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“Identidades”

O Amor A Portugal

O dia há-de nascer
Rasgar a escuridão
Fazer o sonho amanhecer
Ao som da canção
E então
O amor há-de vencer
E a alma libertar
Mil fogos ardem sem se ver
Na luz do nosso olhar
Na luz do nosso olhar
Um dia há-de se ouvir
O cântico final
Porque afinal falta cumprir
O amor a Portugal
O amor a Portugal

Carlos Vargas

 

Soy Español, y orgulloso de serlo. Quiero a mi España. Y quiero y como lo quiero a mi entrañable Portugal. Es para mi un refugio de emociones que consiguen sacar de mi hasta la ultima gota de sentimiento y emoción. Amo sus Fados, si con mayúscula y una lagrima siempre se marcha solitaria con el pensamiento puesto en Hermosa Tierra de la vecina Patria de Portugal a la que amo igual que si fuese Portugues. Mi abrazo a todos por siempre.

 

 

Apenas se lido de relance este texto de Filipa Moreira da Cruz pode parecer que pouco ou nada tem a ver com o AO90. De facto, não é por a autora referir o aleijão uma única vez, e de raspão, que o resto do escrito ganha especial relevância nesse aspecto mais “militante”. Aliás, é perfeitamente normal que as pessoas normais mencionem amiúde o excremento; estranho (e um pouquinho nauseabundo, por paradoxal) é que não o façam algumas delas, talvez por cobardia ou se calhar por convicta mediocridade, com pelo menos alguma regularidade. Há por aí algumas pessoas que em tempos até rasgavam as vestes jurando que “jamais” e outras palavrinhas radicais, mas que agora chafurdam com entusiasmo no esterco da sua hipocrisia, tendo “adotado” já o que em tempos achavam repugnante.

Bem, voltemos ao texto, que dessas tristezas e dessa triste gente não resta nem a sombra.

Além da sua desarmante simplicidade — mais de meio caminho andado para a genuinidade, ou seja, para atingir o cerne da questão –, o que lemos aqui é um pequeno manifesto identitário, algo que é tão caro a quem se dedica ao combate à neo-colonização brasileira e aos vendidos portugueses, quase uma declaração de paixão pela Pátria, o apego ao torrão ilustre e o apelo de quem está longe (mas afinal tão perto) a que vivamos em paz, com as nossas asas e as nossas raízes, orgulhosamente independentes, «desde que saibamos de onde vimos».

Ora bem, fantástico poder de síntese, esta autora é cá das nossas, o que diz tem afinal tudo a ver com o estrume, com a brasileirada “infeta”. Mesmo.

“De Mala Pronta”, Filipa Moreira da Cruz,”Sol”,

Identidades

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Mas o que é ser português? Nascemos portugueses ou tornamo-nos portugueses? A nacionalidade é muito mais do que um passaporte E não se adquire só pelos genes. O meio onde vivemos contribui (e muito) para a nossa identidade.

Há uns dias, uma amiga ligou-me para partilhar uma boa notícia: acaba de obter a nacionalidade australiana. A meio da conversa disse-me que já não se sente apenas francesa, é uma mistura. Talvez só quem tenha passado vários anos num país que não é o seu a possa entender. De qualquer forma, até os que nunca saíram do seu cantinho são 100% de coisa nenhuma. Todos somos fruto de séculos de cruzamento de civilizações que habitaram a Terra antes de cá chegarmos. Como diz a canção de Jarabe de Palo, «en el puro no hay futuro, el futuro está en la mezcla». Felizmente.

Saí de Portugal há mais de 20 anos. Já vivi em cinco países europeus, nove cidades e, da última vez que contei o número de mudanças já ia em 18. Falo, leio, escrevo e sonho em quatro idiomas. Talvez a minha língua materna já não seja tão imaculada. Se fizer um ditado respeitando o acordo ortográfico, não terei 0 erros, como nos tempos de escola. Mas por muitas voltas que dê, Portugal é e será sempre a minha pátria.

Mas o que é ser português? Nascemos portugueses ou tornamo-nos portugueses? A nacionalidade é muito mais do que um passaporte E não se adquire só pelos genes. O meio onde vivemos contribui (e muito) para a nossa identidade. Daí a eterna questão em relação ao que deve ser predominante, a lei do sangue ou a lei do solo. Há uma constante dualidade entre dar e receber. Incluir não é somente integrar. Assimilar não é apenas adquirir.

O meu filho considera-se 50% gaulês, 40% luso e 10% espanhol. A minha filha diz que é metade portuguesa, metade francesa e un poquito espanhola. Ambos nasceram em Paris, têm nacionalidade francesa e são bilíngues. Viveram um ano em Portugal e três anos em Espanha, sendo fluentes em castelhano. Eu vejo esta trilogia como uma mais-valia para cultivarem o respeito, a tolerância e a solidariedade. A força reside na diversidade. Todos somos iguais na essência, mas diferentes em tantos outros aspectos. Não há lugar para o racismo, até porque só há uma raça: a humana.

Durante a presidência de Sarkozy a identidade nacional era um assunto recorrente. Certos políticos consideravam que havia um desapego em relação à nação. Xavier Bertrand, secretário geral do partido que estava no poder (UMP), enalteceu o orgulho de viver em França. Algo ambíguo e vago. Várias medidas foram implementadas para promover a identidade francesa. O canto do hino nacional na escola, cursos de língua e cultura francesas, proibição do uso da burka. A oposição denunciou, com razão, o perigo de confundir-se identidade nacional e nacionalismo exacerbado. Nem todos os Martin ou Richard têm uma cega adoração pela França. Em contrapartida, há estrangeiros que se consideram franceses.

