O que diz ali, como critério de busca, é a seguinte lapidar frase: “surf e necesidades educativas especiais”.
Juro mesmo. É o que lá está. Não há aqui subterfúgios, hoje em dia tão na moda, de retoques em ficheiros “Jota Pegue”, ou coisa que o valha.
Torna-se assim oficial, por conseguinte: existe de facto um plano educativo em execução, sob a égide e os bons ofícios do Ministério da Educação, que vai já cobrindo todas as pontas soltas deixadas pelos Governos anteriores. No caso vertente, este alguém que assim procura solução para o ingente problema das “necessidades educativas especiais” e a sua intrínseca relação com a prática do “surf” encontrou a resposta aqui mesmo, no Apdeites.
Maravilhoso. Exactamente. Aos alunos assim mais burrinhos, como se dizia antigamente, ou mais com “necessidades educativas especiais”, como se diz actualmente, não tem nada que saber, é dar-lhes uma tábua para cavalgar as ondas do mar e pronto, está feito, problema resolvido, a sabedoria fluirá liquidamente ao sabor das ondas, penetrar-lhes-á naturalmente por todos os orifícios naturais, orelhas incluídas. Quaisquer 30 ou 40 ondas em cima da prancha serão mais do que suficientes, presume-se, para a qualquer aluno ser alternativamente concedida a equivalência ao Ensino Secundário completo. Digo eu, e se me não equivoco no meio de tanta farturinha pedagógica e de tão generosa largueza de mãos ministerial.
Finalmente fez-se-me luz na caixinha dos martelos. Custou, mas foi. Irra. Hurra. Agora entendo o que significa, na prática, toda aquela trapalhada a que se convencionou chamar “Novas Oportunidades”: é “surf”, é o bendito “surf”. A miudagem continua a não saber absolutamente nada de porra nenhuma, mas dê-se-lhes uma prancha de “surf” para as mãos, disponibilizem-se-lhes umas praias com ondulação à maneira, e aí está a solução milagrosa para a obstinada ignorância, aquilo é um fartote de doutores em cavalgação marítima, especialistas em tubos e em “splashes”, ou lá como se designam essas merdas tecnicamente.
Sinceramente e por extenso o declaro: estou maravilhado. Por acaso não haverá nenhuma pós-graduação em asa delta? Ou em matraquilhos, que também me interessa. É que, mesmo sem nada de especial a reportar quanto às minhas próprias necessidades educativas, parece-me injusto que me seja coarctada a possibilidade de demonstrar todas as minhas capacidades na ciência do voo em papagaio gigante e as minhas especiais aptidões na arte da matraquilhagem.
Ficam as sugestões, a quem de direito.