ILC contra o Acordo Ortográfico

(site original, 2010-2015)

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logobadge1Cumpre-nos esclarecer cabalmente uma questão que tem vindo a originar um sem-número de mal-entendidos e que tem, inclusivamente, vindo a ser utilizada para tentar denegrir esta iniciativa. Em Janeiro do ano passado, na primeira audiência do GT AO90, o Dr. Paulo Jorge Assunção, respondendo à pergunta da Senhora Deputada Rosa Arezes relativamente ao número de assinaturas já recolhidas pela nossa iniciativa, disse o seguinte:

“As assinaturas são muitas. Ocupam muito espaço, começa a ser difícil… Mas não as contámos. Estamos com a esperança de ter uma agradável surpresa quando as contarmos, a de exceder largamente aquilo que é necessário, mas sinceramente não as contámos ainda. Os caixotes vão-se somando.”

Como é sabido, e foi a opção tomada desde o primeiro momento e até agora pelos motivos já sobejamente explicados, esse número não é público. Não é verdade, contudo, que não seja conhecido pelos responsáveis pela iniciativa. As assinaturas vão sendo contadas, como é evidente, à medida que chegam. Nem se conceberia que fosse de outra forma. O Dr. Paulo Jorge Assunção, não querendo, certamente, ser indelicado para com a Senhora Deputada, optou por responder desta forma. É certo que as suas palavras transmitiram uma ideia que não corresponde à realidade. Tendo de improvisar, por vezes acontece (recordamos, de resto, que estava bastante adoentado nesse dia e foi só pela sua dedicação à Causa que fez o esforço de estar presente). Mas vimos, desta forma, e de uma vez por todas, desfazer esse engano. Compreendemos perfeitamente que as pessoas possam ter achado que essa resposta não foi adequada. Já não compreendemos tão bem é que essa questão tenha sido empolada para além do razoável, sobretudo por parte de pessoas que sabem perfeitamente que as assinaturas sempre foram contadas conforme nos vão chegando. Compreendemos também, evidentemente, a exasperação de todos aqueles que, como nós, gostariam que já tivesse sido atingido o número necessário de subscrições para a ILC poder ser entregue no Parlamento. Temos, contudo, alguma dificuldade em compreender que sejam propositada e sistematicamente lançadas dúvidas quanto à credibilidade desta iniciativa, nomeadamente por pessoas que dizem querer acabar com o AO90. Sugeríamos, portanto, que as energias gastas com este não-assunto fossem antes dirigidas ao combate contra o AO90. Seria infinitamente mais útil.

[A publicação deste “post”, redigido em Agosto de 2013, foi adiada até que houvesse resultados do GT AO. As únicas alterações  ao texto original consistiram na introdução do 1.º “link” da frase inicial e na referência ao mês de Janeiro.]

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armasRP

[audio: http://cedilha.net/ilcao/wp-content/uploads/2013/12/MS.mp3]

[transcrição]
Muito obrigado, Senhor Presidente. Senhor Coordenador e Senhores Professores, agradeço-lhes a exposição que aqui nos vieram trazer e, enfim, terem-se deslocado aqui a Portugal para darem nota dos trabalhos de que o Senado Federal os imbuiu.

Eu li a carta que o Presidente da Comissão, o Senador Cyro Miranda, nos enviou, e aliás tenho-me correspondido com ele entretanto, porque notei a criação deste grupo de trabalho e deixou aqui alguma… creio que a criação deste grupo de trabalho tem algum valor. Porque, de facto, eu não vou, não me vou pronunciar sobre as questões concretas que aqui aduziu sobre os problemas que ainda identifica na Língua Portuguesa e que quer tentar resolver com o vosso grupo de trabalho. Até porque algumas delas não se põem para quem fala Português de Portugal. A questão do trema para mim não existe porque nós aqui não a conhecíamos, não é? Eu pelo menos, nasci em ‘83, e não a, nunca a escrevi, portanto para mim é um não-problema. Mas compreendo, evidentemente, para quem está habituado a usar esse auxiliar gráfico, que ele é, ele pode significar um problema. Mas acho que politicamente, de facto, não tecnicamente, e se calhar esta conversa teria eu de ter com os vossos, com quem vos imbuiu, vos pediu isto, com os Senadores, não é?

