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Tanto mar que separa a gente, cara

Nem vale a pena gastar tempo e feitio a comentar mais este folheto propagandístico.

Na transcrição do textículo inseri algumas ligações a posts anteriores, com citações apensas. Isto deve chegar e sobrar para “comentar” aquilo que já foi por diversas vezes aqui comentado e outras tantas documentado: existem portugueses que — literalmente — trabalham para o Brasil. Correndo as despesas por conta do Estado português, evidentemente. Portanto, à custa de todos nós.

TANTO MAR | Encontros com Alexandra Pinho

SESC – São Paulo (Brasil), 01/06/2023

DIRETORA DO INSTITUTO CAMÕES, ALEXANDRA PINHO NAVEGA PELAS SEMELHANÇAS E PELO OCEANO DE DIVERSIDADE QUE FORTALECEM A CONEXÃO ENTRE BRASIL E PORTUGAL

POR MARIA JÚLIA LLEDÓ

Para além da revisão histórica que vem atualizando as relações entre o Brasil e outros países lusófonos com Portugal, pontes vêm sendo criadas por uma frutífera produção cultural. A língua portuguesa, em toda sua diversidade e plasticidade, é o oceano pelo qual navegamos. Conselheira cultural na Embaixada de Portugal no Brasil, Alexandra Pinho ocupa, desde 2018, a direção do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, em Brasília, onde atua na promoção do diálogo entre os países por meio de ações culturais.

Lula da Silva “Doutor” Honoris Causa pela Universidade de Coimbra — Março 2011

Um trabalho realizado em conjunto com instituições públicas e privadas não só para a valorização e difusão da língua portuguesa, mas também para a produção de conhecimento e fomento cultural. “Eu olho para o Brasil e vejo um país vastíssimo, construído com muita diversidade, com várias identidades que se cruzam e, portanto, o primeiro grande desafio é procurar entender a melhor forma de cooperação nas diferentes áreas geográficas, e como podemos estar presentes sempre em parceria”, explica a diretora do Instituto Camões.

Neste Encontros, Alexandra Pinho, que é licenciada em línguas e literaturas modernas pela Universidade de Coimbra, e mestre em estudos alemães pela Universidade Nova de Lisboa, aborda o reconhecimento das diversidades culturais que abraçam a língua portuguesa, reflete sobre as conexões entre Brasil e Portugal e mira novos caminhos à vista.

PRÊMIO CAMÕES

O galardão mais importante das literaturas em língua portuguesa é um prêmio binacional, ou seja, é dado pelo Brasil e por Portugal de forma absolutamente paritária e, em 2019, como sabemos, Chico Buarque foi o escritor, cantor, compositor escolhido, mas não foi possível chegarmos à cerimônia de entrega do diploma [quatro anos depois, em 23 de abril de 2023, Chico Buarque recebeu o prêmio em cerimônia realizada em Lisboa]. Neste último 5 de maio, ocorreu a entrega do Prêmio Camões à querida Paulina Chiziane, galardoada de 2021. Trabalhei cinco anos como diretora do Camões em Maputo [capital de Moçambique, no leste do continente africano] e tive a oportunidade de conhecer Paulina, a primeira mulher moçambicana negra a receber este prêmio. Uma mulher que é um exemplo, sobretudo para as meninas em Moçambique, ao mostrá-las a possibilidade da emancipação. É muito importante que haja esse reconhecimento público daquilo que significa termos figuras nos diferentes países de língua portuguesa que nos representam, criam pontes e estão presentes em várias gerações. São pessoas que nos ajudam a compreender melhor o lugar onde estamos e a olhar também para o outro.

PELA COOPERAÇÃO

O Instituto Camões tem três pilares de atuação. Um na área da cooperação, que tem na Agência Brasileira de Cooperação (ABC) a sua congênere mais direta – e estamos a falar de cooperação para o desenvolvimento, em especial atenção para os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), mas também Timor Leste [único país lusófono do continente asiático], nas áreas, sobretudo, de educação, saúde e cultura. Temos uma segunda vertente de atuação na área da língua portuguesa, tanto no que diz respeito à difusão da língua em países que não falam português, quanto na formação de professores nos países de língua portuguesa em África e Timor Leste, bem como uma atuação muito especial no Brasil através da rede de Cátedras Camões. O terceiro pilar é a cultura, que é transversal aos outros dois pilares. Eu olho para o Brasil e vejo um país vastíssimo, construído com muita diversidade, com várias identidades que se cruzam e, portanto, o primeiro grande desafio é procurar entender a melhor forma de cooperação nas diferentes áreas geográficas, e como podemos estar presentes sempre em parceria, e da melhor forma, tanto em São Paulo quanto em Sergipe, em Belém e outras cidades. Assim, a atuação [do Instituto Camões] no Brasil está muito ligada à vertente da língua portuguesa enquanto língua que nos ajuda a compreender o mundo e a produzir conhecimento.

