Etiqueta: linguística

Do Brasil, duas coisas de jeito

Pois. “Ler dá trabalho”, como disse em tempos uma aluna do 12.º Ano — o que aliás escrevi no quadro, com um letreiro por cima: “não apagar!”, e que ali ficou até ao fim do ano lectivo –, mas ainda assim, que diabo, este Apartado 53 cumpre (também) a função de repositório de textos (e vídeos e gravações e imagens e documentos) de tudo aquilo que se relaciona com o #AO90. Portanto, sem trocadilhar excessivamente, “repositemos” mais estes dois artigos, até porque dá-se o caso de provirem ambos do Brasil, o que não deixa de ser algo surpreendente.

Acresce ainda, vindo somar-se à surpresa da proveniência, a raridade do tema que, embora abordado de forma diferenciada num caso e no outro, pelo menos tocam os dois em áreas não demasiadamente herméticas para o comum dos mortais: neurolinguística, fonética (ortoépia brasileira, prosódia brasileira) e até uns laivos de etimologia, sociolinguística e estrangeirismos.

Muito ao contrário do que sucede em Portugal, quanto a este tipo de matérias, já que por aqui a tendência dos linguistas em geral é encapsularem-se a si mesmos numa redoma de soberba academicista à qual apenas meia dúzia de titulares, todos eles confrades, têm acesso — talvez por modéstia, convenhamos, coisa à qual são, caracteristicamente, muito dados.

Por conseguinte, ignorando tais e tão fantásticos arremedos de genialidade encadernada, vejamos então o que se diz nas revistas brasileiras “Fórum” e “Inova Social” e que, não por mero acaso, tem tudo a ver com a língua “adotada” por Cavaco, Sócrates, Costa & Cia.

É curioso que sejam os próprios brasileiros a dizer com toda a clareza aquilo que na “terrinha” quase ninguém se atreve a sequer balbuciar. Chegaria até a ser hilariante — caso a terraplanagem da língua universau brasileira não fosse uma hecatombe cultural sem precedentes — a forma como ambos os artigos objectivamente aniquilam as “razões” usadas por alguns tugas para “justificar” a destruição da Língua Portuguesa.

Implicâncias ranhetas?

Mouzar Benedito

revista “Fórum” (Brasil), 13.11.23

O mundo está cheio de coisas ruins acontecendo. Pensei em – sem perder a consciência nem a indignação – aliviar um pouco os pensamentos, escrevendo umas coisas leves. E o que saiu? Um monte de coisinhas pequenas, mas nem tão refrescantes assim. Aí vão.

Trabalhar de casa! Ô, expressão que me dói no ouvido. Esse “de casa” é coisa de gringo, imitada pelo que antigamente chamavam de macacobrás, um pessoal que em vez de falar como os brasileiros sempre falaram decide imitar a fala gringa. O termo macacobrás não é mais usado, mas a conduta macacobrás está cada vez mais forte. Vão substituindo tudo quanto é palavra da língua portuguesa por uma traduzida do inglês e exigem que seja assim. Mas voltemos ao início… Sempre falamos aqui “trabalhar em casa”. Veio a Covid, uma maldição, e muita gente teve que trabalhar “em casa”, mas pegou outra maldição, a expressão “trabalhar de casa”.

Mim ou eu? Ouço cada vez mais até gente estudada falando “pra mim fazer”, em vez de “pra eu fazer”. Também dói no ouvido. Mas tem outra situação em que “mim” é considerada por linguistas palavra certa, ao contrário de “eu”. “Entre mim e ele”… Falar ou escrever “entre eu e ele” é errado, dizem os donos do idioma. Pra evitar isso, preferi sempre dizer “Entre ele e eu”, mas li de um especialista que isso também é errado, tem que ser “entre ele e mim”. Um horror.

Agora uma coisa importada, que acho que não é da gringolândia, mas de países de língua espanhola da América Latina. Não tenho certeza, mas é uma palavra que comecei a ouvir de ex-exilados que voltavam quando a ditadura acabou. Não usavam a palavra “líder”, achando que isso era dar poderes a alguém, um líder sindical, por exemplo. Queriam abrandar a força do líder e falavam “liderança”. Um sinal de “modéstia”. Assim: “Fulano é uma liderança metalúrgica”. Ora! Liderança é função do líder, capacidade de liderar. Líder é líder, gostemos dele ou não. Liderança é o que ele exerce.

