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Reciprocidade na CPLB? “Tem, não”

Tendo em atenção os antecedentes, torna-se de novo perfeitamente clara a relação de causa e efeito entre o súbito surto de “queixas” por “xenofobia” e as consequentes “medidas” governamentais destinadas a, conforme diz a própria titular dos serviços que despacham leis, «facilitação da passagem de vistos de residência».
[A vitimização como arma política – 1]

Haverá de facto uma relação directa — ou de causa e consequência — entre a “ponte aérea” em curso e a imposição manu militari da cacografia brasileira? Haverá mesmo um nexo de causalidade, um continuum (planeado até ao mais ínfimo detalhe, será?) entre o #AO90, a invenção da CPLP (1996), o “Estatuto de Igualdade” (ano 2000) e o “Acordo de Mobilidade” de 2021?
[As “contas certas” da desinformação]

«Eles [brasileiros] vêm sem visto. Mas nós, cabo-verdianos, temos de ter visto. É um problema para chegar a Portugal.»
«A gente para vir de Cabo Verde tem de ter visto, o que é muito complicado, para a gente conseguir um visto para vir para aqui. Mas os brasileiros não! O brasileiro é só arranjar o dinheiro da passagem, compra a passagem e já vem!»
«Os brasileiros vêm sem visto para Portugal. Mas nós, os cabo-verdianos, africanos, temos de arranjar visto; e aquele visto, na nossa terra, é muito difícil; tem que pagar muito dinheiro, muito dinheiro para vir para Portugal; menos do que 700 euros não há hipótese; às vezes é mais; mais a viagem, aí uns 400 euros ou 500 ouros.» [CPLP à pressão]

Para que se entenda toda a tramóia oficialmente designada como CPLP é necessário começar pela simples constatação de um facto evidente: trata-se de uma imposição da República Federativa do Brasil a Portugal — promovida por agentes portugueses ao serviço do Itamaraty — e, por intermédio do 28.º Estado daquela federação, o mesmo draconiano “acordo” é igualmente imposto a todos os PALOP (Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé) e também às ex-colónias portuguesas na Ásia (Timor-Leste, Macau, Goa). A evidência deste facto e, desde logo, o gigantismo da fraude resultam da ainda mais simples constatação de que não existe qualquer espécie de reciprocidade entre o Brasil e os outros sete Estados signatários.

Ou seja, assim como sucede quanto ao #AO90, em que 100% das alterações são imposições brasileiras, ou quanto ao “Estatuto de Igualdade” entre Portugal e Brasil, em que todos os benefícios revertem para os brasileiros, sem a mais ínfima contrapartida, e ainda quanto ao “Acordo de Mobilidade“, que funciona apenas do Brasil para os outros países e nunca o contrário, a Comunidade dos Países de Língua Brasileira (CPLB) tem de comunidade apenas a designação — serve exclusivamente os interesses brasileiros, o serôdio neo-imperialismo brasileiro, a “expansão” comercial e empresarial brasileira, a atávica brutalidade do seu putativo “gigantismo”.

Para juntar à “colecção” de exemplos já aqui publicados, ficam mais estes dois ecos da golpada de Estado: os angolanos em geral não têm direito a visto para o Brasil — nem como turistas! — e os estudantes em particular não só não têm direito a visto como, ainda por cima, têm de pagar o extraordinário favor que o Brasil lhes faz. Tudo com acréscimos, e extras e alcavalas, isto é, subornos, “conhecimentos” e máfias várias metidas ao barulho

Das entidades tuguesas, Governo, Presidência da República, Parlamento, é claro, nem uma palavra sobre isto. Não é esta “a verdade a que temos direito”.

Embaixada do Brasil diz que angolanos não devem fazer pressão para obtenção de vistos e assegura que matrículas nas universidades brasileiras não conferem direito a visto

Fernando Calueto
novojornal.co.ao, 12.09.23

A representação diplomática do Brasil em Luanda alerta ainda para o facto de os estudantes estarem matriculados e a pagarem propinas nas universidades brasileiras não lhes confere automaticamente o direito a visto.

Segundo a embaixada, os requerentes não devem exercer pressão sobre as autoridades consulares, pois entende que tal postura apenas atrasa o processo.