Há um país, para além do meu, onde me sinto em casa: Espanha. E não apenas por ter antepassados que nasceram no país vizinho. Certas afinidades não se explicam. Como dizia Saramago, em castelhano, «Lanzarote no es mi tierra, pero es tierra mía”» Ainda assim, recusou várias vezes a cidadania espanhola. Quando visitei a sua casa na ilha canária deparei-me com Portugal em cada recanto. Na mobília, no serviço de café, nos livros da biblioteca e até mesmo na oliveira alentejana que plantou no jardim, em frente ao oceano. Tão longe e tão perto.

Somos todos cidadãos do mundo e não importa para onde vamos, desde que saibamos de onde vimos. Somos árvores e pássaros. Temos raízes e asas. Nem sempre podemos estar onde gostaríamos, mas nunca nos esquecemos quem somos. Talvez por isso os mais bonitos poemas de Pablo Neruda tenham sido escritos durante o exílio, longe da sua terra natal, o Chile. Todos temos direito a várias identidades para que o futuro se escreva no plural.

A reprodução de artigos e/ou conteúdos da autoria de terceiros tem por finalidade única a constituição de acervo documental sobre tudo aquilo que, segundo critérios meus, interessam ou dizem respeito ao chamado “acordo ortográfico” (e a outros detritos). Os textos que eventualmente sejam publicados na imprensa usando a cacografia brasileira no original (por exemplo,da Agência brasileirusa) e aqui reproduzidos são automaticamente corrigidos com a solução Firefox contra o AO90 através da extensão FoxReplace do browser.

Uma ilha à deriva [por Diana Guerreiro]

dgr_swO acordo ortográfico é uma aberração que transforma o português numa ilha linguística à deriva. Temos que aprender com os montanheses helvéticos que a língua é para se preservar como ela é. Assim num jeito de labregada à taxista, a língua portuguesa é como uma mulher a quem um grunho quer obrigar a gostar dele, de repente já está a tratá-la como esposa sem a ter pedido em casamento.

Temos as crianças da diáspora portuguesa a aprender em francês durante o dia, para depois irem desaprender em português ao final do dia. Com a brincadeira do acordo, com a disrupção total da etimologia da língua portuguesa, cada vez se torna mais difícil fazer o paralelo e aprender a ortografia das duas línguas percebendo o porquê de se escrever assim. E se não há uma lógica, um fio condutor, o caminho é feito às apalpadelas e demora muito mais, além de que nem sempre se chega lá.

Pharmacie, photographie, farmácia, fotografia, etc e tal.

Para uma criança que aprenda a ler antes de ter entrado na escola é a coerência da fonética e o respeito pelas raízes das palavras que lhes traça o caminho. É assim como se fosse automático… Aquele “c” ou “p” têm um propósito, não é apenas um vestígio de tempos idos da dominação romana. É uma ponte que nos liga aos outros povos sul-europeus. É o que nos faz ir para fora e tão depressa aprender a falar e escrever as línguas latinas, assim como o inglês com a sua grande influência do francês e por isso tão próximo do português, tão fácil para nós, às vezes é só mudar *acção para *action.

Obscurantismo, o oximoro “cultura da ignorância”.

Sempre houve os engraçadinhos da turma, os espertinhos, inseguros porque sabiam que o saber não era o seu forte, que tentavam sempre parecer mais e melhor perante alguém que sabia a resposta. “ena, és buéda inteligente!” É isto que queremos cultivar? Naquela máxima que a narrativa tenta contar de que é bom manter o povo ignorante? É daquelas coisas, quando não se consegue fazer igual ou melhor tenta-se mudar as regras. Quando não se consegue produzir nada de construtivo, tenta-se destruir o que está feito. O que interessa é ir para a tumba com o nome conhecido, a bem ou a mal.

A Alemanha também tentou um acordo ortográfico e obviamente falhou. Os Suíços mandaram-nos passear. Na terra deles mandam eles, ora essa, e se querem dizer e escrever Chäs chüechli e não Käsekuchen, fazem-no mesmo. Estão-se bem a borrifar se mais não sei quantos milhões escrevem de outra maneira. A língua portuguesa é rica como outras não são devido ao esforço neoclassicista dos linguistas, dos cientistas e restantes eruditos. Por isso temos o vulgar rotura e o mais erudito ruptura. Mas NUNCA, NUNCA “rutura”. Aquela ortografia que nem é carne nem é peixe, é mesmo diarreia.

O francês, oralmente, é uma língua de mono e dissílabos, mas o escrito nem tanto. É isso que lhe dá algum encanto e ao mesmo tempo desencanto, para pessoas como eu, nativas de um português em que dizer “u” ou “ü” é uma questão de sotaque; são surdas às subtilezas da língua dos Gauleses. O latim de pronúncia celta, dizem alguns. E quer uma academia de meia dúzia de tachistas tornar-nos ainda mais surdos. Talvez assim não ousemos tanto fugir do cantinho atlântico tão mal frequentado e gerido desde quando ainda nem um cheirinho de latim por lá se tinha dado. Esta eterna inferioridade, regada a chico-espertismo, que eu cada vez mais temo que não seja apenas cultural e que já nos esteja a começar a ser impressa nos genes. Naturalmente ou à força, através de fantasias masturbatórias de iletrados, como o AO90 e outras coisas que tais.

Temos muito a aprender com os helvéticos. É com os casos de sucesso que se aprende, digo eu.

Diana Guerreiro (Suíça)