[vídeo]
Podcast realizado em abril de 2023, com mediação de Thaís Heinisch. Edição: Tiago Marinho

COMO ONDAS

Eu vejo [as aproximações culturais entre Brasil e Portugal] como as ondas do mar: às vezes chegam mais perto, e às vezes afastam-se um pouquinho, mas o mais importante é sabermos que as ondas existem constantemente, que esse mar está lá e que é para ele que importa olhar, e não necessariamente para momentos específicos. Evidentemente que temos que estar atentos ao momento, e ele é fundamental, mas aquilo que para mim é um grande ensinamento ao longo destes anos no Brasil é que, de fato, há um fluxo permanente que não pode ser mensurável. A grande questão é não pensarmos que já vimos tudo. Isso eu acho que é fundamental para mim: perceber que conheço alguma coisa, mas tem muito para continuar a conhecer. Essa continuidade de troca, esse permanente olhar, é muito relevante.

PERTO E LONGE

Quando cheguei a Praga [capital da República Tcheca], onde também trabalhei, efetivamente tive a noção do que é estar num país estrangeiro, de uma língua que é uma barreira até conseguirmos nos comunicar, de uma base cultural bastante distinta. No Brasil, não é assim. Quando visitei Minas Gerais, a imagem mais forte é a chegada a Ouro Preto, que tanto se assemelha com a paisagem do norte de Portugal. É a mesma, mas é diferente. E eu acho que é essa tensão, essa aproximação e, ao mesmo tempo, essa diferença que é tão enriquecedora para nós. Acho que também por isso os brasileiros se sentem tão acolhidos ou querem ir a Portugal. Porque, de fato, não há esse estranhamento inicial, esse choque e barreira. Essa diferença vai se tornando clara à medida que dialogamos, que vemos, que conhecemos, que procuramos entender o lugar onde estamos.

REVISÃO HISTÓRICA

Há agora uma questão muito importante, de olhar para a África, a África independente, os países independentes, os países que têm seu lugar, sua voz, seu destino nas mãos. Isso é um processo que está em curso em Portugal e que significa revisitar a nossa história. Nem sempre é um caminho de progresso, às vezes temos que parar, refletir, aprofundar e perceber o que é que estamos a fazer. Por exemplo, a importância do teatro na programação do Mirada [Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas, cuja sexta edição foi realizada pelo Sesc São Paulo, em setembro passado], ao trazer grupos como o Teatro do Vestido, que refletem de uma forma sistemática sobre a questão colonial, a herança colonial. É fundamental que seja apresentado em Portugal, e várias companhias têm feito esse trabalho para trazer alguma proximidade com este assunto, e que não seja apenas colocado na esfera política, mas também possa ser sentido. A arte, a cultura, nos ajudam a pensar e a sentir.

PELA MÚSICA

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Rábu dji peichi ná Nétchifilix

Palavras e expressões-chave: dobragem/dublagem, “língua universau“, valor económico da língua, legendagem/subtitulação, tradução Português-Brasileiro, AO90, CPLB, neo-colonização, terraplanagem cultural.

Já sabíamos que no Brasil tudo o (muitíssimo pouco) que ali chega de Portugal é imediatamente traduzido para a língua local (a brasileira, claro). E alguns dos tugas que lá aterram, exímios poliglotas, não se coíbem de falar (e escrever) num Brasileiro mais ou menos fluente e até, por vezes, não muito ridículo: o “ator” Ricardo Pereira, por exemplo, ou, de forma exponencialmente mais circense, o actual PR ou o ex-PM Durão Barroso, também por exemplo.

Tudo nos conformes, portanto, neste particular: um “seriado” português, legendado em qualquer dos países de língua inglesa ou dobrado em Francês na Suíça e em Castelhano em Espanha, aparece agora “dublado” no Brasil. E não se trata de uma excepção; pelo contrário, é esta a regra. Para os brasileiros, o Português é tão incompreensível como o servo-croata.