Em declarações ao Novo Jornal, após a manifestação dos estudantes angolanos, o embaixador do Brasil, Rafael de Mello Vidal, explicou que dois representantes dos estudantes foram recebidos por representantes do consulado, quando de repente um deles começou a gravar a conversa, facto que levou a interrupção da reunião, visto que no interior das embaixadas não se poder fotografar nem gravar áudios.

Conforme o embaixador, a Polícia Nacional só dispersou a manifestação dos estudantes porque estes bloquearam o acesso à Embaixada do Brasil. O que os estudantes negam.

Os estudantes pensam que ao serem aceites nas faculdades do Brasil, e por que pagam matrícula, têm direito automático de visto. E isto não é bem assim. Querem os vistos em tempo de iniciar aulas, mas isto demora. Muitas vezes não podem ser concedidos porque apresentam documentos fraudulentos de renda, entre outros”, explicou o diplomata.

Segundo Rafael de Mello Vidal, o processo destes estudantes vai continuar a merecer o seu tratamento normal junto da embaixada e aqueles que forem autorizados serão emitidos os vistos.

“As universidades dão matriculas para quem quiserem, mas não emitem vistos. Uma das exigências para atribuição de visto de estudante não bolseiro são as condições financeiras. E muitos não conseguem comprovar as condições de renda necessárias e outras vezes falsificam documentos e nestes casos o visto é rejeitados”, contou.

O embaixador explicou que o visto de estudante não é atribuído pela embaixada, mas sim pelas autoridades brasileiras, no Brasil, existindo vários requisitos para o efeito.

“A embaixada apenas tem competência para emitir visto de turista. Os outros são autorizados pelas autoridades migratórias do Brasil”, explicou.

Ao Novo Jornal o diplomata referiu que anualmente são mais de 600 pedidos de vistos de estudantes, e que desse número, a média de rejeição por documento irregular é de 25 por cento.

Continuam detidos alguns dos estudantes que protestaram em frente à embaixada

Apesar de maioria ter sido postos em liberdade pela Polícia Nacional na noite de segunda-feira, continuam detidos cinco dos 15 estudantes levados pelos efectivos da polícia durante a dispersão da manifestação em frente à embaixada, protagonizada por dezenas de estudantes que há meses esperam pelo visto.

Segundo os estudantes, o Consulado obrigou-os a fazerem o pagamento das propinas nas universidades onde estão inscritos, mas não há sinais da emissão dos vistos e exigem uma solução, daí a manifestação.

Ao Novo Jornal asseguram que a Polícia Nacional procedeu ainda à apreensão dos telemóveis de todos e que até agora não os entregou.

Estão a exigir que apaguemos os vídeos e as filmagens que fizemos na manifestação como condição de devolverem os telemóveis“, descreveu um estudante.

Sobre o assunto, o Novo Jornal tentou sem sucesso o contacto com o comando municipal de Luanda da Polícia Nacional.

[Transcrição integral. Destaques meus.]

Emissão de vistos para o Brasil está a demorar oito meses — Embaixada diz receber mais de 40 mil pedidos por ano e que solicitações vão continuar a demorar

Fernando Calueto
novojornal.co.ao, 15.06.23

O Consulado do Brasil, através do seu Centro de Tratamento de Vistos, pede aos utentes, que reclamem e enviem para um endereço electrónico, mas, segundo os utentes, este canal não tem surtido efeito.

A Embaixada do Brasil diz que iniciou há três meses um processo de pedido de vistos por agendamento, depois de muitas reflexões para melhorar o serviço, mas admite que este processo é demorado. E que os utentes podem esperar até seis meses. (mais…)

Notícias de Macau

Universidades de Macau e Hong Kong assinam memorando de cooperação

2024-01-10

A Universidade Politécnica de Macau e a Universidade HangSeng de Hong Kong assinaram, hoje, um memorando de cooperação para promover a cooperação na área do ensino superior.

As duas universidades vão passar a cooperar nas áreas de projectos académicos, inovação da investigação científica e formação de quadros qualificados.

As duas instituições de ensino superior iniciarão a comunicação, o intercâmbio e a cooperação de docentes e investigadores e de estudantes, bem como o desenvolvimento de projectos académicos, de investigação científica, de formação, incluindo formação de talentos, e a organização de conferências académicas.

