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“Em troca de cerveja” [entrevista]

Da revista “Time Out – Lisboa” (em Português): «As melhores baladas e bares brasileiros em Lisboa»

Antecedentes

Estatuto de Igualdade

Acordo de Mobilidade

Dentistas? Check! Advogados? Check! Médicos? Check!

Puro Sangue Lusitano (cavalos)

“Bispos” e “Pastores” (seitas religiosas)

Estudantes (1, 2, 3, 4, 5)

Uma entrevista super-informal com Luís Paulo Lucas Pinto, músico (percussionista). Nasceu e viveu até à adolescência em Moçambique, veio para Portugal, como outros 800.000 (segundo algumas estimativas), durante o PREC e fez a sua carreira musical principalmente na área da Grande Lisboa, desde meados dos anos 80. Carreira essa que bem parece ter terminado (esperemos que não, é claro) há um par de anos — o que aliás sucedeu com muitos outros músicos, exactamente pelos mesmos motivos — porque é impossível concorrer (e sobreviver) com quem se oferece para tocar “em troca de cerveja”.

Aí ficam adiantadas algumas frases lapidares, o que não obsta de forma alguma a que se oiça a gravação na íntegra. O “entrevistado” diz outras coisas interessantes sobre o impacto da imigração em massa no seu (ex-) sector de actividade; na parte final da gravação, por exemplo, podemos ouvir falar de impostos, recibos verdes, empresariado tuga e, para desfecho, como se processa na prática aquilo a que os nossos governantes chamam “equilibrar as contas da segurança social”: é tudo “por baixo da mesa“.

«Consoante o tempo foi avançando, as vagas de brasileiros cada vez eram maiores. Então o que é que aconteceu? O mercado começou a ficar saturado. Já com os músicos que havia cá. Os brasileiros que vinham, que não tinham qualidade como músicos, como é que eles se intrometeram no mercado? Foi chegar às casas, aos bares, e, em troca de cerveja, portanto, tocarem o samba e…»

«Conclusão: minou o nosso mercado, nosso (portugueses, moçambicanos, angolanos, brasileiros que já cá estavam) e, portanto, nós conquistámos, os valores que nós praticávamos nessa altura, os “cachets” — que não são praticados hoje em dia — os valores que nós praticávamos quando esse fenómeno aconteceu derrubou de tal maneira o mercado de trabalho em relação aos músicos (…), isso combinado de tal maneira que ainda hoje os valores são baixíssimos.»

«Conheço um guitarrista de jazz “de top” que está a dar aulas em infantários.»

«Queria levantar aqui um parêntesis. Queria falar do oportunismo dos donos dos bares, dos comerciantes. Eles é que permitiram, para benefício próprio, eles é que permitiram isto; porque eles enchiam a casa na mesma! Pagavam cerveja! Qual metade? Pagavam cerveja!»

Dumping refers to the practice of exporting goods to a foreign country at lower prices than the price of the same goods in the exporting country’s domestic market. As a result, affordable or cheaper exported goods invade the market in the importing country.” [Wall Street Mojo]

Imagem de sambista (tuga?) a tiritar de frio de: Figueira da Foz mantém desfiles de Carnaval – “Campeão das Províncias” (campeaoprovincias.pt) [Em Portugal existem 25 “escolas de samba”.]

Línguas e Alfabetos: 3. Braille e bandeiras

A partir do alfabeto gestual, já vimos que a língua dos surdos em Portugal (e nos PALOP) é completamente diferente da língua dos surdos brasileiros: a Língua Gestual Portuguesa (LGP) nada tem a ver com a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS).

O mesmo se passa também, entre outros casos, quanto aos alfabetos usados em tele-comunicações. A soletração de um lado do Atlântico obedece a códigos diferentes dos utilizados no outro lado, nas conversas via rádio, telefone ou rádio-telefone. O Brasil lá terá, se calhar, as suas próprias listas, mas jamais poderia utilizar — por exemplo — nomes de cidades portuguesas para significar as respectivas iniciais (L de Lisboa, F de Faro, P de Porto etc.).

