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«Duas maiores organizações criminosas do Brasil» em Portugal [“DN”, 27.11.23]

Conforme previsto no Acordo de Mobilidade (2021), esta mais recente e alucinantemente rápida sucessão de golpadas serve apenas para que brasileiros obtenham a nacionalidade portuguesa. Uma parte ficará por cá mas a maioria poderá emigrar (com passaporte europeu, logo, livre-trânsito) para qualquer dos outros 26 países da União Europeia.
[postA lógica instrumental do #AO90″ – 03.03.23]

Naqueles virginais e impolutos 8.510.345 Km² não há absolutamente violência alguma, tal coisa jamais existiu, o Brasil nem é um dos países mais violentos do mundo nem nada, fomos e somos nós que malignamente pecámos e pecamos ocultando a «violência da colonização portuguesa do Brasil».
[postBrasil colonizando Cristina– 07.03.23]

Diz a imprensa que “mais de 93 mil da CPLB” (com o truque da troca do B pelo P) obtiveram autorização de residência em Portugal — ou seja, livre-trânsito para a Europa — em apenas um mês. O que resulta numa média de 3.100 por dia. Chamam-lhes “imigrantes lusófonos”, porque para puxar o lustro à jogada a adjectivação aportuguesada (portuguesa, lusitana, lusofónica) dá imenso jeito; e dizem que, desses 93 mil, «a maioria são brasileiros».
E que maioria! Entre 51%? e 99%, a quanto monta, ao certo, essa maioria? Bem, se nos fiarmos nos números oficiais, «os nacionais do Brasil representam, até ao momento, 86,5% dos pedidos de autorização de residência CPLP, seguidos dos cidadãos de Angola, com 3,8%, e de São Tomé e Príncipe, com 3%.»
[postTrês mil e cem por dia – 14.04.23]

PJ investiga infiltração das duas maiores organizações criminosas do Brasil

Por “razões de segurança” a Polícia Federal não permitiu duas buscas previstas para a casa de suspeitos em zonas controladas pelo Comando Vermelho, a segunda maior organização criminosa brasileira. As autoridades acreditam que este grupo e o Primeiro Comando da Capital, o maior do país, têm cúmplices no Consulado para colocar em Portugal operacionais seus.

“Diário de Notícias”, 27.11.23

A Polícia Judiciária (PJ) suspeita que as duas mais poderosas organizações criminosas do Brasil – Primeiro Comando da Capital (PCC), de S. Paulo, e Comando Vermelho, do Rio de Janeiro – podem estar envolvidas e ter beneficiado de um esquema de legalização ilícita e obtenção de vistos para colocar operacionais seus em Portugal.

Casos de mortos “ressuscitados” que obtiveram nacionalidade portuguesa com falsificação de documentos, um dos crimes em causa. Mas também indícios de corrupção, participação económica em negócio, acesso ilegítimo, usurpação de funções, abuso de poder e peculato, entre outras situações, foram detectados no Consulado de Portugal no Rio de Janeiro, no âmbito de investigações da Unidade Nacional de Combate à Corrupção (UNCC) da PJ, em inquéritos titulados pelo DIAP de Lisboa.

Neste momento há quase uma dezena de arguidos, a maioria brasileiros, funcionários, ex-funcionários e pessoas próximas dos funcionários.

As autoridades, Ministério Público (MP) e UNCC, têm em mãos uma centena de processos administrativos sob suspeita de fraude e, até agora, já identificaram perto de 30 cidadãos brasileiros que terão viajado para Portugal usando o esquema ligado às redes criminosas.

Numa primeira fase, a convicção era de que se tratavam de intermediários das organizações criminosas, mas com o desenrolar da investigação concluíram que havia mesmo quem fizesse mesmo parte desses grupos.

Em comunicado já na manhã desta segunda-feira, a PJ diz que foram feitas buscas, não só no Consulado, como também em “território nacional, foram executados dois mandados de busca e apreensão, bem como 4 mandados de pesquisa de dados informáticos, visando a apreensão de prova de natureza digital, tendo participado na operação, 10 investigadores e peritos informáticos da PJ”. Ao que o DN soube terá sido no próprio ministério dos Negócios Estrangeiros.

Em concreto, precisa a PJ “tem em curso investigações que visam o desmantelamento de esquemas de legalização e certificação ilícita de documentos para obtenção de nacionalidade portuguesa, atribuição de vistos, prestação de informações privilegiadas através da usurpação de funções, atribuições ilícitas de vagas de agendamento para a prática de actos consulares, bem como, de execução de actos consulares para os quais não existe habilitação legal e peculato de emolumentos.

Na origem da investigação estão, pelo menos, dois grandes inquéritos, nos quais se investigam dezenas de denúncias de de utentes do Consulado.

A troco de cerca de 300 euros (cerca de 1500 reais, num país onde salário mínimo é de 1300 reais), funcionários colocavam certas pessoas à frente das que aguardavam vagas, numa espécie de “via verde” para o atendimento. De acordo com a imprensa brasileira, “o esquema montado pelos funcionários consulares redireccionavam no site do consulado o agendamento de documentação para empresas intermediárias“.