Felizbina Gomes diz que Medalha de Mérito é reconhecimento importante da língua portuguesa

2024-01-11

A Directora do Jardim de Infância D. José da Costa Nunes considera que a Medalha de Mérito Educativo atribuída pelo Governo é um reconhecimento importante da presença da língua Portuguesa em Macau. Felizbina Gomes sublinhou ainda o aumento do número de alunos de origem chinesa, que representam já cerca de 70% do total de inscritos.

Tradutor da Universidade Politécnica é o mais fiável entre as línguas portuguesa e chinesa

2024-01-11

A base de dados de textos da Universidade Politécnica utilizada para a Inteligência Artificial é a maior base de dados bilingue do mundo. De acordo com os responsáveis do Centro de Investigação dos Serviços de Educação Aplicados em Tradução Automática e Inteligência Artificial, foram arquivados dezenas de milhões de textos em português e chinês.

Alguns dos posts anteriormente aqui publicados sobre a Língua Portuguesa em Macau

«Luso-descendentes asiáticos criticam CPLP»
O bloco terá representantes da Malásia (Malaca), Índia (Goa, Damão e Diu), Sri Lanka, Singapura, China (Macau), Tailândia (Banguecoque), Austrália (Perth), Indonésia (Jacarta, Ambon e Flores), Timor-Leste e Myanmar. [“Hoje Macau”]
Macau, o honorável enclave
Português | Governo avança com fundo de financiamento este ano [“Hoje Macau”]
“Chapas Sínicas” no Registo da Memória do Mundo
Os mais de 3600 documentos que compõem as Chapas Sínicas e que falam das relações entre Portugal e Macau são agora parte do património documental da humanidade. A decisão foi ontem aprovada pela UNESCO, meses depois da candidatura [“Hoje Macau”]
Macau não adopta o AO90?! Malaca Casteleiro amua…
Acordo Ortográfico, um “não-assunto” mas que já se vai ensinando [LUSA/”Notícias Ao Minuto”]
AO90, o verdadeiro negócio da China
Macau pode ajudar empresas da China a expandirem-se nos países de língua portuguesa [Macauhub]
Portugal e (C)PLP “vão ajudar” à internacionalização da moeda chinesa
Renminbi | Portugal e PLP “vão ajudar” à internacionalização da moeda chinesa [“Hoje Macau”]
Mais negócios da China
Secretária-geral pede maior cooperação com sector privado [Fórum Macau]
“A Língua Portuguesa nas suas múltiplas vertentes”
Lusitanistas reunidos pela primeira vez a Oriente para afirmar o papel da língua portuguesa [“Ponto Final” (Macau)]
“Das várias variantes da língua portuguesa”
Curso de Verão de língua portuguesa termina com avaliação “francamente positiva” [“Ponto Final” (Macau)]
Patuá Sâm Assi
Patuá, a língua que Macau deixou ‘morrer’ a troco de “dinheiro fácil [“Jornal Económico”]
Macau é “activo indispensável” na promoção do português
Macau é “activo indispensável” na promoção do português [“Ponto Final” (Macau)]
Português correcto em Macau

Um Acordo, Dois Sistemas [TDM Canal Macau]

Negócios da China
Primeira faculdade de português na China quer aprofundar conhecimento sobre os países lusófonos [Universidade do Porto]
Macau põe a língua de fora
Português | Criticada falta de meios e traduções tardias [“Hoje Macau”, 2 Mar 2023]
Macau, outra “plataforma” do Brasil?
Uma delegação da Universidade Politécnica de Macau visitou diversas instituições do ensino superior do Brasil para promover a “Zona de Cooperação Aprofundada” e a “Zona da Grande Baía” aprofundando a cooperação em inovação e empreendedorismo [Universidade Politécnica de Macau (UPM)]

Línguas e Alfabetos: 5. Impérios e imperialismos

Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa.

