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É o viu metau

If money go before, all ways do lie open. - William Shakespeare
[Se o dinheiro é o que mais importa, a mentira abre qualquer porta.]

De facto, genericamente falando, o #AO90 será talvez o facto político e a demonstração prática que melhor ilustra o conceito de estupidez pura e dura. Se bem que por detrás das tais figurinhas estejam outros seres ainda mais sinistros do que os “apenas” estúpidos, ou seja, aqueles cuja ganância cegou por completo — logo à nascença, como o estúpido comum, ou então assim que viram a mina que poderia ser a língua “universau” brasileira — e aqueles outros que se limitam a obedecer à voz do dono, alguns dos quais até com extrema competência, como os profissionais da desinformação, os infiltrados nas hostes ditas “anti-acordistas”, os bufos, os homens-de-mão, os mercenários, os indefectíveis da “brasileirofonia”, os infames lacaios da traição.
[“Manual de Estupidologia Aplicada”]

Um dos últimos “posts”, aqui no Apartado, parece ter suscitado alguma controvérsia entre algumas pessoas ligadas à Causa anti-acordista. Pelo menos num grupo do Facebook e num “blog”, o título “O que faz correr os acordistas?” dividiu de alguma forma as opiniões, variando estas das coisas mais evidentes, como a estupidez pura e dura, a ignorância, a irresponsabilidade, a mediocridade, até às explicações mais subtis ou complexas: “medo de ferir as susceptibilidades do governo brasileiro”, por exemplo, ou ainda a disseminação da iliteracia em Portugal.

Evidentemente, nenhum dos “diagnósticos” está sumamente ou sequer vagamente errado, bem pelo contrário; a “adoção” do #AO90, todo o processo, todo o plano arquitectado em 1986 e consolidado — até ao mais ínfimo pormenor — em 2008, não teria quaisquer hipóteses de medrar (ainda que sem vingar) se não contasse a priori com a mais do que provável mediocridade dos arrivistas e traidores, com a atávica ignorância de «um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo» e sem o consequente espírito de manada de uma maioria esmagadora à qual apenas interessa não se meter em aborrecimentos.

É de facto a este estado de coisas, um statu quo amorfo, dir-se-ia comatoso, que podemos assacar não a responsabilidade mas apenas a permissividade, a gélida indiferença com que não foi enfrentado o assalto à Cultura portuguesa, à nossa identidade colectiva e ao âmago do nosso património — a Língua Portuguesa.

Ora, mesmo aceitando ou sabendo perfeitamente que assim é e assim continua a ser, estas ilações óbvias não explicam tudo. Quando muito, passam uma tangente ao essencial.

Num dos comentários à partilha do “post” referido no Facebook, lê-se o seguinte:

«Mais do que o que possa fazer correr os acordistas, é compreender a rendição de empresas e pessoas ao AO90. Quais os motivos concretos e realistas que os leva a apoiar o infame sem o questionar ou regatear. Isso sim, é o maior mistério, para mim.» [Paulo Teixeira]

Cá está. Se a construção frásica da segunda parte do comentário tivesse sido em forma de pergunta, então a resposta estaria contida na frase inicial: os motivos concretos e realistas que fazem correr os acordistas, o que explica a “rendição de empresas e pessoas” e o que leva estas a “apoiar o infame sem o questionar ou regatear” é… o dinheiro. Chama-se-lhe o que se quiser, pilim, poder, tachos, cacau, ferros, guita, ou simplesmente “aparecer”, tudo vai dar sempre ao mesmo, o dinheiro, o vil metal (“viu metau”, em brasileiro).

Sobre “especialistas” (alguns dos quais se intitulam a si mesmos como “académicos” e “linguistas” e até “juristas” ou mesmo “constitucionalistas”), já muito foi dito, aqui no Apartado e em outros sítios, incluindo jornais. Quem são eles, bom, todos sabemos isso perfeitamente, e conhecemos até as conivências político-partidárias, logo, as coligações e alianças de interesses — económicos, bem entendido, que a isso se resume a porca da política. Este tipo de constatações, que nem os próprios envolvidos se atrevem a desmentir, poderá ainda assim, dada a enormidade da corrupção e o gigantismo da podridão, levantar algumas dúvidas ou perplexidades.

