«Por toda a parte, em livros, em jornaes, em discursos, em escriptos de todo o genero, abusa-se muito da palavra publico para designar a multidão orgulhosa, auctoritaria, quasi sempre imbecil, que tem tantas linguas e tão poucas cabêças, tantas orelhas e tão poucos olhos, e que, geralmente, os que para o seu juizo e o seu conceito appelam, tratam do mesmo modo que fazem aos tolos cheios d’importância, a quem affagam em voz alta e que, em voz baixa, desprezam.
Temos, felizmente, na nossa lingua, uma palavra muito mais propria para designar essa turba; temos a palavra vulgo. Esta, na grande maioria dos casos, é a que devia ser empregada.
Quer no louvor, quer no vituperio, o que as mais das vezes o orador, o escritor, o actor, o artista encontra a julgar-lhe a obra, não é o público; é a opinião do vulgo. E, d’uma á outra, é profunda a differença.»
Fernandes Costa (270, Estrada de Bemfica, Lisboa), Almanach Bertrand, 1918