ILC contra o Acordo Ortográfico

(site original, 2010-2015)

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removing-blindfold_SevOneO Acordo Ortográfico de 1990 desperta paixões do lado dos defensores e do lado dos opositores.

Também por isso o CDS teve desde o início, e foi o único partido a fazê-lo, o cuidado de deixar para cada um dos seus deputados a avaliação política do Acordo o que resultou em duas intervenções em plenário na discussão sobre o terceiro [2.º P.M., n.d. ilc] protocolo modificativo: uma a defendê-lo, outro opondo-se-lhe. A votação dos deputados da bancada dividiu-se em consonância. Faz o relator por isso esta avaliação de forma pessoal e em completa liberdade.

É natural que este tema desperte ódios e paixões. De alguma maneira está em causa o que de mais básico nos define como povo e como nação. Mais do que quase 900 anos de pertença a um espaço físico comum é a nossa língua que nos une representando ela, aliás, o exacto somatório desses 900 anos de cultura. É ao aprender Português que nos tornamos parte desta comunidade. É ao escrever Português que, estejamos aonde estivermos, mandamos notícias para casa e nos afirmamos portugueses. Mas não só. O português foi plantado pelo mundo – para o bem e para o mal – pelos portugueses e é hoje falado em todos os continentes. E seria redutor dizer que ele não é, em todos os países em que é falado, diferente entre si e que portanto que cada comunidade fala e escreve o seu português influenciado pelas suas evoluções culturais. É aliás destas diferenças que nasce a ideia do Acordo Ortográfico.

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APAEMMAssociação de Pais do Agrupamento de Escolas Morgado Mateus

Exmo. Senhores,

Vimos pela presente comunicação dar conhecimento da nossa posição relativamente ao dito “ Acordo Ortográfico” com o que consideramos, que seja uma perda inigualável na nossa cultura linguística.

Achamos que a riqueza de uma língua, se mantém ao longo dos anos, com a qual enaltecemos todas as horas investidas na formação do nosso povo, para que hoje seja possível o factor comunicação em português de Portugal. Com esta alteração imposta, consideramos que todo povo, que teve infelizmente de procurar trabalho e melhores condições de vida, fora do pais, os nossos emigrantes, sejam obrigados a ser reensinados, de maneira a respeitar um acordo, que no nosso entender foi mal elaborado;

Consideramos que todas as imposições de perda de letras, retira e fere toda a nossa língua escrita, pois deixa de ser o que era pretendido, para ser algo simplista e sem modo;

Consideramos que a língua possa sofrer alterações pontuais ao longo dos anos, mas de uma forma natural, mas jamais, para ser parecida ou idêntica a algo que não tem uma matriz de origem;

Sendo a língua portuguesa, de Portugal, uma língua de origem da qual ramificaram outras,  consideramos  que  não  faz  sentido,  a  nossa  língua  mãe,  venha  a  sofrer alterações por forma de uniformizar-mos todas as ramificações, a que a mesma deu origem.

Como tal a nossa associação solicita a vossas exas o favor, que o acordo seja analisado de maneira a que não seja levado avante, pois o dever é respeitar e ensinar o que nos foi ensinado e não reeducar o que nos foi imposto.

O motivo da nossa demora no envio deveu-se ao “facto” de termos tido um problema com o nosso email electrónico. Como tal pedimos as nossas sinceras desculpas.

O nosso muito obrigado.

Melhores cumprimentos,
Justino Silva
Presidente

[Transcrição integral (e literal) da resposta da Associação de Pais do Agrupamento de Escolas Morgado Mateus a um pedido de informação da CECC (Comissão de Educação, Ciência e Cultura).]

