ILC contra o Acordo Ortográfico

(site original, 2010-2015)

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[transcrição]
Aquilo que realmente aqui importa ter em atenção é que o “acordo ortográfico” já vem dos anos 90, agora foi imposto definitivamente nas escolas  (os alunos que não escreverem segunda a nova regra, no fundo, passarão a estar a errar e portanto serão penalizados nos seus exames e nos seus testes por essa circunstância),  mas este “acordo ortográfico”, que pretendia unir todos os países de falantes de Português, na verdade só está em vigor em Portugal; quer dizer, não está no Brasil, onde não foi levado avante, não está em Angola e não está em Moçambique, para falar, no fundo, daqueles três países que aqui poderiam “contar”, do ponto de vista da população e da sua importância futura. E portanto, no fundo, isto não é um “acordo ortográfico, isto é uma “norma ortográfica” puramente para o continente europeu. Qual é o problema, aqui?  É que isto, basicamente, é uma língua política e é muito mau misturar política e Língua. Portanto, não compreendo como é que o Governo continua a insistir neste erro, que aliás já vem de vários governos anteriores, não sei o que é que se passa na “5 de Outubro“, de cada vez que chega lá um Ministro acaba por se deixar deslumbrar pelo “acordo ortográfico”,  mas o que eu acho que isto revela é que em vez de nós termos uma política da Língua temos uma Língua politizada e uma língua política. Repare: não tem sentido nenhum, o “acordo ortográfico”; ele retira-nos das nossas raízes, que são as raízes do Latim, em particular; afasta a Língua, hoje, de um conjunto de… para estrangeiros que estudam Português torna-se muito mais difícil porque nós estamos cada vez mais um pouco com a norma italiana, que é uma norma puramente ortográfica e que não tem a ver com as raízes das palavras, que nos permitiam identificá-las, no Inglês, no Francês, no Espanhol, ainda Rui Ramos recentemente chamou a atenção para isso,  e portanto temos esse problema. Há um outro aspecto que me parece que é lamentável também, aqui, que é o aspecto de, no fundo, nós sairmos cada vez mais da busca dos Clássicos, do Grego, do Latim, que seriam fundamentais para a aprendizagem das nossas crianças e que eu lamento imenso que estão completamente abandonados, nomeadamente o Latim – em Portugal – está numa situação que não tem paralelo nos outros países da Europa,  como Língua estrangeira (embora uma Língua morta mas fundamental para a compreensão do Português), e na verdade isto representa muitas outras coisas; eu lembro que, no início, este Governo, enfim, de que eu sou apoiante, como é sabido, chegou a pensar eliminar a segunda Língua, nomeadamente o Francês; quer dizer, o que é uma coisa que não tinha sentido absolutamente nenhum, portanto, a segunda Língua estrangeira, digo eu; portanto, eu acho que, sinceramente, nós temos neste momento, depois do exemplo que foi dado na semana passada, língua política a mais e política da Língua a menos.  E portanto eu pedia que, agora, que vamos entrar em período eleitoral, os Partidos pensassem bem numa política da Língua, que acabassem com este disparate que foi o “acordo ortográfico” e que pensassem [inaudível]  na política para segundas Línguas estrangeiras, para além do Inglês.  Acho que era fundamental que num país como Portugal, que é um país europeu, periférico, os nossos alunos têm capacidade multi-linguística; isso fará uma diferença enorme no futuro a favor deles. E portanto seria oportuno pensar no Português, pensar no Inglês e pensar nas restantes Línguas que nós temos de falar. Eu prefiro política da Língua a Línguas politizadas, a línguas políticas.
[/transcrição]

[Declarações de Paulo Rangel, deputado do Parlamento Europeu, no programa Conselho Superior (RDP – Antena 1) emitido em 18.05.15. ]

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logotipojornaliAna Markl
16/05/2015 08:00:00

Eu e a língua

Muitas pessoas acham que corrigir os outros é uma forma de humilhação.

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Sinto que, com esta história mal contada do novo acordo ortográfico, a Edite Estrela dentro de mim deixou de brilhar. Sempre fui uma defensora apaixonada da língua, protegi com a minha vida a gramática dos pontapés dos “haviam” e de outros inimigos. Muitas pessoas acham que corrigir os outros é uma forma de humilhação. Eu sempre achei que, desde que não houvesse cagança, era um acto de amor.

E agora vejo a ortografia virar-se contra mim desta maneira, como num twist de filme de super-heróis. E quem se revela um dos meus arqui-inimigos? Malaca Casteleiro, o meu professor de Sintaxe e Semântica do Português na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

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Mais dois “cartoons” de “Antero” publicados na sua página “Facetoons” (Facebook) em 18 e 19.05.15.

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Ver “posts” anteriores com desenhos do mesmo autor: 1 | 2 | 3 | 4

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Sobre a língua e o acordo ortográfico

Isabel Soares
18/5/2015
A língua está no âmago da cultura de um povo e não sabemos ao certo quais as consequências de manipular a língua de uma forma significativa, como está a ser feito.

