Jogo de contrários

Existe um blog espanhol, entre muitos outros dedicados à mesma “causa”, que mantém desde o início uma posição firme sobre o caso McCann: os pais de Maddie são, muito provavelmente, culpados das acusações que (alegadamente) lhes são feitas. Este blog é recente, tendo a sua primeira entrada no passado dia 15 de Agosto, de autora única, e chama-se Cepticismo Criminológico (o nome no original, em Castelhano, é obviamente muito semelhante à respectiva tradução).

A autora, Elvira Saez de Alberola, apresenta-se como “uma profissional com 15 anos de experiência no estudo da ciência forense e da criminologia”. O blog foi criado, a avaliar pela data do primeiro “post”, assim que surgiram nos media as primeiras suspeitas sobre o casal McCann, e desde então – com imenso sucesso, acrescente-se – publica diariamente vários textos sobre o tema, incidindo particularmente na análise de factos e de pistas publicados pela imprensa mundial, blogosfera incluída.

Portanto, se está absolutamente convicto(a) de que a teoria da Polícia Judiciária (aquela que levou os McCann à condição de “arguidos”) é a correcta, então o blog Cepticismo Criminológico é o mais indicado para se manter ao corrente do assunto, para comentar as mais recentes incidências e mesmo para trocar impressões com outras pessoas que pensam da mesma forma.

Se, pelo contrário, acha que não foram os pais da miúda quem fez alguma coisa de mal, então poderá optar por um ou vários das largas centenas de outros blogs – por exemplo, dos portugueses – que se dedicam à “causa” inversa, isto é, à tese da inocência dos progenitores.

Destes, na minha opinião, existe um que se destaca pela seriedade com que (não apenas) este assunto é tratado: escrito por Victor Rosa de Freitas, jurista, o blog Vickbest não apenas analisa factos e provas, como apresenta uma visão crítica sobre este caso em particular e sobre a Justiça (e aquilo a que chama a “justiça”) portuguesa… em geral.

Vê este caso à luz da sua própria experiência, não apenas como jurista mas também como cidadão e, principalmente, como profissional conhecedor de todos os meandros do sistema judicial e do edifício jurídico português.

Em suma. Neste como em qualquer outro assunto, tomar partido por um dos “lados” (se é que existem dois lados nesta história) não será talvez de boa política. Porque não “ouvir” as certezas de uns e o oposto diametral de outros? E se, afinal, estivermos completamente errados nas nossas opiniões, sejam elas quais forem?

Enfim, antes a dúvida metódica do que a certeza paranóica, certo? E o cepticismo não pode ser vesgo, não é?

Pois é. Certo. Cepticismo paranóico é cinismo.

Nota
Os comentários do blog Cepticismo Criminológico são “moderados”, como – por exemplo – aqui, no Apdeites, e existe também uma CBox (espécie de sala de chat), que permite o diálogo entre os visitantes em tempo real. Uma dúvida se levanta, porém, quanto a esta ferramenta: tendo eu próprio sido “banido”, após alguns minutos de utilização daquela caixa de diálogo (coisa que já se vai tornando hábito, pelos vistos), e não havendo – como é evidente – o mais ínfimo motivo para tal, sempre gostaria de entender o que esperam os autores dos “banimentos” que façam os “banidos”: agradecer? Pedir desculpa por nada ou perdão por coisa nenhuma? Que se retirem, pura e simplesmente, e sem piar? É claro, que, além de já ter formalmente pedido explicações à autora, faço também questão de avisar quem isto ler. Não deixaria de ser irónico algum blogger português acabar “banido” de um blog referenciado pelo Apdeites. Recomendado até, por mais absurdo que isso agora possa parecer. Espero, de facto, que se tenha tratado de mero erro ou deficiência técnica, e que não volte por conseguinte a suceder. Pessoalmente, custa-me a crer que exista xenofobia na blogosfera. Deus queira que haja uma resposta breve e uma explicação inocente…

Adenda, em 22.09.07, 14:28 h
A autora do blog respondeu, de facto. Parece ter-se tratado de um qualquer automatismo de exclusão, que terá falhado, porque apenas ali escrevi mensagens perfeitamente inócuas, informativas e de ocasião.
Mas pronto, ainda bem que é assim. Assunto arrumado.
Os meus cumprimentos à autora do blog Cepticismo Criminológico.

O “lóbi” quê?

Pergunta: O que é preciso fazer para uma visita de um primeiro-ministro português ter repercussão na imprensa norte-americana?

Resposta: É preciso fazer o que fiz nessa altura: para ter repercussão, fala-se com o lóbi judeu, que é muito forte na imprensa de referência norte-americana. Foi assim, por exemplo, que consegui uma entrevista ao primeiro-ministro feita por Lally Weymouth, a filha de Katherine Graham, dona [já falecida] do Washington Post.