Uma das linhas de investigação relaciona também este esquema com a entrada de elementos do PCC, em Portugal, através de uma ligação anterior ao consulado português em S. Paulo, Estado onde o PCC tem o maior domínio.

“Há interesse destas organizações criminosas terem seus membros com documentação regular em Portugal, considerando que o país é estratégico como porta de entrada de drogas, principalmente cocaína, na Europa”

“Possivelmente ocorreu o denominado recrutamento operacional de funcionários do Consulado pelo crime organizado. No Estado do Rio de Janeiro existem diversas facções criminosas. As principais são o Comando Vermelho, o Terceiro Comando, o Terceiro Comando Puro e Amigo dos Amigos, todas com grande poderio financeiro. Em São Paulo existe o PCC, considerada uma das maiores organizações criminosas da América Latina e que tem membros em todos os Estados do Brasil e no exterior. Há interesse destas organizações criminosas terem seus membros com documentação regular em Portugal, considerando que o país é estratégico como porta de entrada de drogas, principalmente cocaína, na Europa“, explica RobsonSouza, um ex-polícia militar brasileiro, autor de um mestrado na Universidade Nova de Lisboa, que demonstra como fugitivos à justiça brasileira podem conseguir entrar em Portugal.

A especialista em crime organizado Sylvie Figueiredo observa também que “o cada vez maior envolvimento do PCC no tráfico de cocaína tem sido visível também em Portugal, onde o grupo está a aproveitar-se do facto de alguns membros ou elementos próximos aqui residirem para desenvolver capacidade operacional no nosso país.

Segundo noticiou a revista Visão, em Novembro de 2022 um suspeito líder narcotraficante luso-brasileiro, residente em Portugal, foi detido no Dubai. Inicialmente as autoridades pensavam que era um dos chefes do PCC, mas posteriormente veio-se a saber que, afinal, era do Comando Vermelho.

Com a alcunha de “carioca” (nome que se dá aos naturais do Rio de Janeiro, integrava um grupo no qual, segundo os relatórios policiais, a que a VISÃO terá tido acesso, era “o principal articulador, responsável pela logística de transporte e embarque dos carregamentos de droga, negociando pagamentos a motoristas e guardas portuários, tratando inclusive desde os fornecedores até os compradores no destino final, o continente europeu”.

Territórios inimigos

Logo quando chegou ao aeroporto no Rio de Janeiro, no início do mês, a equipa de 29 pessoas (21 investigadores da UNCC, dois técnicos informáticos da PJ, três magistrados do Ministério Público (MP) e três inspectores do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), foi recebida por uma aparatosa escolta da Polícia Federal.

As autoridades brasileiras tinham lido a lista dos suspeitos e dos alvos dos sete mandados de busca em bairros da cidade, que constavam da carta rogatória, como Rio Comprido, Jacarépaguá, Botafogo, Saquarema e S.João de Meriti, tinham excluído dois.

Os inspectores da PJ e os procuradores ficaram a saber que entre os nomes estariam suspeitos ligados ao Comando Vermelho e ao Primeiro Comando da Capital (ver características no final do texto) e que não podiam ir, “por razões de segurança” a, pelo menos, duas das moradas.

Segundo contou ao DN fonte que conhece o processo, tratava-se de “territórios inimigos” onde a polícia não entra ou, quando entra, tem de ser acompanhada com o famoso BOPE (Batalhão de Operações Especiais) da Polícia Militar, que leva blindados e helicópteros.

Tinham ainda outra informação: que membros desta organização criminosa estavam a colocar operacionais seus em Portugal, através de uma rede de cúmplices nos consulados, sendo o do Rio de Janeiro um dos casos.

A casas de um dos cúmplices, avisou a Polícia Federal, estava num bairro, Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, onde este ano uma operação conjunta do BOPE e da Polícia Rodoviária Federal, para deter os líderes da maior facção criminosa do Estado e suspeitos de outras regiões, resultou em 26 mortes, 20 das quais durante a acção policial. Foi a segunda operação mais mortífera no Rio de Janeiro, muito próximo dos 28 óbitos no Jacarezinho, em Maio de 2021.

A escolta da Polícia Federal manteve-se junto aos portugueses durante todos os sete dias que lá estiveram.
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“Sem um tostão no bolso” e outras maçadas

