Existem sites e blogs que se dedicam exclusivamente à reciclagem de conteúdos; não no sentido meritório, ecológico, do termo, mas apenas no seu âmbito literal, ou seja, recolhem conteúdos e reproduzem-nos como se fossem seus. É uma variante de canibalismo que tem, estranhamente, tanto mais defensores quanto mais aumenta o número de canibais.
Verdadeiras equipas de predadores, organizados em matilhas, seleccionam sistematicamente artigos de órgãos de comunicação on-line e de blogs ou sites especializados ou genéricos; com as mais recentes ferramentas de consulta e leitura instantânea, como os feed readers, as tarefas de corte e costura consistem em calmamente esperar que as matérias caiam no desktop1; depois, com uma simples vista de olhos, a cada novo refresh, basta escolher os artigos ou posts de mais interesse, copiar, colar e publicar. Como truque de despiste, os parasitas mais engenhosos vão ao ponto de criar blogs a fingir, ou arranjam uns amigos que se prestem a esse papel, onde colocam os conteúdos roubados, mas tendo o cuidado de mencionar a origem, as “fontes”; por fim, reproduzem os mesmos conteúdos no blog ou blogs “que interessam”, referindo como fonte não o verdadeiro original mas o clone que eles próprios criaram ad hoc. Assim, (julgam que) ficam ao abrigo de qualquer acusação de plágio e, para mais, ainda (julgam que) ficam muito bem vistos, porque “referem sempre as fontes”.
Algumas destas máquinas recolectoras acabam fatalmente por obter, à custa do trabalho alheio, elevadíssimas doses de “sucesso”: é uma simples questão de tempo até que o número de visitantes dispare, aumentando exponencialmente à medida em que os motores de busca vão indexando as matérias (roubadas, repita-se); embutindo ferramentas publicitárias na estação de reciclagem, mais conhecida por “blog de sucesso”, está garantido o financiamento para a expansão do negócio, meter mais uns quantos carolas, pô-los a espiolhar matérias de interesse, a cortar e colar, alargando portanto, em suma, a teia pegajosa a que nada escapa e onde tudo se aproveita. É um verdadeiro negócio da China, como dantes se dizia, ao qual se dedica a maior parte do bas-fond cibernético, uma coisa que permite bons rendimentos monetários e que passa, ainda por cima, absolutamente impune em países de notório défice civilizacional, como é o caso de Portugal. Aliás, no nosso país este florescente negócio vai ainda mais longe, rende não apenas em dinheiro sonante como em altos elogios e encómios por parte da comunidade virtual: basta ler os comentários de agradecimento (e de engrandecimento) que os visitantes deixam, reconhecidos, nas caixinhas de esmolas desses templos do desplante. Lá chegará provavelmente o dia em que um desses beneméritos do “domínio público” e da fé no “tudo nosso” (copyleft, para os entendidos), acabará de medalha de mérito ao peito, quem sabe uma qualquer comenda ou outro prémio de igual prestígio. É natural e já estamos habituados, em Portugal, desde os veneráveis tempos de El-Rei D. João II, ou desde os mais recentes do Conde de Abranhos, ao enaltecimento da vacuidade, à promoção da vaidade, ao endeusamento da imbecilidade. Somos assim, é esta a nossa Cultura, a da esperteza saloia, somos a pátria do Chico Esperto, com sólidas fundações construídas por eminentes e industriosos patos-bravos da inteligência nacional.
O problema, para esta escumalha do copianço, é que Portugal não é o único país do mundo e, infelizmente para ela, a escumalha, alguns estrangeiros – nomeadamente, os brasileiros, que, por acaso ou por azar, até usam a mesma Língua – já se aperceberam de que também estão a ser roubados, lá, do outro lado do Atlântico, por gente cá deste lado. É um dos inconvenientes da Internet, ou da chamada “globalização”, em sentido lato: não há longe nem distância2, pode-se roubar virtualmente em qualquer parte do globo, apenas deslocando o ratinho uns quantos centímetros; sinal dos tempos, é a pirataria na ponta dos dedos, agora navega-se sem barco e pode-se tomar qualquer coisa de assalto e saquear alarvemente, à distância, por controlo remoto, com um rato por espadão.
Mas, afinal, o que fazer, se este é o país que temos, se esta é a selva em que vivemos? Como nos poderemos defender da pirataria, num sistema que mais parece proteger e promover os piratas?
Aqui, no Apdeites, este é um assunto central, e desde há muito vimos coligindo algumas ferramentas (e armas) de defesa. A primeira e mais importante dessas armas terá de ser, obviamente, a dissuasão: os autores que assim o entenderem devem deixar bem claro que não permitirão cópias de conteúdos e que procederão por todos os meios legais ao seu alcance contra os infractores.
A segunda arma, não apenas dissuasora como efectiva, será estabelecer uma rotina de processos de rastreamento e detecção de cópias. Existem diversos serviços on-line e também programas para esse fim, mas não são nem perfeitos nem infalíveis e, ainda por cima, geralmente são pagos. Recentemente, porém, a Google disponibilizou uma nova ferramenta que se adequa perfeitamente aos fins em vista, pelo menos naquilo que diz respeito a matérias em forma de texto.
Trata-se do serviço Google Alerts. Não terá sido, em princípio, concebido para servir como radar plagiarístico, mas funciona… e é grátis. Além disso, é muito simples: basta criar – na conta de utilizador Google – um alerta de pesquisa, com um critério constituído por algumas palavras constantes do texto que se pretende rastrear; depois, é necessário indicar um endereço de e-mail, para onde os alertas serão enviados e determinar a periodicidade dos avisos (recomenda-se a opção “as it happens”). Após confirmação do aviso por e-mail (apenas na primeira vez), a conta de alertas fica aberta para modificações ou para acrescentar novos critérios de pesquisa. Sempre que um novo post for publicado, algures no mundo, contendo as mesmas palavras do nosso critério, é-nos enviado automaticamente um e-mail, com extracto do texto onde elas aparecem, e indicando o link respectivo. Um relance bastará para detectar se se trata de mera coincidência, se é uma citação identificada ou se é (mesmo) puro plágio; para ter a certeza absoluta, é só abrir o blog (ou site) e conferir.
Para dar um exemplo concreto deste método, vamos usar este mesmo post. As palavras a pesquisar são “Apdeites google alerts copyleft útil” e os restantes critérios são os da imagem.

É conveniente verificar previamente se o critério não dá (ainda) quaisquer resultados, tanto na Google Blog Search como na Blogger Blog Search. Pode, é claro, utilizar não apenas palavras como frases ou partes de frases; neste caso, coloque entre aspas: por exemplo, “identificada ou se é (mesmo) puro plágio” (sublinhado no texto, acima).
Utilize expressões próprias ou até palavras suas, neologismos, regionalismos, mesmo barbarismos, porque essa é uma forma rápida e eficaz de detecção; é esse, de resto, um dos motivos pelo qual o Apdeites se chama… Apdeites. Um critério de pesquisa com uma frase inteira irá detectar transcrições literais, no todo ou em parte; um critério com diversas palavras do texto poderá vir a identificar cópias parciais, ou modificadas, mas também poderá indicar textos que as conterão por mera coincidência.
O que poderá fazer se – Deus queira que tal não suceda – um destes dias tiver uma surpresa, bom, isso será assunto para outro post, proximamente.
1 Tradução literal, em cima da secretária; traduzindo à moda de Geraldina Traducta, no topo do posto de atendimento.
2 There’s no Such Place as Far Away, de Richard Bach.