Nunca, aparentemente, um acaso fotográfico traduziu, com tanta flagrância e com tanta precisão, o estado do ensino em Portugal, especificamente do ensino do Português, resultante da incapacidade dos inúmeros Ministros da Educação em intervir, com seriedade e empenho, nas causas deste caos, já estafadamente enunciadas. Com efeito, bastou um pormenor de uma imagem para espelhar a situação. Refiro a ilustração da recente notícia «Nuno Crato tornou-se um «gestor» da falta de recursos» (Público de 31.10.2012, pág. 6), na qual o Ministro da Educação, emoldurado numa sala de aula do 1º ciclo, tem por detrás de si um quadro, preenchido com um trabalho de Língua Materna, especificamente de gramática (classificação morfológica dos vocábulos de uma frase). Para além da aberração ortográfica que é ver «Setembro», escrito com minúscula, anulando-se a sua categoria de substantivo próprio, com justeza, aplicada aos meses do ano, ou «adjectivo», sem a sua consoante muda (à luz do mentecapto AO 90), verifica-se ainda, já sem surpresa, confesso, que «alegria» passou, repentinamente, de substantivo abstracto para adjectivo, tal como está escrito, pelas mãos de uma criança, assim ensinada a fazê-lo, no referido quadro. Erro grosseiro inadmissível e, com ironia, associado ao Ministro da Educação, em visita a uma sala de aula do 1º ciclo, coluna de todo o Ensino.
Revejam, s.f.f., a referida imagem, indesmentível da mediocridade, da ignorância e da incompetência que reinam não só na Escola, mas em tudo!
[Imagem de jornal “Público”, notícia com o título «Nuno Crato tornou-se um “gestor da falta de recursos”». Este texto foi publicado na secção “Cartas à Directora” daquele jornal em 04.11.12. Link disponível para assinantes.]