Mas sobre as empresas, que diabo, então não se está mesmo a ver como funciona o carneirismo acordista? É que não é carneirismo coisa nenhuma, é a obediência à voz do dono! (mais…)

A “terrinha”

Constituição da República Portuguesa

PARTE I – Princípios fundamentais
Artigo 9.º
Tarefas fundamentais do Estado

a) Garantir a independência nacional e criar as condições políticas, económicas, sociais e culturais que a promovam; (…)
d) Promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo bem como a efectivação dos direitos económicos, sociais, culturais e ambientais (…);
e) Proteger e valorizar o património cultural do povo português (…);
f) Assegurar o ensino e a valorização permanente, defender o uso e promover a difusão internacional da língua portuguesa; (…)

PARTE III – Organização do poder político
TÍTULO II – Presidente da República
Artigo 127.º – (Posse e juramento)

(…)
3. No acto de posse o Presidente da República eleito prestará a seguinte declaração de compromisso:
Juro por minha honra desempenhar fielmente as funções em que fico investido e defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa.

⇐——————–⇔

Marcelo Rebelo de Sousa: “Portugal tem de lutar para dar a supremacia ao Brasil”

Questionado pela plateia sobre as vantagens do novo Acordo Ortográfico entre países lusófonos, que deverá entrar em vigor em 2014, Marcelo Rebelo de Sousa mostrou-se a favor, defendendo que “há um debate artificial sobre a questão “. O professor disse que as alterações ao acordo “não são substanciais” para a Língua Portuguesa.
Marcelo referiu que o Brasil hoje é a maior potência económica e o maior país lusófono e realçou a ideia que “Portugal precisa mais do Brasil, do que o Brasil de Portugal”. Afirmou que o acordo tem “virtuosidades” e disse que “para Portugal conseguir lutar pela lusofonia no mundo tem de lutar por dar a supremacia ao Brasil.

Source: Marcelo Rebelo de Sousa: “O mundo da lusofonia tem de assumir que a liderança é do Brasil”
– JPN – JornalismoPortoNet, 1 de Maio de 2008

Receita de bolinho de bacalhau

Queremos despedaçar Portugal
Matar e comer, eis nosso desejo.
Foda-se os bons costumes e a moral
Foda-se Camões, os Pedros, o Tejo.
Queremos bombardear Portugal
Seus livros, estátuas, navios, cruzes
Que este incêndio nos livre do mal
E limpando o tapete acenda as luzes.
Ai, queremos violentar Portugal
Escarrar na língua, cagar no porto
Ver um futuro em que seja banal
O luso passado enterrado e morto
O nosso seio está seco de leite
De Portugal apenas o mar e o azeite.

Bruna Kalil Othero

Recusa de assinaturas pela Língua Portuguesa na Feira do Livro do Porto

«A Iniciativa Legislativa de Cidadãos pela revogação da entrada em vigor do Acordo Ortográfico (ILC-AO) foi impedida de levar a cabo acções de recolha de assinaturas nos jardins do Palácio de Cristal, local onde desde sábado decorre a Feira do Livro do Porto.» (…)
(…) «O comissário Nuno Artur Silva, é conhecido desde há muito, «preferia já estar a escrever à brasileira» para «em vez de falar para dez milhões de pessoas falar para duzentos ou trezentos milhões», como referiu em 2011 em entrevista a um canal televisivo. Em 2014, num colóquio promovido pela Associação das Universidades de Língua Portuguesa (AULP), manifestou-se convicto de que «no futuro todos vamos escrever em brasileiro e que o português vai ser uma variante regional da língua brasileira», segundo noticiou a organização.» (…)

[revista “Abril Abril”, 10.09.2019]

Nuno Artur Silva, da administração da RTP a secretário de Estado de António Costa

Em 2015, Nuno Artur Silva chegou ao Conselho de Administração da RTP, a estação pública de rádio e televisão. Foi substituído n’O Eixo do Mal por Aurélio Gomes, o apresentador até aos dias de hoje, assumindo na RTP o pelouro dos conteúdos.
Deixou o board da empresa pública no ano passado, depois de um diferendo espoletado pela Comissão de Trabalhadores. Em causa, o facto de Nuno Artur Silva manter-se proprietário da “Produções Fictícias” mesmo depois de ter prometido vender a posição quando assumiu o cargo na administração, algo que não chegou a fazer.