  • Tendo em atenção os antecedentes, torna-se de novo perfeitamente clara a relação de causa e efeito entre o súbito surto de “queixas” por “xenofobia” e as consequentes “medidas” governamentais destinadas a, conforme diz a própria titular dos serviços que despacham leis, «facilitação da passagem de vistos de residência».
    Os “queixosos”, os que se dizem “vítimas” de “racismo” e de “xenofobia, não são angolanos, moçambicanos, guineenses, cabo-verdianos, santomenses ou timorenses; segunda, que as “razões” aduzidas pela senhora Mendes não passam de mero exercício de verborreia; a uma tão previsível colecção de chavões e expressões “consagradas pelo uso” (como previsto no acordo cacográfico) não se costuma chamar argumentação, coerência, substância, conteúdo político ou sequer honestidade intelectual.
    [
    A vitimização como arma política – 1]
  • Os acontecimentos mais recentes envolvendo diversos episódios de supostos “racismo, preconceito e xenofobia”, dos quais vão resultando cada vez mais “queixas” que os media exploram até à náusea, servem na perfeição os fins em vista, ou seja, a cada vez mais descarada discriminação selectiva (dita “positiva”, em jargão politiqueiro), privilegiando com prerrogativas exclusivas os imigrantes de uma única proveniência em detrimento de todos os outros e das suas origens geográficas, culturais e identitárias — a começar pelos próprios portugueses, aos quais tais privilégios estão também vedados.
    Estribado na pretensa língua “universau” brasileira (via AO90), o plano de erradicação da Língua e da Cultura portuguesas compreende a táctica de vitimização sistemática como forma de pressão acrescida para “agilizar” e “simplificar” — ou seja, abreviar — o esmagamento da soberania nacional. Esta táctica vai apresentando torções e contorções cada mais imaginativas e chocantemente óbvias, incluindo a vitimização por proxy e sempre contando com o precioso auxílio do chamado coitadismo militante: brasileiros queixam-se imenso de “racismo e xenofobia” e alguns portugueses correm a “solidarizar-se” com eles, coitadinhos, que são tão perseguidos, coitadinhos, e que até não são eles mesmos racistas e xenófobos nem nada, que ideia.
    [
    A vitimização como arma política – 2]
  • «O poder das palavras ainda é subestimado por muitos de nós, mas, historicamente, as palavras têm sido uma estratégia bastante eficaz para normalizar estereótipos e discursos de ódio destinados a determinados grupos de pessoas, e também para banalizar processos de exploração que foram projectos de Estado.»
    Não deve em circunstância alguma passar incólume nem esta nem qualquer outra manifestação de ódio, de xenofobia de sentido único, isto é, de lusofobia feroz (passe a redundância), de raiva alucinada contra Portugal e os portugueses. Mesmo tratando-se de um case study, algo mais calhado para profissionais de bata branca, que não seja por abstenção ou indiferença (que alguns “pacifistas” fingem ser menosprezo), que não seja pela cobardia instituída (sistemática ou esporádica, tanto faz), enfim, que não seja por falta de vergonha na cara — ao menos isso — que falte a quem escarra no nosso país uma resposta adequada… como, pelo menos, devolver aos remetentes os seus insultos. Caso alguém mais exótico pretenda adornar a devolução com um presente, então poderá embrulhar um colete-de-forças com as seguintes instruções: “depois de enfiar os braços nas mangas, peça a alguém que lhe aperte os lacinhos das costas; mas com força“.
    [
    A vitimização como arma política – 3]

Dores, dificuldades e paixão: a vida dos brasileiros em Portugal

Comunidade formada por brasileiros é a maior entre os estrangeiros que vivem no país europeu. A xenofobia é crescente, mas há muitas oportunidades para quem deseja mudar de vida
Vicente Nunes — Correspondente
www.correiobraziliense.com.br, 12.11.23

 

Lisboa — A jovem Luíza Gonçalves Cunha nem bem havia começado o curso de direito no Brasil, mas os olhos e a cabeça estavam voltados para Portugal. Era muito comum dedicar horas do dia para estudar sobre o país europeu, que, na visão dela, poderia lhe propiciar um mundo novo, cheio de oportunidades de trabalho. Ela tinha em mente, desde sempre, advogar na área de direitos humanos e entendia que, no Brasil, teria pouco sucesso. Na Europa, porém, o tema sempre foi tratado com muita relevância, sobretudo em terras lusitanas. Não demorou muito para definir onde aportaria tão logo se formasse. A cabeça estava a mil.

Pouco meses depois de pegar o diploma e de acumular algumas decepções no Brasil no mercado de trabalho, Luíza, que completará 28 anos em dezembro, fez as malas e cruzou o Atlântico em busca de seus sonhos. Ao mesmo tempo em que faria um mestrado na área que escolheu, buscaria um emprego para reforçar o orçamento. Afinal, as despesas passariam a ser em euros. Não havia porque queimar rapidamente as reservas que poupou. Logo nas primeiras entrevistas, sentiu o tamanho da barreira que teria de enfrentar.

O fato de ser mulher e brasileira jogava contra ela. Não imaginava que um país integrante da União Europeia fosse tão arraigado a preconceitos. “Ouvia falar, no Brasil, que os portugueses nos viam como prostitutas. Para mim, isso não passava de uma fábula. Mas, tão logo pisei em Portugal, vi que era realidade. Levei um susto”, conta. Luíza, porém, não se deixou intimidar. Conquistado o primeiro emprego, tratou de procurar um imóvel para alugar. Mais uma vez, pesou o fato de ser mulher e brasileira. “Infelizmente, minhas propostas não foram aceitas”, diz. O jeito foi recorrer a uma república. Ali, com jovens portugueses, tinha a certeza de que seria acolhida, sem preconceitos, sem xenofobia. Deu certo.