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Ortografia significa a “grafia correcta, certa” que reproduza em todas as suas particularidades as características fonéticas e  morfológicas de uma língua. Ora nos países lusófonos e em muitos outros, tal é impossível, por haver variantes fonéticas, e muitas, morfológicas e até semânticas e vocabulares. Basta ler “Chiquinho” ou qualquer livro brasileiro, para vermos a irredutível impossibilidade de uniformização. Não é por acaso que países mais pragmáticos, como a Inglaterra, a França e mesmo a Espanha, com as inúmeras variedades de pronúncia e de vocábulos que, como colonizadores, deixaram pelo mundo fora, para verificarmos que apesar das diferenças, tentam conhecê-las, mas nunca uniformizá-las em tarefa impossível, até porque o orgulho nacional e político o impede, digamos mesmo, o proíbe, pois em nadas acrescentaria. R.M.Rosado Fernandes

[Transcrição integral (e literal) da resposta do Professor Rosado Fernandes a um pedido de informação da CECC (Comissão de Educação, Ciência e Cultura).]

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tabanusJá nestas crónicas se escreveu sobre isso, há três anos, mas como a coisa se mantém não é mau voltar a lembrar. Na edição de filmes em Blu-ray ainda se menciona “Brasileiro” como língua para legendas. Mas só na capa dos filmes, porque lá dentro, nos discos, vem claramente escrito Portuguese e Portuguese (Brazil) ou Brazilian Portuguese, tal como aliás sucede com o Espanhol, quando é subdividido em Castilian Spanish e Latin Spanish. O que leva então os portugueses a imprimirem capas com “Brasileiro” escrito? Enquanto não se descobre a razão de tal teimosia, comparem-se, por curiosidade, algumas legendas de um filme que muitos terão visto no cinema e agora já podem ver ou rever em casa: Lincoln, de Steven Spielberg.

Acertando as legendas para “Brasileiro”, Mary Todd Lincoln diz (aos 10m12s) ao marido: “Lembra que Robert [filho de ambos] vai estar aqui para a recepção? Sabia que ia esquecer.” Em Português, a tradução é assim: “Lembras-te que o Robert vem a casa para a receção? Eu sabia que ias esquecer-te.” Muda-se o tipo de tratamento, de “você” para “tu”, respeitando o uso de cada país, e a palavra “recepção”, que em Portugal se abastardou.

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NP_Rev2_02Jun2013Todos os pretextos são bons para falar dos irmãos Gershwin e este é tão bom como qualquer outro. Lembram-se da canção Let”s Call The Whole Thing Off? No filme Shall We Dance (Vamos Dançar?, 1937), coube a Fred Astaire e Ginger Rogers cantá-la, em dueto. Era (foneticamente) assim: “You say eether and I say eyether, You say neether and I say nyther (…), You like potato and I like potahto, You like tomato and I like tomahto (…) You say laughter and I say lawfter, You say after and I say awfter.” Ira Gershwin (o letrista, a música fê-la o irmão George) brincava com a pronúncia para colocar um casal em desavença: se um gosta de “putéitóu” e “tuméitóu” e outro de “putatu” e “tumatu” como haviam de se entender, hã? Enquanto pensam, experimentem ouvir a versão, também em dueto, que deste tema fizeram Ella Fitzgerald e Louis Armstrong. Absolutamente impagável.

Gershwin à parte, “divergências” destas também se encontram noutros ramos. Na política, por exemplo. Eça de Queirós, nas suas Farpas (que reuniu em 1890 num livro intitulado ‘Uma Campanha Alegre’, cuja leitura vivamente se aconselha), já notava “divergências” assim entre os partidos da monarquia constitucional. Uns defendiam as “liberdades públicas”, outros as “públicas liberdades”. Como haviam de se entender, nesse intransponível abismo? Muitas décadas depois, também os partidos da extrema-esquerda portuguesa se combateram como inimigos por defenderem coisas absolutamente inconciliáveis. Um queria Paz, Pão e Liberdade; outro Liberdade, Paz e Pão; e outro, finalmente, Pão, Liberdade e Paz. O preço destas “diferenças” era um ódio vertido em escaramuças constantes.