Dependendo em absoluto a Língua do alfabeto, isto é, baseando-se qualquer sistema de comunicação numa série predefinida de símbolos ou sinais convencionados, então podemos seguramente concluir que a eficácia da comunicação pressupõe que emissor e receptor conheçam o código de que ambos (ou vários) se servem para o efeito. Um analfabeto pode perfeitamente comunicar oralmente — entender e fazer-se entender — sem conhecer o abecedário, mas isso é impossível na escrita caso o emissor ou o receptor utilizem uma “tabela” de códigos (letras, símbolos, marcas, sinais) que o outro desconhece ou se o dito código não estiver consistente e coerentemente estabelecido. Daí o conceito de ortografia: escrita correcta das palavras de uma língua. Ora, caso o #AO90 tivesse alguma coisa a ver com a ortografia da Língua Portuguesa, o que não é de todo o caso, então bastaria este conjunto de premissas elementares para comprovar a falsidade daquele “acordo” exclusivamente político.

O que vale para qualquer Língua, aliás. Seja de que tipo for ou por que meio se expresse, as regras são comuns a todas as línguas e dependem exclusivamente de factores históricos que resultam de uma necessidade humana vital: a comunicação; não dependem, de forma alguma, de ditames impostos por um qualquer colégio, grupo ou bando de académicos, vaidosos patológicos, políticos, idiotas profissionais, traficantes, vigaristas ou gatunos.

Ao invés do que sucede com os abecedários dos surdos, em que são utilizados sinais (visuais) diferentes consoante o país, o código dos cegos e amblíopes é internacional e comum, na maioria dos países do hemisfério ocidental: o alfabeto Braille.

https://www.perkins.org/wp-content/uploads/2021/01/Braille_alphabet_feature_image.png

Em termos de eficácia, a leitura táctil em absolutamente nada difere da visual, seja esta através da escrita, cursiva ou não, manual ou maquinal (de máquinas), ou seja através da interpretação visual: abecedário, gestos, sinais, símbolos — dos mais especializados, como é o caso das bandeiras na navegação marítima.

Utilizando o alfabeto internacional ICAO (ver tabela no post “Línguas e Alfabetos: 2. Soletração”), esta língua vai muito mais longe do que a simples soletração: cada bandeira, presumivelmente hasteada ou, pelo menos, exibida a partir da amurada à ou às embarcações nas imediações, significa uma situação específica, indica um perigo ou pode até, literalmente, dar uma ordem a outro navio.

Todos nós já vimos em filmes a célebre bandeira dos piratas e até, ao menos quando vamos à praia, não há quem desconheça o que significam as bandeiras verde, amarela ou vermelha no alto de um mastro espetado na areia…

E já todos vimos sinais claríssimos, não necessariamente apenas os do Código da Estrada, um cão negro — com aspecto pouco simpático — em fundo branco, um cruzeiro com flores numa curva perigosa, e já ouvimos também, com toda a certeza, toques de alarme, campainhas, alguém a gritar por socorro (desenhando “SOS”) ou expressões com o seu quê de aflitivo como “homem ao mar!”

Bandeiras Código Internacional Sinais (C.I.S.)

«O C.I.S. é composto por 26 bandeiras alfabéticas, 10 numéricas, 3 substitutas e um galhardete de código ou reconhecimento. Todas as bandeiras alfabéticas, exceptuando a letra “R”, significam uma mensagem distinta.» [“ProSea.pt“]E existem ainda muitos outros códigos, além dos mais genéricos e até universais, como sucede por exemplo em qualquer tipo de linguagem… corporal.
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«Portugal tem de lutar para dar a supremacia ao Brasil» [Marcelo Rebelo de Sousa, 01.05.08]

A finalidade deste “acordo” político é que uma das seis ex-colónias, sul-americana, submeta a sua ex-potência colonizadora, europeia, e as demais ex-colónias africanas desta, a uma forma de neo-imperialismo cultural que se consubstancia na “adoção” ditatorial de uma “ortografia única”: a brasileira. [“post” Anatomia da Fraude]

Concatenando sequencialmente, como óbvias relações de causa e efeito, a invenção da CPLP, o Estatuto de “Igualdade” (2000), a imposição do AO90 (2011) e, por fim, o Acordo de Mo(r)bilidade (2021), ficam ainda mais claros os reais objectivos de toda a trama. Com a intensa, sistemática e longa campanha de desinformação — nesta se incluindo a paradoxal vitimização política dos beneficiados (1, 2, 3) e o silenciamento da oposição através do insulto e da ameaça (1, 2, 3, 4, 5) –, os últimos dados revelam já que pelo menos três desses objectivos foram atingidos: a substituição da Língua portuguesa pelo crioulo brasileiro, a aculturação selvática e o estabelecimento de um Estado brasileiro na Europa. [“post” “Igualdade” pela porta dos fundos”]

Como descomplicar o nosso idioma?