Sim, porque a ortografia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-ma do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha. [“Livro do Desassossego”]

The farthest known roots trace back to Proto-Sinaitic, 3800 years ago.It was mainly consonantal and was primarily based on the Egyptian hieroglyphics. From then on, small changes accumulated to give us what the alphabet looks like today. This interesting evolution was beautifully summarized in a poster that was drawn by Matt Baker and spotted by Colossal. Here is what it looks like:

[tradução] As raízes mais distantes conhecidas remontam ao Proto-Sinaítico, há 3.800 anos. Era principalmente consonantal e baseado nos hieróglifos egípcios. A partir daí, pequenas mudanças foram ocorrendo e acabaram por resultar na forma como nos aparece o alfabeto hoje. Esta interessante evolução foi muito bem resumida numa figura desenhada por Matt Baker e localizado pela Colossal; eis o resultado: [/tradução]

[Credit: Matt Baker/Useful Charts]

The Alphabet started to gain the shapeit has today in Archaic Greek, circa 750 BCE. Then, by 1 BCE, the Romans standardized the scrolls into uniform sheets which resulted in the creation of the Latin alphabet. This means that our alphabet was largely done 2000 ago. Writing was simple and too rudimentary back then, it would reach its true potential after two more whole millennia. This would give rise to pieces of writing that would forever change the course of humanity, such as Constitutions, The Origin of Species, A Brief History of Time, etc. We can only imagine what lies ahead. So, using a handful of symbols that we wittingly created, we opened unlimited horizons in front of us..

[tradução] O alfabeto começou a ganhar a forma que tem hoje no grego arcaico, por volta de 750 a.C. Então, por volta de 1 a.C., os romanos padronizaram os pergaminhos em folhas uniformes, o que resultou na criação do alfabeto latino. Isto significa que o nosso alfabeto foi praticamente feito há 2.000 anos. A escrita era simples e muito rudimentar naquela época; atingiria o seu verdadeiro potencial depois de mais dois milénios inteiros. Isso daria origem a textos que mudariam para sempre o rumo da humanidade, como Constituições, ‘A Origem das Espécies’, ‘Uma Breve História do Tempo’ etc. Só podemos imaginar o que está por vir. Assim, usando um punhado de símbolos que criamos conscientemente, abrimos horizontes ilimitados à nossa frente. [/tradução]

[“TheLanguageNerds” – TheEvolutionofTheAlphabet: From 1750 BC to Today.]

https://qph.cf2.quoracdn.net/main-qimg-d521ae60afdd375290d0de772d31ccdb-c

Caracteres Latim/cirílico e respectivos símbolos fonéticos

Se nos ativermos exclusivamente ao tronco indo-europeu, o das famílias de línguas do “velho mundo” — excluindo, portanto, outros sistemas de escrita (ideográfica, pictográfica), como o Mandarim, o Japonês ou o Árabe, por exemplo –, então encontramos a base daquilo que as antigas potências coloniais europeias, com Portugal à cabeça, espalharam por todo o planeta e, em especial, pelo chamado “novo mundo”.

A Conferência de Berlim (1884/85) serviu basicamente para as potências coloniais da época repartirem entre si um Continente inteiro: África. Participaram nesta espécie de reunião de negócios representantes dos países europeus que, de Norte a Sul daquele Continente, ali tinham contingentes de colonos e estruturas de administração: Portugal, Espanha, Alemanha, Itália, França, Grã-Bretanha, Holanda, Bélgica e Áustria-Hungria; juntaram-se a estes, além dos já então inevitáveis USA, também delegações da Dinamarca, Noruega, Império Otomano, Rússia e Suécia.

As fronteiras de cada uma das colónias não estavam ainda definidas e, portanto, dali resultou que a África foi retalhada segundo os interesses e em função do poderio de cada uma das nações europeias envolvidas; não foram tidas em conta nem as etnias nem as respectivas línguas, do que resultou — o que ainda hoje se mantém — que as fronteiras traçadas a régua e esquadro de determinada colónia atravessavam as fronteiras culturais e históricas das nações que existiam antes do início das diversas vagas de colonização. É por isto mesmo que, se simplesmente olharmos para o mapa político actual, verificamos que existem imensos troços de fronteira em linha recta — Angola e Moçambique, por exemplo, são exemplos flagrantes disso mesmo. Ou seja, eliminando as fronteiras (virtuais) naturais, marcadamente étnicas, línguísticas, históricas e culturais, passaram a existir outras, completamente diferentes… e indiferentes aos povos que separavam ou espartilhavam em fronteiras (reais) físicas, porque políticas e dependendo de interesses económicos estranhos à realidade africana. (mais…)

CIPLE vs CELPE: certificado em brasileiro ou certificado em brasileiro?

