ILC contra o Acordo Ortográfico

(site original, 2010-2015)

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Estanqueiro_foto(Des)acordo ortográfico: “insegurança ortográfica” (2)

1. Já afirmámos (artigo anterior) que o acordo ortográfico (AO) veio criar enorme “insegurança ortográfica”, onde esta antes não existia; subestimaram-se vários pareceres solicitados que alertavam para isso mesmo. Aliás, no ano passado, o Parlamento recomendou ao Governo a constituição de um grupo e trabalho para acompanhar o processo de aplicação do AO, com elaboração de relatório; que se saiba, nem grupo nem relatório.

Mostrámos já que a obsessão pela unificação ortográfica criou, em vez das duas, três grafias, patente em exemplos simples (portuguesa/brasileira): aspeto/aspecto, detetar/detectar, receção/recepção, conceção/concepção, deceção/decepção, perceção/percepção, espetador/espectador, perentório/peremptório, tática/táctica, espetro/espectro, cato/cacto, perspetiva/perspectiva, interceção/intercepção, etc. Assim se pretende que se escreva agora (em Portugal) “aspeto”, “conceção”, “perspetiva”, que antes se escrevia (Portugal e Brasil) “aspecto”, “concepção”, “perspectiva”, e que continua a ser “aspecto”, “concepção”, “perspectiva” (Brasil). Não entendo tamanha estultícia! Se eu escrever, por ex., a “receção do texto” em vez de “recepção do texto”, como evitar que o leitor não pense em “recessão”, se é isso que ouve a toda a hora e sofre no seu vencimento ou pensão? Um brasileiro, ao ler “receção”, não entende…

Como sabemos, a aprendizagem da ortografia não se faz só na escola: é um processo quotidiano, multímodo, que envolve a memória visual; escrever “Egito” causa calafrios: é um triste espectáculo, que já não tem espectadores mas “espetadores” (a primeira vez que li, pensei em “espeto”). Aliás, como é sabido, as grandes diferenças que separam as variantes portuguesa e brasileira da língua não são ortográficas, mas são lexicais, semânticas e morfossintácticas.

2. Sobre as consoantes não pronunciadas, importaria evitar a homografia, por ex., “acto”/“ato” (verbo), “corrector”/“corretor” (da bolsa), “óptico” (relativo à vista )/ótico” (relativo ao ouvido), sendo que, no Brasil, continua a escrever-se “óptico”; seria também imprescindível evitar a homofonia (por ex., “intersecção” e “intercessão”), como é necessário ainda evitar o fechamento vocálico (“acção”, “aspecto”, “baptismo”, “lectivo”, etc.). Note-se que o português europeu está a tornar-se, por vezes, dificilmente inteligível na oralidade, dada a tendência para fechar as vogais. Já um linguista advertiu que “adoção” (de “adoptar”) poderia conduzir à pronúncia de “adução” (de “aduzir”); este é um problema grave: as próximas gerações tenderão a ler “setor”, “receção”, “deceção”, etc., sem abrirem as vogais.

As consequências gravosas do AO saltam à vista: ao contrário de outras alterações ortográficas do século XX, este AO atinge aspectos estruturais da Língua Portuguesa. Todo este processo tem sido, pois, arrogante e autoritário.

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publicoNem Camões resiste no abandono da nossa identidade

Castro Guedes

10/06/2015 – 05:07

Por acaso não venho falar do (des)acordo. Mas venho aproveitar o velho Dia de Camões para falar d’“Os Lusíadas”. Ou melhor: da loucura sagrada de um actor português (com carreira profissional há mais de 30 anos, o António Fonseca) que desde 2008 se meteu na epopeia de decorar e recitar os dez cantos do poema da nossa odisseia histórica.

Foi apresentando-os um a um, numa ciclópica tarefa, paciente, devotada e rigorosa, até chegar a completar o livrinho de Camões. Um acto que deveria, de há muito, ter sido devidamente assinalado pela comunicação social, e refiro-me, particularmente, ao silêncio impante das televisões, já que este e outros jornais não deixaram de o registar.

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«O Acordo Ortográfico visa dois objectivos: reforçar o papel da língua portuguesa como língua de comunicação internacional e garantir uma maior harmonização ortográfica entre os oito países que fazem parte da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).»
Resolução do Conselho de Ministros n.º 8/2011

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O texto que se segue foi publicado na edição de hoje, 10 de Junho de 2015, no jornal “Público”. O mesmo texto foi publicado também hoje num “site” de petições electrónicas.

A sua reprodução aqui justifica-se, apesar de (estranhamente, pensarão alguns) nele não haver uma única referência expressa ao “acordo ortográfico”, porque está redigido em Português europeu (o que não é de estranhar, já que se refere à União Europeia), porque denuncia com estrondo o falhanço do dito AO90 quanto à “projecção internacional da Língua Portuguesa” e, finalmente, porque muitos dos seus signatários e co-autores são anti-acordistas de sempre, é gente com provas dadas na luta contra o Aleijão Ortocoiso, são pessoas com “curriculum” (também) nesta Causa que é de todos.