Na mesma linha, tem umas coisas que eu acho ridículas. “O Palácio do Planalto emitiu nota…”. Palácio escreve, fala? Quem mora no palácio, seja do Planalto, dos Bandeirantes, do Catete ou cacete a quatro é que fala ou escreve, emite notas. Jornalistas são especialistas em falar essas besteiras, tanto do palácio que escreve ou fala quando da liderança sem líder. Aliás, colunistas também dão uma de modestos e não dizem que é deles alguma previsão ocorrida, dizem “a coluna” previu. E deputados? Muitos também são assim: eles não propõem nem falam nada, é “o mandato” é que propõe ou fala.

Já que falei em palácio falante, mas prefiro dar o nome aos bois, revelar que é seu ocupante que fala, escreve, aprova leis, decide… uma coisa que nunca vou “perdoar” o Lula é por ter assinado o (des)acordo ortográfico que acabou com o trema e uns outros acentos. Uma coisa que só veio para atrapalhar, e na minha cabeça ficou a imagem que aquilo serviu só para dar lucro a certas editoras poderosas. Agora quase não se usa mais dicionário impresso, mas na época era usado direto. E nas escolas, por exemplo, não podiam manter dicionários com a ortografia antiga. Quantos milhões foram gastos para substituir todos eles? Os burocratas da língua, para justificar o acordo maldito, diziam que era para unificar a língua portuguesa em todos os países lusófonos, mas os demais países não embarcaram nessa, ficou uma coisa ridícula. E diziam também que o trema só existia em português, então era uma coisa sem sentido (a macacobrás sofisticada, letrada…). Mas é pura mentira. Veja em francês: tem trema em cima do i, para que ele seja pronunciado como i em português. Exemplos: Arte naïf, Anaïs Nin. Sem trema, seriam pronunciados “néf” e “Ané”. E em alemão tem trema em cima do o, por exemplo: Köller. Muitas outras línguas têm disso e, se fosse pra valer isso não ter sentido um acento porque não existe em outras línguas, pelo que sei só em espanhol tem ñ – n com til. E vá falar pros espanhóis que eles têm que parar com isso, porque nas outras línguas não tem! – Então, acho imperdoável o fato do Lula ter aprovado essa trolha, e o governo da Dilma ter referendado. Por isso, por mais que aprove o governo Lula em outras questões, nessa questão vou continuar xingando os dois (Lula e Dilma). Fora o trema, lindíssimo e necessário, tem a retirada do acento agudo de muitas palavras em que ele é necessário também. Eu que de vez em quando escrevo livros com diálogos caipiras, não poderia também usar acento nas palavras véio e véia, por exemplo. Mas se escrevo veio, pode ser de ouro, se escrevo veia pode o troço por onde passa o sangue. Vejam um poeminha besta que escrevi só para falar mal disso: “O véio achou um veio / E com esse ouro custeia / O que a véiainjeta na veia”.

Fora esses exemplos de coisas que acho imbecis (uma pequena mostra, são muitas), tem os exageros do politicamente correto, que grande parte da esquerda assume e que só ajuda a nos derrotar. Não que não sejam importantes, mas vão se tornando exclusividades, em prejuízo de outras coisas importantes. Ao privilegiar causas identitárias, deixando em segundo, terceiro ou último plano coisas como questões de classe social, parece que pensam que só essas causas identitárias interessam. E haja exagero!

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[Transcrição parcial. Inseri “links” (a verde) com citações de “posts”.]

O dicionário mental: A biblioteca invisível e fascinante da mente humana

Inova Social” (Brasil), 08.11.23

O conhecimento linguístico que carregamos é um dos traços mais fascinantes da nossa individualidade. No mundo contemporâneo, onde os dicionários físicos estão se tornando relíquias, cada um de nós possui um dicionário mental, repleto de palavras que foram acumuladas e moldadas por experiências pessoais.

