Bem sabemos que as ferramentas básicas são intuitivas, facílimas, ao menos para os mais desenvencilhados na matéria, mas é sempre útil partilhar este tipo de conhecimentos – quanto mais não seja como técnica de defesa pessoal, para os alvos, ou por desfastio e acrescento, para os não raros predadores das chamadas “redes sociais”.
De facto, com o aparecimento deste novo tipo de plataforma de comunicação e interacção, e nomeadamente depois do êxito espectacular que foi o Hi5, este “nosso” Facebook ameaça seriamente transformar-se em algo de revolucionário e de (ainda) insuspeitadas potencialidades naquilo que diz respeito à devastação pessoal.
Estamos, a bem dizer, perante a primeira arma de destruição maciça virtual que alguma vez existiu. Comparado com isto, o já referido Hi5 era uma brincadeira de crianças.
Já nos tempos dos blogs a coisa funcionava de modo semelhante, se bem que de uma forma artesanal, digamos, mas foi só mesmo com o aparecimento das “redes sociais” que o engate virtual se institucionalizou e especializou.
Por mais info-excluído que seja o utilizador, qualquer um pode – em resumo – chegar aqui, montar a sua rede de “amizades” e estabelecer-se por conta própria como caçador de “talentos”. Em quaisquer três ou quatros dias de tirocínio, ou após um número módico de horas de treino e experimentação, é possível transformar o Facebook na maior teia “caça-gajas” alguma vez inventada; e o mesmo vale para a variante “caça-gajos”, é claro, consoante as preferências de cada qual.
O termo “teia” aplica-se neste particular, portanto, em toda a sua extensão significativa, já que representa e incorpora a essência do próprio conceito de “web” (em “world wide web”). Temos, assim, por um lado, a teia montada (ou “rede”, numa perspectiva mais vetusta e alegoricamente pesqueira, o que vem a dar no mesmo), e temos também, já a postos e prontos a atacar, os mais diversos tipos de predadores.
Aqui, à semelhança do mundo real, e é muito importante entender isto, não existe apenas o “predador” sexual; além desta espécie mais profusa, a que se encontra no topo da cadeia alimentar,digamos, existem também outras subespécies, de vários géneros e feitios: há os que se dedicam exclusivamente ao assassínio de carácter (os “character serial killers”), há os tarados de variadíssimas etiologias, especializados em fotos “suculentas”, em celebridades, em toda a sorte de taras e manias, há os pedófilos, há os porno-compulsivos, há os “fofoqueiros” militantes, enfim, é um fartar vilanagem, uma lista infindável de anormalóides, tarados do piorio, gente completamente louca vidrada nas suas obsessões. Há cá de tudo, e vão chegando cada vez mais todos os dias.
Mas deixemos os considerandos generalistas e vamos ao que agora nos interessa, o que vem a ser, neste modestíssimo manual, como o próprio título indica, a subespécie mais numerosa, aquela que ocupa mais gente no Facebook: o engate.
Será possível estabelecer um perfil do facebooker especializado no engate?
É evidente que sim, claramente. Variando objectivamente no sexo e quanto à idade, tanto em termos de predador como de presa, o factor comum e determinante é definido pelas motivações daquele e destas; ou seja, para saber se determinada pessoa é um potencial predador ou não (ou ainda, na perspectiva do próprio predador, se essa pessoa será uma presa em potência, salvo seja), basta formular a seguinte pergunta: o que fazes aqui?
Parece demasiadamente lógico, parece mera perguntinha de lana caprina, parece redundante… mas não é. Sabendo o que trouxe alguém ao Facebook, o que motivou a sua adesão, sabe-se à partida o que pretende e, por consequência, em função de meia dúzia de variáveis, poder-se-á aferir – com bastante razoável grau de certeza – se se trata de um/a predador/a sexual, alguém que anda à caça de mosquinhas mortas, qual perigosíssima viúva-negra, sempre pronta a atacar quem lhe fizer vibrar, ainda que ao de muito leve, a teia laboriosamente construída.
São de facto apenas seis, exactamente meia dúzia, as variáveis infalíveis para o diagnóstico.
1. Apresenta-se como pessoa cativante, por regra intelectualmente (e/ou fisicamente) dotada.
2. Constrói relativamente poucos conteúdos próprios, privilegiando os contactos directos (comentários e, em especial, o “chat”).
3. Actualiza rara, espartana e dubiamente os seus conteúdos, se bem que esteja frequente e prolongadamente online.
4. Tenta estabelecer contacto por todos os meios disponíveis, a começar pelos “inquéritos”, mas também pelas cadeias de replicação forçada (por exemplo, com “tags” em fotos, músicas, vídeos, etc.) e pela adesão aparentemente desinteressada a causas, grupos, páginas e eventos.
5. Aceita indiscriminadamente qualquer “friend request” (ou sugestões), apresentando um número inusitadamente elevado de “amizades” na sua rede pessoal.
6. Aparenta ser pessoa social, profissional e sexualmente “resolvida”, mas o tempo que gasta na rede não é passado propriamente a trabalhar, a estabelecer contactos profissionais ou a resolver problemas de qualquer tipo.
*** Note-se que a linha de post do FB contém uma pergunta que tem tanto de ilucidativa como de premonitória: “What’s on your mind?”
[publicado originalmente em Facebook Notes]