ILC contra o Acordo Ortográfico

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adoção adoptando

Esse Acordo Ortográfico foi votado por unanimidade, nesta Câmara, em 1991 — aliás, privilégio que o Bloco de Esquerda não teve porque não existia à época.

Luís Fazenda

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Neste preciso momento, estará a ser debatido, na Assembleia da República, um projecto de lei do Bloco de Esquerda sobre a eliminação da impossibilidade legal de adopção por casais do mesmo sexo. Na Exposição de Motivos, pode ler-se “debate promovido na sociedade e na Assembleia da República em torno do projeto [sic] de lei da co adoção [??]” e “o radicalismo da maioria de direita e as manobras que descambaram numa proposta infundada de referendo (…) visaram bloquear o processo legislativo em curso relativo à co adoção [??]”.

Isto é, quase dois anos depois da anómala ‘co-adoção’ – e apesar da coadoção –, o Bloco de Esquerda consegue matar dois coelhos de uma cajadada: conjuntamente com um projecto de lei sobre a eliminação da impossibilidade legal de adopção por casais do mesmo sexo, apresenta uma proposta de aditamento ao disposto no texto do Acordo Ortográfico de 1990.

Efectivamente, o deputado Luís Fazenda tinha razão: com estas ocorrências (‘co adoção’, ‘co-adoção’ e ‘coadoção’) ficamos “com três grafias”. É “absolutamente insustentável, não faz sentido nenhum, é de uma ilogicidade total”? A deputada Isabel Moreira pode escrever que “nada mudou desde o chumbo da co-adoção [?]“. Mudou para (muito) pior. Mas a culpa não é minha. É vossa. Assumam-na. E retractem-se. Com cê, sff.

Francisco Miguel Valada

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afetada

A SIC Notícias pergunta-nos: “A imagem de Portugal no estrangeiro ficou afetada[sic] depois do conhecimento público destes casos de justiça?”. Creio que a imagem de Portugal fica de facto bastante ‘afetada’ (ou mesmo *aftada), quando se percebe o estado actual da língua portuguesa escrita.

Se considerarmos padrões grafémicos afins – alfinetar → alfinetado(s)/a(s); fretar→ fretado(s)/a(s); decretar→ decretado(s)/a(s) – verificamos muito rapidamente que a presença da letra consonântica ‘c’, parte do grafema composto <EC>, em ‘afectar’ → afectado(s)/a(s); arquitectar → arquitectado(s)/a(s); detectar → detectado(s)/a(s), não serve para enfeitar determinadas palavras.

Admito que a presença de um ‘vêem’ num texto com ‘afetada’ e ‘direto’ apenas surpreenda quem leu, pelo menos uma vez na vida e com atenção, as 21 bases do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990. Também admito que a presença de um ‘vêem’ num texto com ‘afetada’ e ‘direto’ é muito mais subtil do que uma ‘reacção’ no título e ‘reação’ [sic] no corpo do texto, como acontece na chamada para esta intervenção de Luís Marques Mendes. As duas incongruências comprovam quer a falta de conhecimento acerca do preceituado no texto do AO90, quer o carácter inadequado da base IV do AO90 para a norma ortográfica do português europeu.

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