Nosso dicionário mental não é apenas uma coleção de palavras, mas um compêndio das suas letras, sons e significados, assim como informações gramaticais e sinônimos. É uma ferramenta dinâmica, que nos permite formar frases e se comunicar eficientemente. A singularidade deste dicionário está no fato de ser profundamente personalizado, refletindo os percursos educacionais, profissionais e culturais de cada indivíduo.
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Tratado de vitimização

Movimentos anti-imigração em Portugal cada vez mais organizados

Investigadora do ISCTE nega que haja um sentimento xenófobo generalizado em Portugal contra os brasileiros, mas admite que os episódios têm aumentado. Thaís França lamenta ainda que o país não discuta abertamente o racismo e a xenofobia.

DN/Lusa
11 Novembro
2023A investigadora Thaís França alertou este sábado que os movimentos anti-imigrantes existem em Portugal e estão cada vez mais organizados, aproximando-se dos congéneres europeus, embora sem um impacto social equivalente.

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Nos grupos anti-imigrantes “há uma organização muito maior, muito mais forte, há muitos mais grupos aparecendo e cada vez mais organizados, com agendas mais claras, ocupando cada vez mais espaço, não só de movimentos sociais, mas também dentro da política partidária”, avisou a investigadora do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do ISCTE.
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Financiado pela EEAGrants Portugal, o estudo de Thaís França incluiu 20 entrevistas a activistas portugueses que se apresentam como anti-imigrantes e as conclusões apontam que a agenda é semelhante a outros países europeus.

“Esses movimentos anti-imigração existem em Portugal, mas não têm tanta visibilidade quanto têm noutros contextos”, pelo que há uma tendência para se dizer que o problema não existe em Portugal, o que “é mentira”, explicou.

Segundo a investigadora “começam a aparecer algumas manifestações de discursos de ódio, principalmente online, casos que se vêem na rua, de manifestação contra migrantes”, exemplificou.

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Reconhecendo que é “tudo muito pontual”, a investigadora diz que o seu estudo mostra que essas movimentações existem “de uma forma mais submersa e estão a organizar-se”.

Até porque, salientou, há um crescimento em Portugal do “espaço para essas reivindicações anti-imigração acontecerem, apesar de, até hoje, Portugal ter tido uma política muito aberta em relação aos imigrantes”.

O afluxo de estrangeiros ao país acentua a expectativa desses grupos de uma maior visibilidade, já que dantes, com a imigração tradicional dos países lusófonos, contribuía para que o “chamado choque cultural fosse muito menos intenso do que se poderia ter visto noutros países”.

A investigadora, de origem brasileira, foi confrontada com isso nas suas entrevistas. “[Os activistas anti-imigração] diziam que o meu caso é um caso de excepção, porque estou integrada na sociedade portuguesa porque estou a trabalhar e a contribuir”, numa espécie de “discurso da boa selvagem” em relação ao outro.

Esses grupos defendem um “controlo maior da entrada” de migrantes e criticam as políticas de “diversidade cultural nas escolas”, explicou a investigadora.

Trata-se de organizações que “advogam que Portugal precisa mudar as políticas, que são muito abertas para os migrantes, comparada com os outros países europeus”, com “agendas de reivindicação” muito semelhantes a outros grupos de outros países.

Em causa está o “risco de haver uma perda da identidade portuguesa, à medida que mais imigrantes vêm e à medida que Portugal começa a adoptar outros costumes culturais que não seriam os tradicionais”, explicou Thaís França.

As conclusões do projecto, que integra estudos semelhantes realizados na Noruega, Itália, Alemanha, França e Áustria, serão apresentadas no dia 29 de Novembro.

Apesar de o discurso anti-imigrantes estar latente na sociedade, Thaís França não acredita que as próximas eleições de Março dêem eco ao tema.

O tema da anti-imigração está presente na agenda do Chega” e “tenta entrar noutros partidos”, mas a actual crise política “acontece dentro de um contexto de corrupção” e será esse o tema principal da campanha, vaticinou.

“Se tivesse sido uma saída normal do Governo, eu acreditaria que essa questão da migração apareceria com mais força na agenda, porque ela está presente na agenda dos partidos políticos também”, mas “hoje não me parece”, afirmou.