Face a isto, o Conselho Geral Independente da RTP não reconduziu Nuno Artur Silva para um novo mandato de três anos, uma decisão justificada pelo órgão com uma incompatibilidade provocada pela “irresolução do conflito de interesses entre a sua posição na empresa e os seus interesses patrimoniais privados”.

ECO”, 21.10.2019

Período de governação: 2019-10-26 até 2022-03-30

Biografia
(mais…)

Com efeito, Camões

Os antecedentes são inúmeros, de tal forma que é praticamente impossível sequenciar, agrupar ou simplesmente apontar os mais significativos. A resistência ao “acordo” continua viva e recomenda-se, sendo hoje como desde sempre os mesmos os resistentes — todos os portugueses, incluindo os tecnicamente analfabetos –, apesar de uma desprezível minoria continuarem a tentar menorizar a questão, isolar a polémica e encapsular em bolhas estanques uns quantos “notáveis” mais ou menos ilustres.

Dessa mesma resistência disseminada e democrática (na acepção canónica do termo) são também exemplo os dois registos em vídeo contidos neste “post”.

No primeiro deles, José Pacheco Pereira prossegue, com a coerência discursiva que o caracteriza, o combate à imposição política da cacografia brasileira e às desastrosas consequências da “adoção” perpetrada por Cavaco, Sócrates e Lula da Silva, prosseguida por António Costa e violentamente imposta em todo o espaço dos PALOP… que recusam “adotar” um enteado alheio em detrimento da Língua-mãe. JPP alinhava desta vez, a propósito do último 10 de Junho e do abominável discurso de circunstância de um tal Jorge Miranda, algumas ideias certeiras e não menos nem menores considerações a respeito de semelhante desconchavo.

No outro vídeo, e igualmente a pretexto do Dia de Portugal, a escritora Inês Pedrosa — uma militante aguerrida desde a primeira hora — refere o mesmíssimo paleio (com o devido desrespeito) do “constitucionalista” dos interesses geopolíticos brasileiros. Este brasileiro “adotivo” foi nomeado pelo Governo português actualmente em funções — herdeiro do “legado” sócretino — como “presidente da comissão organizadora das comemorações do 10 de Junho” e aproveitou o tempo de antena do discurso oficial para fingir sentir-se “invadido” pela Língua… Inglesa!

Medalha de lata, por conseguinte, título plenamente merecido. Já sobre a neo-colonização linguística brasileira, que ele mesmo, enquanto “constitucionalista”, tenta atabalhoadamente justificar (diz que é assim porque é assim e pronto), é claro, na cerimónia militar do Dia de Camões a questão varreu-se-lhe completamente. Nem uma palavrinha. Ah, mas que grande “surpresa”!

Inês Pedrosa e JPP são dois dos notáveis resistentes que não se “armam” em “notáveis”. Nem um nem outra pretendem “rever” ou “melhorar” ou “despiorar” coisíssima nenhuma. Ambos sabem — porque falam firme e coerentemente — que a alternativa teria por fatalidade um único efeito: a devastação.

Aproxima-se velozmente o dia em que por fim se revele a causa desse efeito. E então, após um êxodo de proporções bíblicas, segundo o princípio da incerteza restará apenas uma coisa para fazer à saída: o último apaga a luz.


“O Princípio da Incerteza” – CNN Portugal – 12 de Junho de 2022

Sobre o programa

Um programa de resumo semanal dos principais temas da actualidade, de natureza política, social e económica.

