Acordo Ortográfico e pequena política

Na presunção de que existe realmente uma alternativa à “pequena política”, e porque me parece ser esse o único motivo pelo qual a luta contra o AO está paralisada, repito aqui o enunciado daquela que deveria ser, na minha opinião, uma estratégia eficaz para a causa.

A abordagem do assunto que até agora foi prosseguida assenta basicamente em duas vertentes: a petição “Em Defesa da Língua Portuguesa” e o seu primeiro signatário, o historiador Vasco Graça Moura.

Esse documento, como se pode ler na página online respectiva, foi “entregue em mão a Sua Excelência o Presidente da República no dia 2 de Junho de 2008, em audiência concedida a um grupo de signatários. As primeiras 17.300 assinaturas foram entregues a Sua Excelência o Presidente da Assembleia da República no dia 8/5/2008 que também recebeu em 15/5/2008 as 33.053 assinaturas existentes nessa data.”

Quanto a Vasco Graça Moura, que assumiu desde o início a liderança da oposição à aprovação e à entrada em vigor do AO, continuamos a poder ler – mais ou menos regularmente – excelentes crónicas sobre o assunto, por regra publicadas no Diário de Notícias.

Claro que muitas outras pessoas, dos mais ilustres académicos aos mais perfeitos desconhecidos, vão contribuindo como podem para que não vá avante o atentado contra a Língua Portuguesa que o Acordo Ortográfico de 1990 corporiza.

Pois bem, isto não chega.

O historiador e cronista não pode fazer tudo sozinho, por um lado, e, por outro, o facto de personificar uma causa pública acaba por ser mais prejudicial do que benéfico, já que se passa na prática para a opinião pública a ideia de que a luta contra o AO não é uma causa pública mas antes, pelo contrário, que se trata apenas de uma causa, de uma luta do próprio Vasco Graça Moura.

E, se um simples Manifesto é manifestamente pouco, já a petição tem muita gente a peticionar, muitos subscritores, vai “a caminho das 200.000 assinaturas” e tudo, mas isso é, igualmente na prática, puro desperdício: são demasiados nomes… porque totalmente inúteis, a partir de certo número.
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Caravela

Quando eu fui peixe
Sonhava sem limites a existência

Quando eu fui pássaro
Sonhava em liberdade o infinito

Quando eu fui sapo
Defendia, gingando, o meu espaço

Quando eu fui borboleta
Saltitava, entontecida, de flor em flor

Hoje, os anos vão perdendo os rios
que não vivi

os beijos que ficaram por trocar

os sonhos que não soube celebrar

os versos que rasguei e que perdi.

Alda Queirós, 7 de Agosto de 2009

Parabéns, Mãe, pelo seu 82.º aniversário.

«Rapazes, não se mencione o excremento!»*

A mais recente e “inovadora” manobra de propaganda situacionista, cuja hashtag no Twitter foi #Blogconf, deveria ter suscitado na blogosfera uma única dúvida: ignorar ou não ignorar?

Eis a questão, por conseguinte: terá ponta por onde se lhe pegue, semelhante coisa? Essa tal «acção de campanha eleitoral»** (cf. vídeo “integral”, aos 00:30 a 00:35 segundos) promovida por um Partido político, realizada no passado dia 27 de Julho, foi algo de sério, de minimamente credível, ou não passou de uma total encenação, uma fantochada de cabo a rabo preparada, programada e formatada pelo Apparatchik daquele Partido?

É absolutamente pacífico, a não ser porventura para os encenadores da peça, que aquilo não foi realmente um “debate” entre o Secretário-Geral do PS (por mera coincidência, Primeiro-Ministro de Portugal) e alguns bloggers; nada disso; não houve qualquer espécie de “diálogo” entre um político (que se diz, sem andar muito longe da verdade, “detestado” pela blogosfera no seu conjunto) e aqueles que, neste meio virtual que são os blogs, representam (por inerência e por definição) a maior força de contra-poder que alguma vez existiu.

Portanto, assim sendo, a resposta à questão inicial seria simples: ignorar. Esta bambochata teve tanto valor, enquanto “conferência”, como um comício do PS em Freixo de Espada à Cinta ou em outra qualquer “simpática localidade” do chamado Portugal profundo.

Porém, o facto de alguns bloggers não comprometidos com o Regime se terem prestado ao papel de figurantes, a fazer o papel da “oposição”, coloca de imediato a mesma questão ao contrário: ignorar? Mas como ignorar?
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