, sistemas e redes informativas.

Homoparental

Representa famílias formadas por pais ou mães do mesmo sexo e seus filhos.

Astroturismo

Trata-se de uma atividade turística que busca lugares com pouca poluição luminosa para observar fenômenos astronômicos, muito comum em regiões como a Chapada dos Veadeiros, em Goiás.

Laudar

Significa elogiar, enaltecer ou aplaudir alguém ou algo por suas qualidades, méritos ou feitos.

Assim, as novas palavras que foram oficialmente incorporadas à Língua Portuguesa brasileira representam bem os contextos sociais, econômicos e culturais atuais, como os termos relacionados à pandemia ou aqueles que foram emprestados de outros idiomas.

[Transcrição integral, conservando o brasileiro do original
(de jornalista brasileira, publicado em jornal do Brasil).
Corrigi a apropriação abusiva da palavra “portuguesa”.
Destaques e “links” meus.]

Um charco “infeto”

Filho de Marcelo envolvido no negócio ruinoso da Santa Casa no Brasil

«O filho do Presidente da República, Nuno Rebelo de Sousa, aparece ligado a um negócio controverso da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa no Brasil, depois das suspeitas de “cunha” no caso das gémeas luso-brasileiras.»

«Nuno Rebelo de Sousa terá tentado marcar uma reunião entre a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, e o presidente do Banco de Brasília no âmbito da iniciativa de internacionalização da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) para o Brasil.»

«A SCML investiu 20 milhões de euros para expandir os jogos sociais a Brasília, capital do Brasil, numa parceria com o Banco de Brasília, mas não teve quaisquer receitas.»

(…)

“ZAP”, 16.12.23

“O investimento no Brasil é que permite que a TAP ainda exista. Foi o melhor investimento que a TAP fez em 50 anos”: Lacerda Machado

«Em causa está o negócio de manutenção no Brasil, que tem sido muitas vezes apontado como um negócio ruinoso»

«Diogo Lacerda Machado defendeu que foi o investimento da TAP no negócio da manutenção da Varig/VEM no Brasil que “viabilizou a sobrevivência” da companhia aérea. A posição foi assumida na audição do antigo administrador na comissão parlamentar de Economia.»

«“Aquilo que viabilizou a sobrevivência durante 15 anos foi o Brasil. E o que permitiu que a TAP se tornasse a maior operadora estrangeira no Brasil foi a VEM. Não havia TAP se não tivesse havido investimento no Brasil”, afirmou.»

(…)

“CNN Portugal”, 09.05.23

A Operação Marquês e os negócios (ruinosos) da PT no Brasil

«O negócio da compra da Oi pela PT é uma das chaves da Operação Marquês. Estes são os bastidores e os detalhes de uma história que cruza Salgado, Sócrates e aquela que foi a maior empresa portuguesa.»

(…)

«Se em 2010, na véspera de um acordo com a PT, a Oi era considerada por Salgado como uma empresa de “grandíssimo potencial” que permitiria atingir o objectivo crucial de a empresa portuguesa permanecer no Brasil depois da venda da participação na Vivo à Telefónica, hoje Salgado considera ruinoso o negócio que tanto apoiou e que foi igualmente apadrinhado e promovido por José Sócrates e Lula Silva.»

(…)

“Observador”, 19.01.17

Fundo de Pensões para negócio ruinoso no Brasil

«90 milhões das pensões da Portugal Telecom foram perdidos no Brasil. A investigação acredita que Ricardo Salgado inspirou a operação, na qual tinha um interesse escondido. »

«A Portugal Telecom usou irregularmente 90 milhões de euros do seu Fundo de Pensões para se envolver, em 2010, num negócio ruinoso no Brasil.»

«O ‘cérebro’ do esquema terá sido Ricardo Salgado, com a ajuda do então primeiro-ministro José Sócrates.»
«Esta é a conclusão para que apontam os responsáveis judiciais da Operação Marquês.»
«O negócio começou na venda da participação da PT numa próspera empresa brasileira de comunicações telefónicas móveis, a Vivo, e acabou na aplicação de parte dessas mais-valias na compra da Telemar/Oi, especializada numa rede de telefones fixos – uma actividade em vias de se tornar residual devido à mudança de hábitos dos utentes.»

(…)

“Sol”, 10.07.17

Estas são quatro amostras, apenas alguns dos “negócios da China que — invariavelmente à custa dos contribuintes portugueses e sempre em benefício de interesses brasileiros — têm sido cozinhados à sombra da “língua universau” desde a imposição manu militari do #AO90 a Portugal e aos PALOP.

