meuselonAO1Ontem tive o grato prazer de partilhar com o meu mais-que-tudo uma informação que soube recentemente: quantas subscrições já tinha a ILC reunido. Ele achou que já é um número muito bom. Mas achou também que o pessoal é um bocadito preguiçoso e que este número já poderia ser muito mais elevado. É claro que sim. Mas eu acho que já é um número bonito. Sobretudo porque todos sabemos como funcionamos enquanto nação. Lembro-me sempre da Expo’98: às moscas nos primeiros meses; à pinha nos últimos dias. Portanto, até ao lavar dos cestos é vindima. Ninguém nos fará desistir enquanto houver nem que seja o mais ínfimo vislumbre de esperança. Ora, neste momento há muito mais do que um vislumbre de esperança e ainda falta muito para os últimos dias. Não há como negar o crescente mal-estar causado pelo AO90, dentro e fora do país, e é claro que qualquer pessoa inteligente chega rapidamente à conclusão de que o “acordo” é uma inutilidade absurda. Tanto para Portugal como para os restantes países de língua oficial portuguesa. As pessoas inteligentes podem até ter andado distraídas, mas estão cada vez mais a despertar para o problema.

Não tencionamos, portanto, arredar pé até que o AO90 desapareça de vez para um qualquer canto recôndito e obscuro da História do país. Já estamos habituados a lidar com críticas, acusações e manobras mirabolantes vindas de vários lados. Inclusivamente, às vezes, do lado que menos esperamos. Mas temos uma já longa prática de lidar com acordistas, que acusam seja quem for do que for preciso para atingir os seus fins. Tudo o resto são amendoins. Não é por aí que nos farão desistir. Até porque temos um escudo protector imbatível: uma consciência perfeitamente tranquila, aliada à convicção de que uma ILC é uma arma poderosa, que não pode deixar de ser utilizada. Claro que não sabemos se resultará. Mas não é por isso que desistiremos de tentar.

Profissionalmente, tenho todos os motivos para me empenhar nesta luta. Tenho saudades de quando adorava a minha profissão. De quando não tinha de passar a vida a explicar a mesma coisa vezes sem conta. De quando não via estrangeiros a defender o Português mais do que os próprios portugueses. De quando não tinha de terminar colaborações de muitos anos porque me queriam obrigar a aplicar aquela coisa execrável. Acho que faz tanto sentido um tradutor usar o AO90 quanto, por exemplo, um padeiro usar farinha envenenada. Com uma matéria-prima de má qualidade não se conseguem bons produtos.

Pessoalmente, tenho ainda outro motivo para me empenhar tanto nesta luta. Pertenço à geração que cresceu no pós-25 de Abril. Acredito na força e na beleza da cidadania. Acredito que as pessoas podem fazer a diferença. Acredito que, se o quisermos, conseguiremos reverter esta situação. Acho bonito que um grupo de cidadãos, composto pelas mais variadas pessoas, se junte numa Causa comum. Muito mais quando esse grupo não tem qualquer espécie de apoios, nenhuma “maquinaria” de sustentação e já chegou tão longe. É um orgulho e uma honra fazer parte desta Iniciativa Legislativa de Cidadãos, ao lado de já tantos milhares de pessoas corajosas.

Há que continuar este trabalho. Vamos a isto.

Hermínia Castro

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[Imagem de Adega Mayor]

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