Poucos meses depois, o mundo de Luíza desabou. Os colegas de república, que, até então, se mostravam acolhedores, colocaram para fora o que tinham de pior. Quando descobriram que a brasileira havia conhecido o namorado dela por meio de uma rede social, o Tinder, simplesmente decidiram expulsá-la da residência. Diante da forma violenta com que foi tratada, ela foi obrigada a chamar a polícia. “Foi terrível”, afirma. Apesar do desapontamento e da raiva, a jovem, em nenhum momento, pensou em abrir mão de seus objetivos e retornar para o Brasil. “Isso não passou pela minha cabeça. Tinha uma meta e os portugueses que me trataram muito mal teriam de me engolir.”

Luíza reconhece que o primeiro ano em Portugal foi terrível, pois enfrentou todo tipo de xenofobia. Agora, dois anos e meio depois de pisar em território luso, tem a certeza de que fez a coisa certa. Não só está muito bem empregada como pesquisadora e gestora de eventos em duas associações, como reabriu o coração para as experiências que a vida lhe tem proporcionado. “Depois de tudo o que passei, me fechei completamente. Agora, estabilizada, me abri para a vida e para as relações e tenho descoberto uma nova geração de portugueses que é muito acolhedora e defensora da diversidade”, ressalta. “Vivi as dores e, agora, saboreio as delícias de ser brasileira em Portugal.

[foto]
Luíza Gonçalves Cunha, advogada, moradora de Portugal.

Saúde pesou muito

A baiana Adélia Pauferro, 47, desembarcou em Lisboa há 20 anos certa de que ficaria um tempo curto na cidade, exatamente o tempo de duração do projeto decorrente de uma parceria entre os ministérios da Educação do Brasil e de Portugal. Pedagoga, tinha se proposto a estudar o impacto da cultura popular portuguesa nos países colonizados. A pesquisa, no entanto, foi interrompida antes do tempo previsto. Mas, em vez de retornar imediatamente para Salvador, prevaleceu a vontade de ficar na cidade que a acolheu tão bem. Foi um caso de amor carregado de desafios que ela se impôs. Tinha de dar certo a decisão que havia tomado.

Nos oito primeiros anos, Adélia fez de tudo um pouco. Começou trabalhando em uma loja de acessórios indianos até se tornar representante, em Portugal, de uma empresa alemã de produtos ortopédicos. Ela se deu tão bem nesse ramo que optou por abrir a própria loja para vender essas mercadorias. A partir daí, depois de tantas conquistas, a baiana sentiu o peso de ser imigrante. Em um exame de rotina, descobriu dois tumores, um na sequência do outro. “Logo me veio o questionamento: o que vou fazer em Portugal, longe da minha família, sem recursos financeiros suficientes para um tratamento que poderia ser muito caro?” A resposta dada pelo coração dela foi clara: fique e procure ajuda. E assim se deu.

Adélia recorreu à rede pública de saúde. E, para surpresa dela, fez todo o tratamento de graça, até que os médicos lhe dissessem que ela estava curada. “Me senti aliviada e feliz por, mesmo sendo estrangeira, ter recebido toda a atenção que precisava”, assinala. Saúde estabilizada, a baiana voltou à vida normal. E veio o grande baque. O brasileiro que tinha se tornado sócio dela na loja de produtos ortopédicos deu um golpe, saqueou o negócio e ainda deixou uma penca de dívidas. “Fiquei tão estressada, que desenvolvi uma doença autoimune. Foi tão sério que precisei ser internada por quatro meses e meio. Segurei as pontas e não comuniquei nada a minha família”, relata, sem esconder a emoção.
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Do Brasil, duas coisas de jeito

Pois. “Ler dá trabalho”, como disse em tempos uma aluna do 12.º Ano — o que aliás escrevi no quadro, com um letreiro por cima: “não apagar!”, e que ali ficou até ao fim do ano lectivo –, mas ainda assim, que diabo, este Apartado 53 cumpre (também) a função de repositório de textos (e vídeos e gravações e imagens e documentos) de tudo aquilo que se relaciona com o #AO90. Portanto, sem trocadilhar excessivamente, “repositemos” mais estes dois artigos, até porque dá-se o caso de provirem ambos do Brasil, o que não deixa de ser algo surpreendente.

Acresce ainda, vindo somar-se à surpresa da proveniência, a raridade do tema que, embora abordado de forma diferenciada num caso e no outro, pelo menos tocam os dois em áreas não demasiadamente herméticas para o comum dos mortais: neurolinguística, fonética (ortoépia brasileira, prosódia brasileira) e até uns laivos de etimologia, sociolinguística e estrangeirismos.

Muito ao contrário do que sucede em Portugal, quanto a este tipo de matérias, já que por aqui a tendência dos linguistas em geral é encapsularem-se a si mesmos numa redoma de soberba academicista à qual apenas meia dúzia de titulares, todos eles confrades, têm acesso — talvez por modéstia, convenhamos, coisa à qual são, caracteristicamente, muito dados.