Carneiro Jacinto, ex-adido de imprensa em Washington, no DN de hoje (última página).

Ora então, para quem andava à procura de uma explicação clara, ela aí está, pela voz de uma autoridade no assunto. Agora sim, é oficial, alguém se atreveu a dizer, preto no branco, aquilo que já toda a gente sabia mas ainda ninguém tinha tido a coragem de formular por extenso. Portanto: no caso de se pretender que algo tenha “repercussão” mediática, é muito simples, dá-se uma palavrinha ao “lóbi” judeu… e pronto. Ei-la, a “repercussão”, repercutindo. Ou seja, e por analogia, em se tratando de qualquer outra finalidade que não a mera “repercussão”, no fundo isto é tudo uma questão de palavrinhas e de “lóbis”, basta escolher as primeiras certas e os segundos mais adequados.

E como já é admissível e absolutamente normal, chamando os bois pelos nomes, citar cada “lóbi” pela raça, pelo grupo ou pela espécie humana que a constitui, então ficamos a saber que – dependendo da finalidade e dos objectivos pretendidos – tudo se resume a uma escolha acertada; mexer os cordelinhos, mover influências, meter cunhas, vale tanto para o “lóbi” judeu como para o “lóbi” negro, o “lóbi” gay, o “lóbi” chinês, o “lóbi” ambientalista, o “lóbi” republicano, o “lóbi” democrata, o “lóbi” social-democrata, o “lóbi” maçónico, o “lóbi” comunista, o “lóbi” madeireiro, o “lóbi” mineiro ou, apenas para rimar, e ainda por exemplo, o “lóbi” petroleiro. “Lóbis” é o que há mais, por aí (e não só), precisamente com a finalidade de exercer influência.

Assim como é possível, a nível oficial, de Estado, conseguir (“por exemplo”) “uma entrevista ao primeiro-ministro feita por” Fulana de Tal, muitíssimo mais adequada à incumbência do que outra pessoa qualquer, desde que se fale previamente com o “lóbi judeu” local, então será também facílimo (“por exemplo”) arranjar um emprego para alguém mais necessitado, desde que se fale com o “lóbi” mais conveniente; para meter alguém no mundo do espectáculo, no Teatro, por hipótese, “fala-se com o lóbi” gay, sem dúvida, é o “lóbi” da área; já se for assim para um cargozinho de maior responsabilidade, por exemplo na ONU, como assessor de qualquer coisa, bom, nesse caso talvez seja de boa política o “lóbi” negro e, em especial, porque dentro dos “lóbis” grandes, há “lóbis” mais pequenos, dá-se um toque ao “lóbi” africanista e, deste, em especial ao “lóbi” lusófono. No fundo, isto dos lóbis funciona como as matrioskas, aquelas bonecas todas iguais, que saem umas de dentro das outras, cada uma ligeiramente mais pequena do que a anterior.

O facto mais significativo desta espantosa declaração é que, realmente, assim como assim, já se podendo pronunciar “judeu”, com todas as letras, e grande alívio civilizacional isto representa, também já se pode dizer “negro” (“preto” ainda fica mal), já se pode dizer chinês (não confundir com “amarelo” ou com “chinoca”), já se pode dizer gay (ou LGBT, mas não “bicha” ou “faggot”, calma lá com isso), enfim, já se pode dizer tudo aquilo que até agora era tácita e absolutamente interdito.

Isto seria já suficiente, como novidade e como alegria, mas ainda há mais. Ora bem. É que daqui decorre, por consequência, que o sucesso – seja ele colectivo ou individual – depende em exclusivo da utilização dos préstimos dos “lóbis”, da gestão da troca de favores, do comércio de empenhos, isto é, daquilo a que geralmente se chama “tráfico de influências”. Havendo má gestão dessas trocas, do comércio ou do tráfico, ou não havendo nada disso, de todo, fácil se torna concluir que uma qualquer iniciativa estará inexoravelmente condenada ao fracasso: seja essa iniciativa privada ou pública, individual ou colectiva, absolutamente nada poderá jamais funcionar ou ter qualquer hipótese de sucesso caso não exista a decisiva interferência de um ou mais “lóbis”.

Espantosa, se bem que previsível, revelação. Por mero exercício académico, se nos socorrermos de um pantógrafo mental, podemos reduzir a questão à (minúscula) dimensão dos blogs: sendo estes um simples microcosmos, espelho côncavo e multifacetado da sociedade, fica assim, e de forma extremamente simples, explicado o sucesso de uma irrisória minoria e o insucesso dos restantes. Isto, como é lógico, se entendermos ou medirmos o “sucesso” de um blog pelos seus números médios de visitantes, page views, comentários, citações e links.

