Eduardo Cintra Torres nasceu em Lisboa no século XX (está bem, pronto: em 1957). Foi o sexto de sete irmãos de uma família lisboeta com inúmeras ascendências estrangeiras pelos dois lados (castelhanas, catalã, basca, inglesa, francesa e alemã). Esses sangues europeus misturaram-se sem vencer o alfacismo e o nosso maravilhoso amor-despeito português pela nossa terra. A família mudou-se para os arredores, Paço de Arcos, então uma vila pequena e com muito terreno livre. A estação dos comboios e, portanto, Lisboa, estavam a dois passos de casa.
Fez o liceu em Oeiras e a licenciatura em História, que terminou ao mesmo tempo que o serviço militar obrigatório, sem interrupções, em 1980. O tempo não estava para investigação. Não havia bolsas, assim o entendeu, senão para os amigos e servos dos professores. Foi trabalhar para o jornalismo e, mais tarde, para uma empresa familiar. Casou-se cedo e mantém o casamento há 34 anos, com possibilidades de entrada no Livro Guiness de Recordes. Tem dois filhos.
Não gostou do afastamento do trabalho intelectual e regressou ao jornalismo como crítico de televisão e de media e do mais que quisesse no Público, a partir de 1996, baptizando a sua coluna, depois página, com o nome de Olho Vivo. Ali ficou até 2011, quando lhe foi proposto passar para o online muitos meses depois e em condições a definir. Mais tarde, leu no jornal que tinha saído no âmbito de uma “reorientação ideológica” das páginas de opinião, o que até hoje não entendeu por desconhecer, quer a sua orientação ideológica, quer a que lhe atribuíram para essa justificação pública do termo da colaboração. Alguns leitores escreveram-lhe mensagens pessoais e um ou outro disseram ter chorado com o fim do Olho Vivo, mas tomou essa informação por exagerada amabilidade. Outros leitores, que não escreveram mensagens, terão suspirado de alívio. Na rádio pública nacional, dois comentadores rejubilaram e um deles disse que assim ficava sem papel de jornal para limpar as partes.
Enquanto escrevia para o Público, entendeu que, para ser diferente e alcançar o patamar de qualidade que pretendia para si mesmo, precisava de estudar comunicação e media. Enquanto trabalhava, fez o Mestrado em Comunicação e Cultura no ISCTE. Sem bolsas. A tese foi publicada em livro: A Tragédia Televisiva (Lisboa, ICS, 2006). Começou a dar aulas na Universidade Católica em 2004 e, enquanto continuava a colaboração no Público e a coluna de análise de publicidade no Jornal de Negócios, iniciada em 2003, fez o doutoramento em sociologia, terminado em 2010 no Instituto de Ciências Sociais. Sem bolsas. A tese, intitulada A Televisão e a Multidão: Representações Contemporâneas da Efervescência Colectiva, deverá ser publicada em livro no final de 2012.
Este será o seu 14º livro. Os títulos dos restantes, que aqui se omitem para poupar espaço e paciência do leitor, demonstram o seu maior defeito: o seu eclectismo, uma curiosidade e um interesse em múltiplos temas que o levam a querer mudar e, no fundo, a começar de novo em cada investigação. As áreas que mais lhe interessam são os estudos televisivos numa perspectiva sociológica e de análise textual, a análise de publicidade e a sociologia da literatura. Neste último domínio, já publicou meia dúzia de artigos sobre as representações da multidão na literatura no período aproximado de 1870-1930, em especial a portuguesa, mas também a francesa. Pretende continuar nesta investigação solitária por mais alguns anos, alargando-a a representações icónicas da multidão no mesmo período, nomeadamente na pintura, cinema e fotografia.
É professor auxiliar na Universidade Católica, actividade de que gosta muito, dando actualmente aulas sobre televisão, publicidade, ética da comunicação e técnicas de comunicação audiovisual.
Em 2011, no mesmo dia em que saiu do Público, foi acolhido pelo Correio da Manhã, onde baptizou a página com o nome de Panóptico, com “p” no “óptico”. O nome permitiu manter viva a dinastia do falecido Olho Vivo e sugerir que a coluna de opinião olha em todos os sentidos, e não apenas para a televisão.
Além dos livros, artigos e aulas, fez muitas outras coisas, indicando aqui aquelas de que mais se orgulha e omitindo as que nem tanto: programas de rádio, nomeadamente de música pop-jazz da América, um dos quais, colectivo, ganhou um prémio do jornal Sete, o único prémio da sua vida; programas de televisão; um argumento de ficção original para um telefilme, em que representou o papel de trinta segundos de um apresentador de noticiário; materiais educativos para o ministério da Educação, nomeadamente um CD-ROM duplo de literacia audiovisual, o primeiro do género, distribuído em todas as escolas do país. Também participou em dois grupos de trabalho sobre televisão, independentes, de iniciativa governamental, e que considera serviço público, tal como a tropa.
E chega. Quanto mais anos, mais curtas deveriam ser as notas biográficas, mas a vaidade não permite reduzir esta. Quanto a ficção escrita, que gostaria de tentar, mesmo que fosse já na companhia de S. Pedro ou de Lucifer, publicou apenas um conto, chamado A Biblioteca, que um site literário publicou há anos e já não está online. Houve um leitor, o único que comentou algures no ciberespaço, que gostou. Mas deverá ter sido por engano.
Eduardo Cintra Torres subscreveu a Iniciativa Legislativa de Cidadãos pela revogação da entrada em vigor do Acordo Ortográfico de 1990.
Este é mais um perfil publicado na “galeria” de subscritores, activistas e apoiantes da nossa ILC.
Nota: esta publicação foi autorizada pelo subscritor, que nos enviou, expressamente para o efeito, a sua nota biográfica.