Mas dizei uma só palavra

Está pronto o plano de 450 milhões euros para salvar BPP

Seis bancos vão conceder empréstimo de 450 milhões ao BPP

Encontra-se preparado para ser posto em acção o plano de saneamento do Banco Privado Português. Adão da Fonseca, actual secretário-geral do BCP, foi nomeado presidente provisório do BPP pelo Banco de Portugal. O Estado garante ainda 450 milhões de euros de empréstimos concedidos por seis bancos nacionais.

RTP

Salvar, v. tr. pôr a salvo; livrar de perigo; livrar; preservar; passar por cima, saltando; galgar; defender; dar saúde a ; pôr como condição; ressalvar; livrar do Inferno ou do Purgatório; remir; conservar intacto; cumprimentar. [Dic. Porto Ed.]

Entre outras interpretações possíveis, a operação de engenharia financeira que se avizinha deverá ser entendida como:

1. O Banco Popular vai ser posto a salvo pelo Estado português (com garantias sobre o dinheiro dos contribuintes) de uma qualquer maroteira alegadamente perpetrada por indeterminados meliantes.
2. O Estado português (com o dinheiro dos contribuintes) vai galgar (isto é, passar por cima, saltando) toda e qualquer chatice ou burrada que tenham feito os responsáveis pelo BPP, inchando aquele prestimosamente com largos milhões de contos dos antigos para salvar este.
3. Um consórcio de Bancos portugueses (com o aval do Estado, ou seja, à custa dos contribuintes) prepara-se para livrar do Inferno ou do Purgatório uma das instituições bancárias mais irrelevantes do país, injectando nesta – a troco de coisa nenhuma e não se sabendo por alminha de quem – uma data de camiões carregados de notas.
4. O BPP, vá-se lá saber porquê, considera que, estando agora constipado, e tendo-lhe o mal vindo de repente, tem todo o direito a que o Estado português (por interposto Formitrol, ou seja, o erário público) o não tome por imprevidente, o defenda e lhe dê saúde.
5. O Banco Popular Português acha que, sendo pessoa (colectiva) de bem e, por sinal, muito pouco habituada a más-criações, o Estado português (enquanto fiel depositário das economias dos cidadãos) tem a obrigação de o cumprimentar, a ele, Banco, passando-lhe para as unhas uma pequena fortuna, uma nada desprezível maquia, uns quantos milhões, até porque é assim mesmo, passando maços de notas entre si, que os Bancos se cumprimentam uns aos outros.
6. O Estado português, por interpostas instituições bancárias, considera ser seu dever alimentar incompetentes e ladrões, desde que se intitulem como “gestores”, patrocinando através do dinheiro dos portugueses as passadas, as presentes e as futuras golpadas de Bancos tão insignificantes como o BPP, isto na condição, obviamente, de alguém – algures no processo – dizer que o guito é para “remir” ou para “ressalvar” uma porra qualquer. Dizer “conservar intacto”, para o caso, também serve.

2 comentários em “Mas dizei uma só palavra”

Os comentários estão fechados.