Por conseguinte, ignorando tais e tão fantásticos arremedos de genialidade encadernada, vejamos então o que se diz nas revistas brasileiras “Fórum” e “Inova Social” e que, não por mero acaso, tem tudo a ver com a língua “adotada” por Cavaco, Sócrates, Costa & Cia.

É curioso que sejam os próprios brasileiros a dizer com toda a clareza aquilo que na “terrinha” quase ninguém se atreve a sequer balbuciar. Chegaria até a ser hilariante — caso a terraplanagem da língua universau brasileira não fosse uma hecatombe cultural sem precedentes — a forma como ambos os artigos objectivamente aniquilam as “razões” usadas por alguns tugas para “justificar” a destruição da Língua Portuguesa.

Implicâncias ranhetas?

Mouzar Benedito

revista “Fórum” (Brasil), 13.11.23

O mundo está cheio de coisas ruins acontecendo. Pensei em – sem perder a consciência nem a indignação – aliviar um pouco os pensamentos, escrevendo umas coisas leves. E o que saiu? Um monte de coisinhas pequenas, mas nem tão refrescantes assim. Aí vão.

Trabalhar de casa! Ô, expressão que me dói no ouvido. Esse “de casa” é coisa de gringo, imitada pelo que antigamente chamavam de macacobrás, um pessoal que em vez de falar como os brasileiros sempre falaram decide imitar a fala gringa. O termo macacobrás não é mais usado, mas a conduta macacobrás está cada vez mais forte. Vão substituindo tudo quanto é palavra da língua portuguesa por uma traduzida do inglês e exigem que seja assim. Mas voltemos ao início… Sempre falamos aqui “trabalhar em casa”. Veio a Covid, uma maldição, e muita gente teve que trabalhar “em casa”, mas pegou outra maldição, a expressão “trabalhar de casa”.

Mim ou eu? Ouço cada vez mais até gente estudada falando “pra mim fazer”, em vez de “pra eu fazer”. Também dói no ouvido. Mas tem outra situação em que “mim” é considerada por linguistas palavra certa, ao contrário de “eu”. “Entre mim e ele”… Falar ou escrever “entre eu e ele” é errado, dizem os donos do idioma. Pra evitar isso, preferi sempre dizer “Entre ele e eu”, mas li de um especialista que isso também é errado, tem que ser “entre ele e mim”. Um horror.

Agora uma coisa importada, que acho que não é da gringolândia, mas de países de língua espanhola da América Latina. Não tenho certeza, mas é uma palavra que comecei a ouvir de ex-exilados que voltavam quando a ditadura acabou. Não usavam a palavra “líder”, achando que isso era dar poderes a alguém, um líder sindical, por exemplo. Queriam abrandar a força do líder e falavam “liderança”. Um sinal de “modéstia”. Assim: “Fulano é uma liderança metalúrgica”. Ora! Liderança é função do líder, capacidade de liderar. Líder é líder, gostemos dele ou não. Liderança é o que ele exerce.

Na mesma linha, tem umas coisas que eu acho ridículas. “O Palácio do Planalto emitiu nota…”. Palácio escreve, fala? Quem mora no palácio, seja do Planalto, dos Bandeirantes, do Catete ou cacete a quatro é que fala ou escreve, emite notas. Jornalistas são especialistas em falar essas besteiras, tanto do palácio que escreve ou fala quando da liderança sem líder. Aliás, colunistas também dão uma de modestos e não dizem que é deles alguma previsão ocorrida, dizem “a coluna” previu. E deputados? Muitos também são assim: eles não propõem nem falam nada, é “o mandato” é que propõe ou fala.

Já que falei em palácio falante, mas prefiro dar o nome aos bois, revelar que é seu ocupante que fala, escreve, aprova leis, decide… uma coisa que nunca vou “perdoar” o Lula é por ter assinado o (des)acordo ortográfico que acabou com o trema e uns outros acentos. Uma coisa que só veio para atrapalhar, e na minha cabeça ficou a imagem que aquilo serviu só para dar lucro a certas editoras poderosas. Agora quase não se usa mais dicionário impresso, mas na época era usado direto. E nas escolas, por exemplo, não podiam manter dicionários com a ortografia antiga. Quantos milhões foram gastos para substituir todos eles? Os burocratas da língua, para justificar o acordo maldito, diziam que era para unificar a língua portuguesa em todos os países lusófonos, mas os demais países não embarcaram nessa, ficou uma coisa ridícula. E diziam também que o trema só existia em português, então era uma coisa sem sentido (a macacobrás sofisticada, letrada…). Mas é pura mentira. Veja em francês: tem trema em cima do i, para que ele seja pronunciado como i em português. Exemplos: Arte naïf, Anaïs Nin. Sem trema, seriam pronunciados “néf” e “Ané”. E em alemão tem trema em cima do o, por exemplo: Köller. Muitas outras línguas têm disso e, se fosse pra valer isso não ter sentido um acento porque não existe em outras línguas, pelo que sei só em espanhol tem ñ – n com til. E vá falar pros espanhóis que eles têm que parar com isso, porque nas outras línguas não tem! – Então, acho imperdoável o fato do Lula ter aprovado essa trolha, e o governo da Dilma ter referendado. Por isso, por mais que aprove o governo Lula em outras questões, nessa questão vou continuar xingando os dois (Lula e Dilma). Fora o trema, lindíssimo e necessário, tem a retirada do acento agudo de muitas palavras em que ele é necessário também. Eu que de vez em quando escrevo livros com diálogos caipiras, não poderia também usar acento nas palavras véio e véia, por exemplo. Mas se escrevo veio, pode ser de ouro, se escrevo veia pode o troço por onde passa o sangue. Vejam um poeminha besta que escrevi só para falar mal disso: “O véio achou um veio / E com esse ouro custeia / O que a véiainjeta na veia”.