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[audio: http://cedilha.net/ilcao/wp-content/uploads/2013/05/MT_GTAO90_09Maio2013_II.mp3.mp3]

«Muito obrigado, senhor presidente. Eu gostava de cumprimentar a senhora presidente da Associação de Professores de Português e, através da senhora presidente, os órgãos sociais e os sócios da Associação. Registámos, e agradeço em primeiro lugar, os contributos que trouxe a este Grupo de Trabalho, importantíssimos, aliás, como todos os contributos que nos têm chegado, porque havia de facto uma falha na aplicação deste acordo, gostemos ou não gostemos dele: era a falta deste debate; a falta deste debate já é um ganho, pelo menos no Parlamento, evidentemente que nas instituições envolvidas directamente e que trabalham com a Língua e que trabalharam directamente com o acordo, terá havido o debate natural. Este Parlamento, na prática, alheou-se, desde 90 até ao terceiro [II] Protocolo Modificativo, portanto, o acordo foi sempre uma coisa muito pouco discutida e com muito pouca interacção com a comunidade, e portanto esta troca de opiniões é fundamental, eu julgo, para o órgão que é legislativo e que neste caso decretou por Resolução da Assembleia da República a alteração da ortografia portuguesa. Eu estou de acordo, aliás inteiramente de acordo que a língua, não a portuguesa, as línguas são instrumentos de comunicação vivos, estão sujeitos à evolução, não estagnam no tempo. A ortografia e não só, a sintaxe, o vocabulário, estão sujeitos a uma constante adaptação, já isso raramente ocorre por decreto. Mas, ainda assim, também não entendemos que a Assembleia da República não tenha condições para legislar sobre essa matéria; entendemos que tem, até tendo em conta a subscrição do Protocolo e tendo em conta o facto de ser vertido em Acordo.

Eu gostava de lhe dizer que simpatizo muito com a figura do Velho do Restelo, com essa complexa personagem, que é vilipendiada através duma utilização comum da figura, Velho do Restelo, para designar o conservadorismo, quando, na verdade, eu julgo que a personagem vai muito além disso e é uma personagem de uma riqueza absolutamente extraordinária na obra e que, em momento algum, vejo ser opositor à mudança. Vejo é ser uma voz que alerta para os perigos e para as ilusões. O que é bem diferente de ser opositor à mudança, aliás, o que o Velho do Restelo nos diz é que “Atenção, que vais embarcar para satisfazer a cobiça de outros e não aquilo que te prometem”. O que se veio, curiosamente, a comprovar, nomeadamente com os Descobrimentos e com tudo o que resultou dos Descobrimentos, o enriquecimento das classes dominantes à custa da fome, da miséria e da morte das classes dominadas, nuns e noutros povos, e à custa inclusivamente da chacina e da escravatura para os outros povos. Portanto é uma figura que eu julgo que não pode ser tão simplificada quanto um reaccionário, um conservador. E portanto eu, com algum orgulho me posiciono, perante a questão do acordo ortográfico, como um Velho do Restelo, não tenho nenhum problema em assumir, que a unificação da Língua poderá efectivamente trazer vantagens, mas que essas vantagens devem ser conseguidas minimizando os prejuízos que essa unificação também pode trazer. Eu julgo que devemos ser, nestas matérias, sem nenhum preconceito, uma aproximação da escrita desta natureza trará as suas vantagens, as suas desvantagens. A mim parece-me, por exemplo, uma desvantagem uma unificação sem objectivo. Quer dizer, porque, se nos dizem que o objectivo é unificar para que nos documentos internacionais se possa utilizar o Português, eu depois pergunto: “Muito bem, então na língua de trabalho na ONU…” – que é o principal argumento que nos dizem para unificar a língua, muita gente nos diz que não se consegue pôr o Português como língua de trabalho na ONU por causa das diferentes grafias, então eu pergunto – “Muito bem, então agora que temos uma grafia comum, qual será a sintaxe e a estrutura frásica utilizada nesses documentos? Será a portuguesa de Portugal, será a portuguesa do Brasil?”, porque elas mantêm as suas diferenças. Num documento da ONU em que se fale dum autocarro vem “autocarro” ou vem “ônibus”? Não é? Vem “montra” ou vem “vitrine”? Portanto, há diferenças ainda que subsistirão, apesar da grafia. Portanto, o grande pretexto da unificação não me responde a mim a esta questão. Num documento que utilize, um documento internacional ou um documento de trabalho, que utilize uma grafia comum, qual vai ser a sintaxe utilizada? O que temos vindo a testemunhar, infelizmente para a língua portuguesa, na minha opinião, e isto evidentemente está sujeito a crítica, é a da intrusão da sintaxe estranha à nossa. Ou seja, traduções de obras estrangeiras cuja editora, uma editora que vai traduzi-la para a comunidade falante, da língua portuguesa, vai pensar assim: “Então eu tenho uma estrutura frásica falada por 50 milhões, ou mais até, porque também há países africanos que usam uma estrutura frásica mais próxima da brasileira, tenho uma grafia comum, então eu vou fazer duas traduções, com a mesma grafia, uma para os portugueses e outra para os… Não vão fazer. Aliás, isso infelizmente nos livros científicos já sucedia há muito, e nas traduções de obras literárias começará a suceder, como já sucede, por exemplo, nos filmes. Nos filmes, em que a tradução feita já começa muitas vezes a surgir com estruturas frásicas que são alheias ao português, aliás nós ligamos a televisão, vemos as séries: muitas delas já trazem “você” em vez de “tu”, muitas delas já trazem os pronomes antes dos verbos e não depois dos verbos, enfim… um conjunto de alterações que se nota que já são feitas para satisfazer uma estrutura da língua que não é aquela que é típica de Portugal.

