ObiangDiliAinda o pessoal da tradução simultânea não tinha pousado os auscultadores e já o Ciberdúvidas titulava: “Vocabulário Ortográfico Comum aprovado na Cimeira de Díli”.

É certo que o Ciberdúvidas é fonte insuspeita (na medida em as suspeitas já há muito deram lugar às certezas). Mas, ainda assim, é difícil perceber a que se refere o ciber-consultório. Esmiuçada a Declaração Final emitida pelos delegados da CPLP, encontramos, no Ponto 11, depois da referência ao pavilhão da CPLP na Feira do Livro e da marcação de mais conferências internacionais à boleia da Língua Portuguesa, “a integração progressiva dos Vocabulários Ortográficos Nacionais (VONs) [sic] num Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa (VOC)”.

O que significa isto? É o Vocabulário Ortográfico Comum a soma dos diversos Vocabulários Nacionais? Deve ser por isso que o Brasil publicou em 2009 o seu próprio VOLP (que não respeita o AO), dizendo ser um documento para aplicar no Brasil e apresentando-o como o seu contributo ou proposta para o VOC — dando o mote, no fundo, para que cada país fizesse o seu. Como costuma dizer-se, também quero! Se toda a gente faz o seu VON, porque havemos nós, portugueses, de ficar com o AO, que mais ninguém usa — E NEM SEQUER ERA O NOSSO VON? Também quero um Vocabulário Ortográfico Nacional que consagre as peculiaridades do Português Europeu. Se depois quiserem integrá-lo num vocabulário mais vasto, que atenda às especificidades do Português das ex-colónias e ao crioulo ‘fá d’ambô‘, tanto melhor.

Entretanto, para lá desta pertinente questão dos VON, o que nos trouxe de substancial a X Cimeira da CPLP? Foi anunciada a ratificação do AO por Angola e Moçambique? Foi apresentado um verdadeiro Vocabulário Ortográfico Comum? Nada disto aconteceu — e ainda bem.

Pelo contrário, no próprio dia em que se encerram os trabalhos o Jornal de Angola, mais uma vez, acusa Portugal de nem sequer ter sabido defender Língua Portuguesa do Acordo Ortográfico.

O Jornal de Angola poderá ter razão mas uma coisa é o país e os seus Governos, outra coisa são os seus cidadãos. Pela parte que nos toca, parece-nos que esta cimeira mais não fez do que legitimar (ainda mais) a nossa luta contra o Acordo Ortográfico. Obviamente, a Iniciativa Legislativa de Cidadãos continua; logicamente, a recolha de assinaturas pela revogação da RAR 35/2008 prossegue.

Façam-se os Acordos Ortográficos que forem precisos, mas com Línguas ou com variantes que realmente existem. Para fazer o AO90 alguém inventou uma Língua que ninguém fala — um absurdo que chega, por si só, para explicar por que razão o AO90, volvidos 24 anos(!) continua sem sair da cepa torta.

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