Casos contra brasileiros têm aumentado

A investigadora Thaís França considera que o aumento dos casos de xenofobia contra brasileiros mostra a maior visibilidade do tema junto de vários sectores da sociedade portuguesa.

Comentando o recente caso de um vídeo difundido online em que uma mulher portuguesa no aeroporto de Lisboa diz a uma brasileira “vá para a sua terra, estão a invadir Portugal, entre outras declarações xenófobas, Thaís França salientou que o tema está a crescer também pela visibilidade dada pelos protagonistas, embora admita que o número de casos tem aumentado.

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Ordem dos Notários, (também) check

Ordem dos Médicos Dentistas

Ordem dos Notários

Ordem dos Médicos

Ordem dos Advogados

[post “Dentistas? Check! Advogados? Check! Médicos? Check!“]

Conforme previsto no Acordo de Mobilidade (2021), esta mais recente e alucinantemente rápida sucessão de golpadas serve apenas para que brasileiros obtenham a nacionalidade portuguesa. Uma parte ficará por cá mas a maioria poderá emigrar (com passaporte europeu, logo, livre-trânsito) para qualquer dos outros países da União Europeia.
[postA lógica instrumental do #AO90″]

União Europeia quer penalizar Portugal por quantidade de brasileiros chegando ao país

www.acordacidade.com.br, 11/10/2023

A ida de brasileiros para morar em Portugal tem sido cada vez mais frequente, algo que ocorre em grande parte devido aos programas de incentivo à mudança de estrangeiros ao país, principalmente à lei que possibilita uma autorização “automática” de residência para imigrantes dos chamados países da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, o que os permite morar, trabalhar, alugar imóveis e realizar cursos no país. Mas esse tipo de projeto de incentivo, que tem atraído estrangeiros para as terras portuguesas, tem sido questionado pela União Europeia – bloco político e econômico do qual Portugal faz parte. De acordo com a Comissão Europeia, o visto concedido pela CPLP não permite a viagem dos imigrantes para outros países do bloco europeu, que, para turistas, não deveria ultrapassar o limite de 90 dias.

Segundo o bloco europeu, o visto da CPLP viola o acordo de Schengen, criado em 1985, responsável por definir um acordo de livre circulação na Europa. O órgão notificou Portugal, que tem um prazo de dois meses para responder a notificação e apresentar o seu posicionamento.

O grande número de brasileiros em Portugal

De acordo com o representante lusófono, assessor da Casa do Brasil, Terras de Cabral, Dr. Fabiano de Abreu Agrela, esse deve ser apenas o início das implicações no êxodo brasileiro a Portugal.

“A vinda de brasileiros para residir em Portugal não é necessariamente algo negativo, mas o que percebemos é que a facilitação extrema do governo português, as atuais condições do país, a grande quantidade de imigrantes e a dissociação dos benefícios de visto com as normas da União Europeia mostram que o movimento está sendo feito de uma forma mal planejada, o que prejudica tanto o país, quanto os imigrantes, que acabam, muitas vezes, passando por dificuldades que o fazem retornar ao seu país de origem”, afirma.

[Transcrição integral,. Destaques e “links” meus.
Os textos (de) brasileiros não são corrigidos automaticamente.]

«O primeiro-ministro português sabe isso e vai lutar na União Europeia por um regime especial para os cidadãos dos países de língua portuguesa, tentando aprovar – ou pelo menos permitir – a criação de uma primeira “cidadania da língua” na história universal.»
[José Manuel Diogo, “APBRA200”, 27.06.22] [post «Portugal, um Estado brasileiro na Europa»]

Ora Pois: Cartórios de Portugal querem reconhecer documentos digitais do Brasil

Medida visa reduzir custos e aumentar agilidade para cidadãos dos dois países
Lisboa

A presença recorde de brasileiros legalmente residentes em Portugal — a comunidade aumentou 386% desde 2016, chegando agora a quase 400 mil cidadãos — já é sentida também nos cartórios lusitanos, que querem agora simplificar a aceitação de documentos digitais emitidos no Brasil.

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CIPLE vs CELPE: certificado em brasileiro ou certificado em brasileiro?

