Ler diferente é bom

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“Ser Diferente é Bom” é uma história infantil que conta o primeiro dia de aulas do Pedro e da Maria, de 7 anos de idade. O Pedro vive com os pais, e a Maria vive com dois papás. O primeiro dia de escola é sempre uma animação, mas, aqui em particular, há uma novidade: a chegada, à escola, de um novo aluno e colega, um menino romeno chamado Ion.

Este é um dia a não perder, onde vamos aprender que é bom ser diferente…

Sónia Pessoa
2005

Isto é uma espécie de sinopse de um livro em que “a homossexualidade e a diversidade cultural são temas focados” e cujo objectivo, segundo diz a autora, “para além de encantar (porque não deixam de ser histórias também de encantar) é ensinar às nossas crianças e aos pais que cada vez mais vivemos num mundo onde a diversidade nos enriquece como seres humanos e devemos, por isso, respeitá-la“.

É claro que, pelo menos na minha opinião e ao menos enquanto eu não for preso por delito da dita, esta coisa com uma capa e umas folhas não é um livro, propriamente dito, mas antes um simples panfleto de agitprop. Utilizando as tácticas de agitação e propaganda mais básicas, é também claro que o factor “diversidade cultural” surge ali, no enunciado programático típico do activismo “gay”, como elementaríssima manobra de diversão, simples engodo que serve como salvo-conduto ao essencial da “mensagem”, e que consistirá basicamente nisto: ser homossexual é bom. Dizem eles. “Diferente” significa “gay”, literalmente, nada mais, nada menos.

Isto é o que eles dizem, em síntese, sistemática, histriónica e por regra histericamente, mas agora já não se limitando, pelos vistos, a chatear toda a gente para a qual a questão é indiferente e a atirar à cara de todos aqueles que não são “diferentes” a sua putativa “superioridade moral” (ou lá o que raio é), não, agora a coisa perdeu qualquer laivo de subtileza, é à descarada mesmo, pretendem porventura “ensinar” às crianças que “ser gay é bom”.

Bem sei que ninguém é obrigado a comprar aquela merda e muito menos a oferecer semelhante porcaria a criança alguma. A liberdade de expressão e de opinião consiste nisto mesmo, ou seja, no caso vertente, a paneleiragem pode achar à vontade que é melhor do que os demais, assim como alguns destes (como é o meu caso, sem carecer de licença) são livres de se estar perfeitamente nas tintas para a paneleiragem.

Mas o busílis reside precisamente nisto mesmo, no facto – inovador, reconheçamos – de uma coisa em forma de livro ser “para crianças”, apresentado como objecto “pedagógico” (tudo o que é “para crianças” é, por definição, pedagógico) e servindo declaradamente como veículo de propaganda de uma certa ideia também ela supostamente pedagógica.

As crianças não são, não podem ser, meros instrumentos de propaganda supremacista. Já os nazis o tentaram fazer e foram esplendorosamente mal sucedidos.

As crianças não são, não podem ser, armas de arremesso “ideológico”. Já os comunistas o tentaram fazer e foram felizmente muito mal sucedidos.

As crianças não são tubos de ensaio, plataforma de testes, banco de experiências para “ciências” acabadas de inventar por “cientistas” loucos ou por “loucas” cientistas. Não podem ser, ponto parágrafo.

Mas comprem o livro, vá lá. Publicidade gratuita, pois com certeza, aqui vai disto. Eu cá vou comprar. Porque é bom saber ler.

É bom ler diferente. É bom ser diferente deles.

E é bom, a talhe de foice, antes de mais considerações literárias ou livrescas, que se explique às crianças o que significa a expressão “lavagem ao cérebro”.

3 comentários em “Ler diferente é bom”

  1. A diferença existe, mesmo que não se compreenda pode-se respeitar, convivendo-se salutarmente, o que pode até ser bastante enriquecedor desde que haja disponibilidade para tal. Ainda não li o conto, pelo que não posso ajuizar se, se trata de “lavagem cerebral” ou não (recordo-me de há uns anos existir um livro, que me parece semelhante a este, mas com meninos filhos de pais divorciados), e recordo que tradicionalmente a educação é direccionada para a heterossexualidade e para conceitos de género, e nem por isso todos as pessoas se enquadram nesse padrão, da mesma forma, também não é pelo facto de existirem homossexuais (assumidos) que todas as pessoas o virão a ser por contágio observacional. Ressalvo que, pessoalmente, não creio que seja pelo choque que se leva alguém a aceitar/respeitar seja o que for.

    No entanto, verifico que existe uma incongruência ente a capa, a sinopse e o prefácio. Se como refere o prefácio, o conto retrata o primeiro dia de aulas de duas crianças, com famílias diferentes mas vivências semelhantes, o lógico seriam ambas figurarem na capa e não o destaque à família de pais homossexuais. Ilógica também reforçada na sinopse, ao focar que a “novidade” é a chegada dum menino romeno, pressupondo-se que a diferença é a da nacionalidade e das referências culturais que lhe estão subjacentes, e não a da parentalidade homossexual que parece estar bem aceite.

  2. «contágio observacional»

    Excelente expressão, no entanto descabida neste contexto. Os filmes de terror, por exemplo, não contagiam – em princípio – ninguém, e não é por ser adepto desse género cinéfilo que alguém se vai pôr a imitar o gajo esquisito do “Pesadelo em Elm Street”, desatando a esfaquear a vizinhança lá do bairro.

    A questão não é essa, acho eu. Um livro é um livro, um panfleto é um panfleto; a diferença reside na intenção subjacente a uma coisa e a outra – contar uma história, mesmo que da Carochinha, ou “fazer passar uma mensagem” a pretexto de que se está a contar “estórias da carochinha”.

    Existe literatura “gay”, porque existem escritores “gay” (aos pontapés, aliás) e porque o que há mais é leitores “gay”. Mas este “livrinho” infantil nem é literatura nem tem nada de infantil… e muito menos de inocente.

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