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NP_Rev2_19Mai2013
Isto de grafias tem muito que se lhe diga. Não passa apenas por ser a favor ou contra o acordo ortográfico (AO), é preciso saber escrever. Por exemplo: a RTP, a propósito de uma vaga de despedimentos na empresa Kemet, exibiu no ecrã esta legenda: “Trabalhadores em greve contra intensão de despedimento colectivo de 150 trabalhadores”; mais tarde, a legenda surgiu refeita: “Trabalhadores em greve contra intenção de despedimento coletivo de 150 trabalhadores.” Ora descubram lá as diferenças… e os erros.

A recente edição de mais um livro sobre o AO, Vogais e Consoantes Politicamente Incorrectas do Acordo Ortográfico’, assinado pelo jornalista Pedro Correia e em boa hora editado pela Guerra & Paz, é óptimo pretexto para voltar a um tema caro e que nos está a sair caro a todos, mesmo os que acham que não pagam nada para este “negócio”. Pedro Correia faz, no livro, uma resenha muito actual e essencialmente jornalística do processo que nos conduziu até aqui. As reformas do passado, as promessas dos paladinos da coisa, a ignorância e a avidez dos políticos. Se o acordo, entretanto inoculado em diversas instituições e nos nossos computadores como um vírus, servisse de facto para o que dele disseram, a língua portuguesa tinha à sua frente um futuro bem radioso. Sucede que não tem, bem pelo contrário. As “edições únicas que poderão entrar em vários mercados livreiros” (“isco” vendido nos Colóquios da Lusofonia com o alarido de uma revelação celestial) são uma mentira. Os editores, passada a onda das edições “divulgadoras” do AO, voltaram à estaca zero. Na ONU, o português não é ainda língua de trabalho nem se prevê que venha a ser (as seis línguas de trabalho na ONU, já agora, têm ‘todas’ entre 5 e 20 variantes ‘ortográficas’, não uma); em Fevereiro passado, o embaixador Seixas da Costa admitia que o português estava em risco de desaparecer como língua de trabalho na União Europeia; em 2011, Portugal perdeu a batalha do registo de patentes em português; em 2012, só muito a custo, e após uma campanha onde se destacou o deputado Ribeiro e Castro, foi possível manter o canal televisivo Euronews a emitir em português, ninguém sabe até quando; a 9 de Fevereiro deste ano, no PÚBLICO, o constitucionalista Jorge Miranda (como se sabe, um defensor do AO) clamava contra o perigo de, com cedências, ignorâncias e cada vez mais estrangeirismos em uso, estarmos a pôr em causa o direito à língua portuguesa; e finalmente o Brasil, com o pretexto de que os seus estudantes precisam de aprender outras línguas que não o português, cancelou as bolsas de estudo para Portugal.