Diplomacia é determinante na união lusófona

 

Arnaldo Niskier

“Folha de S. Paulo” (Brasil), 03.06.23

Doutor em educação, é professor, jornalista e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL);
presidente do Centro de Integração Empresa-Escola do Rio de Janeiro (Ciee/RJ)

Temos mais de 300 milhões de pessoas no mundo utilizando, como ferramenta de trabalho, a nossa querida língua portuguesa. A preocupação da Comissão de Lexicografia e Lexicologia da Academia Brasileira de Letras, hoje presidida pelo especialista Evanildo Bechara, tem sido a sua descomplicação. A esse empenho se juntam hoje o recém-eleito Ricardo Cavaliere e a competente imortal Ana Maria Machado.

Há temas que são verdadeiros desafios, como a discussão sobre a conveniência de adoção da linguagem neutra (todos, todas, “todes”), o emprego crescente da educação a distância, a incorporação do verbete “Pelé” ao dicionário oficial e o destino do Acordo Ortográfico de Unificação da Língua Portuguesa — muito criticado em algumas nações lusófonas, como é o caso de Angola.

Onde se fala português

São imprecisos os limites entre a norma culta e a linguagem popular. Ser moderno não é só adotar procedimentos de filmes, revistas, jornais e programas de televisão, como se faz em certas partes do Rio de Janeiro. Há um claro desejo de imitar o inglês, primeira língua de mais de 500 milhões de pessoas.

Felizmente, temos preciosos guardiões do nosso idioma, como os compositores Gilberto Gil, Caetano Veloso, Martinho da Vila, Noca da Portela e o premiado Chico Buarque, que recentemente fez um lindo discurso em Lisboa. Criticou os titubeios do governo federal passado, sobretudo no campo cultural.

Um só português em diferentes versões

É claro que desejamos ampliar os laços que nos ligam à Comunidade dos Povos de Língua Portuguesa (CPLP), como tem se referido continuamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Sabe-se que só 3% dos 350 mil verbetesregistrados no Vocabulário Ortográfico de Língua Portuguesa são escritos da mesma forma, o que merece uma ampla e contundente revisão. Eis aí um maravilhoso pretexto para a ação decisiva da nossa diplomacia, com o necessário trabalho em favor da sonhada unificação. O Itamaraty, numa nação que nem é tão rica assim, está empenhado em emprestar dinheiro aos povos necessitados. Não seria o caso de uma ação cultural mais expressiva?

Conheça alguns escritores dos países de língua portuguesa

A modalidade da educação a distância (EAD), em grande expansão no mundo, pode ser um precioso instrumento de harmonização de procedimentos. Está na hora de somar esforços nesse sentido.

Quando vem à tona o nome do inesquecível Pelé, pensamos se não é um verbete que uniria as nações lusófonas. O Dicionário Michaelis saltou na frente. Sugerimos acompanhar a bela iniciativa.

Queremos nos deter um pouco mais sobre essa homenagem ao craque. Ouvi de um acadêmico que não concordava com a ideia, “pois com o tempo o nome de Pelé poderia ser esquecido”. Argumento furado, pois a história sempre ligará o nome do atleta do Santos aos títulos conquistados pelo Brasil com a sua ajuda e os gols inesquecíveis do “Rei do Futebol”.

Chico Buarque recebe prêmio Camões pelas mãos de Lula; veja fotos

De toda maneira, este artigo está sendo feito em defesa da língua portuguesa e do seu futuro. A união lusófona é, politicamente, uma ideia altamente defensável e oportuna. A nossa diplomacia tem aí um belo campo de trabalho.

