A Leste de Timor

As minas de opinião

Perguntava-me há dias uma amiga, portuguesa, do alto da sua inocência:
_ Mas afinal, quais são ao certo as riquezas de Timor? O que é que lá existe?

Tentemos responder, calma e pacientemente. Pois. Além do petróleo, dos diamantes que ainda não apareceram, do ouro que parece que é pouco? Além do turismo que ainda não existe, e das pérolas, e dos cocos, e do sisal, e do sândalo, e do café? Sem falar dos recursos marinhos, e coisas assim?

Bem, a principal riqueza de Timor-Leste, o seu mais espantoso recurso natural, a sua mais profunda mina, cara amiga, é a conversa. O tema, o paleio, o blábláblá. Eis, em suma, aquilo que mais rende, não propriamente aos timorenses ou a Timor, mas à imensa, variada, heterogénea chusma de “analistas” que se arrogam o direito de falar e de escrever sobre o assunto, a chamada “questão timorense”.

Falar sobre Timor é o mais inesgotável recurso daquela meia ilha, algures no Pacífico. Fascínio, cara amiga. Na razão directa do sangue que escorre pelas ruas, e na inversa da paz política local. Digamos que o chorrilho de opiniões, a torrente de considerações, filtrada com areia em pratos rombos, o número de garimpeiros da verdade, enfim, depende essencialmente de um único factor: a cor daquele rio, novo El Dorado dos europeus bem-pensantes. Quanto mais vermelha e espessa é a água que corre, maior a probabilidade de se acharem pepitas lógicas, pérolas de clarividência, gemas de verdade absoluta.

Água vermelha, minha amiga. Pedras preciosas. Vermelhas de sangue. As minas de Salomão que existem em Timor, exploradas à distância, garimpadas por telepatia, constituem a mais inesgotável riqueza daquele insignificante paraíso.

Blog de Timor, 27 de Maio de 2006