O que for doravante determinado pelo Brasil, por instituições brasileiras, pelo Governo brasileiro, passa automaticamente a valer em todos os estados, a começar pelo 28.º Estado. Eles dizem-no clara e expressamente, por exemplo no arrazoado seguidamente transcrito: «apenas a União pode alterar as regras da Língua Portuguesa». [‘Cândido, Pangloss, Voltaire (e vice-versa)‘]

Isto deve ter escapado aos vendidos que foram ao Brasil oferecer a Língua Portuguesa, aos mafiosos que tiraram do arquivo morto o #AO90 e aos gangsters que planearam a anexação de Portugal e dos PALOP a pretexto da língua “universau”.

É possível, mas nada provável, que a questão possa ter ocorrido a qualquer dos envolvidos na tramóia: se a língua passa a ser “universau” e, portanto, a ortografia é “unificada”, então a certificação de proficiência para estrangeiros passa a ser só uma, certo?

Errado.

Em Portugal vale apenas — até ver — o “Certificado Inicial de Português Língua Estrangeira” (CIPLE), conforme o previsto e determinado pelo Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas, enquanto que no Brasil continua a valer somente o “Certificado de Proficiência em língua portuguesa Para Estrangeiros” (CELPE-Bras).

Mas, que diabo, ao fim e ao cabo tanto faz, ambos os certificados são equivalentes e, portanto, qualquer estrangeiro pode obter indiferentemente o documento emitido em Portugal ou aquele que o “qualifica” no Brasil! Certo?

De novo: errado.

Atlas linguístico do Brasil

Se assim fosse, isto é, se de facto aquilo que um estrangeiro “aprende” no Brasil fosse o mesmo que serve para a certificação em Portugal, se os conteúdos e os objectivos pedagógicos fossem os mesmos (ou ao menos parecidos), então, evidentemente, não haveria dois certificados completamente diferentes, bastaria um deles…

Aliás, se a língua brasileira fosse mesmo “universau” — o que não sucede sequer dentro das fronteiras do Brasil — quaisquer provas de avaliação e o próprio exame final seriam iguais cá e lá, teriam (mesmo com a desortografia brasileira imposta pelo #AO90) um único enunciado e os critérios de avaliação seriam exactamente iguais. Não existem sequer vagas semelhanças entre eles, a nível algum: conteúdos, objectivos, enunciados, temas, questões, formulações, critérios, normas, tudo é radicalmente diferente.

Porém, parece estar também já planeada neste particular a “unificação” (ou seja, a brasileirização), no âmbito do plano de anexação político-económica e de erradicação da Língua portuguesa: não apenas o despacho oficial do governo brasileiro é inequívoco, como também o mesmo governo da “União” determina, define e regula o «certificado oficial de proficiência em português brasileiro como língua estrangeira», indicando ainda quais os locais — nas suas recentemente adquiridas possessões na Europa, em África e na Ásia, ou seja, em Portugal, nos PALOP, em Macau, em Timor e até em Goa — que estão autorizados pelo Itamaraty a certificar estrangeiros: «as provas são realizadas em postos aplicadores credenciados no Brasil e no exterior, como instituições de educação superior, representações diplomáticas, missões consulares, centros e institutos culturais, bem como outras instituições interessadas na promoção e na difusão da língua portuguesa

CIPLE
Certificado Inicial de Português Língua Estrangeira

O CIPLE corresponde ao nível A2 do Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas, do Conselho da Europa.

A descrição para este nível de referência apresenta os domínios sociais de comunicação, as situações de comunicação, os tipos de texto escritos e orais, as estratégias de comunicação, os actos de fala, os temas, as noções específicas e gerais que se prevê serem necessárias ao uso da língua nas actividades comunicativas seguidamente descritas.

O CIPLE atesta uma capacidade geral básica para interagir num número limitado de situações de comunicação previsíveis do quotidiano. Prevê-se também que nas áreas profissional e de estudo os utilizadores do CIPLE sejam capazes de interagir em situações de comunicação que requeiram um uso muito limitado do português, que não se diferencia de um uso geral da língua.