Carlos Andrade conduz o formato que tem Alexandra Leitão, José Pacheco Pereira e António Lobo Xavier como comentadores. [CNN Portugal]

“Link” para o programa: https://cnnportugal.iol.pt/videos/o-principio-da-incerteza-12-de-junho-de-2022/62a67d220cf2f9a86ea8f750


“O Último Apaga a Luz” – RTP – 17 de Junho de 2022

Sobre o programa

O último apaga a luz lança um olhar sobre a nossa realidade. A iniciar o fim de semana, Raquel Varela (historiadora), Joaquim Vieira (jornalista), Rodrigo Moita de Deus (cronista), Inês Pedrosa (escritora) e Pedro Vieira (humorista e escritor) analisam, a partir das suas experiências profissionais, a forma como as noticias têm sido tratadas. [RTP]

“Link” para o programa: https://www.rtp.pt/play/p10000/o-ultimo-apaga-a-luz

Inês Pedrosa refere a crónica de Nuno Pacheco publicada no jornal “Público” de 16.06.22, cujo texto foi transcrito na íntegra no “site” da ILC-AO.

Notas:

1. Os textos transcritos (se na cacografia brasileira no original) foram corrigidos automaticamente.
2. Devido ao extraordinário número de denúncias por “copyright infringement” na conta YouTube do Apartado 53, os excertos de vídeos são alojados no domínio cedilha.net.
3. Se pretender reproduzir os “videoclips”, descarregue-os para o seu computador; por favor, não utilize os “links” directos para “embed” no seu “site” ou “blog”. Este “domain” (como aliás qualquer outro) tem limites de tráfego e de sobrecarga no “server” onde está alojado.

[imagem de topo de: http://www.claudia-schoen.de ]

Novo Império (escola de samba, Figueira da Foz, Portugal)

Fragmento de troca de comentários, em data incerta (talvez 2017), entre dois utilizadores do Facebook. Este recorte, encontrado e repescado por mera casualidade, estava perdido entre dezenas de materiais e conteúdos diversos numa das várias “colecções” que ao longo do tempo foram sendo guardadas (à cautela) em locais e em suportes diferentes.

[Tradução]

— Mihail Cazacu (Bucareste, Roménia)
Porque é que em Portugal se fala Português, uma língua brasileira, em vez de uma das línguas europeias?
— Garcia Francisco (Portugal)
Em Portugal falamos Português, que é efectivamente uma língua brasileira, dado o facto de nós termos sido descobertos em 1876 por uma navegadora brasileira de nome Fafá de Belém. A capitã Fafá atravessou o Atlântico num barco chamado Chico Buarque e encontrou terra num local hoje conhecido como sendo a costa de Portugal, perto de Évora, uma cidade costeira de onde eles enviavam escravos portugueses para o Brasil. Depois de estabelecido o comércio de escravos, os colonizadores brasileiros começaram a desenvolver o local e por fim começaram a enviar [para cá] as suas telenovelas, que sem dúvida se tornaram no ponto fulcral da Cultura deste jovem e ingénuo país. Apenas em 1958 conquistamos a independência em relação ao [Brasil] […]

Evidentemente, este “diálogo” tem tanto de virtual como de — não sendo brutal na adjectivacão — irónico. O ilustre desconhecido, Garcia Francisco de sua graça, merece uma saudação calorosa pelo extraordinário sentido de humor com que destrói uma intrigante dúvida existencial de certa cabecinha extremamente baralhada. Presume-se que a interlocutora romena tenha ficado mergulhada numa ainda mais intrincada teia de ignorância sobre Portugal e a Língua Portuguesa e sobre o crioulo brasileiro mai-lo seu “gigantismo”. É, no entanto, algo curioso que até entre alguns estrangeiros já comece a pairar a fábula brasileirista.

A resposta não é de todo irónica, afinal. Podemos mesmo dizer que é reveladora — e tristemente — do ponto a que chegou já a “difusão da língua” brasileira no mundo, ou seja, da intensa campanha de desinformação e de intoxicação da opinião pública promovida pelos lacaios neo-imperialistas da tugalândia.