[Transcrição integral, conservando o brasileiro do autor brasileiro publicado num jornal brasileiro,
incluindo as ligações internas do original. Inseri outros “links” (os de cor verde)
a “posts” do Apartado, com extractos apensos. Imagem de topo: recorte do siteTalk2Travel“.]

Não, não peço desculpa. E então?

Não será pelo enviesamento político-partidário obscenamente óbvio, nem pelo tom panfletário, o desfiar ad nauseum da cartilha de lugares-comuns tão caros ao vazio de ideias. De resto, a expressão do vazio absoluto através de palavras ocas e chavões de manual é parte integrante do discurso formatado que visa exclusivamente formatar. Não será, portanto, devido ao chorrilho de vacuidades expresso no choradinho ritual em que se viciaram estes tipos.

Quanto a paleios ocos — ou a paleios, genericamente –, cada qual sabe de si e daquilo a que lhe apetece dar crédito, o que, no caso, por exclusão de partes implicaria apenas… nada e coisa nenhuma, reacção alguma, o mais soberano desprezo.

Porém. Nesta entrevista, publicada na web há uns dias, aquilo que não pode passar sem resposta — mesmo que se ignorem as intenções subjacentes do “artista” e respectiva clique — é o acinte de que dão bastas mostras o entrevistado, a entrevistadora e o próprio pasquim electrónico onde o “diálogo” está miseravelmente exposto.

Dando de barato as tretas politicamente correctas e muito práfrentex, apesar de existirem relações de causa e efeito entre as ditas tretas e as igualmente tretas acordistas, já que ambas as “teorias” utilizam os mesmos adjectivos, as mesmas formulações e a mentira a granel como linha programática, pois ainda assim as reacções dividem-se não em dois mas em três “partidos”: a algumas pessoas, uma coisa destas pode provocar incómodo, o que será aliás naturalíssimo, isso é o mínimo que se pode esperar de quem ousa pensar pela sua própria cabeça, haverá com certeza muita gente que não vai gostar absolutamente nada e, de entre estes, é bem possível que um ou outro reaja com algo mais do que umas “bocas”.

Ao fim e ao cabo, não se aplica a todos nem é qualquer lei universal que se deva levar desaforo para casa (excelente expressão idiomática da língua brasileira, também para variar) ou, em Português de lei, não reagir a provocações. Assim, contra a tradição — e a própria linha editorial — do Apartado 53, desta vez, para variar, a introdução do conteúdo transcrito é uma simples opinião; que, num país pelo menos teoricamente livre, vale tanto como qualquer outra — mesmo as dos Lucas deste mundo, que são absolutamente livres de bolçar alarvidades e envergonhar-se a si mesmos.

Trata-se de uma entrevista particularmente insultuosa, ainda que o entrevistado tente não ultrapassar as marcas de possíveis contratos comerciais, o que muito provavelmente poderia acarretar prejuízos financeiros (e aí… parou, com peseta não se brinca), e por isso está mesmo a pedir resposta.

Que é esta: não.

Não, nós, no nosso país ou até fora dele, não temos quaisquer «questões de falta de memória muito graves, ou de enviesamento da memória». Ó Luca, pá, não te rales com a nossa gente, com a nossa memória, rala-te com a tua gente e rala-te com a tua própria memória, que pelos vistos até já nem te recordas do país onde estás.

Não, o Presidente da República Portuguesa — mesmo sendo o actual um brasileirista inveterado — não tem nada que pedir desculpa ou, aliás, seja o que for, a quem for e por que motivo for. E olha cá, ó Luca, pá, quando te dirigires ao Presidente de Portugal o tratamento é de Vossa Excelência para cima, vê se entendes, e mete lá o teu «‘Peça desculpas, senhor presidente’» where the sun never shines.

Não, Portugal não foi jamais essa coisinha horrorosa: «Portugal ser um dos dois países que mais praticou esse colonialismo, que mais praticou a escravatura mercantil moderna». Ó Luca, pá, vai estudar umas partituras (sabes ler música, espero), não te metas na floresta para ti virgem da História — e não confundas esta com a da tua terra –, essa bacorada da “escravatura mercantil moderna” é intocável (na acepção indiana do termo), caramba, Luca, vai lá para as congas, atão vá.