Tudo encaixa na perfeição, hem? O #AO90, ficção subjacente à criação da Comunidade dos Países de Língua Brasileira (CPLB), foi impingido (por traidores portugueses) com o engodo de uma putativa “unificação”. Ora aí está ela: em Portugal e nos PALOP, a única língua permitida é a brasileira. Para os donos da língua, o Português não passa de uma bizarria, uma caturrice, um dialecto esconso porque… “eles são 220 milhões e nós só 10 milhões“.

Rabo de Peixe

Quando um barco cheio de cocaína se afunda na costa da ilha onde mora, Eduardo vê uma oportunidade para ganhar dinheiro que tem tanto de emocionante como de arriscado.
Com:José Condessa,Helena Caldeira,André Leitão
Criado por:Augusto Fraga [“Netflix” Portugal]
A série Mar Branco (ou Rabo de Peixe, no título original) chegou ao catálogo da Netflix na última sexta-feira (26). A produção já é destaque entre os assinantes, ocupando a sexta posição do Top 10 do streaming. A trama acompanha quatro jovens de um pacato vilarejo açoriano que veem suas vidas mudarem completamente quando um barco repleto de cocaína afunda na ilha. Com direção de Patrícia Sequeira, a série portuguesa baseada em fatos reais tem como showrunner Augusto Fraga e é estrelada por José Condessa, Rodrigo Tomás e Helena Caldeira. [“Techtudo” (Brasil)]

[“Tweet” apontado por Mário de Sá-Peliteiro]

São Bento da porta aberta

Por estes dias, e em especial no de hoje, 25 de Abril, mundanidades várias provocam em Portugal uma espécie de histeria colectiva em que toda a gente — na acepção de “as massas”, entenda-se — manifesta a mesma sintomatologia: fúria paranóica, discurso confuso e incoerente, hiperactividade e ainda, mais prosaicamente, pulsação acelerada, sudação excessiva e disfagia (dificuldade em engolir). O surto epidémico, felizmente, não será expectável que vá prolongar-se para além de 24 horas, ou, não havendo grande azar, nem isso.

A coisa costuma passar sem grande novidade, como aliás sucede com qualquer outro ritual periódico, mas este 49.º aniversário do 25 de Abril teve a particularidade de introduzir — na sequência de mais uma ideia peregrina cuja autoria é, como de costume, incerta — um elemento estranho nas comemorações: alguém ter-se-á lembrado, talvez por inspiração divina ou, quem sabe, por influência do Mafarrico, de transformar um Chefe de Estado estrangeiro no patrono (ou patrão?) das cerimónias oficiais que decorreriam em pleno palácio de São Bento.

Ora, talvez porque São Bento não é exactamente a mesma coisa que o São Bentinho da Porta Aberta (ou se calhar até é), de imediato formaram-se dois bandos, os a favor e os contra, armando-se ambos com as respectivas mocas partidárias e seus cacetes ideológicos. Seguiram-se os típicos confrontos estilizados, aliás típicos dos chamados primatas superiores, e também à semelhança do que acontece nos embates do género entre bandos de outros ramos, como os chimpanzés ou os gorilas, parece que todos se limitaram a seguir o seu instinto, ou seja, não houve bordoada, aquilo foi tudo à base de ameaças, uns quantos urros e punhadas no peito, nada de especial.

Não se chegou, felizmente, a vias de facto, mas, já quanto a pontapés na gramática e, muito mais grave ainda, a desprezo pela História de Portugal, houve para todos os “gostos” e em série. Culminando nesta espantosa pérola de “cultura”.


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Cronologia crónica

07/11/2015

«Lusofonia exige “acordo militante” em Portugal, defende Marcelo Rebelo de Sousa»

16.06.2016

«Filho de Rebelo de Sousa é o novo presidente das Câmaras de Comércio portuguesas no Brasil – Empresas»