O que for doravante determinado pelo Brasil, por instituições brasileiras, pelo Governo brasileiro, passa automaticamente a valer em todos os estados, a começar pelo 28.º Estado. Eles dizem-no clara e expressamente, por exemplo no arrazoado seguidamente transcrito: «apenas a União pode alterar as regras da Língua Portuguesa». [‘Cândido, Pangloss, Voltaire (e vice-versa)‘]

Isto deve ter escapado aos vendidos que foram ao Brasil oferecer a Língua Portuguesa, aos mafiosos que tiraram do arquivo morto o #AO90 e aos gangsters que planearam a anexação de Portugal e dos PALOP a pretexto da língua “universau”.

É possível, mas nada provável, que a questão possa ter ocorrido a qualquer dos envolvidos na tramóia: se a língua passa a ser “universau” e, portanto, a ortografia é “unificada”, então a certificação de proficiência para estrangeiros passa a ser só uma, certo?

Errado.

Em Portugal vale apenas — até ver — o “Certificado Inicial de Português Língua Estrangeira” (CIPLE), conforme o previsto e determinado pelo Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas, enquanto que no Brasil continua a valer somente o “Certificado de Proficiência em língua portuguesa Para Estrangeiros” (CELPE-Bras).

Mas, que diabo, ao fim e ao cabo tanto faz, ambos os certificados são equivalentes e, portanto, qualquer estrangeiro pode obter indiferentemente o documento emitido em Portugal ou aquele que o “qualifica” no Brasil! Certo?

De novo: errado.

Atlas linguístico do Brasil

Se assim fosse, isto é, se de facto aquilo que um estrangeiro “aprende” no Brasil fosse o mesmo que serve para a certificação em Portugal, se os conteúdos e os objectivos pedagógicos fossem os mesmos (ou ao menos parecidos), então, evidentemente, não haveria dois certificados completamente diferentes, bastaria um deles…

Aliás, se a língua brasileira fosse mesmo “universau” — o que não sucede sequer dentro das fronteiras do Brasil — quaisquer provas de avaliação e o próprio exame final seriam iguais cá e lá, teriam (mesmo com a desortografia brasileira imposta pelo #AO90) um único enunciado e os critérios de avaliação seriam exactamente iguais. Não existem sequer vagas semelhanças entre eles, a nível algum: conteúdos, objectivos, enunciados, temas, questões, formulações, critérios, normas, tudo é radicalmente diferente.

Porém, parece estar também já planeada neste particular a “unificação” (ou seja, a brasileirização), no âmbito do plano de anexação político-económica e de erradicação da Língua portuguesa: não apenas o despacho oficial do governo brasileiro é inequívoco, como também o mesmo governo da “União” determina, define e regula o «certificado oficial de proficiência em português brasileiro como língua estrangeira», indicando ainda quais os locais — nas suas recentemente adquiridas possessões na Europa, em África e na Ásia, ou seja, em Portugal, nos PALOP, em Macau, em Timor e até em Goa — que estão autorizados pelo Itamaraty a certificar estrangeiros: «as provas são realizadas em postos aplicadores credenciados no Brasil e no exterior, como instituições de educação superior, representações diplomáticas, missões consulares, centros e institutos culturais, bem como outras instituições interessadas na promoção e na difusão da língua portuguesa

CIPLE
Certificado Inicial de Português Língua Estrangeira

O CIPLE corresponde ao nível A2 do Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas, do Conselho da Europa.

A descrição para este nível de referência apresenta os domínios sociais de comunicação, as situações de comunicação, os tipos de texto escritos e orais, as estratégias de comunicação, os actos de fala, os temas, as noções específicas e gerais que se prevê serem necessárias ao uso da língua nas actividades comunicativas seguidamente descritas.

O CIPLE atesta uma capacidade geral básica para interagir num número limitado de situações de comunicação previsíveis do quotidiano. Prevê-se também que nas áreas profissional e de estudo os utilizadores do CIPLE sejam capazes de interagir em situações de comunicação que requeiram um uso muito limitado do português, que não se diferencia de um uso geral da língua.

As componentes deste exame são três: Compreensão da Leitura e Produção e Interacção Escritas, Compreensão do Oral e Produção e Interacção Orais.

