Nunca conheci um homem com nome de Vasco de quem eu não gostasse. Não posso declarar a mesma coincidência com qualquer outro nome, feminino ou masculino. Os Vascos são abençoados. Mesmo quando exageram (sobretudo o Vasco Gonçalves), é difícil negar que não são movidos por boas intenções e honestidade intelectual. Muito me alegrou a primeira página do PÚBLICO de anteontem, assim como as páginas 4, 32 e 36, em que se noticiava e elogiava a decisão de Vasco Graça Moura, depois de ter consultado e obtido o apoio unânime do conselho de administração do Centro Cultural de Belém, de mandar à merda o Acordo Ortográfico.
António Mega Ferreira é meu amigo mas, mesmo que não fosse e eu julgasse friamente o que fez, nunca deveria ter sido substituído no CCB. Por ninguém. Estava ele ou não estava a fazer um excelente e independente trabalho, como sempre fez onde quer que estivesse? Estava.
Francisco José Viegas que, por ser um gajo porreiro, foi porreiro de mais, não fez o finca-pé que deveria ter feito, Foi uma atitude inteligente. Mas feia.
Vasco Graça Moura não é meu amigo mas é como se fosse: Admiro-o e gosto dele, como pessoa. Apesar de ele ser trauliteiro e boçal quando defende o PSD: um partido que respeito mas que ele, lealmente, prejudica com excessivo afã sincero. É uma nódoa que lhe fica bem.
Em 1985, na biblioteca do Grémio Literário, conhecemo-nos ejuntámo-nos no Movimento Contra O Acordo Ortográfico. A luta continua.
Miguel Esteves Cardoso
[Transcrição integral de crónica da autoria de Miguel Esteves Cardoso. Jornal “Público”, coluna “Ainda Ontem”, 05.02.12. Link disponível apenas para assinantes do jornal.]
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