Muitos outros roubos e vigarices avulsas pode qualquer um verificar, bastando para o efeito algum trabalho de pesquisa através de qualquer “motor de busca”, desde que inclua critérios de pesquisa tão edificantes como, por exemplo, “negócio ruinoso”, falência, fraude, investimento ou “tráfico de influências”; isto, bem entendido, desde que as constantes sejam sempre “Brasil” (ou brasileiro/s) e “Portugal” (ou português/portugueses); para maior especificidade na obtenção de resultados, a busca poderá envolver ainda instâncias do poder político tuga (Governo, Presidência da República, Parlamento, instituições várias) e também os do lado de lá (Presidência, Senado, empresas privadas etc.).

Os resultados, pela profusão e diversidade das golpadas e dos golpistas envolvidos, com ramificações em áreas tão diversas como as editoras ou a indústria da defesa (militar), poderão surpreender aqueles que, talvez por serem muitíssimo “distraídos”, ainda não entenderam bem o que de facto é a tal “língua universau” e para que serve o “acordo cacográfico”, bem como os acordos subsequentes.

Língua universau brasileira faz muita confusão aos brasileiros

  1. Na versão definitiva do AO90 (ainda não “revisto”, isso virá mais tarde), todas as alterações são imposições brasileiras; no Brasil, NENHUMA alteração, NENHUMA palavra escrita “à portuguesa” foi na escrita deles alterada; os brasileiros limitam-se a cumprir parte do acordado em 1945.
  2. O Brasil simula alterar a escrita da sua língua para fingir que “cedeu” em alguma coisa no “acordo” (por definição, tipicamente, num acordo ambas ou todas as partes cedem em algo e reivindicam outro tanto), mas todas essas “concessões” dizem respeito ao acordado 45 anos antes, num outro “acordo” que o Brasil assinou, jamais cumpriu, e denunciou unilateralmente dez anos depois, em 1955. As alterações de 1945 que fingem ser de 1990 resumem-se ao trema, a um acento nisto ou naquilo, à hifenização e pouco mais.
  3. As “contas” de Malaca&Bechara, SARI, tão aldrabadas como o próprio AO90, apontam para alterações de 1,4% e de 0,5%, respectivamente, na Língua Portuguesa e no brasileiro. Incrível ficção, claro: 100% das alterações ocorrem no Português-padrão e resultam exclusivamente, todas elas, do modo de falar dos brasileiros (os de “pronúncia culta”, dizem os vigaristas). O passo “técnico” seguinte seria, portanto, inventar justificações “técnicas” e “gramaticais” para cada uma das brasileiradas impostas.
    [“post”:Tratado de cacografia, 23.01.22]

dgabc.com.br, 11.12.23

Como se escreve? A[sic] principais dúvidas ortográficas tiradas na internet em 2023 – Diário do Grande ABC – Notícias e informações do Grande ABC: agência entre aspas

Responda com sinceridade: caso te perguntassem nesse momento, você saberia como escrever a expressão “por extenso” sem precisar recorrer ao Google? Sim? E quanto a palavras como “seiscentos”, “bullying” ou “airfryer”, por exemplo?

Se, dessa vez, a resposta foi negativa, saiba que você não é o único: de acordo com dados do mais novo levantamento da plataforma de idiomas Preply, ao menos 7 milhões de pesquisas online feitas por brasileiros este ano giraram em torno de dúvidas ortográficas, em sua maioria relacionadas ao uso da acentuação, hífen, diferenças entre “ç” e “s” e a escrita de termos estrangeiros.

Isso porque, para descobrir quais palavras mais geraram dúvidas nos internautas ao longo de 2023, recentemente, a plataforma de idiomas compilou e ranqueou as mais diversas pesquisas relacionadas à expressão “como se escreve” nos mecanismos de buscas de janeiro a setembro, de modo a identificar os erros de ortografia que deram um nó na cabeça de pessoas de todo o país.

O resultado pode ser visto no ranking abaixo, que revela os questionamentos com os maiores volumes de pesquisa dos últimos meses de Norte a Sul.

Como se escreve? – Crédito da imagem: Preply

Dezesseis”, “sessenta”, “seiscentos”: é com S, SS, SC ou Ç?