Não, «o colonialismo português» não foi absolutamente nada o «horror» que acabaste de inventar. Bem sei que a sugestão deve provocar-te um acesso de urticária mas, ó Luca, pá, experimenta ler umas coisinhas de vez em quando, deixa lá o samba e o futchibóu. Ou isso, um bocadinho de leituras, ou então podes sempre deixar — como se diz por aqui, “deslargar” — o país que tanto detestas e regressar a penates ou até, usando o passaporte, do tal país “detestável”, ir para onde te der na gana.

Não, era só o que mais faltava, agora ainda temos de levar com este estrangeiro, mas por alminha de quem, a “diagnosticar” «problemas que ainda existem de racismo, xenofobia» (em Portugal, não no Brasil) e a “receitar” a respectiva «superação». E esta “consulta” grátis, de tão conhecido quanto conceituado “especialista” (com pós-doutoramento em Tudologia, aposto), incluiu ainda outras amostras de ingerência nos assuntos internos do país a que os brasileiros chamam “terrinha”.

Não, por fim, à incrível, inaceitável, abjecta “exigência” deste e de outros Lucas. Não por mero acaso, está bem de ver, tamanha enormidade encabeça este nojo servido em forma de entrevista mas que afinal não passa de um manifesto de propaganda lusofóbica.

Não, Portugal não tem quaisquer motivos para “pedir desculpas”. Portugal é o povo português. O povo português jamais teve, tem ou terá que “pedir desculpas” por ser o que foi e o que é, pela sua História ou pela sua identidade colectiva.

Não posso nem devo nem quero falar por ninguém, à excepção de mim próprio. Queres desculpas, ó Luca? Por coisa nenhuma, certo? Acabaste de esgalhar aquelas patacoadas, não foi? Razões acrescidas.

Como português, apenas um deles, faço a minha parte.

Não. Não peço desculpa.

E então?


Ó tu, Sertório, ó nobre Coriolano,
Catilina, e vós outros dos antigos
Que contra vossas pátrias, com profano
Coração, vos fizestes inimigos:
Se lá no reino escuro de Sumano
Receberdes gravíssimos castigos,
Dizei-lhe que também dos Portugueses
alguns traidores houve algumas vezes.

Camões


“Portugal está super-atrasado no pedido de desculpas aos colonizados”

www.noticiasaominuto.com, 07.03.23
entrevistadora: Natacha Nunes Costa

Há pouco mais de 10 anos, o cantautor carioca Luca Argel trocou o Brasil por Portugal, onde tem abraçado a música como fonte de prazer, de sobrevivência, mas também de contestação.

Depois de lançar ‘Samba de Guerrilha’, onde mostrou a sua versão de sambas históricos, que falam de racismo, escravatura e desigualdade, o artista apresenta-nos agora ‘Sabina’, o seu quarto álbum de originais, onde recupera e homenageia a história e o mito de uma vendedora que foi símbolo da persistência do racismo, após a abolição da escravatura e exemplo da solidariedade de rua que historicamente o enfrentou.

Em conversa com o Notícias ao Minuto, Luca Argel falou não só de musicalidade, mas também das mensagens que pretende transmitir com as canções e durante os concertos. Mostrou-se aberto ao “rótulo” de músico de intervenção” e apelou a que todos façam a sua parte para que Portugal não cometa os mesmos “erros” do Brasil, com a ascensão da extrema-direita.

Apesar de gostar de viver em Portugal, o artista realçou que o nosso país tem “alguns “problemas de memória” e que há um pedido de desculpas que falta o país fazer, algo que também retratou em ‘Sabina’.

Em breve, o disco será apresentado em Lisboa e Porto. Por enquanto, já pode ouvi-lo no canal de Youtube de Luca Argel.

Lançou no dia 22 de Fevereiro ‘Sabina’. Para quem ainda não sabe, quem foi esta vendedora de laranjas e o que representa para o povo brasileiro?

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tic tac… negue… tic tac… negue… tic tac tic tac tic

Pela milionésima vez: o “acordo ortográfico” de 1990 não é um acordo, é uma imposição, e de ortográfico absolutamente nada tem, não passa de um acto político… na pior acepção do termo.