De facto, e exceptuando os casos de autores que já eram figuras públicas antes de serem bloggers, o “sucesso” de um blog depende essencialmente da forma como cada qual interage com os outros. Isto é, atalhando caminho e poupando desde já algum Latim, varia em função dos grupos de influência com os quais se relaciona e aumenta consoante a importância desses grupos. Por exclusão de partes, se um blogger não se relaciona com outros, se não adere a grupos, se não alinha declarada e expressamente em nenhuma corrente (literária, política ou de qualquer outra ordem), na prática o seu blog “não existe”. Nos blogs, as coisas funcionam exactamente da mesma forma – neste aspecto – que o indivíduo, enquanto ser social, ou que a sociedade em geral, enquanto imenso grupo de grupos humanos.

Logo, e isso explica muita coisa, também aqui se encontra o tráfico de influências. À escala, é certo, mas obedecendo exactamente à mesma regra universal, tão clara e transparentemente aduzida por Carneiro Jacinto, na sua entrevista ao DN: quer-se repercussão? Fale-se com o “lóbi” certo.

Para bom entendedor, meia palavrinha basta.

Domingo, 16 de Setembro de 2007

Conferência pública de Sua Santidade o Dalai Lama

Pavilhão Atlântico, Lisboa, 15 horas
Tema: O Poder do Bom Coração.

A sala está quase cheia.
No palco, dois monges budistas, tibetanos, e um budista português, tradutor.
18 minutos de atraso.
Flashes.
Sua Santidade entra no palco, saudando de forma tradicional. A assistência aplaude, de pé.
Boas vindas em Inglês.
Boas vindas em Português.
Primeira parte da dissertação.
Tradução.
Aplausos.
Câmaras de vídeo. Flashes.
Na galeria, uma criança de colo chora e grita sem parar.
Água.
Chinelos.
Segunda parte da dissertação.
Tradução.
Aplausos.
Flashes. Câmaras de vídeo.
Café.
“T-shirts”. Leques abanando, zuf zuf zuf.
20 minutos após o início da dissertação, ainda há gente a ocupar os seus lugares (“com licença, ‘cença, desculpe, com licença, ‘cença”).
Pacotes de pipocas. Coca-Cola em copos king-size.
Socas. Madeixas. Trancinhas rasta.
Terceira parte da dissertação.
Na plateia, uma criança fala e grita de vez em quando.
O jovem das trancinhas rasta recosta-se na cadeira e coloca as chinelas, as patorras, nas costas do banco da frente.
Tradução. Leques.
Aplausos. Leques.
Câmaras de vídeo com as suas luzinhas encarnadas a piscar.
Na galeria, uma criancinha grita desalmadamente.
Café em copinhos de cartão. Água em garrafa. Cerveja em copo de plástico.
Há gente que entra e sai, que sobe e desce as escadarias.
Quarta parte da dissertação.
Tradução.
Aplausos.
Coca-Cola. Cerveja. Café. Água. Gelados. Refrigerantes com palhinha dupla. Leques abanando languidamente.
Na galeria, o bebé chora e grita a plenos pulmões. Algures nos bastidores, uma outra criança responde por fim.
Período de perguntas e respostas.
1ª pergunta por escrito.
Resposta.
Tradução.
2ª pergunta por escrito. Leques abanando, abanando. Não há leque, abana-se o programa.
Resposta. Já há gente que vai trepando, escadas acima.
Coca-cola. Gelados. Tradução. Leques abanando freneticamente.
Cerveja. 3ª pergunta. Tradução. Café. Por escrito. Leques.
Resposta. 4ª pergunta. “Last question”. Gritos. Rasta. Gente. Tradução. Água. Leques. Aplausos. Leques. Gente. Leques. Trancinhas. Chinelos. Patorras. Tradução. Leques. Bebés. Gelados. Leques a dar, a dar. Zuf, zuf, zuf. 5ª pergunta. Resposta. Tradução. Chinelos. Chinelos. Chinelos e socas e leques rasta. Entra uma tuna. Uma tuna. Despedidas. Saudações. A tuna tuna.

No balcão nº 1, uma criança chora de mansinho, inocente de tudo e vagamente de compaixão.

Exit.

Nenhuma Pedra Por Virar, SARL

Welcome To the Madeleine Online Store
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Madeleine McCann online store

Nesta “loja” online, vendem-se pulseiras em plástico a 2 € e posters a 10 cêntimos. O site desta Companhia Limitada oferece carrinho de compras virtual, caso pretenda fazer encomendas por grosso (e também por atacado, claro).

