Haverá coisas bem mais graves, a começar pela desigualdade real (e não semântica) entre géneros em Portugal, mas quando um governo faz questão de se empenhar tanto, a ponto de elaborar planos nacionais e encomendar um estudo a propósito, o mínimo que se lhe exige é que seja o primeiro a dar o exemplo. Ora não é isso que sucede nos textos dos próprios planos governamentais, quando o género feminino aparece não em pé de igualdade gráfica mas entre parênteses. Ou seja, em lugar de lermos “conselheiro/a”, lemos “conselheiro(a)”. Sendo que o parênteses remete para uma indicação acessória, enquanto a barra sugere uma representação simétrica. Tão empenhado nesse aleijão técnico que é o acordo ortográfico, o Governo podia, ao menos, esforçar-se por seguir as regras que ele próprio estabelece em matéria de “linguagem inclusiva”. Pelos vistos, é mais lesto a aceitar erros como lei de escrita do que a seguir regras de senso comum.
[Transcrição parcial de editorial do jornal “Público” de 22.01.14. Destaque nosso.]