O que ainda resta de indefinido — se algo há ainda por definir — é a extensão, a abrangência da sinistra manobra a que alguns políticos dedicados à “causa” dos seus próprios interesses envidam todos os esforços. Permanecendo os mandantes — uns cinco ou seis — na sombra, evidentemente, até porque seria “ligeiramente” escandaloso que os fabulosos negócios (dos) envolvidos se tornassem do conhecimento público, o quase nada que ainda vai transparecendo surge apenas por mero acaso, quando um qualquer indivíduo, de entre as largas dezenas de mandados, se descai, quando há um lapsus linguae aqui ou ali, quando alguém desbronca-se sem querer (ou por influência de qualquer substância química).

Daí, aliás, por inerência e para limitar os estragos ab ovo, o investimento da diminuta mas poderosa oligarquia na compra de órgãos de comunicação social para a propaganda, por um lado, e, por outro, no recrutamento de mercenários em geral como mão-de-obra, provindos de seitas tão heterogéneas como a dos intelectuais de pacotilha, solícitos demagogos profissionais para abastecer as “notícias” (ou certos artigos “de opinião”) e, por fim, agentes das diversas polícias políticas com a dupla finalidade de criar o conveniente clima de intimidação e esmagar subtilmente qualquer esgar de dúvida ou tiques altamente suspeitos, como soerguer uma sobrancelha, torcer o nariz ou projectar as beiças.

O processo de demolição derivado à obsolescência da verdade começou com a gigantesca patranha da língua universáu (a brasileira, evidentemente), tudo embrulhado numa retórica impenetrável — espécie de rede de chavões absurdos — visando explicar o inexplicável ou justificar o injustificável, e portanto é de certa forma natural que pouca gente (ou nenhuma, vendo bem) tenha sequer dado conta das verdadeiras dimensões da coisa, a sua latitude e demais coordenadas, a longitude, o paralelo, o fuso horário, a distância relativa a Greenwich no tempo e no espaço. Ou seja, traduzindo em miúdos, o ponto a que “isto” chegou.

Será de todo previsível uma imensa dificuldade em processar ao que isto chegou, realmente. A agenda política atrelada ao “acordo” ultrapassa largamente qualquer âmbito — já de há muito se sabe que a ortografia foi em tempos um pretexto mais do que pífio, ridículo — e por fim chegou tal agenda, veja-se a “figura” junta, a uma espécie de questão que não dirá certamente coisa alguma a quem jamais engoliu as patranhas “unificadoras” — linguisticamente falando — e também pouco ou nada dirá à esmagadora maioria que verga a cerviz porque “isto agora é assim”.

A referida “figura junta”, triste figura, por sinal, está já pipocando no Brasil, como se confere e demonstra no artigo abaixo transcrito, publicado no “portal do Governo do Brasil” a pretexto e à boleia do Dia Mundial da Língua brasileira.

Ultrapassadas as tretas folclóricas habituais, loas à tal língua universau com citações de uns quantos brasileiros mais ou menos ilustres, a linha discursiva trepa para cima do ensino e daí o que se deve dar por lá nas aulas, a saber, que existe uma coisa chamada “o carácter fluido da língua” (sobre o AO90 era parecido, “a língua evolui”, já não falamos como o Camões, patacoadas assim) e que há um demónio a extirpar (ou estripar) dos anais, salvo seja, o “preconceito linguístico” — t’arrenego, Satanás, cospe, cospe — e “portanto” saltar do “preconceito” para o “racismo”, para a “xenofobia” e para outras “fobias” é um pulinho.

E… pim. Das “fobias” em geral e das “regras” de “fluidez” (linguística, recorde-se, não é de outros fluidos que se trata agora), o libelo panfletário aterra na ingente questão que aflige uma data de adultos riquinhos e alegretes. U siguintchi, viu?

«Essa polêmica com o pronome neutro disfarça um preconceito anterior, que está na recusa da percepção das identidades de gênero e sexualidade que não se reduzem aos binômios masculino e feminino.»