Mas, essencialmente, a relevância deste escrito em forma de apelo reside no seguinte: se, como o AO90 pretendia, “garantir uma maior harmonização ortográfica” é uma gigantesca falácia, o que todos os dias – aqui mesmo e alhures – se comprova, já “reforçar o papel da língua portuguesa como língua de comunicação internacional” é, como demonstra este extraordinário documento, uma patranha de todo o tamanho.

 

publicoApelo ao PR em defesa da língua portuguesa na União Europeia

10/06/2015 – 04:15

Não podemos transigir com a diminuição e desvalorização da nossa Língua.

 

Senhor Presidente da República, Excelência,

O regime da União Europeia, como já acontecia na CEE a que aderimos em 1985, é o de que todos os cidadãos europeus têm o direito de se dirigir às instituições da União numa das línguas dos Tratados, devendo obter uma resposta na mesma língua.

Este é o regime consagrado de rigorosa paridade linguística, em que se funda a própria construção europeia, traduzindo o seu espírito democrático, base cidadã e união na diversidade.

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«Foi, pois, tendo presentes estes objectivos que se fixou o novo texto de unificação ortográfica, o qual representa uma versão menos forte do que as que foram conseguidas em 1945 e 1986. Mas ainda assim suficientemente forte para unificar ortograficamente cerca de 98% do vocabulário geral da língua.»
Acordo Ortográfico de 1990 – Nota Explicativa (Memória breve dos acordos ortográficos)
 

PE_dicIP_Brasil Esta notícia já aqui tinha sido antecipada, em Janeiro de 2014, mas só recentemente (15 de Abril) foram postos à venda na “Amazon” os dicionários da Porto Editora “em Português do Brasil“.Têm os brasileiros agora, portanto, os dicionários de Inglês-Português do Brasil e de Português do Brasil-Inglês à disposição.

Ora aí está o “português unificado” que o AO90 “garante”.

PE_dicPI_Brasil

 

Porto Editora – Novos dicionários Kindle para o Brasil

Posted on 09/06/2015 by Odete Silva

Dicionários Português-Inglês e Inglês-Português para o Brasil já disponíveis para compra online

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observador_logo

O bicho

Afonso Reis Cabral
9/6/2015, 8:07

Eu sei. Repudiar o bicho já cansa. Mas é preciso fazê-lo, sob pena de o bicho nos repudiar a nós. Neste momento cabe uma ressalva para que o retrato fique mais claro. Esquecia-me de esclarecer. Claro.

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Tudo se disse sobre o bicho. Todos bateram no bicho. O bicho foi ridicularizado, denunciado, acossado. Só não lhe espetaram uma faca porque não o encontraram sozinho num beco sem saída. Tornou-se um pária. Apesar disto, por incrível que pareça, não esquecendo os muitos defeitos e erros do bicho, precisamos de lhe gabar a resiliência: não só ainda não morreu, como se alojou bem impertinente na língua, um dos nossos locais mas íntimos. E aí vive como uma afta.

Nasceu já aleijadinho, resultado da soma de ideias erradas, ao estilo do monstro de Frankenstein (partes enjeitadas de corpos diferentes). Tinha tudo para correr mal, e de facto correu, ainda corre, e há-de correr.

Se fosse bicho de estimação – é-o apenas para uns quantos –, teria a desculpa da estima, descontando a parte do bicho. Acontece que, quando nos deparamos com ele, sentimos repulsa, não o queremos em casa. Preferimos mantê-lo distante, no máximo deitado à porta, como lembrança dos erros cometidos.

Talvez conseguíssemos adoptá-lo, ainda que seja repelente como um gato sem pêlo, se cumprisse a missão a que se propôs: unir a família. Mas a família nunca esteve desunida, mesmo usando grafias diferentes. Simplesmente trata-se disso mesmo, de uma família: entidades distintas partilhando o sangue à sua maneira.

Eu sei. Repudiar o bicho já cansa. Mas é preciso fazê-lo, sob pena de o bicho nos repudiar a nós. Neste momento cabe uma ressalva para que o retrato fique mais claro. Esquecia-me de esclarecer. Claro que «bicho» é a designação correcta para o malogro que dá pelo nome de Acordo Ortográfico.

Quero apenas realçar os traços da fisionomia do bicho que considero mais aberrantes.

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logotipojornaliLatim e grego

Pensava que a introdução opcional do Grego e do Latim no ensino básico era uma boa notícia em geral, mas esqueci-me de que estamos em campanha eleitoral.

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O ensino do latim e do grego vai ser opção disponível nas escolas a partir do ensino básico no próximo ano lectivo. Não se trata de uma imposição do Ministério da Educação nem de uma “reforma curricular”, mas de uma opção disponível nas escolas para os alunos. Não se trata de obrigar as escolas a ter uma disciplina de Introdução à Cultura e Língua Clássicas.