Enfim, por interposta pessoa, politicamente, aquilo que os senhores aqui vêm dizer, ou o que o Senado Federal veio dizer, é que o acordo morreu de alguma maneira, eu apercebi-me também disso, assim o professor disse que isto não significa que se queira andar, que se queira matar o acordo, mas na verdade, quando o Senado Federal diz que cria um grupo de trabalho com o objectivo de simplificar e aperfeiçoar o complexo acordo, estou a citar a carta do Senador Cyro de Miranda, e que ao final do ano a intenção é propor um documento com sugestões ao texto já conhecido, quer dizer, e eu acho, eu compreendo isso, e até acho isso positivo, que o Senado do Brasil decidiu que o acordo não serve para aplicar no Brasil e que quer fazer outra coisa do acordo. E eu, eu devo-vos dizer, eu compreendo isso e acho que isso é positivo.

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Tendo surgido no Facebook a “notícia” de que o AO90 teria “morrido” e tendo-nos várias pessoas solicitado a confirmação dessa suposta “morte”, cumpre-nos esclarecer que a mesma não passa de pura (e irresponsável) especulação, não sendo sustentada por quaisquer factos conhecidos.

Lamentando a opção (de terceiros) pelo sensacionalismo, aqui fica o esclarecimento possível quanto a um “anúncio” com o qual não temos evidentemente nada a ver.

A luta continua!

logobadge1

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Bartoon_30Nov2013[“Bartoon“, de Luís Afonso. Jornal “Público“, 30.10.13]

 

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NP_27Out2013O Orçamento que por aí se discute tem, logo nas primeiras páginas, a indicação de que seguiu as normas do acordo ortográfico de 1990. Compreende-se. De outro modo, como é que a troika o leria? Corre-se então o documento de uma ponta à outra e lá estão os exemplos da “novidade”: a palavra “setor” aparece escrita 5 vezes, “setoriais” 4, “subsetor” 1 e “subsetores” 20. Mas, relendo outra vez do princípio, eis que lemos também “sector” (114 vezes), “sectores” (27), “sectorial” (10), “sectoriais” (110), “subsector” (50) e “subsectores” (25). Isto nos textos e até nos quadros, que usam, indiscriminadamente, as diferentes variantes. A que se deverá tal miscelânea, querem explicar? Deve-se, muito simplesmente, ao seguinte: o acordo recente, chamemos-lhe AO90, tem a particularidade de consagrar as duas ortografias para “sector”, de tal modo que até o Ciberdúvidas, quando se refere à palavra, escreve amiúde “sector/setor”. Um livreco que anda por aí diz até, de forma clara, “que cada escrevente deverá, pois, optar pela grafia que lhe parecer mais correta” (sic). Que lhe parecer, vejam bem! Como no Orçamento terá havido vários “escreventes”, vê-se que as suas opções penderam mais para a grafia do português europeu ainda em vigor. Significativo.

stock-illustration-12074155-music-writing-conceptJá cansa falar disto, francamente, mas para lá do simples problema ortográfico (e a admissão de duplas grafias é contrária à própria noção de ortografia) existe um óbvio problema fonético. A pseudo-reforma “unificadora” que nos vendem finge ignorar que a escrita não é apenas uma convenção mas, também, seguindo os códigos da fala (neste caso, da portuguesa), um guia para a leitura. Se a uma pauta de música para, por exemplo, uma sinfonia, tirarmos alguns dos sinais gráficos usados para guiar os músicos na sua execução, a pretexto de “simplificar” nas pautas a escrita musical, teremos sérios problemas no dia do concerto. A escrita musical também teve reformas ao longo da história, mas mexer num padrão estabilizado sem cuidar do resto era e é um sarilho.

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Barcelona inaugura site em português

É o nono idioma oficial da página do clube
A nova versão da página oficial do Barcelona na Internet

O Barcelona inaugurou nesta segunda-feira uma versão em português (do Brasil) do seu site na Internet, justificando a decisão com o facto de este ser o quinto idioma mais falado pelos adeptos do clube catalão.

“Normalmente, os sites brasileiros acabam em ‘.com.br’, mas o Barcelona escolhe os seus endereços pelos idiomas e não pelo país em questão. Por isso, apesar de o site ser totalmente voltado ao Brasil, o endereço será o seguinte: www.fcbarcelona.pt. Com o tempo o clube catalão procurará adaptar essa questão técnica ao mercado brasileiro e fará que o endereço tenha o final que normalmente é utilizado pela Internet local”, explica o clube catalão no site.

[Transcrição parcial do texto e imagem da notícia do Público, de 21.10.2013. Links e destaques adicionados por nós.]