E pronto, já está: outra vertente, a mesma onda. A tal agenda política (bem, sim, não será só política, mas, como dizia a outra, isso agora não interessa nada).

Conviria ligar as pontas. Não as soltas, que disso não existe neste caso, tão clarinho ele é, mas ligar uma ponta do iceberg à outra ponta, a dos dicionários, nas páginas “P” de “pronome”, “M” de masculino, “F” de feminino, “G” de género, “S” de sexualidade e por fim a “E” de evidência, evidente e “espetáculo” se for um Houaïss ou da Porto (Alegre) Editora.

Sabendo, como hoje por hoje ninguém pode ter dúvidas, que as incidências políticas no império brasileiro afectarão mais tarde ou mais cedo todas as suas colónias (a CPLB). O que for determinado no Brasil passa, nos termos do “acordo ortográfico de 1990”, a valer em todos os demais oito Estados vagamente autónomos. Aliás, nem é preciso que oito funcionários administrativos, cada qual em representação do respectivo Governo autónomo, assine a ordem exarada pela “metrópole”; bastam três deles, digo, delos/as, para que o/a/os/as/x frasxs/as/os valham por todes/os/as outrxs/as/os.

Dia Mundial da Língua Portuguesa celebra diversidade e cultura

Portal do Governo do Brasil – UFJF – 05.05.22

Guitarras e sanfonas / Jasmins, coqueiros, fontes / Sardinhas, mandioca / Num suave azulejo / E o rio Amazonas / Que corre Trás-Os-Montes / E numa pororoca / Deságua no Tejo

Da América, falam brasileiros. Da África, angolanos, cabo-verdianos, moçambicanos e as populações da Guiné-Bissau, da Guiné-Equatorial e de São Tomé e Príncipe. Da Ásia, falam os habitantes do Timor-Leste. E do continente europeu, os portugueses, responsáveis pela colonização de todos esses países, processo que, para além da instituição do Português como língua oficial nesses territórios, acabou forçando o cruzamento da cultura dos povos originários com os colonizadores europeus.

As palavras do cantor e compositor Chico Buarque, de 1973, que abrem essa reportagem em alusão à colonização portuguesa no Brasil, refletem sobre a constituição de um idioma falado por mais de 265 milhões de pessoas ao redor do mundo, instituído como língua pátria em nove países distribuídos por quatro continentes do planeta.

Neste 5 de maio, Dia Mundial da Língua Portuguesa, é preciso celebrar a língua e as culturas lusófonas. A data, oficialmente estabelecida em 2009 pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), organização intergovernamental e parceira oficial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), foi criada para promover o multilinguismo e a diversidade cultural, para sensibilizar a comunidade internacional para a história, a cultura e a utilização da língua, em toda a sua extensão geográfica.

O mais importante, portanto, é celebrar a diversidade desses recursos que temos disponíveis sob esse rótulo do que estamos chamando de Língua Portuguesa

Segundo a professora da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Denise Weiss, o Português foi se formando a partir de uma mistura de povos em uma pequena parte da península ibérica, na região norte do que hoje é Portugal. “Há mil anos ele já era reconhecido como uma língua diferente das demais da região. Língua imperial e de viajantes, chegou a muitas partes do mundo em navios de comércio e de colonização. Hoje é uma língua pluricêntrica.” Além dos países que possuem o Português como língua pátria, ele está presente por todo mundo pelas comunidades que migram. “Em cada lugar, é fator de distinção de grupos, língua dos afetos ou dos negócios”, conclui ela exaltando a diversidade cultural celebrada pela data.

Para o docente da Faculdade de Educação (Faced) Alexandre Cadilhe, é fundamental enxergar as línguas como produções coletivas, atravessadas pela história, cultura, geografia, tempo e espaço e que, independentemente de suas origens, são objetos mutáveis. “A Língua Portuguesa, assim como qualquer outra, não se constitui como algo puro. Ela é resultado do latino, do europeu, da contribuição de povos indígenas e africanos. É isso que a torna um conjunto híbrido. O mais importante, portanto, é celebrar a diversidade desses recursos que temos disponíveis sob esse rótulo do que estamos chamando de Língua Portuguesa”, exalta Cadilhe.

O ensino em debate

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