As componentes deste exame são três: Compreensão da Leitura e Produção e Interacção Escritas, Compreensão do Oral e Produção e Interacção Orais.

Este exame tem uma versão escolar destinada a jovens com idades compreendidas entre os 12 e os 15 anos. Nesta versão, as tarefas dos exames estão adaptadas à idade dos candidatos.

Este exame realiza-se nas épocas internacionais de Maio, Julho e Novembro e também nas épocas nacionais indicadas com o nome CIPLE-P (CIPLE-Portugal).

https://caple.letras.ulisboa.pt/exame/2/ciple

“Celpe-Bras” , “Celpe”

O que é?

O Celpe-Bras é o certificado brasileiro oficial de proficiência em português como língua estrangeira. A prova do Governo Federal é aplicada semestralmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), com apoio do Ministério da Educação (MEC) e em parceria com o Ministério das Relações Exteriores (MRE).

As provas são realizadas em postos aplicadores credenciados no Brasil e no exterior, como instituições de educação superior, representações diplomáticas, missões consulares, centros e institutos culturais, bem como outras instituições interessadas na promoção e na difusão da língua portuguesa.

O Celpe-Bras é destinado para estrangeiros comprovarem sua proficiência em língua portuguesa. O certificado pode ser usado para ingresso em cursos de graduação e em programas de pós-graduação, bem como para validação de diplomas de profissionais estrangeiros que pretendem trabalhar no País.

Alguns postos aplicadores não cobram taxa de inscrição.

Quer fazer a prova? Fique atento aos prazos e às regras dos editais. Eles são diferentes a cada semestre. Desde 2020, devido à a pandemia de COVID-19, o Celpe-Bras tem apenas uma aplicação anual, no segundo semestre.

https://www.gov.br/pt-br/servicos/fazer-o-exame-para-certificado-de-proficiencia-em-lingua-portuguesa-para-estrangeiros

[Das transcrições constam apenas os textos de apresentação de cada um dos dois “certificados”.
Os destaques são meus. Imagem do Atlas linguístico do Brasil de: “Escola Kids“.
Imagem do galo de Barcelos caipira de: site “Sua Língua” (Brasil)
.]

Galego ponto br

A Língua Galega é um tema que parece estar a tornar-se recorrente, aqui no Apartado, como aliás já anteriormente sucedia no site da (miseravelmente) extinta ILCAO.

Não é, nunca foi, por mero acaso, e muito menos por simples “palpite”. De facto, era mais do que previsível que a “língua universau”, ou seja, o neo-imperialismo invertido, uma “gêniau” invenção brasileira, acabasse por se atirar também às canelas linguísticas dos galegos.

O “gigantismo” do Brasil, essa obsessão parola tanto dos actuais PR e PM, Marcelo e Costa, como dos que deram início à tramóia, Cavaco e Sócrates, jamais deixaria passar a oportunidade de demonstrar a sua “autoridade” — são agora eles os donos da língua de que se apossaram, dela conservando apenas a designação — intrometendo-se não apenas em matérias que apenas dizem respeito à Galiza e aos galegos como até, por inerência política, imiscuindo-se nos assuntos internos de Espanha. E tudo isto, evidentemente, apenas à custa da tal designação que espertíssimamente mantêm: “língua portuguesa” dá ao Itamaty imenso jeito, é claro, abre todas as portas, a começar pela porta dos fundos para a Europa, nem de propósito, e ainda as de vários gabinetes presidenciais (ou seja, empresariais) em África — o petróleo e os diamantes de Angola, o gás natural de Moçambique — e na Ásia — Macau para negócios da China, até Goa, para as “especiarias” da Índia.

Evidentemente e como sempre tem acontecido, não são apenas os indiferentes (98%), os acordistas (0,1%) e os “distraídos” (1,4%) a ignorar ou a fingir ignorar a questão. Também dos restantes 0,5% da população, aqueles a quem estas matérias dizem alguma coisa e pretendem ir fazendo alguma coisinha, bom, não será de esperar mais do que o soporífero costume, isto é, nada, silêncio absoluto.

Fronteira Galiza-Portugal

O Galego é parte integrante, geograficamente, historicamente, culturalmente, civilizacionalmente, da Língua Portuguesa, o mesmo valendo em sentido inverso. São línguas irmãs, sim, mas irmãs gémeas, vivendo e convivendo paredes-meias há quase um milénio, com as mesmas bases e regras, apenas se distinguindo por alguns pormenores e sinais particulares.