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Cidadania portuguesa “eletrônica”

Importa realçar, pela enésima vez, que isto tem absolutamente tudo a ver com o #AO90. Sem essa patranha original (aliás, inédita a nível mundial), com a subsequente invenção da CPLB (1996), mais a assinatura em segredo do “Estatuto de Igualdade” (2000) e o “Acordo de Mobilidade” de sentido único (2021), a ponte aérea actualmente em curso não seria possível. Mais do que simples relação de causa e efeito, visto que aquela foi inventada para chegar a este, aplica-se aqui, em rigor, a máxima desde sempre utilizada pelos regimes totalitários: “os fins justificam os meios”.
[
“F*deu: Portugal Acabou! Vai virar Brasil”]

Até ver, a coisa vai correndo pelo melhor, tudo nos conformes, para os interesses geoestratégicos e económicos de uma das partes e para as contas bancárias de alguns traficantes da outra. Veremos então se Portugal já é de facto — porque jamais o será de direito — o 28.º estado brasileiro.
[
“Igualdade” e #AO90, o todo e as partes]

Trâmites para obter nacionalidade portuguesa migram para o digital

A partir desta sexta-feira, dia 1º, Portugal tornou obrigatória a apresentação de documentos por via eletrônica, em busca de acelerar processos

Amanda Péchy
revista “Veja” (Brasil), 01.12.23

Bandeira de Portugal com a Torre de Belém, em Lisboa
Bandeira de Portugal com a Torre de Belém, em Lisboa (iStockphoto/GettyImages)

Entra em vigor nesta sexta-feira, dia 1º, o aguardado regulamento para a tramitação eletrônica dos processos de nacionalidade em Portugal. A nova regra deve aumentar a acessibilidade e, mais importante, agilizar a obtenção dos cobiçados documentos.

A portaria 344/2023, prevista no decreto 26/20233, torna obrigatória a apresentação, por via eletrônica, de requerimentos e declarações para efeitos de atribuição, aquisição ou perda da nacionalidade. Advogados e solicitadores, atuando em representação dos interessados, agora podem – e devem – realizar essas ações de maneira digital.

“Isso simplifica consideravelmente o processo para os solicitantes”, avaliou Flávia Souza, advogada especializada em imigração para Portugal, em entrevista a VEJA. “Ainda não temos projeções de novos prazos, mas a expectativa é que a tramitação de procedimentos seja mais célere.”

Agilidade e acessibilidade

Com a novidade, todos os dados necessários à apreciação das solicitações são registados no sistema do Instituto de Registos e Notariados (IRN), órgão responsável pela análise dos processos de nacionalidade, logo no momento da sua apresentação.

Ou seja, ficam dispensadas as antigas tarefas de digitalização por parte dos funcionários do IRN. E advogados deixam de ter que se deslocar a balcões de atendimento dos serviços de registro, podendo apresentar pedidos de nacionalidade sem restrições de horário.

A portaria viabiliza ainda a consulta em tempo real de informações sobre o procedimento de nacionalidade de cada indivíduo, aumentando a transparência e oferecendo uma visão mais clara do andamento dos processos. Além disso, introduz a declaração direta de nascimento em pedidos de nacionalidade portuguesa.

Os próprios requerentes podem declarar a nacionalidade por meio da mesma plataforma, após todos os trâmites. Essa é outra medida que agiliza o processo”, afirmou a advogada Flávia Souza.

Demandas e crimes contemporâneos

Ao comentar sobre a implementação da portaria, o IRN destacou a importância de adaptar os procedimentos às demandas contemporâneas.

“A tramitação eletrônica dos processos de nacionalidade é um passo crucial para simplificar e agilizar os serviços oferecidos pelo governo, atendendo às expectativas da sociedade por uma administração mais eficiente e moderna”, informou em comunicado.

A distribuição eletrônica, porém, só está disponível para advogados e solicitadores. Por meio dessa e outras ações, a Ordem dos Advogados de Portugal tem tentado combater uma crescente onda de procuradoria ilícita, crime previsto no código penal português.

Muitas pessoas tem cometido o delito por meio das redes sociais, oferecendo serviços ligados a imigração e nacionalidade sem a devida inscrição na Ordem dos Advogados”, alertou Souza.

[Transcrição integral, incluindo imagens e destaques (a negro). Inseri outros destaques e “links” (a verde).
Como o jornal é brasileiro, foi conservada a cacografia do original.]

Migrantes da CPLP sem registo criminal terão visto prolongado automaticamente

Alteração aprovada em Conselho de Ministro também prevê uma maior digitalização e simplificação dos processos com que os imigrantes têm de lidar.

