A mão que dá é a mão que tira

Saramago vai distribuir 200 mil cópias da Declaração dos Direitos Humanos
Há 1 dia

LISBOA (AFP) — A fundação de José Saramago vai oferecer nesta quarta-feira, por ocasião do 60º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, 200.000 cópias do texto, anunciou nesta segunda-feira o escritor português.

José Saramago, 86 anos, prêmio Nobel de Literatura em 1998, decidiu distribuir o texto aos leitores de dois jornais portugueses.

“Esta declaração não está sendo respeitada. Ela existe, mas ninguém quer aplicá-la, nem os governos, nem as populações, que são difíceis de mobilizar pela defesa dos direitos humanos”, lamentou o escritor durante um encontro com jornalistas.

Convidado pela Fundação José Saramago, o juiz espanhol Baltazar Garzón vai ministrar, na presença do escritor, uma conferência sobre o tema dos direitos humanos.

Notícia AFP

José Saramago é comunista.

A ideologia comunista foi directamente responsável pelos mais devastadores genocídios, massacres e deportações em massa que a Humanidade conheceu em toda a sua História. Nos regimes comunistas em geral e no soviético em particular nunca existiu qualquer espécie de liberdades cívicas, políticas ou outras, e nunca foi outorgado ou garantido qualquer tipo de direitos básicos aos cidadãos sob o seu domínio.

Nos diversos países que alguma vez estiveram sob a pesadíssima pata de regimes comunistas, nunca existiu liberdade de opinião, de manifestação ou de associação, sendo regimes de Partido único em que todas as outras organizações políticas eram proibidas, ilegalizadas, banidas; os membros da oposição eram perseguidos, presos arbitrariamente, julgados (ou não) sem direito a defesa, sujeitos a tortura, deportados para campos de concentração, sumariamente liquidados ou simplesmente feitos “desaparecer”.

Nos chamados “países do socialismo real” nunca um Governo foi eleito, como não eram também eleitos os titulares de qualquer cargo público, de qualquer dos três poderes fundamentais, todos eles concentrados no Partido único e confundindo-se este, em toda e qualquer circunstância, com o próprio Estado.

Milhões de seres-humanos viveram durante décadas debaixo da mais tenebrosa tirania que alguma vez existiu no planeta, metodicamente esmagados por ditaduras ferozes e por ditadores sanguinários, sem o mais ínfimo dos direitos e sem a mais remota possibilidade de resistência ou sequer de defesa. Muitos desses milhões nunca dispuseram de condições mínimas de subsistência e muitos outros milhões foram pura e simplesmente aniquilados, como carne para canhão, como mão-de-obra escrava, em simples purgas intestinas ou através de implacáveis máquinas de repressão – as diversas polícias políticas dos “paraísos socialistas” , o KGB soviética, a Stasi leste-alemã, a Securitate romena, a Sigurnost búlgara, etc., etc., etc.

Com tais e tão eficazes aparelhos repressivos, os dirigentes comunistas mantiveram o clima de terror permanente que lhes permitiu conservar o Poder (absoluto) durante quase todo o século XX, reduzindo as populações a uma massa informe, inerte e mansa, o indivíduo num estado de bovina passividade, o cidadão desprovido de qualquer identidade, personalidade ou vontade própria.

José Saramago lutou, por conseguinte, durante toda a sua vida, por um ideal absolutamente contrário, na teoria e na prática, a todos os direitos humanos consignados na respectiva Declaração Universal. A mesma Declaração cujo texto agora se encarrega, por interpostos meios, de distribuir gratuitamente.

Literalmente, porque não existe um único dos 30 artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos que alguma vez tenha sido respeitado em qualquer regime socialista, o Nobel português da Literatura, iberista confesso e militante comunista de sempre manifesta por fim evidentes sintomas de confusão. Uma confusão patológica, assim sendo, já que distribui parcimoniosamente aos seus concidadãos um documento que sempre desprezou nos escritos e discursos, vilipendiou com o seu apoio a assassinos e torcionários, espezinhou com a sua militância e as suas opções políticas .

Isso, esses sintomas de confusão mental, não são de agora nem são por causa da venerável idade que o eminente escritor atingiu. Não, a confusão é a mesma de sempre; e é por isso que é grave. Aqueles 200.000 papeis não queimam a mão dos que os recebem, mas queimam nas mãos que os entregam. Queimam trinta vezes cada um.

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