ILCAOflagA decisão de fazer evoluir a luta contra o Acordo Ortográfico transformando-a em Partido contra o Acordo Ortográfico não tem apenas como qualidade, e vantagem, demonstrar a cobardia e a hipocrisia dos actuais «partidos» do sistema político nacional – não só os de governo, mas todos os que estão representados no parlamento – cujos militantes e dirigentes tão mal se comportaram (com algumas e honrosas excepções, é certo) no infame – e ilegal – processo de implementação do AO90 em Portugal, ao não saberem, ou ao não quererem, representar e reflectir a opinião da maioria dos seus eleitores. Tem também, esta transformação, a particularidade de demonstrar a cobardia e a hipocrisia do próprio sistema político nacional, que, precisamente, exige mais assinaturas para a apresentação de uma proposta de lei por cidadãos do que para a legalização de um novo partido ou para a formalização da candidatura de um cidadão (com mais de 35 anos) à presidência da república…

… E tem ainda a qualidade e a vantagem de demonstrar a cobardia e a hipocrisia de quase toda a comunicação social portuguesa, mais concretamente, a que se submeteu ao «aborto pornortográfico», com destaque desonroso para as três principais estações de televisão. Não é novidade: apesar de todas estarem sempre tão disponíveis, aparentemente, para noticiar, nos seus espaços «informativos», todo e qualquer conflito por mais pequeno que seja, nunca lhes vimos, contudo, uma abordagem constante, estruturada, das causas, características e consequências do processo de aplicação do AO90 em Portugal. Com algumas e honrosas excepções, é certo, os meus «colegas» de ofício não têm mostrado merecer as carteiras profissionais que possuem, decidindo ignorar – por vontade própria ou dos que neles mandam – que há dúvidas, protestos e resistências em relação às mudanças na ortografia decididas por uma minoria de uma minoria. O silêncio é quase total. Que a mais recente – e uma das raras – oportunidade(s) de discussão televisiva(s) sobre o assunto tenha acontecido num programa como o «A Tarde é Sua» de Fátima Lopes na TVI – para o qual, porém, a ILCAO foi convidada e depois «desconvidada» – é prova mais do que suficiente do vergonhoso colaboracionismo de uma «classe» (ou falta dela) profissional que, não raras vezes, vê vários dos seus mais reputados e bem remunerados membros pretendendo dar lições de competência e de independência…

… Pelo que os espaços de tempo de antena do novo partido contra o AO90 seriam mais informativos, mais relevantes e mais rigorosos do que qualquer noticiário actual. Neles a verdade não seria escamoteada e a única «dificuldade» seria a selecção e a gestão dos materiais a utilizar e a revelar nos poucos minutos de que, previsivelmente, o novo partido viria a dispor. Que incluiria, dentre outros: depoimentos de figuras públicas contra a aberração, incluindo de especialistas que demonstrariam como ela é culturalmente e juridicamente injustificável; exemplos do «apocalise abruto», do «cAOs» que se vai expandindo ; imagens das audiências feitas na Assembleia da República neste âmbito, incluindo as de um administrador da Porto Editora a confirmar a inutilidade do «(des)acordo» e de um dirigente da Academia das Ciências a revelar que esta foi ameaçada de extinção por um ex-ministro da Cultura (!) caso recusasse participar na subversão da língua portuguesa; contextualização da votação que aprovou a resolução 35/2008. Mais do que (a continuação de) uma acção de cidadania, o novo partido proporcionaria a prestação de um autêntico serviço público de televisão.       

Octávio dos Santos

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