www.jornaldenegocios.pt, 16 de Junho de 2016

«A viver no Brasil, Nuno Rebelo de Sousa, 42 anos, licenciado em Economia pela Católica, é director de Relações Institucionais e Gestão de Stakeholders na EDP Brasil.»
«Citado no comunicado, Nuno Rebelo de Sousa fez, no discurso de posse, o elogio aos novos governos tanto de Portugal como do Brasil: “Temos hoje, em Portugal, e no Brasil, dois novos governos, mais abertos, mais comunicadores, mais integradores e mais empreendedores. A Federação das Câmaras Portuguesas tem nas mãos uma oportunidade única de mediar esta nova aproximação destes dois Estados irmãos”.»
«Enumeram-se, ainda, as prioridades da Federação para este novo mandato: reforçar a actividade e a integração entre as câmaras de comércio portuguesas no Brasil, admitindo até criar novas; promover o diálogo político e económico entre Portugal e o Brasil a nível governamental e empresarial; e desenvolver parcerias com associações empresariais portuguesas e câmaras municipais para organizar missões empresariais ao Brasil. Mas também quer levar a Portugal agentes do Brasil, nomeadamente à Web Summit[link]

21/07/2018

“O mundo da lusofonia tem de assumir que a liderança é do Brasil” (Marcelo Rebelo de Sousa)
10.03.2023

Nuno Rebelo de Sousa 2nd
Chief Marketing & Communication Officer | EDP Brasil

«O presidente da Câmara Portuguesa e vice-presidente da Federação das Câmaras Portuguesas de Comércio no Brasil, Nuno Rebelo de Sousa, e o desembargador e conselheiro da Câmara Portuguesa Marco Antonio Marques da Silva estiveram, junto a representantes da Casa de Portugal, em uma reunião com o vice-presidente do Brasil e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, para convidá-lo para evento em São Paulo que irá promover o Fórum Econômico-Empresarial que ocorrerá durante a Cimeira Brasil-Portugal, em Portugal, entre os dias 22 e 25 de Abril.» [link]

18.04.2023

O “Público” e a sua nova Direcção (ou será “direção?)

Os colunistas e o novo acordo ortográfico

O jornal continuará a publicar textos de colunistas e convidados que seguem o novo acordo ortográfico.

José Manuel Barata-Feyo
17 de Setembro de 2022
«Uma das razões que levam o leitor Elysio Correia Ribeiro “a assinar e a ler diariamente o PÚBLICO é a de não ser agredido com o português (?) do ‘aborto’ ortográfico”. “Neste aspecto, o jornal é caso único – julgo – no confrangedor panorama da imprensa escrita que, sem ser a isso obrigada, correu a cumprir uma lei que, ainda por cima, foi adoptada à revelia do que ela própria afirmava (tinha de ser implementada por todos os países lusófonos) por uma classe política farisaica e ignorante, e contra a opinião de praticamente todos os que profissionalmente manejam a língua.”»

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É um caso sui generis no panorama da imprensa portuguesa generalista de implantação nacional. Existem outros jornais que igualmente recusam a cacografia brasileira — como o “Novo” ou “O Diabo” ou o “Página Um” –, mas foi o “Público” aquele que há mais tempo declarou expressamente a sua determinação em continuar a ir para as bancas (e para a Internet) sempre redigido em Português; inclusivamente, e isto não é coisa pouca, dadas as óbvias implicações políticas da decisão, a Direcção lançou em 2015 a edição “Público – Brasil”, igualmente no «português escrito em Portugal».

Desde pelo menos 2011, sucederam-se naquele jornal os artigos denunciando o estropício, tanto de jornalistas “da casa” como de colaboradores ou colunistas externos e ainda um sem número de artigos de opinião dos autores mais diversos, de “figuras públicas” — representando, no seu conjunto, todo o espectro partidário — ao mais comum dos leitores — também transversalmente, de diversas origens, estatutos sociais e grau de escolaridade ou académico.

De entre todos os artigos ali publicados sobre o #AO90, a maioria dos quais foram aqui reproduzidos, merece especial destaque Nuno Pacheco, director adjunto e (evidentemente) membro do Conselho de Redacção do jornal; apenas deste autor, é possível contar 51 “posts” no site da ILCAO (12.09.200817.06.2015) e outros 82 aqui mesmo, no Apartado. Nota de relevo ainda para o comentador político Pacheco Pereira que, além de diversos textos sobre o assunto, cunhou a expressão porventura mais certeira e exacta para descrever a língua univérrssáu e suas consequências: «um Acordo Ortográfico que se pretende impor manu militari».