Este exame tem uma versão escolar destinada a jovens com idades compreendidas entre os 12 e os 15 anos. Nesta versão, as tarefas dos exames estão adaptadas à idade dos candidatos.

Este exame realiza-se nas épocas internacionais de Maio, Julho e Novembro e também nas épocas nacionais indicadas com o nome CIPLE-P (CIPLE-Portugal).

https://caple.letras.ulisboa.pt/exame/2/ciple

“Celpe-Bras” , “Celpe”

O que é?

O Celpe-Bras é o certificado brasileiro oficial de proficiência em português como língua estrangeira. A prova do Governo Federal é aplicada semestralmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), com apoio do Ministério da Educação (MEC) e em parceria com o Ministério das Relações Exteriores (MRE).

As provas são realizadas em postos aplicadores credenciados no Brasil e no exterior, como instituições de educação superior, representações diplomáticas, missões consulares, centros e institutos culturais, bem como outras instituições interessadas na promoção e na difusão da língua portuguesa.

O Celpe-Bras é destinado para estrangeiros comprovarem sua proficiência em língua portuguesa. O certificado pode ser usado para ingresso em cursos de graduação e em programas de pós-graduação, bem como para validação de diplomas de profissionais estrangeiros que pretendem trabalhar no País.

Alguns postos aplicadores não cobram taxa de inscrição.

Quer fazer a prova? Fique atento aos prazos e às regras dos editais. Eles são diferentes a cada semestre. Desde 2020, devido à a pandemia de COVID-19, o Celpe-Bras tem apenas uma aplicação anual, no segundo semestre.

https://www.gov.br/pt-br/servicos/fazer-o-exame-para-certificado-de-proficiencia-em-lingua-portuguesa-para-estrangeiros

[Das transcrições constam apenas os textos de apresentação de cada um dos dois “certificados”.
Os destaques são meus. Imagem do Atlas linguístico do Brasil de: “Escola Kids“.
Imagem do galo de Barcelos caipira de: site “Sua Língua” (Brasil)
.]

Galego ponto br

A Língua Galega é um tema que parece estar a tornar-se recorrente, aqui no Apartado, como aliás já anteriormente sucedia no site da (miseravelmente) extinta ILCAO.

Não é, nunca foi, por mero acaso, e muito menos por simples “palpite”. De facto, era mais do que previsível que a “língua universau”, ou seja, o neo-imperialismo invertido, uma “gêniau” invenção brasileira, acabasse por se atirar também às canelas linguísticas dos galegos.

O “gigantismo” do Brasil, essa obsessão parola tanto dos actuais PR e PM, Marcelo e Costa, como dos que deram início à tramóia, Cavaco e Sócrates, jamais deixaria passar a oportunidade de demonstrar a sua “autoridade” — são agora eles os donos da língua de que se apossaram, dela conservando apenas a designação — intrometendo-se não apenas em matérias que apenas dizem respeito à Galiza e aos galegos como até, por inerência política, imiscuindo-se nos assuntos internos de Espanha. E tudo isto, evidentemente, apenas à custa da tal designação que espertíssimamente mantêm: “língua portuguesa” dá ao Itamaty imenso jeito, é claro, abre todas as portas, a começar pela porta dos fundos para a Europa, nem de propósito, e ainda as de vários gabinetes presidenciais (ou seja, empresariais) em África — o petróleo e os diamantes de Angola, o gás natural de Moçambique — e na Ásia — Macau para negócios da China, até Goa, para as “especiarias” da Índia.

Evidentemente e como sempre tem acontecido, não são apenas os indiferentes (98%), os acordistas (0,1%) e os “distraídos” (1,4%) a ignorar ou a fingir ignorar a questão. Também dos restantes 0,5% da população, aqueles a quem estas matérias dizem alguma coisa e pretendem ir fazendo alguma coisinha, bom, não será de esperar mais do que o soporífero costume, isto é, nada, silêncio absoluto.

Fronteira Galiza-Portugal

O Galego é parte integrante, geograficamente, historicamente, culturalmente, civilizacionalmente, da Língua Portuguesa, o mesmo valendo em sentido inverso. São línguas irmãs, sim, mas irmãs gémeas, vivendo e convivendo paredes-meias há quase um milénio, com as mesmas bases e regras, apenas se distinguindo por alguns pormenores e sinais particulares.