Nota: os domínios “.pt” são (ou deveriam ser) exclusivamente portugueses: http://www.europeregistry.com/domains/domains_pt.htm?gclid=CNOIhMu1q7oCFQXHtAodnzwALA

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«A dissociação de sais pela solvatação em solução aquosa representa a separação entre cátions e ânions. O sal original pode ser recuperado pela evaporação do solvente ou pela cristalização em um resfriamento

 

CÁTIONS em vez de CATIÕES15494052-a-mad-scientist-is-excited-with-electricity

ÂNIONS em vez de ANIÕES

RESFRIAMENTO em vez de ARREFECIMENTO

http://saber.sapo.pt/wiki/Dissociação_(química)

 

[Recebido por e-mail, de Luís Ferreira]

[Imagem de 123RF]

 

Na página inicial do Projecto Sapo Saber, pode ler-se o seguinte:

SapoSaber_22Out2013

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breakthrough-keyholeSenadora diz que países devem reabrir debate sobre Acordo Ortográfico

A brasileira Ana Amélia Lemos defende mais diálogo entre as academias de língua portuguesa dos oito países lusófonos, além de consultas amplas a professores de português sobre a eficiência da reforma.

Mônica Villela Grayley, da Rádio ONU em Nova York.

Os países de língua portuguesa devem iniciar um debate sobre a eficiência do Acordo Ortográfico. A entrada em vigor em Portugal e no Brasil da tentativa de harmonização das ortografias brasileira e europeia está prevista agora para 1º de janeiro de 2016.

A proposta de diálogo foi feita pela senadora do Brasil, Ana Amélia Lemos. Ela é autora do projeto de lei que propôs que o país adiasse a entrada em vigor do Acordo de 2013 para 2016. O projeto deu origem ao decreto da presidente Dilma Rousseff, sancionado no fim do ano passado.

Ponto de Vista
Nesta entrevista à Rádio ONU, Ana Amélia Lemos defendeu a realização de consultas em todas as oito nações lusófonas sobre a validade da reforma ortográfica.

“Percebo que existe uma certa resistência bastante visível dos portugueses. Não só em Portugal, mas dos outros países de língua portuguesa em relação a esta questão. Então, eu penso que é preciso fazer um trabalho novamente de examinar, do ponto de vista diplomático, do ponto de vista da própria língua com a academia, com as universidades, com os professores da língua portuguesa não só no Brasil, mas nos outros países, para saber se de fato este acordo é válido, se deve ser feito e assim por diante. Então, acho que nós temos esse trabalho para fazer agora.”

Ratificaçãocracking-wall
Para a senadora brasileira, a falta de ratificação do tratado por pelo menos um país africano de língua portuguesa** demonstra que o Acordo Ortográfico, da forma como está, não é bem-sucedido.

Eu acho que ele (Acordo Ortográfico) fracassou por isso porque se esses países não assinaram ainda. Imagine, nós não temos outras formas de entender por que Angola não ratificou (o Congresso assinou, mas não ratificou), Portugal – o Congresso português está manifestando o desejo de haver um adiamento do Acordo também. Está claro que não há consenso em torno de uma matéria tão delicada. O que é a língua? É a identidade de um país. A identidade dos países de língua portuguesa.”

Cplp
Anunciado em 1990, o atual Acordo Ortográfico foi endossado por todos os oito membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, Cplp, que abriga as nações que falam o idioma. A decisão foi anunciada em 2008, durante a 7ª. Cimeira dos Chefes de Estado e Governo da Cplp, em Lisboa. Na mesma ocasião, o bloco aprovou a estratégia de “internacionalização” do português.
Um ano depois, o Brasil implementou a reforma ortográfica, de modo voluntário, o que foi seguido em parte por Portugal.

Segundo a Cplp, o Acordo Ortográfico tem como objetivo harmonizar as duas escritas do português: a brasileira e a europeia com o intuito de melhor promover a língua no mundo incluindo em organizações internacionais.

[Transcrição integral de artigo publicado no “site” da ONU em 18.10.13.]