Ainda menos piadético do que este “diálogo”, se tal coisa é possível dizer a respeito das golpadas visando a estupidificação em massa, é a gravação que seguidamente [agradecimentos a Paulo Martins pela indicação] podemos “apreciar” ao vivo e a cores: as “exigências” que brasileiros em Portugal pretendem impor ao país que os acolheu (e que os qualifica), na sua auto-assumida condição de colonizadores. Em suma, para este naipe extremamente “selecto”, é um escândalo que em Portugal se fale Português. Acusando os “portuguesinhos” do habitual no seu discurso característico e atirando-lhes para riba dos lombos os insultos habituais (que nós somos “preconceituosos” e xenófobos”, essas lindas coisinhas), em especial os “académicos” do calçadão — a coberto da total impunidade conferida pelos brasileiristas tugófilos — fartam-se de malhar no país, nos seus habitantes e na sua Língua.…e


Nada disto é meramente casual, evidentemente. O linguicídio é “apenas” uma das facetas mais visíveis e notórias do processo em curso que visa a aniquilação da identidade nacional. Além do factor identitário fundamental, substituindo a Língua Portuguesa pela brasileira a coberto de um “acordo ortográfico” que de acordo nada tem e de ortográfico ainda menos, os brasileiristas nascidos em Portugal promovem sistemática e violentamente o esmagamento cultural e o radical apagamento da História de todo e qualquer resquício da Pátria que tanto os seus egrégios avós como aqueles bastardos gerou.

Com a maior das “levezas” (superficialidade) foram sucessivamente permitindo — e até mesmo facilitando — a eliminação de conteúdos portugueses. Em especial na Internet e nos sistemas informáticos — a começar pela extinção do “código de matrícula” do Português-padrão (CHCP 860) — mas também nos demais canais e meios de informação, difusão e entretenimento.

Já aqui foram escalpelizados alguns dos casos mais flagrantes de apagamento selectivo e eliminação sumária (Google e outros “motores de busca”, Wikipedia, programas de edição de texto, “corretores” cacográficos compulsivos, etc.). Todos os endereços de serviços e de plataformas que eram “https://domínio.com.pt” ou “pt.domínio.org” ou “domínio.xxx.pt-pt”, por exemplo, e que continham “interfaces”, documentação ou quaisquer outros conteúdos portugueses e cuja ortografia era a da Língua Portuguesa mantiveram o endereço (URL) mas o que agora deles consta está tudo na cacografia brasileira, escrito na língua brasileira e com conteúdos brasileiros; existem casos em que os anteriores conteúdos portugueses (imagens, entradas de enciclopédia, expressões idiomáticas, etc.) foram substituídos pelos equivalentes brasileiros.

Evidentemente, convém ir ilustrando e documentando o golpe de Estado, também a página de abertura da Wikipédjia Lusôfona contém apenas assuntos brasileiros (negócios, de preferência)

O Programa de Desenvolvimento de Submarinos é uma parceria firmada entre o Brasil e a França, no ano de 2008, com o objetivo de transferir tecnologia para a fabricação de embarcações militares. É um componente da Estratégia de Defesa do Estado para o desenvolvimento do poder naval do país com a produção de quatro submarinos convencionais (propulsão diesel-elétrica) e do primeiro submarino de propulsão nuclear brasileiro. O programa fará do Brasil um dos poucos países a contar com tecnologia nuclear, ao lado de Estados Unidos, Rússia, França, Reino Unido, China e Índia.

Apesar de o programa ter iniciado em 2008 com o objetivo de prover a Marinha do Brasil com uma “força naval de envergadura”, parte dele remonta à década de 1970 quando a Marinha começou a procurar o domínio da energia nuclear. (leia mais…)

Veja-se um outro caso ao acaso, que isto está por todo o lado e já infectou tudo: a versão “pt” (brasileira) da Google Maps utiliza para os transportes públicos portugueses a terminologia exclusiva do Brasil. Assim, o famoso “eléctrico 28” é uma espécie de monumento alfacinha em movimento a que agora os brasileiros impõem que se chame “bondji vintchioito” ou “bondjinho 28”.Temos portanto, por força do AO90, da “língua univérsáu” e, em suma, por ordem dos novos “bwana” cá do indigenato, que “em nossa cápitáu próvinciáu” Lisboa temos “bondes”, o que aliás é extensível a toda a colónia, onde também passamos a ter ponto de “ônibus” onde na anticlíngua tínhamos “paragens de autocarro” (uma chinesice que ninguém entendia, “ônibus” é muito mais “fáciu, viu”).
(mais…)