Beatriz Ferreira
“Semanário”, 05.12.23

Os pedidos de imigrantes da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) para prolongar o visto de permanência ou residência vão passar a ser automaticamente deferidos, mas apenas se as pessoas em causa não tiverem registo criminal ou outro factor de ponderação. A notícia é avançada pelo Público, que refere que este é o último passo para a extinção do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).
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Quatro milhões, quatro cadeiras, quatro perguntas

Por alguma razão o título dos dois primeiros posts (1, 2) sobre este assunto foi “PMF”. Era previsível, se o assunto não fosse entretanto abafado, que a coisa iria provocar celeuma. Como aliás agora se vai vendo e como, caso o mistério continue a descoberto, certamente muito mais se verá ainda.

Nesta actualização da matéria, por assim dizer, começamos por uma gravação da jornalista Sandra Felgueiras — cuja peça emitida pela TVI espoletou a polémica da possível interferência presidencial no caso de utentes brasileiros do SNS — em que acrescenta agora novos dados, alguns dos quais bastante estranhos. Por exemplo, que:

  • não foram duas, foram quatro as cadeiras (duas das quais eléctricas) atribuídas
  • os pais das crianças têm bastantes posses no Brasil
  • o processo de naturalização das gémeas foi completado em tempo record
  • as cadeiras eléctricas daquele tipo nunca foram atribuídas a crianças portuguesas
  • a mãe das gémeas disse, numa entrevista, que recorreu a uma cunha através da nora do PR português
  • a consulta foi marcada contra o parecer dos médicos do Hospital de Santa Maria
  • as crianças regressaram ao Brasil e nunca mais vieram a quaisquer consultas de seguimento
  • as cadeiras eléctricas foram enviadas (pelo pai das crianças) de barco para o Brasil

A seguir a este interessantíssimo “briefing” jornalístico pode ler um artigo da revista “Sábado” em que o “presidente dos afectos”, como o próprio aprecia intitular-se, ameaça — literalmente, claramente — processar quem porventura ousar pôr em dúvida, ainda que apenas como opinião ou alvitre, qualquer procedimento seu em toda esta tramóia. O que diz Marcelo é isto: “vendo a reportagem, ninguém diz que“. E então.. pronto; como “ninguém diz que”, na reportagem, lógico será concluir que isto é o contrário de alguém ter dito, na reportagem, que.

Ora, ameaça velada torna-se ainda mais séria pela natureza do cargo de quem a profere: poderá um Chefe de Estado mover uma acção judicial de algum tipo, cível ou até criminal, no caso de ofensa, calúnia e difamação? Poderá o Presidente da República, o “mais alto magistrado da nação”, despojar-se da dignidade (e virtual intocabilidade) do cargo que exerce e mover uma acção judicial, enquanto simples cidadão, contra seja quem for? Iria ele comparecer numa audiência, em pleno tribunal, assumindo o papel de simples queixoso? Com ou sem escolta pessoal, deslocando-se na viatura presidencial ou indo a pé, pagando a um advogado ou entregando o caso ao gabinete jurídico da sua Casa Civil (ou militar)?

Questões meramente retóricas, na verdade, já que a resposta comum a todas elas — de tão escarrapachadamente evidente — resulta em indício seguro do que, sem bravata, está implícito na sentença antecipada: “Se aparecer alguém [a acusar de favorecimento], vou a tribunal comparar a minha verdade com a da outra pessoa“.

Apesar disso, e do que adiante virá, um artigo do “Diário de Notícias” completa este “update” da situação servindo como contrastante ou contraponto. Apesar de envolver algumas trapalhadas acessórias, o conteúdo da peça mantém o foco naquilo que de facto está em causa: se não houve “cunhas” ou “empenhos”, se ninguém interferiu, então como se compreende que no SNS português haja tudo, e já, e do melhor, para uns, e que não haja nada, e só no dia de S. Nunca à tarde, e só se for baratinho, para outros?

Finjamos esquecer os custos astronómicos do Zolgensma, as cadeiras topo-de-gama, os 14 dias para obter o cartãozinho, as facilidades prontas, as mordomias avulsas. Finjamos também esquecer a orgânica do Estado, do qual o SNS faz parte, os pressupostos do regime, do qual a Constituição deveria ser a estrutura, e até as normas de deontologia médica que vigoram há 2500 anos.

Podemos realmente fingir que tudo isso está esquecido, mas ninguém pode fingir que não está a perceber coisa alguma.