É um passo no sentido de voltar a incluir as línguas clássicas no currículo. Não forçar ninguém a aprender grego ou latim pode até ser o primeiro passo para reunir os alunos interessados e curiosos por uma cultura distante no tempo, mas que nos formou e da qual fazemos parte.

É inegável que o ensino do latim desde o 1.º ciclo é útil para uma melhor compreensão do português. Aprender latim pode, além do mais, suscitar dúvidas às crianças acerca da utilização e necessidade do acordo ortográfico. As boas notícias têm a virtude de se reproduzirem noutras excelentes probabilidades. Também o grego é útil na medida em que estimula o raciocínio. O grego é uma língua baseada na lógica, com declinações e palavras compostas pela união de dois ou mais vocábulos, como acontece no alemão.

Na verdade, saber latim e grego potencia um conhecimento mais aprofundado de outras línguas. Digo isto porque, depois de anos e anos de aprendizagem do alemão, só compreendi realmente a estrutura da língua quando aprendi grego. E compreender como funciona uma língua é útil para o conhecimento dessa língua, de outras línguas, e dá prazer. Um prazer que nos momentos felizes se resume à expressão grega “eureka!”, que significa “descobri!” ou “encontrei!”.

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intata«emerge do solo e pode ser sensível à luz) e por fim, uma plântula intata»
Colégio Vasco da Gama


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newlogo-allAngola e a Perspectiva de adoptar o Acordo Ortográfico

08.06.2015

Nota prévia: nada tenho contra a harmonização da escrita da língua portuguesa entre os diferentes países que a usam como sua língua oficial desde que as especificidades de cada cultura sejam ressalvadas e guardadas. Por isso, não tenho qualquer distinção contra o Acordo Ortográfico (AO), em si, mas não acredito nas bondades tão evidenciadas por certos linguistas quanto à sua total inserção impositiva nos fóruns nacionais e internacionais, sendo o contrário visto não como um arcaísmo, mas sim como um enorme erro, fortemente penalizado nos órgãos institucionais e de ensino.

por: Eugénio Costa Almeida©

Como já devem ter reparado, todas as minhas crónicas, ensaios, e outros tipos de obras são escritas, sempre – apesar de aceitar a tal harmonização linguística, leia-se o AO – escritas na versão antiga, aquela que nós ainda usamos e escrevemos.

Posto esta nota prévia, vamos ao que interessa. Recentemente, li um artigo no Jornal de Angola (versão online) que o AO está em desenvolvimento, “bem encaminhado”, segundo o título do artigo, com Moçambique a já ter aprovado, a nível de Conselho de Ministros a entrada em vigor do AO, aguardando a ratificação pelo Parlamento, e que Angola já está em discussão para a sua implementação.

Como disse no início, nada tenho contra o AO, mas há situações que se tornam insustentáveis com o AO, devido aos homónimos que se vão criar com evidentes lapsos semânticos e de sintaxe que os mesmos vão fomentar.

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correio-braziliense_logoPT ou BR

José Horta Manzano

Artigo publicado pelo Correio Braziliense em 6 jun 2015

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Dia 13 de maio, comemoramos a Lei Áurea, que pôs fim à escravidão oficial e entrou para a hagiologia nacional. Em Portugal, o 13 de maio celebra a Virgem de Fátima. Este ano, porém, um clamor quase empanou o fervor. É que, justamente nesse dia, entrou oficialmente em vigor, em terras lusas, a grafia determinada pelo Acordo Ortográfico alinhavado em 1990 pelos integrantes do clube lusófono.

No Brasil, a resistência ao AO90 foi pouca, não passou de protestos frouxos. O adiamento da entrada em vigor, programada agora para o fim deste ano, nem tinha razão de ser. Na prática, Inês é morta: a nova grafia já mandou a antiga às favas.

Mais do que pelo sol tropical, o brasileiro tem o couro curtido pelas lambadas que levou ao longo dos séculos. Revoluções, golpes de Estado, implantação e supressão súbita de leis, reviravoltas políticas repentinas e constantes, insegurança jurídica causam aflição crônica. Com paciência beneditina e resignação bovina, aprendemos a engolir pronunciamientos e a lidar com eles. Dançar conforme a música não é, entre nós, mera figura de estilo.

Calejados por sucessivas reformas ortográficas, não opusemos grande resistência a essa enésima modificação. O que mais nos incomoda é o pouco tempo que tem decorrido entre remodelações. Pessoas que, em 1990, tinham 55 anos ou mais viram-se obrigadas a aprender a escrever pela quarta vez! Alfabetizadas pela antiga grafia pseudoetimológica, já tinham sido forçadas a se adaptar à reforma de 1943 e à de 1971. A de 1990 amolava, sim, ainda que o desconforto não se tenha convertido em rebelião.

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maçã de Adão«uma cirurgia para suavizar a maçã de Adão»
revista “Flash – Vidas”


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