O único medicamento para tratar a gota, o Colchicine, está esgotado em Portugal desde 19 de Julho e a reposição no mercado está prevista só para 31 de Outubro. Aos doentes que sofrem uma crise aguda, que causa dores insuportáveis, resta procurá–lo nas farmácias espanholas. Estima-se que 90 mil portugueses sofram de gota.Para evitar que os doentes estejam três meses sem acesso ao Colchicine, também prescrito para tratar a Béhçet, uma doença rara de inflamação dos vasos sanguíneos, a solução encontrada pela empresa é “a importação com embalagem em francês e reembalagem em Portugal da caixa e do folheto traduzidos”. Nelson Pires afirma que foram “informados” pelo Infarmed de que o pedido “poderá ser autorizado, mesmo com as embalagens em francês, desde que o folheto informativo conste em português e que seja a mesma Autorização de Introdução do Mercado”. O responsável diz aguardar “instruções e documentação para formalização do pedido”.
Fonte do Infarmed diz que ainda não foi feito qualquer pedido de importação do medicamento pela Jaba, mais de um mês após a verificação de ruptura de stock do Colchicine. O Infarmed acrescenta que os laboratórios têm conhecimento das alternativas de acesso aos medicamentos.
[Transcrição (parcial) de artigo publicado pelo jornal Correio da Manhã em 24.08.10, da autoria de Cristina Serra.
Imagem do site Natural Health Techniques.]
A ver se a gente se entende sobre isto, até porque não é nada fácil aceitar que existam seres humanos assim tão estúpidos e, se calhar, maldosos.
Mesmo para um absoluto leigo na matéria e mesmo que esse leigo porventura seja absolutamente saudável, isto é, que não precise hoje nem tenhan nunca precisado de qualquer medicamento, o que este episódio significa poderá ser “traduzido” em poucas palavras: um medicamento para determinada patologia não existe no mercado porque a lei portuguesa obriga a que a respectiva bula (o folheto informativo) esteja traduzido para Português.
Isto significa, em concreto, o seguinte: se a bula não estiver traduzida, esse medicamento não pode ser comercializado; logo, as pessoas para quem o dito medicamento é absolutamente imprescindível terão de aguentar as consequências, as dores e o agravamento da sua doença, até que o tal papel seja traduzido.
Custa a crer, não é?
Pois custa, mas é assim mesmo. E custa ainda mais, incomensuravelmente mais, é claro, a quem sofre desta maldição em concreto, a quem sente na carne as dores insuportáveis que a “gota” provoca.
O PC tomou o poder, como sabemos, e leva tudo à sua frente sem quaisquer contemplações, com absoluta indiferença pelas pessoas e sem querer saber para nada das consequências que acarretam as políticas e os dogmas nacional-socialistas.
Há pessoas a sofrer que nem cães? Pois sim, e isso o que interessa? Sem o folhetozinho traduzido como manda a lei, nada feito, aguente-se, olhe, tome um chá de douradinha e volte cá dentro de um mês ou dois, a ver se já recebemos o Colchicine.
Seria talvez útil desenvolver o tema, explicar pormenores, declinar o que é esta doença crónica, ao certo, e por que razão apenas aquele medicamento serve numa crise.
Sucede, porém, que por vezes não é possível a quem explica determinada coisa manter dela o devido distanciamento. Como acontece neste caso, nem sempre quem escreve sobre certo assunto consegue conservar a calma, tal é a enormidade, a violência, a absoluta estupidez desse mesmo assunto.
É o caso, peço desculpa.
P.S.: escusado será dizer que, para um gotoso, é rigorosamente igual ao litro que o Colchicine venha com ou sem folheto; já o leu as vezes suficientes para saber de cor e salteado o que lá está.