Tampinhas, a sério

projecto Tampinhas

O post inicial sobre o projecto Tampinhas levantou certas dúvidas que obrigaram a algum trabalho de investigação. Essas dúvidas resultaram do facto de o site principal da Associação Tampa Amiga estar sistematicamente inacessível; além disso, o site “antigo” da mesma organização, apesar de activo não tem qualquer actualização posterior ao ano de 2005; e, ainda por cima, o número de telefone mencionado neste site já não existe.

O que se segue é aquilo que foi possível apurar, nomeadamente quanto ao que talvez fosse importante ter sido esclarecido em primeiro lugar pelos próprios promotores da iniciativa.

A começar pela génese do projecto. Num tempo em que “ninguém dá nada a ninguém” ou, como diz João César das Neves, “não há almoços grátis”, as pessoas questionam-se: mas afinal, quem é que ganha com isto das tampinhas?

A resposta é simples: ganham as pessoas que recebem o material ortopédico e ganha a empresa que as oferece em troca das tampinhas, porque o material de que elas são feitas tem alto valor para reciclagem.

De facto, as tampas das garrafas de plástico são, ao contrário destas, feitas com um material específico, o polipropileno, quando os recipientes são feitos com Poli Tereftalato de Etila (PET); a vantagem adicional para as empresas de reciclagem (ValorSul 219535900, AmarSul 212139600) é que o material entregue (as tampinhas) é uniforme, integralmente constituído por um só material, dispensando assim a triagem, separação ou escolha prévias.

A mecânica do projecto Tampinhas é absolutamente transparente, em todos os aspectos: as tampas são recolhidas e, portanto, separadas dos restantes lixos domésticos na origem, depois transportadas e armazenadas em centros de recolha e, por fim, entregues a uma empresa de reciclagem; esta recebe o material que irá processar e paga-o, não em dinheiro vivo mas em material ortopédico de valor equivalente; esse material é entregue à organização do projecto, a Associação Tampa Amiga, que se encarrega da respectiva distribuição.

E como é feita a distribuição dos meios ortopédicos por quem deles necessita?

Segundo aquilo que foi possível apurar, a Associação Tampa Amiga não recebe pedidos de material ortopédico directamente; este deve ser solicitado através de instituições habilitadas (presumivelmente, a Santa Casa da Misericórdia e outras instituições de solidariedade social), que seleccionarão os pedidos (segundo os seus próprios critérios) e os canalizarão para a organização, cabendo a esta listar esses pedidos por ordem cronológica de chegada; sempre que seja recolhida a tonelagem de tampinhas correspondente ao custo do material ortopédico no topo da lista, este será entregue à instituição requerente, a qual, por sua vez, o entregará a quem fez o pedido.

Outra questão que poderá surgir, mais a título de curiosidade mas cuja resposta não se encontra em nenhum suporte físico visível, é a seguinte: como surgiu a ideia de trocar tampas de garrafas por cadeiras-de-rodas?

Segundo informação de uma colaboradora da empresa Amarsul, que muito simpaticamente respondeu tanto a esta como a muitas outras questões, quem primeiro teve a ideia, em 2004, foi uma enfermeira do Hospital Garcia de Horta, em Almada. Mesmo desconhecendo em rigor como se terá desenrolado o processo, não será difícil imaginar que rapidamente a iniciativa terá atingido dimensões que nem a própria autora da ideia (e fundadora da Associação) alguma vez poderia imaginar.

Claro que algumas alminhas mais desconfiadas, que existem sempre nestas coisas, poderão talvez questionar-se sobre o que ganhará ela própria, essa Senhora Enfermeira, ou a própria Associação, com semelhante iniciativa. Pois bem, não faço a mais pequena ideia; presumo que absolutamente nada, mas isso sou eu a presumir, que é um mau hábito meu. Já agora, e para o caso de alguma das anteriormente referidas alminhas se estar interrogando sobre aquilo que poderá ganhar o Apdeites com isto, com esta mania de aborrecer as pessoas com iniciativas meritórias, pois bem, manda a discrição que me abstenha de comentar sequer.

O que é preciso é tampinhas, não conversa. De conversa já chega, por isso…

venham de lá essas tampas!

P.S.: pede-se, a quem por acaso tiver uma balança de precisão (com sensibilidade inferior a um grama), o favor de pesar umas quantas tampinhas, de diversos modelos, e que nos indique o peso médio por tampa. Gostaríamos de fazer umas contas com esses dados como, por exemplo, quantas são necessárias para perfazer uma tonelada e que espaço (cubicagem) é necessário em função da quantidade.

2 comentários em “Tampinhas, a sério”

  1. Venho apenas confirmar o que já foi publicado: esta campanha foi posta em práctica no ano transacto na escola onde lecciono – Escola E. B.2, 3 André Soares, em Braga – e foi bastante bem sucedida. A recolha de milhares, senão de milhões, de tampas resultou na oferta de 2 cadeiras de rodas, apresentadas a toda a comunidade escolar durante uma manhã desportiva na escola. A campanha continua a decorrer e sei que há pessoas fora desta escola – familiares, amigos, conhecidos – que se sensibilizaram para tal acção para a qual têm contribuido. Eu faço-o diariamente e não custa nada.

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