Todos os preços, presume-se, têm IVA (VAT) incluído; a firma LNSUL (NPPV Lda., em Português) passa facturas, como manda a lei.

click se quiser comprar. Ou é só para ver? pulseirinhas muito giras, não?

Do Portugal arguido (III)

Now the McCAnn’s are known even in North America, as the USA Today newspaper also presents few paragraphs about them. A population that doesn’t even know were Italy is, maybe they will start looking on a map to check were Portugal is! …and everything just because the media is saying how bad these parents are, and also how not efficient the police back there in that small european country were the peace and love always had been reign is!

cÁssia, no blog Winter Communication

Vendo as coisas pelo lado bom, se tal é possível nestas circunstâncias, bem podemos esperar que os estrangeiros finalmente aprendam essa coisa, pelos vistos dificílima, de onde ao certo é Portugal. Com um bocado de sorte, talvez seja possível que a esmagadora maioria dos americanos – por exemplo – deixe de confundir o Castelhano com o Português, ou a nossa Capital com Barcelona.

Finalmente, o mundo aprende uma palavra em Português genuíno; além dos nomes próprios do costume, Amália, Eusébio, Figo, Ronaldo, hoje em dia não deverá haver um único Inglês (ou Francês, ou Italiano, ou caribenho) que desconheça o substantivo “arguido” – essa genial invenção lusitana, a palavrinha das palavrinhas, o supra-sumo da lusofonia. Não tardaremos nada a ter o prazer de ouvir, em plena Picadilly Circus, um qualquer “junkie” insultando o parceiro do lado com o nosso muito nosso “you bloody arguido!”

Com mais um bocadinho de sorte, quem sabe, talvez um dia destes seja mesmo possível – em sentido linguisticamente inverso – que os nossos jornalistas aprendam a pronunciar correctamente o apelido agora mais famoso do mundo: não é McCain, não é MacCane, não é McCaan, é…

Isso.

Manual Scolari

https://www.youtube.com/watch?v=_G3Rnv0jlMc

Eu faria o mesmo
Tu farias o mesmo
Ele faria o mesmo
Ela faria o mesmo (se calhar)
Nós faríamos o mesmo
Vós faríeis o mesmo (ou pior)
Vocês fariam o mesmo
Eles fariam o mesmo
Elas fariam o mesmo (não duvidemos)

Porém. Eu, tu, ele, ela, nós vós, eles, elas, toda a gente – por mais razão que tivesse, por mais méritos e atenuantes – se passaria, nas mesmas circunstâncias, mas com toda a certeza qualquer um de nós se lixaria também, por via disso. À grande e à francesa. Não há murros grátis. Paciência.

E depois há as agravantes. As mentiras. Quaresma não precisa de ajuda, aparentemente, para espetar uns bananos no focinho de qualquer artista, por mais armado em herói que este se apresente. Não estava na sua área técnica, senhor, o sérvio pequeno dragão. Avançou para o troglodita provocador, não foi o contrário, senhor.

Tenha paciência, senhor. Demita-se, por favor.

Já que o banana de voz rouca e cérebro paralítico é incapaz de tomar uma atitude digna.

Obrigado, senhor Luís Filipe.

Petições & Petitions

1. “We endorse the Child Protection Petition to Leicestershire Social Services.” (17.830 assinaturas, às 17:21 h)

2. Justica para Madeleine McCann: “Nos, os abaixo assinados, pedimos as autoridades portuguesas que sentem Gerry e Kate McCann (pais de Madeleine MacCann) no banco dos reus para responderem pelo crime de que sao culpados perante a lei portuguesa.” (726 assinaturas, às 17:24 h)

3. “We endorse the Freeze the McCann fund Petition to Brtish Goverment.” (407 assinaturas, às 17:25 h)

4. “We endorse the European Sex Offenders Register Petition to European Parliament.” (2.445 assinaturas, às 17:27 h)

5. “A petition to boycott British newspapers who present continued biased reporting.” (80 assinaturas, às 17:32)

Busca: “McCann” em Petitions Online (link).

A sombra

Maddie McCann

Existe algo de premonitório em toda esta terrível história de Madeleine McCann. Seja o que for que venha a suceder, daqui em diante nada ficará como dantes. O mundo assiste, com horror, ao desmoronamento de uma das últimas causas que faziam algum sentido: proteger as crianças da maldade humana. A inocência deixou de ser inocente. Não há inocentes.

Todos somos culpados.

Proteger as crianças significava proteger o futuro. Se isso já não significa nada, então agora não temos futuro. Apenas a sua sombra.

Imagem de cbc.ca