Novo episódio da mais recente telenovela brasileira rodada em Portugal

https://www.facebook.com/EducatedMindsPage/photos/a.1425131077767795/3117035281910691/?__cft__[0]=AZXRGO0BU6KV3udbhOd9EZr_23hFatDiSkIUwwjSVAOCAYeCyU6KzNLi8goZqgorPC1Hqg01op5nrDm5WxKI6lx4kybEJUd0h9lVIH0OvYqPbedEaXCpuatIoEuudJQKe498faZBLiow65fkS3wqz5zW1Y3Tj3QX38trf-eSyNO39__-3a-kNDbqybhVNJbb1TM&__tn__=%2CO*FNo episódio inaugural, Paula Sofia entra em parafuso quando se apercebe de que os seus filhos meteram-se por maus caminhos, coisas latrinárias, e agora andam por aí no “gramado” e no “banheiro” (ou lá o que é) como uns tolinhos.

No 2.º episódio, Sérgio mete um “youtuber” ao barulho, diz que é esse o “cara” que anda a endrominar os “tuguinhas”.

3.º episódio: o tal fulano dos vídeos defende-se, diz — com muito jeitinho, à cautela — que não tem culpa de os tugas adultos serem uma cambada de idiotas, que tem uma avó cá nas berças e tudo; por fim, lança uma “bomba”, o miolo da trama, anuncia que vai traduzir e dobrar os seus vídeos de brasileiro para Português.

A telenovela brasileira sobre a lavagem ao cérebro a que os brasileiros e os vendidos portugueses andam a sujeitar as nossas crianças (quanto aos adultos está o caso arrumado, missão cumprida, muitos deles sentenciam que “agora é assim que se escreve e fala” e “prontos”) avança hoje para o 4.º episódio e outros estão em preparação.

Desta vez, o que temos é um artigalho de certo (digo, de errado) imigrante brasileiro. Absolutamente inacreditável. O fulano nem disfarça. Pois, pudera, aqui a “terrinha” passou de lugar mal frequentado a ainda pior, e por acréscimo temos de levar com toda a arrogância do protótipo, o arzinho petulante de quem se acha muito “superior” (ou lá o que esses tipos se julgam), textículos de auto-propaganda publicados em jornais portugueses (mas que lata descomunal!) espalhando em brasileiro — que exigem intocável — o seu proselitismo neo-imperialista de grande potência mundial (que é, de facto, basta ver as estatísticas de criminalidade, pobreza extrema, corrupção endémica) e, em suma, a suprema maravilha que deixaram quando nos fizeram o extraordinário favor de emigrar para cá.

Claro que a semelhante chorrilho de insultos e provocações a resposta mais adequada seria o silêncio sepulcral que por definição inspira o mais profundo desprezo.

Contudo, todavia, não obstante, porém, mas por questões de dever de ofício há também que fazer sacrifícios. Não vá o freguês sem levar troco, é o que é.

Vejamos então alguns dos disparates mais escabrosos, anedóticos ou simplesmente cretinos.

