Passando por cima da matéria de opinião e focando-me apenas na matéria de facto, a afirmação “Os acordo intergovernamentais estão acima de qualquer associação” é enganadora.
Ponto 1. – Este acordo é ilegal (veja nos vários pareceres jurídicos produzidos, que o demonstram). Ninguém é obrigado a respeitar ilegalidades. Mas…
Ponto 2. – Mesmo que cumprisse as normas legais, não podem os representantes do povo, que se sentam nos órgãos políticos, trair o “contrato social” com os eleitores. Nesse sentido, a uma das partes cabe o direito de veto, que é exactamente o que nós, os que rejeitamos o Acordo, pretendemos.Escreve Roger Scruton: “o estado fundado num contrato social deve respeitar integralmente a autonomia, liberdade, e dignidade do indivíduo”. Como eu entendo que o estado não defendeu, nem respeitou, a minha autonomia, a minha liberdade e a minha dignidade, devo considerar o contrato nulo e rejeitar tudo o que se pretendeu (falsamente) acordar em matéria de Língua.
Entre muitas outras evidências, o tratamento dado à minha Língua, pelos políticos que temos, inscreve-se no que se chama “cultura de repúdio” e que pode ser entendido como a destruição das culturas dos povos, ou substituição por outras, que lhes são estranhas, mas que lhes são impostas de acordo com uma matriz ideológica, a que eu não preciso de me referir, porque, seja ela a que for, trai descaradamente o que devia defender.
Parece-me a mim que esta forma de actuar dos nossos políticos é de grande violência e tem uma natureza que eu classifico de anti-democrática e totalitária, que eu, pela forma como defende o Direito Internacional, penso que o O. Simões não é partidário.
Se a opinião do O. Simões é diferente, porque acha o AO “porreiro” e que consegue uniformizar a Língua, temos pena, porque também nos sentimos do direito de achar, à vez, que nunca a uniformizará, antes de mais porque o brasileiro está em constante deriva de si próprio. No futuro falarão, provavelmente, um dialecto a que será muito difícil chamar português, tal como o reconhecemos hoje.
O argumento da força de uma língua se mede pelo número de falantes e escreventes é uma falácia. O que dá força a uma língua é o trabalho intelectual que se faz com ela, a erudição que ela atinge e a sua estabilidade. Se por causa de uma salada linguística for mais difícil filosofar em português, porque a língua perdeu exactidão (e perde quando se recorre ao contexto para saber o significado de uma palavra), então esta língua está condenada, porque passa a ser uma língua do dia-a-dia, que servirá apenas para ir à mercearia. É isto que os acordistas querem. Eu acho que sim.
[Transcrição de comentário de Luís Ferreira AQUI em resposta a ISTO.]