Daniel Jonas nasceu no Porto em 1973. Publicou quatro livros de poemas, entre os quais Os Fantasmas Inquilinos (Cotovia, 2005) e Sonótono (Cotovia, 2007 – Prémio PEN Clube de Poesia). Traduziu, entre outros, Milton, Waugh, Huysmans, Pirandello e Shakespeare, nomeadamente O Mercador de Veneza, para a encenação de Ricardo Pais, com quem assinou ainda a dramaturgia e a versão cénica. Tem colaborado regularmente com o Teatro Nacional de São João, tendo co-assinado a leitura de palco da sua tradução da obra de John Milton Paraíso Perdido. Em 2008 estreou-se como dramaturgo com a peça Nenhures (Lisboa: Cotovia, 2008), levada à cena pelo Teatro Bruto, companhia com a qual tem colaborado regularmente, e para a qual escreveu também a peça Reféns, estreada em 2009, bem como o libretto para o concerto encenado Still Frank. Ainda para a mesma companhia escreveu a peça Estocolmo, a ser levada à cena em Outubro de 2011.

Este AO é uma genuflexão linguístico-política deplorável, e, como quase todas as genuflexões, modos de súbditos mais do que prumo de republicanos. Aliás, nem súbditos são assim tão subservientes, se olharmos para os de sua majestade, imaginando o que seria a capitulação perante termos anglo-americanos como o nome color, o particípio passado gotten ou a preposição mais igualitária with em talk with. Esta genuflexão é, em todo o caso, perfeitamente inconsequente se, a contrario daquilo que o acordo de 1990 pretende, ou seja, a unificação de uma ortografia para a língua portuguesa, notarmos que se regista, ao invés, quase 2500 duplas grafias, novinhas em folha e resultantes deste acordo! Verifico, pois, que doravante terei de recorrer ao brasileiro para poder continuar a escrever em português. Uma contracepção não especialmente problemática que me fará linguisticamente miscigenado, uma espécie de United Colo(u)rs da língua portuguesa. E porque não assumir um gosto antigo e, por exemplo, escrever lingüisticamente, brandindo, assim, o trema que, esse sim, de algum jeito serviria e certamente muito mais encanto? Aliás, os meros 0,5% em que o Brasil claudicou perante Portugal são, a esse título, lamentáveis. Então, não é que, tremendo perante a ofensiva das debulhadoras lusas, me vão alijar precisamente o trema nos güs e qüs? Estou decepcionado. Esperava mais prumo do Ipiranga brasileiro. Em todo o caso irei tentar respeitar o novo acordo ortográfico sem prejuízo de escrever de quando em vez em brasileiro de Portugal para poder falar em português do Brasil. Assim, abrasileirarei em coisas como decepção, percepcionar e contracepção, como já fiz, de resto, questão de deixar bem claro acima. O meu contraceptivo contra este AO será, pois, falar em brasileiro do Brasil para parecer Português antigo de Portugal e ainda assim cair no goto dos portugueses de acordo com o Brasil.
Daniel Jonas

Daniel Jonas subscreveu a Iniciativa Legislativa de Cidadãos pela revogação da entrada em vigor do Acordo Ortográfico de 1990.

Nota: esta publicação foi autorizada pelo subscritor, que nos enviou, expressamente para o efeito, a respectiva súmula biográfica, sendo também de sua autoria o texto sobre o AO90 aqui publicado.

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