    • «a expressão “brasileiro” como referência à variante do idioma português». Não, já não é nada disso, Português e brasileiro são línguas diferentes, conforme foi já explicado diversas vezes, até a criancinhas. Inúmeros brasileiros reivindicam o seu (pleno e mais do que justificado) direito a que a língua brasileira seja declarada Língua nacional da República Federativa do Brasil, assim como fez a República de Cabo Verde com o seu crioulo.
    • «excesso de consumo de conteúdo brasileiro». Ah, sim, pois é, há por cá muito disso. Esse truque de tentar restringir o “consumo” ao YouTube — ou mesmo à Internet em geral — não cola; não é consumo, é enfiar pela goela abaixo: nos canais de TV e rádio, música, filmes, nos desportos colectivos (em futebol é a granel, até na “seleção” nacional), há por cá escolas de samba (!!!), “cárrnáváu” com “garotas” em trajes diminutos a tiritar de frio, enfim, em tudo, em todo o lado e de toda a maneira e feitio. Claro que por vezes tais espectáculos circenses são da iniciativa de alguns portugueses, os mais deslumbrados que adoram macaquear brasileiradas, mas isso são contas de outro rosário.
    • «variante idiomática como uma doença a ser contida». Olha, boa! Aí está, para variar, uma excelente formulação. Aquilo a que alguns chamam variante é de facto uma doença a ser contida em Portugal. E com urgência.
    • «se separarmos o “brasileiro” do “português”, o primeiro seria o 7.º idioma mais falado no planeta». Outra vez, de novo, esta nunca falha. Não há por lá um neo-imperialista que dispense a contagem de cabeças (deve ser hábito de contar vacas e pilecas nas “fazendas”) para “provar” que são não apenas muitos mais como também são, por inerência algébrica, muito superiores a nós. Por isso só os brasileiros acham que a Língua Portuguesa lhes pertence, porque são “mais de 20 vezes mais” do que nós, portugueses.
    • «O idioma português é um patrimônio coletivo internacional». O idioma português é o (não “um”) património colectivo do povo português e da nação portuguesa, tendo as ex-colónias portuguesas em África (e, até 1822, a colónia sul-americana) resolvido adoptar, aquando da respectiva independência, como Língua nacional o Português vernáculo. Essa “internacionalização” não passa de um parasita semântico que interessa aos neo-imperialistas brasileiros impingir para efeitos meramente empresariais, comerciais, de tráfico de influências, tráfico de excedentes, tráfico de matérias-primas e de outros tráficos.
    • «nem devesse ter seu nome atrelado ao de um país.» Ora aqui está, em todo o seu “esplendor”, o epítome do significado da expressão idiomática do Português “descobrir a careca”; claro, isso de se chamar “Língua Portuguesa” ou, mais prosaicamente, “Português” ao idioma nacional de Portugal é para os brasileiros certamente insuportável. Resta clara a típica irritação ou o ódio raivoso que eles nutrem pelos eternos culpados da sua “frescura”. Inglês, Francês, Espanhol, Japonês, Coreano, por exemplo, ou qualquer outra Língua cujo nome seja o do país que a criou, bem, isso para os “irmãozinhos” não interessa nada, faz de conta, Português é que, oi, qui ôrrô, né, cara, pódji naum, issu faiss lembrá pôrrtugáu.

De novo, cá vai o troco em forma de recado repetido ad infinitum: fiquem-se lá com as vossas cabeças de gado, “caras”, fiquem com a vossa língua brasileira, digam o que quiserem em brasileiro, arranjem uns tachinhos valentes na ONU à conta das vossas imensas manadas, boa sorte, adeus.

 

Em defesa do ″português brasileiro″

Edson Capoano
www.dn.pt, 12 Novembro 2021

 

Ouvi pela primeira vez a expressão “brasileiro” como referência à variante do idioma português em conversa com pais que esperavam, como eu, os seus filhos na porta do pré-escolar em Braga, onde vivo. O relato tinha um misto de curiosidade com preocupação sobre o excesso de consumo de conteúdo brasileiro no YouTube e a assimilação de termos estrangeiros pelas crianças portuguesas, tal como reporta a notícia “Há crianças portuguesas que só falam brasileiro”, reportagem do DN de 10 de novembro último.

Como pai, solidarizo-me com todos. Afinal, a linguagem é uma ferramenta essencial para o desenvolvimento cognitivo infantil e para a integração cidadã dos indivíduos. Porém, vejo com preocupação o cenário gerado pela notícia anteriormente mencionada, apresentando uma variante idiomática como uma doença a ser contida. A reportagem não entrega dados suficientes para compreender qual o tamanho do fenômeno ou se este é de nocivo, tal qual os termos “vício”, “tratamento”, “apelativo” e “o problema” do texto sugerem.