A este panorama radioso, há que acrescentar o absoluto desnorte da escrita em Portugal, onde já “vigoram” várias “ortografias” a gosto do utilizador, com uns a tirar consoantes e outros a pô-las, cuidando que assim são pró ou contra o acordo. E com os “corretores” informáticos a fazerem o sinistro papel de imporem disparates mesmo contra a vontade de quem escreve. Pedro Correia, no seu livro, lembra (pág. 123) uma crónica escrita por Manuel António Pina, agastado com o “cavalo de Tróia” informático que se alojara no seu computador e que ele não conseguia desactivar. “Irrita-me saber que alguém vigia o modo como escrevo, pois, a seguir a isso, há-de vir também a vigilância sobre aquilo que escrevo.” Quantos escritores, jornalistas ou funcionários não se queixarão do mesmo? E o imbecil do “corretor”, além de impingir “fato” por “facto” (não tem coordenadas geográficas, coitado dele), já começou a emendar outras coisas. Ora tentem lá escrever UE, sigla da União Europeia, e vejam se ele não emenda automaticamente para EU…

Pois é. E enquanto nos querem pôr a escrever “protetor” é anunciado um serviço de telemóveis de uma das redes nacionais com o nome “Protect”. E um anúncio da Meo, recente, anunciava “outra vida”: “Mais cômoda. E mais económica” (ou seja, usava a grafia brasileira e a portuguesa europeia numa mesma linha). Querem pior? Há-de vir. Mas virá ao mesmo tempo que o português, renitente em reconhecer a diversidade já instalada no idioma e embevecido por uma “unidade” que jamais existirá, se for deformando até se tornar, de facto (com C), irreconhecível. Não é tarde para voltar atrás, apesar do caminho criminoso que se seguiu. É só preciso coragem. E alguma clarividência.

[Transcrição integral de texto, da autoria de Nuno Pachecopublicado na “Revista 2”, suplemento do jornal “PÚBLICO” de 19.05.13. “Links” adicionados por nós.]

 

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A Associação de Estudantes (AE) da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa (UNL) é também um local onde poderá subscrever a ILC pela revogação do Acordo Ortográfico. Como acontece com a maior parte dos nossos pontos de subscrição, a AE FCSH disponibiliza impressos de subscrição e recolhe as subscrições. Deste modo, poderá subscrever a ILC no local e entregar ali o impresso preenchido, na certeza de que ele chegará ao seu destino. O documento com a “exposição de motivos” da ILC está também disponível para consulta.

AEFCSH3Saudações especiais à Sr.ª Prof.ª Doutora Ana Isabel Buescu, que tomou a iniciativa de criar este importantíssimo ponto de recolha de subscrições da ILC, pela sua militância e empenho continuados nesta Causa que é de todos.

[Ver mapa de locais de subscrição.]

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NP-rev2_14Abr2013Quem for de Algés para Belém, há-de encontrar do seu lado direito um vistoso edifício com o seguinte dístico, em letras grandes e brancas a erguerem-se da relva: Champalimaud Centre for the Unknow. Pormenor: se este centro tivesse sido edificado, por exemplo, na América Latina, chamar-se-ia certamente, Center for the Unknow. Porque “center” é a grafia usada nos Estados Unidos, do outro lado do Atlântico, e “centre” a usada em Inglaterra, do lado de cá. Ninguém tem ou teve, jamais, o mínimo problema com isso e, como se vê por cá, até os não anglófonos escolhem a grafia que mais lhes convém – ou simplesmente a que mais lhes apetece.

Outro exemplo. Peguemos numa palavra simples, conhecida de todos e com a mesma grafia em várias línguas: Paris. Se pedirmos a um lisboeta que a leia, ele dirá: “Pârich”. Se fizermos a mesma experiência com um espanhol, dirá “Párís”. Um brasileiro lerá “Páriss”, um catalão “Párríss”, um alemão “Párriss” e um francês, parisiense ou não, dirá “Párrí”.

