Esse Acordo Ortográfico foi votado por unanimidade, nesta Câmara, em 1991 — aliás, privilégio que o Bloco de Esquerda não teve porque não existia à época.
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Neste preciso momento, estará a ser debatido, na Assembleia da República, um projecto de lei do Bloco de Esquerda sobre a eliminação da impossibilidade legal de adopção por casais do mesmo sexo. Na Exposição de Motivos, pode ler-se “debate promovido na sociedade e na Assembleia da República em torno do projeto [sic] de lei da co adoção [??]” e “o radicalismo da maioria de direita e as manobras que descambaram numa proposta infundada de referendo (…) visaram bloquear o processo legislativo em curso relativo à co adoção [??]”.
Isto é, quase dois anos depois da anómala ‘co-adoção’ – e apesar da coadoção –, o Bloco de Esquerda consegue matar dois coelhos de uma cajadada: conjuntamente com um projecto de lei sobre a eliminação da impossibilidade legal de adopção por casais do mesmo sexo, apresenta uma proposta de aditamento ao disposto no texto do Acordo Ortográfico de 1990.
Efectivamente, o deputado Luís Fazenda tinha razão: com estas ocorrências (‘co adoção’, ‘co-adoção’ e ‘coadoção’) ficamos “com três grafias”. É “absolutamente insustentável, não faz sentido nenhum, é de uma ilogicidade total”? A deputada Isabel Moreira pode escrever que “nada mudou desde o chumbo da co-adoção [?]“. Mudou para (muito) pior. Mas a culpa não é minha. É vossa. Assumam-na. E retractem-se. Com cê, sff.
Francisco Miguel Valada