Tampouco o relato dos especialistas entrevistados sustenta que haja problemas fonéticos ou educativos às crianças no futuro. O que sim é fato é que a pandemia alterou as rotinas familiares e muitos pais abandonaram seus filhos aos ecrãs, para que eles mesmos se dedicassem ao teletrabalho. Em Portugal, já no primeiro confinamento devido ao covid-19, houve aumento de tráfego de dados na web em 20%. No mesmo período e em nível mundial, o consumo de internet através de dispositivos em casa aumentou em 40,1% (Comscore, 2021).

Nesse contexto, parece-me descabida a atitude de bloquear conteúdo brasileiro no YouTube por conta apenas do idioma, da professora que se impressiona com expressões estrangeiras, da linguista que acredita ser uma moda ou da terapeuta da fala que acha “difícil travar o brasileiro” provindo da web. Afinal, isso não vai impedir que as crianças troquem palavras e expressões nas escolas e em seus grupos, o que acontece de forma saudável e diariamente em Portugal. Imagino que a questão mais urgente é de fato a influência das plataformas sociais digitais na formação das crianças.

O idioma português é um patrimôniocoletivo internacional e, como tal, talvez nem devesse ter seu nome atrelado ao de um país. Afinal, se separarmos o “brasileiro” do “português”, o primeiro seria o 7.º idioma mais falado no planeta, enquanto o segundo estaria abaixo do 80.º lugar, entre o zulu e o checo. Se isso importa na criação de nossos filhos, não posso afirmar, mas que na produção cultural tem peso imenso, é inegável. Assim, também é um dos idiomas mais utilizados em produtos midiático-culturais, como vídeos, filmes e séries e, como é de se esperar, na vertente brasileira. Não existem fronteiras nacionais para variantes linguísticas verbais-orais, ainda mais em tempos de plataformas sociais digitais.

O jornalismo precisa intermediar este debate para além do senso comum e dos casos pontuais. Caso contrário, não se diferencia dos comunicadores independentes do YouTube, um dos quais este jornal escolheu como o responsável pelo fenômeno abordado no texto referido, o comunicador Luccas Neto. Curiosamente, o brasileiro, assim como seu irmão, Felipe Neto, tem cidadania portuguesa, graças à sua origem familiar. Enquanto eles entram na casa dos portugueses pelos ecrãs, mais de 150 mil brasileiros vivem em Portugal (SEF), o que torna o idioma vivo e em constante mutação. Ou dito de forma mais simples, como minha filha de 4 anos: “Aqui se diz relva, no Brasil, se diz grama.”

A pedido do autor, o jornal não fez qualquer alteração ortográfico-gramatical no texto, a respeito da variante linguística portuguesa utilizada.

Jornalista, doutor em Comunicação e Cultura e investigador do ICS-CECS sobre jornalismo, participação e media digitais, na Universidade do Minho. Autor de “Panorama da imigração brasileira a Portugal na web”, “Resistência à intermediação pelos ecrãs conectados” e “O medo do consumo solitário: comentários em canais infantojuvenis de YouTube do Brasil e de Portugal”, artigos disponíveis em http://repositorium.sdum.uminho.pt/

[Transcrição integral de artigo do brasileiro Edson Capoano publicado no “DN” de 12 Novembro de 2021. Secundei a posição tomada pelo DN quanto à exigência do autor de que o seu artigo fosse publicado com as regras ortográficas que lhe apeteceu usar (no Brasil a cacografia é individual). Imagem de topo de: página “Educated Minds” (Facebook). Imagem de (belíssima) vaca (ou boi?) brasileira de: “CPT” (Brasil).]


Á sigui: cênaiss duiss próssimuiss cápítuluiss

Um brasileiro que escreve sobre Portugal num blog da Rêdji Globo refere-se ao “pobrema” da Paula Sofia e refere casos de “discriminação, xenofobia e conflitos” por os miúdos falarem em brasileiro, coitadinhos. Será que a Globo mete o bedelho? E a encrenca? Já terá chegado ao Palácio do Planalto?

Não perca!