Tudo pelo contrário, o brasileiro é um dos vários crioulos que os portugueses espalharam por todo o mundo ao longo de três séculos, tendo evoluído cada um desses crioulos, a milhares de quilómetros de distância física e a anos-luz de distância cultural, consoante influências e confluências próprias, contingentes e incidentes específicos, aliás tão inerentes e naturais como a própria deriva dos continentes.

A língua brasileira — a tau a que chamam universau ou globau, para o caso é iguau — absolutamente nada tem a ver com a Língua Galega e os brasileiros nada têm que se meter onde não são chamados. Ou alguém lhes pediu uns palpites, uns bitaites, que mandassem “umas bocas” sobre o que manifestamente não entendem?

Em suma: de onde, a que propósito, como diabo terá surgido este súbito “interesse” caipira pela Galiza? Bom, talvez os destaques no texto agora transcrito ajudem a perceber (o que, de resto, é facílimo), bem como poderá ajudar também o texto anteriormente do mesmo autor sobre o mesmo assunto, cujo título é um espectáculo de eloquência: “O que o Brasil ganha com a oficialização da língua galega na União Europeia?”

A língua galega gera desconforto no congresso espanhol

A votação sobre o pedido da Espanha para que o basco, o catalão e o galego fossem reconhecidos como línguas oficiais na União Europeia (UE) estava prevista para o dia 19 de setembro de 2023. Os países membros resolveram adiá-la. Ainda que não tenha agradado aos líderes independentistas das regiões autônomas, não houve veto, apenas uma prorrogação para mais conversas no bloco europeu.

Na Galiza, nesse mesmo dia, 19 de setembro, houve muita comemoração, já que ocorrera a primeira fala no parlamento espanhol que não fosse em castelhano. As três línguas cooficiais basco, catalão e galego foram usadas pela primeira vez no plenário. Quando o deputado José Ramon Besteiro, do Partido Socialista (PSOE), iniciou suas falas em galego, 33 deputados do partido de extrema-direita espanhol VOX abandonaram o plenário. O Partido Popular (PP) e o VOX opõem-se ao uso de outras línguas além do castelhano, pois defendem esta ser a língua comum do Estado espanhol, ignorando as línguas cooficiais das Comunidades Autônomas.

Entretanto, essa comemoração é um assunto ainda controverso, na Galiza. No meu texto anterior aqui no Le Monde Diplomatique, “O que o Brasil pode ganhar com a oficialização da língua galega na União Europeia?”, fiz uma introdução sobre o galego para a realidade brasileira que não tem contato nem muito conhecimento sobre as questões da Galiza. Neste segundo texto, aprofundarei um pouco mais a discussão sobre esse embate linguístico.

Reintegracionismo e autonomismo

A controvérsia dá-se por conta dos posicionamentos ideológicos em relação à língua da Galiza. O grupo que defende a reintegração da língua galega com o português é chamado de reintegracionista, logo, o galego e o português são variantes de uma mesma língua e não faria sentido separá-las institucionalmente. Há um outro grupo que não nega a origem comum do galego e português, porém, considera as duas línguas independentes; são chamados de autonomistas. Claro que, entre esses dois grupos, há opiniões “que ficam no meio do caminho”, visões com diferentes matizes.

Assim, os reintegracionistas (que representam a menor parte da população galega) não ficaram tão contentes com a possível oficialização do galego como língua independente na União Europeia, além de alguns de seus representantes terem criticado o galego falado por seus deputados no parlamento europeu, alegando que suas falas estivessem mais próximas de um castrapo (forma pejorativa de se referir ao galego castelhanizado). Na outra ponta, os autonomistas e grupos moderados comemoraram a data.

Mapa do Reino da Galiza, no século IX (Wikimedia Commons)

Mapa do Reino da Galiza, no século IX (WikimediaCommons)

O galego é a origem da cultura galego-portuguesa, pois era a língua do Reino da Galiza, que, no Século IX, se estendia de Coimbra ao sul e até Navarra ao leste. A língua era falada por toda a extensão do reino galego.
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