Tudo pelo contrário, o brasileiro é um dos vários crioulos que os portugueses espalharam por todo o mundo ao longo de três séculos, tendo evoluído cada um desses crioulos, a milhares de quilómetros de distância física e a anos-luz de distância cultural, consoante influências e confluências próprias, contingentes e incidentes específicos, aliás tão inerentes e naturais como a própria deriva dos continentes.

A língua brasileira — a tau a que chamam universau ou globau, para o caso é iguau — absolutamente nada tem a ver com a Língua Galega e os brasileiros nada têm que se meter onde não são chamados. Ou alguém lhes pediu uns palpites, uns bitaites, que mandassem “umas bocas” sobre o que manifestamente não entendem?

Em suma: de onde, a que propósito, como diabo terá surgido este súbito “interesse” caipira pela Galiza? Bom, talvez os destaques no texto agora transcrito ajudem a perceber (o que, de resto, é facílimo), bem como poderá ajudar também o texto anteriormente do mesmo autor sobre o mesmo assunto, cujo título é um espectáculo de eloquência: “O que o Brasil ganha com a oficialização da língua galega na União Europeia?”

A língua galega gera desconforto no congresso espanhol

A votação sobre o pedido da Espanha para que o basco, o catalão e o galego fossem reconhecidos como línguas oficiais na União Europeia (UE) estava prevista para o dia 19 de setembro de 2023. Os países membros resolveram adiá-la. Ainda que não tenha agradado aos líderes independentistas das regiões autônomas, não houve veto, apenas uma prorrogação para mais conversas no bloco europeu.

Na Galiza, nesse mesmo dia, 19 de setembro, houve muita comemoração, já que ocorrera a primeira fala no parlamento espanhol que não fosse em castelhano. As três línguas cooficiais basco, catalão e galego foram usadas pela primeira vez no plenário. Quando o deputado José Ramon Besteiro, do Partido Socialista (PSOE), iniciou suas falas em galego, 33 deputados do partido de extrema-direita espanhol VOX abandonaram o plenário. O Partido Popular (PP) e o VOX opõem-se ao uso de outras línguas além do castelhano, pois defendem esta ser a língua comum do Estado espanhol, ignorando as línguas cooficiais das Comunidades Autônomas.

Entretanto, essa comemoração é um assunto ainda controverso, na Galiza. No meu texto anterior aqui no Le Monde Diplomatique, “O que o Brasil pode ganhar com a oficialização da língua galega na União Europeia?”, fiz uma introdução sobre o galego para a realidade brasileira que não tem contato nem muito conhecimento sobre as questões da Galiza. Neste segundo texto, aprofundarei um pouco mais a discussão sobre esse embate linguístico.

Reintegracionismo e autonomismo

A controvérsia dá-se por conta dos posicionamentos ideológicos em relação à língua da Galiza. O grupo que defende a reintegração da língua galega com o português é chamado de reintegracionista, logo, o galego e o português são variantes de uma mesma língua e não faria sentido separá-las institucionalmente. Há um outro grupo que não nega a origem comum do galego e português, porém, considera as duas línguas independentes; são chamados de autonomistas. Claro que, entre esses dois grupos, há opiniões “que ficam no meio do caminho”, visões com diferentes matizes.

Assim, os reintegracionistas (que representam a menor parte da população galega) não ficaram tão contentes com a possível oficialização do galego como língua independente na União Europeia, além de alguns de seus representantes terem criticado o galego falado por seus deputados no parlamento europeu, alegando que suas falas estivessem mais próximas de um castrapo (forma pejorativa de se referir ao galego castelhanizado). Na outra ponta, os autonomistas e grupos moderados comemoraram a data.

Mapa do Reino da Galiza, no século IX (Wikimedia Commons)

Mapa do Reino da Galiza, no século IX (WikimediaCommons)

O galego é a origem da cultura galego-portuguesa, pois era a língua do Reino da Galiza, que, no Século IX, se estendia de Coimbra ao sul e até Navarra ao leste. A língua era falada por toda a extensão do reino galego.
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