Fora esses exemplos de coisas que acho imbecis (uma pequena mostra, são muitas), tem os exageros do politicamente correto, que grande parte da esquerda assume e que só ajuda a nos derrotar. Não que não sejam importantes, mas vão se tornando exclusividades, em prejuízo de outras coisas importantes. Ao privilegiar causas identitárias, deixando em segundo, terceiro ou último plano coisas como questões de classe social, parece que pensam que só essas causas identitárias interessam. E haja exagero!

(…)

[Transcrição parcial. Inseri “links” (a verde) com citações de “posts”.]

O dicionário mental: A biblioteca invisível e fascinante da mente humana

Inova Social” (Brasil), 08.11.23

O conhecimento linguístico que carregamos é um dos traços mais fascinantes da nossa individualidade. No mundo contemporâneo, onde os dicionários físicos estão se tornando relíquias, cada um de nós possui um dicionário mental, repleto de palavras que foram acumuladas e moldadas por experiências pessoais.

Nosso dicionário mental não é apenas uma coleção de palavras, mas um compêndio das suas letras, sons e significados, assim como informações gramaticais e sinônimos. É uma ferramenta dinâmica, que nos permite formar frases e se comunicar eficientemente. A singularidade deste dicionário está no fato de ser profundamente personalizado, refletindo os percursos educacionais, profissionais e culturais de cada indivíduo.
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Tratado de vitimização

Movimentos anti-imigração em Portugal cada vez mais organizados

Investigadora do ISCTE nega que haja um sentimento xenófobo generalizado em Portugal contra os brasileiros, mas admite que os episódios têm aumentado. Thaís França lamenta ainda que o país não discuta abertamente o racismo e a xenofobia.

DN/Lusa
11 Novembro
2023A investigadora Thaís França alertou este sábado que os movimentos anti-imigrantes existem em Portugal e estão cada vez mais organizados, aproximando-se dos congéneres europeus, embora sem um impacto social equivalente.

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Nos grupos anti-imigrantes “há uma organização muito maior, muito mais forte, há muitos mais grupos aparecendo e cada vez mais organizados, com agendas mais claras, ocupando cada vez mais espaço, não só de movimentos sociais, mas também dentro da política partidária”, avisou a investigadora do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do ISCTE.
(…)

(…)
Financiado pela EEAGrants Portugal, o estudo de Thaís França incluiu 20 entrevistas a activistas portugueses que se apresentam como anti-imigrantes e as conclusões apontam que a agenda é semelhante a outros países europeus.

“Esses movimentos anti-imigração existem em Portugal, mas não têm tanta visibilidade quanto têm noutros contextos”, pelo que há uma tendência para se dizer que o problema não existe em Portugal, o que “é mentira”, explicou.

Segundo a investigadora “começam a aparecer algumas manifestações de discursos de ódio, principalmente online, casos que se vêem na rua, de manifestação contra migrantes”, exemplificou.

(…)

(…)
Reconhecendo que é “tudo muito pontual”, a investigadora diz que o seu estudo mostra que essas movimentações existem “de uma forma mais submersa e estão a organizar-se”.

Até porque, salientou, há um crescimento em Portugal do “espaço para essas reivindicações anti-imigração acontecerem, apesar de, até hoje, Portugal ter tido uma política muito aberta em relação aos imigrantes”.

O afluxo de estrangeiros ao país acentua a expectativa desses grupos de uma maior visibilidade, já que dantes, com a imigração tradicional dos países lusófonos, contribuía para que o “chamado choque cultural fosse muito menos intenso do que se poderia ter visto noutros países”.

A investigadora, de origem brasileira, foi confrontada com isso nas suas entrevistas. “[Os activistas anti-imigração] diziam que o meu caso é um caso de excepção, porque estou integrada na sociedade portuguesa porque estou a trabalhar e a contribuir”, numa espécie de “discurso da boa selvagem” em relação ao outro.

Esses grupos defendem um “controlo maior da entrada” de migrantes e criticam as políticas de “diversidade cultural nas escolas”, explicou a investigadora.