Constituição da República Portuguesa
Parte I – Direitos e deveres fundamentais
Título I – Princípios gerais
Artigo 13.º – (Princípio da igualdade)

1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.
2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.

 

Marcelo nega cunha e ameaça processar no caso das gémeas brasileiras operadas no Santa Maria

www.sabado.pt, 01.12.23

“Vendo a reportagem, ninguém diz que eu falei ou que falaram comigo”, afirmou o chefe de Estado.

 

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, garantiu, este sábado, não ter interferido na decisão do caso das gémeas brasileiras operadas no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e ameaça partir para tribunal caso apareça alguém que diga o contrário.

Lula da Silva, Marcelo e Janja (Grã-Cruz da Ordem Infante D. Henrique)”

“Se aparecer alguém [a acusar de favorecimento], vou a tribunal comparar a minha verdade com a da outra pessoa“, afirmou o chefe de Estado.

Em declarações aos jornalistas, o Presidente da República não só negou a “cunha” às duas gémeas como sublinhou o facto de não aparecer ninguém na reportagem emitida, esta sexta-feira, pela TVI, que afirme ter sido contactada pelo próprio.

“Eu não fiz isso. Se tivesse feito tinha-o dito. Vendo a reportagem, ninguém diz que eu falei ou que falaram comigo”, frisou.

Inspecção-Geral em Saúde abre inspecção ao caso das gémeas

[Transcrição integral cacografia brasileira corrigida automaticamente.
“Links” e destaques meus.]

Hospital de Coimbra recusa medicamento a duas crianças com Hemofilia A grave

O Infarmed autorizou o uso de um fármaco inovador nos hospitais em Fevereiro deste ano. Uma especialista em doenças raras, do CHUC, prescreveu-o a dois doentes, de 13 e 14 anos, mas o conselho de administração recusou, justificando a decisão com base num protocolo aprovado a posteriori, que define que só médicos do centro de referência o podem fazer. A médica já não faz parte do centro. Os familiares das crianças sentem-se “discriminados”. O advogado da médica diz que “é o assédio levado ao extremo”. O hospital não respondeu ao DN.

Ana Mafalda Inácio

“Diário de Notícias”, 02 Dezembro 2023

[foto]
Andreia diz ser uma optimista em relação à doença do filho, mas custa sentir que ele está a ser “discriminado”.

Aos oito meses do filho, Andreia e o marido, receberam um diagnóstico que os deixou “sem chão”: Hemofilia A grave – ou seja, segundo a literatura médica, deficiência congénita no processo de coagulação do sangue que se manifesta quase exclusivamente nos homens e se caracteriza pela ausência ou carência de um dos factores da coagulação, provocando hemorragias frequentes, especialmente a nível articular e muscular.

O diagnóstico foi feito no Hospital de Viseu, mas desde essa altura que têm caminhado para o Hospital Pediátrico de Coimbra, primeiro mais amiúde, agora de três em três meses para garantirem ao filho cuidados de qualidade. Mas as viagens constantes também têm a ver com o facto de Andreia e o marido quererem que o filho seja acompanhado pela especialista que o observou pela primeira vez em bebé e que continua a fazê-lo aos 13 anos. “É uma médica que faz parte da vida dele, em quem ele tem confiança”, explica ao DN.

D, vamos tratá-lo assim, para salvaguardar a sua identidade, habituou-se à doença, a ter de injectar na veia o Factor VIII de que necessita, duas, três ou quatro vezes por semana, mas também a ter de esconder os braços por baixo da roupa, para tapar as marcas deixadas pelas seringas.

O mesmo acontece com Mário, um nome fictício, pedido pelo irmão mais velho, com quem o DN falou, para o salvaguardar também. Mário tem 14 anos, o irmão 27, ambos padecem de Hemofilia A grave, e ambos foram e são acompanhados pela médica sobre quem aqui falamos, no mesmo hospital pediátrico, que hoje integra o Centro Hospitalar Universitário de Coimbra (CHUC). O mais velho já sentiu na pele a frustração de ter de abdicar de alguns sonhos pela doença, “por não me poder magoar ou fazer feridas, que depois não se conseguem tratar”, o mais novo começa agora a perceber o que isso é, quando anseia jogar futsal, vai aos treinos “e depois não vai aos jogos porque nunca se sabe o que pode acontecer”. Mário tem de injectar Factor VIII três vezes por semana, “já é ele que o faz, mas quando tem dificuldades em picar-se eu e a minha mãe cá estamos para ajudar”.
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