“Click” em baixo para ouvir a gravação completa da reportagem e da entrevista da Rádio ONU.
[audio: http://downloads.unmultimedia.org/radio/pt/ltd/mp3/2013/1310189.mp3]

———————————-
* Ortografia brasileira, conforme original transcrito

** Nem Angola nem Moçambique ratificaram o 2.º Protocolo Modificativo.

[Imagens de 123RF e de Designblog]

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letter-zAnda muita gente por aí preocupada com os contratos swap e seus malefícios, coisa que se compreende, mas não se vê assim tanta gente interessada em saber dos contratos Smuop. E estes trouxeram, e trazem ainda, malefícios e dos grandes. O que são? São uma invenção bem nossa e podemos traduzi-los por Sugestões Mirabolantes para Unificar a Ortografia Portuguesa. Começaram com um acordo, gongoricamente anunciado, que iria (ó supremo benefício!) permitir edições únicas de livros que iriam circular alegremente por Portugal, Brasil e Áfricas. Pois bem: a Leya, que seria uma das beneficiadas com tal novidade, veio há dias queixar-se da falência desse pressuposto. Thais Marques, directora de marketing da editora, citada numa entrevista que supostamente foi dada à agência Lusa e que em Portugal foi estranhamente publicada com tiques abrasileirados (“desde sua entrada no mercado”, por exemplo, repetido duas vezes, quando em Portugal se escreveria e escreve ainda “desde a sua entrada no mercado”), é clara quanto a isto.

Cite-se a entrevista: “A facilidade do idioma comum, segundo a diretora [‘sic’], não pode ser apontada como um facilitador, já que muitas obras seguem passando [‘sic’] por um processo de “abrasileiramento” ou, ao contrário, quando se trata de obras brasileiras levadas a Portugal.” Não pode ser apontada como um facilitador? Mas o acordo não garantia que podia, senhores? Não garantia e assegurava, sem a mínima dúvida? Que se passou? Foi alguma coisa do tempo? Das nuvens? Dos temperos na cozinha? Houve aqui alguém que nos enganou…

Enquanto se espera que investiguem porque é que em Portugal e no Brasil se continua e continuará a escrever de maneiras diferentes (em Portugal a escrever mal, e cada vez pior, graças à misérrima sopa de letras inventada pelo iluminados da unificação) e, em consequência, a mandar abrir inquérito aos prejuízos dos contratos ‘Smuop’ (façam as contas, façam, e irão tremer com as conclusões), observemos algo do que nos rodeia nessa matéria.

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faceless_kelly-alexandreQue país sem rosto é este? Que destino colectivo estamos a fabricar? TUDO é vendável, transaccionável, privatizável, manipulável?!

Que povo somos nós, se o destino do Português – a língua que a nossa História forjou, que nos identifica, define e estrutura – nos é indiferente?!

E que povo somos nós, se assistimos sem revolta à invasão do nosso país pelo Acordo Ortográfico de 1990 (AO90), aceitando passivamente que ele avance, soberbo, como inimigo em território conquistado?!

E, perante esta situação, vamos, mais uma vez, participar em eleições em que os políticos ostensivamente continuam a ignorar este assunto, comportando-se como “donos” absolutos da língua de Portugal?!!! Alguém de entre os candidatos levantou publicamente a questão do AO90, mostrando ao menos prudência e consideração pelos cidadãos e pelo bem comum que devem respeitar? Leiam os folhetos da propaganda eleitoral para as autárquicas, visitem na Internet os sítios das diversas candidaturas: ainda não foram eleitos, mas “iluminados”, “progressistas”, “modernos” e “globais”, já [adutaram] o AO90!

De que estamos à espera para, de uma vez por todas, expulsarmos os vendilhões que nos querem negociar a língua, falsificando-a e roubando no peso – umas consoantes etimológicas por aqui, mais uns acentos, hífenes e maiúsculas por ali – à boa maneira nacional (os clientes nem se apercebem e dá muito dinheiro!…)?

«Com fúria e raiva acuso o demagogo
E o seu capitalismo das palavras

«Pois é preciso saber que a palavra é sagrada
Que de longe muito longe um povo a trouxe
E nela pôs sua alma confiada (…)»

(Sophia de Mello Breyner Andresen)

Leram? Entenderam? Ou a Cultura só funciona no horário de expediente?

Para concluir, recordemos as palavras cruas e realistas, afinal sempre actuais, de Jorge de Sena (in “A Portugal”):

« (…)
terra de escravos, cu pró ar ouvindo
ranger no nevoeiro a nau do Encoberto;
(…)
terra de monumentos em que o povo
assina a merda o seu anonimato; (…) »

Pior ainda é ser-se uma terra em que a classe dominante – política, intelectual, cultural, universitária – “assina a merda” a própria língua!

Maria José Abranches

[Transcrição de comentário da autoria de Maria José Abranches neste mesmo”site”.]
[Imagem: “faceless” de Kelly Alexandre (flickr)]

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