Trata-se de organizações que “advogam que Portugal precisa mudar as políticas, que são muito abertas para os migrantes, comparada com os outros países europeus”, com “agendas de reivindicação” muito semelhantes a outros grupos de outros países.

Em causa está o “risco de haver uma perda da identidade portuguesa, à medida que mais imigrantes vêm e à medida que Portugal começa a adoptar outros costumes culturais que não seriam os tradicionais”, explicou Thaís França.

As conclusões do projecto, que integra estudos semelhantes realizados na Noruega, Itália, Alemanha, França e Áustria, serão apresentadas no dia 29 de Novembro.

Apesar de o discurso anti-imigrantes estar latente na sociedade, Thaís França não acredita que as próximas eleições de Março dêem eco ao tema.

O tema da anti-imigração está presente na agenda do Chega” e “tenta entrar noutros partidos”, mas a actual crise política “acontece dentro de um contexto de corrupção” e será esse o tema principal da campanha, vaticinou.

“Se tivesse sido uma saída normal do Governo, eu acreditaria que essa questão da migração apareceria com mais força na agenda, porque ela está presente na agenda dos partidos políticos também”, mas “hoje não me parece”, afirmou.

Casos contra brasileiros têm aumentado

A investigadora Thaís França considera que o aumento dos casos de xenofobia contra brasileiros mostra a maior visibilidade do tema junto de vários sectores da sociedade portuguesa.

Comentando o recente caso de um vídeo difundido online em que uma mulher portuguesa no aeroporto de Lisboa diz a uma brasileira “vá para a sua terra, estão a invadir Portugal, entre outras declarações xenófobas, Thaís França salientou que o tema está a crescer também pela visibilidade dada pelos protagonistas, embora admita que o número de casos tem aumentado.

(…)

(mais…)

‘Give peace a chance’?


Duas mulheres discutem num aeroporto português porque, ao que parece, uma delas pisou um pé da outra ou terá deixado cair uma mala em cima do dito pé (ou terá sido do outro pé, a notícia não esclarece).

Ora, como uma das cidadâs é brasileira, a peixeirada transformou-se de imediato num gravíssimo incidente diplomático: o ministro brasileiro da pasta da Justiça exige uma reparação à “terrinha” alegando que assiste ao seu país o “direito de reciprocidade”, já que “em 1500, Portugal invadiu o Brasil” e, pior ainda, os portugueses só foram a terras de Vera Cruz para “roubar o ouro deles, brasileiros”.

Aguarda-se a qualquer momento a resposta — certamente, um pedido de desculpas formal — do governo provincial português.

Antes de que as coisas cheguem a vias de facto, ou algo assim, como, por exemplo, começarem a adentrar a barra do Tejo uns vasos de guerra da gloriosa Marinha brasileira (ou não vá aparecerem uns Embraer da não menos gloriosa Força Aérea de Lula a ameaçar bombardear-nos com feijoada), o Apartado 53 disponibiliza-se desde já como mediador de conflitos — campo no qual já demos bastas provas, modéstia à parte — para que seja encontrada uma solução diplomática, pacífica e a contento de ambas as partes.

Brasileira é xingada em ataque xenófobo em aeroporto de Portugal; veja vídeo

“Folha de S. Paulo” (Brasil) 7 Nov. 2023

Uma brasileira de 35 anos foi alvo de ataques xenófobos em um aeroporto da cidade do Porto, em Portugal. Um vídeo feito pela vítima mostra uma mulher, que se identifica como “portuguesa de raça”, chamando-a de “porca” e dizendo para ela ir “para sua terra”.

A brasileira, que não quis ser identificada, disse ao site Gazeta Bragantina que o ataque ocorreu enquanto ela esperava um voo para Barcelona, na Espanha, onde trabalha e mora atualmente. As ofensas teriam começado após uma mala de uma amiga da portuguesa cair sobre o pé da brasileira na escada rolante.


A brasileira teria dito “ai, doeu”, o que irritou a portuguesa. “É problema seu”, respondeu a agressora, segundo relato da vítima. Então, a mulher começou com os ataques xenófobos.

Durante o ataque, a vítima diz que irá processar a portuguesa e divulgar o caso à imprensa. “Você pode filmar o que você quiser. Você pode pôr na internet. Olha aqui a minha carinha”, grita a agressora no vídeo divulgado nas redes sociais. “Sua porca! Vai para a sua terra. Eu sou portuguesa de raça. Você que é brasileira, que vá para a sua terra. Estão invadindo Portugal, essa raça de filha da puta.”

A brasileira conta que chegou a acionar um segurança do aeroporto, mas que a agressora não se intimidou.

A brasileira mora há sete anos na Europa e conta que nunca passou por nada parecido. “Pretendo tomar providências para que isso não volte a acontecer, não apenas comigo, mas com todos os brasileiros que vivem e que trabalham aqui“, disse ela ao Gazeta Bragantina.

O relato engrossa um número crescente de queixas do tipo. No ano passado, a questão chegou a ser reconhecida pela ministra de Assuntos Parlamentares de Portugal, Ana Catarina Mendes, em entrevista à Folha.