Pois agora o que se prefigura na Redacção do “Público”, num futuro bem mais imediato do que seria previsível há apenas alguns meses, é a mudança do Director. Com tudo aquilo que essa mudança poderá implicar, evidentemente. Para já, o que sabemos sobre as orientações redactoriais e, por consequência, a respeito do que poderá (ou não) vir a suceder quanto ao AO90, é que… não sabemos coisa nenhuma; sobre isso, pelo menos até ao momento, nem uma palavra. O que não costuma ser bom prenúncio; por definição, o silêncio precede algo de muito “barulhento”…

Bom, sejamos optimistas. Como se diz em brasileiro, pensámentu pôzitchivu

(Qui orrô, mi adisculpi, viu?)

Conviria, porém, mesmo tentando ver a coisa pelo lado bom, não dar uma de anjinhos. “Conteúdos editoriais” e “conteúdos comerciais”, especialmente quando concatenados ambos os termos na mesma frase, não aparenta de facto — nada, nada, nadinha — ser bom prenúncio. Em 2020, que se saiba — e pouco ou nada mais se soube sobre o assunto daí em diante –, o Governo, com um gesto magnânimo e extremamente generoso, espalhou 15 milhões pelas redacções e, principalmente, pelas “redações” de jornais, rádios e canais de TV; para pagar “publicidade institucional”, dizem.

Tais “ajudas”, depreende-se, irão somar-se à mesmíssima publicidade institucional que toca aos OCS de forma regular: éditos, avisos, alertas, concursos etc. Aliás, essa regularidade é uma das mais importantes fontes de financiamento no ramo, chegando em alguns casos a ser a única receita para além das vendas do produto jornalístico em si, em papel ou por meios digitais, neste caso com publicidade paga também pelo sector empresarial privado.

Bem vistas as coisas, assim como sucede quanto ao próprio acordo da língua brasileira, isto é tudo uma questão de dinheiro. O qual, como sabemos, não tem nem cor (bem, as notas de dólar, se calhar por serem verdes, gozam das preferências gerais) nem opinião nem credo e nem mesmo nacionalidade. Como dizia já não sei quem, “um escudo é um escudo”. Agora, o escudo até já nem tem cotação cambial, mas não faz mal, se não houver dólares pode ser em euros, ou em francos suíços, vá, no problem, isso troca-se numa data de offshores.

Não há-de ser nada. Fiemo-nos noutra coisa sem ser na virgem. Decerto o “Público”, onde é tudo boa rapaziada, estará, ao invés do que sucede com a maioria dos media tugas, imune a qualquer OPA governamental. O que significará, por conseguinte, que poderemos continuar a ler aquilo em paz e sossego, sem conspurcações brasileirófonas.

Esperemos que ao menos desta vez haja um escrutínio realmente democrático e que naquela Redacção ninguém acabe a votar sozinho.

Casamento de novo director do Público com deputada do PS levanta reservas

Margarida Davim
revista “Sábado”, 10 de Abril de 2023
www.sabado.pt

Conselho de Redacção do Público deu parecer positivo ao nome de David Pontes para substituir Manuel Carvalho. Mas, em declaração de voto, duas jornalistas defendem que preocupação quanto às fronteiras entre conteúdos editoriais e comerciais e casamento com socialista deviam ser “motivo para dar um parecer negativo à indicação” do novo director.

O jornal Público já tem novo director indigitado. David Pontes sucederá a Manuel Carvalho quando, a 1 de Junho, este sair da direcção do diário da Sonae. O nome escolhido pela administração teve o parecer positivo do Conselho de Redacção. Mas os jornalistas que compõem este órgão deixaram, nesse texto, claras as reservas que Pontes lhes suscita.

Uma das preocupações dos jornalistas do Público é a de que esta nomeação não dê garantias de uma separação entre os conteúdos editoriais e os comerciais.

“Atendendo à natureza das funções recentemente desempenhadas por David Pontes nesta e noutras empresas de comunicação social, o CR entende, porém, ser imperioso sublinhar que o novo director deve garantir e zelar por uma clara distinção entre as esferas editorial e comercial e reforçar os mecanismos de transparência do jornal quanto aos conteúdos apoiados e aos conteúdos promovidos“, lê-se no parecer a que a SÁBADO teve acesso e que foi redigido já depois de Pontes ter respondido a um pedido de esclarecimentos a este órgão.

“A independência e o rigor informativo são os principais activos desta redacção e devem constituir prioridade para a nova direcção editorial, à qual compete a missão de preservar a marca Público, salvaguardando-a da dispersão e da descaracterização que podem advir da multiplicação de chancelas e projectos”, frisam o Conselho de Redacção.

Director deve abster-se de escrever sobre temas em que é “parte interessada”

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