A trapalhada dos computadores para crianças:
1. Começaram hoje a ser distribuídos, nas escolas do 1.º Ciclo, os primeiros de um lote total de 500.000 computadores portáteis baptizados como “Magalhães”.
2. Estes aparelhos foram apresentados pelo Governo como “o primeiro computador português”, o que foi sistematicamente reproduzido e enaltecido em diversas publicações nacionais.
3. Segundo foi oficialmente divulgado, o “Magalhães” seria “baseado” no modelo Classmate do fabricante americano Intel, com o qual o Governo português assinou um acordo de parceria.
4. A produção integral do lote em Portugal foi concedida, em exclusivo, a duas empresas portuguesas, uma para o “hardware”, a outra para o “software”.
5. Existe já uma encomenda do Governo venezuelano para o fornecimento de 1.000.000 destes aparelhos, a curto prazo, sendo que o próprio Presidente Hugo Chávez elogiou publicamente o tal “computador português”.
Ora, acontece que:
a) O “Magalhães” é tão português como qualquer automóvel ou televisor montados em Portugal.
b) O “Magalhães” difere do Classmate pelo facto de ter um “A ao til” no nome, porque não contém a chapinha com o nome original e visto que a etiqueta do local de montagem varia consoante o país. Presume-se que a embalagem seja, isso muito provavelmente, concebida e fabricada em Portugal, bem como alguns dos componentes comuns a muitos outros computadores e aparelhos electrónicos.
c) O “Magalhães”, digo, o Classmate, é um golpe comercial do patrão da Intel, com a finalidade única de liquidar a iniciativa OLPC (One Laptop per Child), já que não correram bem as negociações para dominar a nível mundial aquele nicho de mercado.
d) Se bem que possam surgir algumas dúvidas, nos espíritos menos avisados, sobre a diferença entre um “acordo de parceria” e um simples fornecimento de bens ou serviços, o caso é que não existiu – como manda a lei portuguesa – qualquer espécie de concurso público***, nem para a adjudicação à Intel do fornecimento de projecto e tecnologia, nem para a adjudicação às duas empresas nacionais da montagem e das adaptações necessárias.
d) O Presidente da Venezuela não faz a mais pequena ideia da alhada em que se meteu, ainda que seja menino para não fazer outra coisa na vida senão asneiras.
*** Existe uma referência ao “acordo de parceria” entre o Estado e a Intel, publicada no Diário da República de 30.12.04.
Nota: já toda a gente está careca de saber tudo isto, mas eu cá gosto de sintetizar as coisas, quando não estou entretido a escrever lençóis gigantescos.
Esta dúbia acção da distribuição dos computadores, não é mais do que uma estratégia para vender uma imagem conceitual via “autenticação por associação” – o truque mais utilizado na politica.
Tenho uma apresentação PPT que gostava de enviar para o criador deste blog em relação a este tema. Foi a solução que arranjei para explicar de uma vez aos amigos o que era o OLPC e todos os outros “magalhães” espalhados pelo mundo. Fico a aguardar um endereço (monicaereis@gmail.com)