O que importa isto? Importa em dois sentidos. Primeiro, comprova (se ainda fosse preciso fazê-lo) que há divisões ortográficas naturais num mesmo idioma, derivadas da sua adopção por diferentes povos, que vão modelando a língua e criando novas variantes. Segundo, que uma mesma palavra é pronunciada de diferentes formas consoante os sistemas vocálicos existentes em cada país, distrito ou mesmo região. Paris não muda de grafia quando é pronunciada “Pârich” ou “Páriss”, embora noutros idiomas tenha assumido forma gráfica diversa. Os italianos, por exemplo, escrevem Parigi.

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Porquê a ILC AO90?

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TshirtFVistaPrintQuando me apercebi da salgalhada que o AO90 iria originar – mais concretamente, algures em Setembro de 2011, no dia em que vi uma respeitável colega “emendar” a palavra ‘bactéria’ por ‘batéria‘ e a palavra ‘secção’ por ‘seção‘, assegurando que era assim que passava a estar ‘correto‘ – comecei a suspeitar de que aquilo ainda ia ser pior do que eu pensava. Ao ver aquela pseudo-ortografia a alastrar por aí, impedindo-me de estar numa livraria em paz e sossego, ou sequer de ver televisão normalmente, comecei a procurar fazer algo mais (que não limitar-me a não aplicar o AO90) e considerei que a melhor coisa que podia fazer era divulgar o mais possível a ILC, pois era uma iniciativa que poderia realmente cortar o mal pela raiz.

Nessa altura, ainda não me tinha apercebido dos meandros que tinham tristemente levado ao início da aplicação do AO90, nem tinha percebido ainda, realmente, até que ponto o documento de base era fraco a todos os níveis. No entanto, e apesar disso tudo, considerei natural, e até expectável, que bastante gente defendesse uma ideia utópica (ou o respectivo “tacho”, conforme os casos 🙂  ).

Apesar do avanço aparentemente inexorável dessa aberração em que pretendem transformar a nossa língua, houve pessoas que – ao contrário de mim, que só acordei para o problema já esse comboio ia avançado na sua marcha – cedo perceberam o que ia acontecer e tudo fizeram para tentar impedi-lo. Nomeadamente as que constituem a ILC desde o seu início. Há três anos que oferecem voluntariamente o seu tempo, esforço e dedicação inabalável para combater o absurdo inútil do AO90 e eu só tenho pena de não ter começado a ajudar mais cedo.

Há também o extremo oposto, que, num mundo perfeito, não existiria. O de alguns que… enfim, resumindo, vão dando tiros à toa nos pés da própria Causa que tanto clamam defender e acham que quaisquer meios justificam os (seus) fins. É difícil compreender isto mas, bem vistas as coisas, num mundo perfeito também não existiria o AO90 😉

O que nos faz continuar a trabalhar de forma voluntária todos os dias e a prescindir do parco (quando não mesmo inexistente) tempo livre de cada um, apesar de todas as vicissitudes, é o facto de o que está em causa (a Língua Portuguesa) ser demasiado importante para desistirmos. É presenciarmos e partilharmos do pesadelo em que tanta gente vive por ver a sua língua atirada às urtigas e transformada numa coisa irreconhecível e ilógica. São os relatos que nos chegam e a esperança viva de todos quantos já se juntaram a nós. E a esperança, acima de tudo, de que o pesadelo possa terminar o quanto antes, seja lá por que via for.

O mínimo que podemos fazer é continuarmos a procurar dar o nosso melhor para esse fim.

A ILC faz hoje três anos. São três anos a lutar do lado certo, contra todas as dificuldades. Só tenho uma coisa a dizer, ou melhor, duas: parabéns e que o objectivo seja atingido muito em breve!!

Quer ajudar também? Subscreva a ILC AO90. Pode enviar a sua subscrição por correio electrónico ou pelo correio tradicional. Tenha, o mais possível, o cuidado de verificar se preencheu tudo correctamente, para a sua subscrição ser válida.

Quer ajudar mais um bocadinho? Divulgue a ILC por todos os meios ao seu alcance, junto de amigos, familiares e colegas. Muito obrigada! 🙂

Hermínia Castro

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