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Pertenço ao grupo dos que assiste à alteração, ou melhor, à mutilação, da língua com grande desgosto. Sou uma simples leitora de alguns jornais, e tenho esporadicamente lido algumas notícias e artigos de opinião sobre o acordo ortográfico. A minha ligação a questões linguísticas é apenas a de um cidadão comum sem qualquer preparação específica sobre o assunto. A razão porque decidi escrever estas notas deve-se a que não li até agora nenhum artigo que aborde a questão da alteração da língua no que ela tem de essencial.

A língua não é um produto de um acto de vontade do ser humano. A língua é uma propriedade emergente de comunidades humanas que surge independentemente de qualquer actividade consciente dessas comunidades. Neste sentido, a língua é um fenómeno da natureza. A língua está ligada à mente humana, emerge dessa mente e molda-a de formas que provavelmente nunca conseguirão ser inteiramente compreendidas pelo ser humano. Isso implicava sermos capazes de nos auto-conhecermos completamente, de nos vermos completamente ao espelho, o que não parece ser possível. Como Kurt Gödel demonstrou, através do teorema da auto-referenciação, há limites ao conhecimento humano.

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[Imagem publicada em 18.05.15 no “mural” Facebook de Dora Leitão Xarepe.]

Nota: o “meme” original deste tipo de desenhos (“All The Things“) surgiu em 2010 e foi adoptado no Brasil com a designação “Quem Somos/O Que Queremos/Quando Queremos”. (Breve “história” aqui.)

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angop_logo17 Maio de 2015 | 06h29 – Actualizado em 17 Maio de 2015 | 06h29

Benguela: Investigador diz que implementação do acordo ortográfico merece moratória

Benguela – A implementação do acordo ortográficos de 1990 deve merecer alguma moratória, na medida em que o país necessita aumentar as suas infra-estruturas e colocar todas as crianças no sistema normal de ensino, disse Sábado, em Benguela, o investigador em ciências de educação e assessor do ministro da Educação, Filipe N’Zau.

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Filipe N’Zau teceu essas considerações durante a conferência sobre a posição de Angola face ao Acordo Ortográfico de 1990 (AO90) e seu impacto no contexto socio-económico, realizada em Benguela, no âmbito da V Feira Internacional que decorre nesta cidade de 13 a 17 deste mês.

O também coordenador adjunto da Comissão da posição de Angola face ao Acordo Ortográfico de 1990 disse que, uma das implicações da inserção desta nova forma de escrever e falar, implicaria a formação de professores e de alunos, isto é, do ponto de vista educativo.

Segundo o prelector do workshop, do ponto de vista económico o governo gastaria com isto mais de 600 milhões de dólares (60 triliões de kwanzas) para a reprodução de manuais escolares em todos os níveis de ensino, sendo do ensino primário ao superior.

“Pede-se ponderação, porque o país precisa aumentar o número de infra-estruturas para albergar as mais de 300 mil crianças que se encontram fora do sistema normal de ensino”, referiu.

Fez saber que, até mesmo em Portugal, o Acordo Ortográfico de 1990 também encontra prós e contras, por isso, outros aspectos a considerar são culturais, pois Angola possui várias línguas étnicas.

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Facet170515Facetoons posted this photo on 2015-05-17

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publicoIncongruências e obediências

O início dos exames traz consigo problemas novos e velhos, mais do que desafios e estímulos.

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Começaram os exames. De hoje até quinta-feira, 217 mil alunos farão provas nacionais de Português e Matemática (4.º e 6º. anos). E embora estas provas só pesem 30% na classificação final, há quem se queixe (professores e pais, sobretudo) do clima gerado pela pressão das provas.

É como se os alunos se focassem nos exames, preterindo a normal rota de aprendizagem que se lhes exigiria ao longo de todo o ano. Se passarem, respiram de alívio; se chumbarem, podem desistir ou entrar em depressão.

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O império ortográfico

O Acordo Ortográfico é, entre nós, a última manifestação de um paroquialismo colonial que se voltou contra si próprio: não podendo aportuguesar o Brasil, vamos abrasileirar Portugal.

O chamado “Acordo Ortográfico” tornou-se obrigatório esta semana – ou talvez não, pois que tudo nesta matéria é confuso. O Brasil ou Angola são, geralmente, as razões dadas para passarmos do acto ao ato. Mas o Brasil nunca mostrou demasiado entusiasmo ou pressa em partilhar uma mesma ortografia com Portugal – a nova grafia ainda nem sequer é obrigatória por lá. Quanto a Angola, continua a pensar. A parte portuguesa andou aqui à frente. Porquê?

Para perceber o Acordo Ortográfico, não basta recuar a 1990. É preciso, pelo menos, voltar a 1961. Nesse ano, o ditador Salazar, sem consultar o país, decidiu que Portugal desenvolvera com os povos extra-europeus sujeitos à administração portuguesa uma relação tão especial, que se justificava defender essa administração contra tudo e contra todos. Em 1974, a direcção revolucionária das forças armadas, também sem consultar o país, decidiu abdicar dessa administração e abandonar territórios e populações à ditadura e à guerra civil dos chamados “movimentos de libertação”. Não renunciou, porém, ao mito da relação especial. Essa relação teve uma novo avatar enquanto “solidariedade anti-imperialista”, quando uma parte do MFA também quis ser “movimento de libertação”, para depois, em democracia, se redefinir como “comunidade de língua”.

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