Os relatos de xenofobia contra brasileiros em Portugal acompanham o crescente interesse dos cidadãos do país pela nação europeia. Em 2022, o número de brasileiros residindo legalmente no país chegou a 239.744, um recorde — a cifra não inclui quem tem dupla cidadania nem os que estão em situação irregular.

Diante da escassez de mão de obra no país, sobretudo nos setores de turismo e serviços, o Parlamento português aprovou no ano passado um programa que amplia e facilita a concessão de vistos de trabalho a cidadãos dos países da CPLP (Comunidades dos Países de Língua Portuguesa), incluindo brasileiros.

O mecanismo permitiu que mais de 140 mil documentos tenham sido emitidos desde março deste ano. Os brasileiros fizeram 74,5% do total de pedidos, e mais de 104 mil cidadãos tiveram sua situação migratória regularizada devido ao novo programa.

A regularização em massa — que beneficiou principalmente quem estava em Portugal havia mais de um ano — fez o número de brasileiros legalmente residentes no país ibérico atingir o valor mais elevado da série histórica: 393 mil pessoas, o que representa um aumento de 63,9% em relação ao ano anterior.

Ao mesmo tempo, aumentam os relatos de xenofobia e preconceito. Um dos casos recentes do tipo de mais repercussão envolveu a atriz brasileira Giovanna Ewbank, gravada discutindo com uma mulher no restaurante Clássico Beach Club, na Costa da Caparica, após seus filhos serem vítimas de racismo.

Os ataques ocorrem também nos ambientes acadêmicos. A Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa —onde um grupo colocou uma caixa com pedras com a indicação “grátis para atirar em um zuca [brazuca]” em 2019—, voltou a ser palco de xenofobia em maio deste ano.

Numa reunião, o aluno Hélder Semedo chamou seus colegas brasileiros de burros por insistirem em ir a Portugal e disse que os autores de uma carta entregue à comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) “de fato mereciam levar com uma pedra”. Na ocasião, a direção da faculdade afirmou ter aberto um processo disciplinar para avaliar a conduta do aluno.

[Transcrição integral, com a cacografia brasileira do original (jornal brasileiro).
Destaques e “links” (a verde) meus.]

Ministro brasileiro sugere que Portugal “devolva o ouro” em reacção a caso de xenofobia

Flávio Dino prestou declarações em reacção a um vídeo, alegadamente gravado no aeroporto de Lisboa, em que uma portuguesa diz a uma mulher brasileira que “vá para a sua terra”.

Lusa
“Público”, 7 de Novembro de 2023

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Cidadãos brasileiros são a principal comunidade estrangeira em Portugal

O ministro da Justiça do Brasil reagiu esta terça-feira a um alegado caso dexenofobia de uma portuguesa a uma brasileira e insinuou aceitar a repatriação de brasileiros se Portugal devolver junto o ouro.

Num vídeo divulgado pela imprensa brasileira, o ministro brasileiro Flávio Dino, durante uma cerimónia de lançamento de um programa de bolsas, referiu-se a um vídeo que surgiu nas redes sociais na segunda-feira “de uma portuguesa xingando uma brasileira no aeroporto de Lisboa”.

No vídeo, que terá sido gravado num aeroporto em Portugal, é possível ouvir a mulher portuguesa a dizer “vá para a sua terra, estão a invadir Portugal”, entre outras declarações xenófobas.

Em resposta, o ministro Flávio Dino atirou: “Bom, se for isso, nós temos direito de reciprocidade, não é? Porque em 1500 eles invadiram o Brasil.”

“E concordo, até, que eles repatriem todos os imigrantes que lá estão, devolvendo junto o ouro de Ouro Preto [em Minas Gerais], e aí fica tudo certo, a gente fica quite”, acrescentou.

Também o deputado brasileiro Túlio Gadelha, relator da Comissão sobre Migrações Internacionais e Refugiados da Câmara dos deputados, adiantou esta terça-feira que pediu ao Ministério das Relações Exteriores do Brasil que questione a embaixada portuguesa sobre o caso.

Em declarações ao jornal online Metrópoles, Túlio Gadelha afirmou que este caso “é um crime, um desrespeito à nação, à cultura e aos brasileiros”. Não é a primeira vez que acontece, mas todas [estas situações] são revoltantes. Esses casos recorrentes de xenofobia precisam acabar. Vamos acompanhar de perto a apuração desse facto lamentável.”

De acordo com dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), cerca de 400 mil cidadãos brasileiros residem em Portugal, e representam cerca de 40% da população estrangeira, com maior incidência nos concelhos de Lisboa, Cascais, Sintra, Porto e Braga.

No final de 2022, viviam no país 239.744 brasileiros, o que representa, só este ano, um aumento de cerca de 36% desta comunidade. Perto de 153 mil adquiriram autorização de residência desde Janeiro.

[Transcrição integral. Destaques e “links” (a verde) meus.]

[Imagem de topo de: PNGTree. (Peço desculpa mas não consegui encontrar uma imagem ainda mais foleira.)]