Mensageiro   WebMail  
 SAPO  ·  Homepages  ·  Mensageiro  ·  Desporto  ·  Música  ·  Shopping  ·  Notícias  ·  Jogos  ·  Forum  ·  E-Mail  ·
 
Temperatura
Lisboa  MIN  13º MAX  18º
Porto MIN  10º MAX  19º
12:23
Director Mário Bettencourt Resendes    Director Adjunto António Ribeiro Ferreira
Quinta Feira
28 de Março
de 2002
edição n.2279

 
HOME | NACIONAL | INTERNACIONAL | SOCIEDADE | CIÊNCIA | REGIONAL | DESPORTO | NEGÓCIOS | ARTE E MÉDIA | BOA VIDA | NET | TV RÁDIO | ÚLTIMA HORA | OPINIÃO
INTERNACIONAL
Mande este artigo
para alguém.

Salvar para ler depois
OUTRAS NOTÍCIAS
Liga Árabe: golpe de teatro em Beirute
Hamas semeia morte em hotel de Netanya
Cimeira: as ilusões perdidas sobre a união árabe
Capital libanesa disfarça feridas e reforça segurança
Zimbabwe: Ian Smith perde nacionalidade
MDC pressionado insiste em provar fraude eleitoral no Zimbabwe
Processo de Paz: UNITA aceita condições impostas por Luanda
Global Witness denuncia actos de corrupção
Mundo
Problemas com Timor são história

JOÃO PEDRO FONSECA


A diplomacia indonésia colocou debaixo do tapete os 24 anos de ocupação de Timor-Leste. "É história, faz parte do passado", diz o embaixador indonésio em Lisboa, Harry Haryono. A invasão, de 1975, foi resultado de "uma situação política internacional específica do momento". Porque a Indonésia "nunca reclamou Timor", afirma. Agora, o que interessa é o futuro



Há dois anos ninguém imaginava que as relações entre Indonésia, Timor e Portugal pudessem agora ser tão fraternas. Como explica essa evolução?

Os problemas que tivemos com Timor são história. Tudo mudou. Hoje preocupamo-nos em organizar seminários, encontros, realizações que aproximem os povos. Portugal ainda pensa muito nos 24 anos de ocupação indonésia. Mas já é passado.

Tem noção que, em Portugal, nesses 24 anos, as pessoas só recebiam más notícias dos indonésios...

Sim, percebemos isso. Queremos mudar essa percepção. A Indonésia também mudou e agora Timor vai ser um Estado independente. Timor esteve connosco durante 24 anos, somos o vizinho mais próximo, podemos fazer muito para ajudar a desenvolver o país, e por isso estamos satisfeitos com o caminho que está a ser seguido.

Ainda há pequenos problemas para resolver com a Indonésia...

Problemas sempre existem. Entre Estados e dentro deles.

Um deles, talvez o maior, é o dos refugiados, que, no entanto, teve uma importante evolução nos últimos meses. Como aconteceu?

Desde o início que defendíamos que a comunidade internacional deveria ajudar-nos a resolver este problema. Várias organizações apoiaram o regresso dos refugiados, mas nós nunca abandonámos esse esforço. Nunca quisemos forçar as pessoas a voltar a Timor. Demos sempre a possibilidade de ficarem, se assim o desejassem. Mas, nesse caso, esclarecemos que tínhamos de os deslocar para outras ilhas com melhores condições. Houve uma acção concertada que permitiu o regresso de cerca de 200 mil pessoas.

Mas ainda estão 40 mil?

Pretendemos resolver este problema de vez em breve. Não nos interessa ter aquela situação, e também não é justo que existam pessoas a viver em campos de refugiados. Não é forma de vida.

Ainda não sabe se a Presidente Megawati vai estar presente na cerimónia de independência em Timor dia 20 de Maio?

Esta pergunta já me foi colocada há seis meses, e eu tinha a mesma resposta que tenho hoje: se o convite for feito pelas Nações Unidas, tenho a certeza que a Presidente Megawati considerará essa possibilidade. A viagem de Jacarta a Timor não é longa...

Em sua opinião, o povo indonésio apreciará esse gesto ou pode criticar a Presidente?

Penso que pouca gente na Indonésia condenará esse acto ou o desenvolvimento das relações entre a Indonésia e Timor, ou Portugal. As pessoas estão convencidas de que tudo mudou e que é preciso ter uma visão de futuro.

Os indonésios perderam o interesse em Timor?

Claro, nós já temos problemas que nos cheguem no nosso país. Problemas económicos, integridade nacional, desemprego, tudo assuntos que interessam mais que Timor para os indonésios.

A realidade de hoje prova que Timor não deveria ser indonésio...

No princípio, a Indonésia não reclamava Timor-Leste. O que aconteceu prende-se com uma situação política internacional específica do momento. É história.

Situação complicada a da língua em Timor, o português, inglês, o bahasa...

Não penso que seja um problema para Timor. Aconteceu o mesmo na Indonésia. Eram muito poucas as pessoas que falavam holandês na independência.

Que pensa da decisão de ter uma língua oficial, o português, e duas línguas de trabalho, o indonésio e o inglês?

A decisão é deles. A realidade é que a maioria das pessoas falam o indonésio muito bem. Não falam bem o inglês e os novos não falam português.

VAI SER DIFÍCIL SUBSTITUIR DIPLOMATA ANA GOMES

Decorre em Jacarta julgamento de 18 personalidades envolvidas nos crimes contra direitos humanos em Timor-Leste em 1999. O ministro da Defesa assistiu às sessões. Analistas interpretam que é uma forma de pressão sobre os juízes. Qual é a sua interpretação?

Os analistas vêem sempre as coisas nesse sentido... Actualmente, na Indonésia, verifica-se um processo de democratização. Hoje, podemos dizer que os tribunais são um poder independente. Um poder diferente do parlamento, do Governo. Sem interferência.

Repito a pergunta. Como interpreta a presença do ministro nas sessões?

Todos os tribunais estão abertos ao público. Qualquer pessoa pode entrar e assistir...

Um ministro a assistir a um julgamento não é vulgar. O seu gesto tem um significado político ou não?

Qualquer pessoa pode entrar no tribunal e mostrar a sua solidariedade, o seu apoio. Nada disto influencia a decisão dos juízes. Que podem fazer os generais ao tribunal? Nada!

No contexto de um processo de democratização, é importante para a imagem da Indonésia na cena internacional que este seja um julgamento justo?

É muito importante que seja um julgamento justo. Um julgamento que não seja credível não é bom para ninguém. É importante que se perceba que deve haver um sentido de compreensão, a capacidade de perdoar o outro. O ser humano comete erros, e podemos perdoar. Isso não significa que não haja um julgamento justo. Cometeram-se muitos erros. Até Portugal os cometeu.

Ainda sobre justiça. Na Indonésia está na actualidade política o problema da corrupção. Nestes julgamentos está em causa a reputação da Indonésia?

Tentamos que seja feita justiça. Não é fácil este processo, mas pelo menos temos a vontade, e fazemos todos os esforços para que a situação melhore.

Entre o regime de Suharto, e o Governo actual, decorreu um processo de democratização. Como diria que é a situação hoje, há uma democracia plena, ainda se está no início do caminho?

Diria que ainda estamos a meio do processo. Mas a nossa democracia deve ser vista de uma forma diferente do conceito que se entende nos países ocidentais. Nós temos as nossas particularidades, cultura diferente, outras formas de pensar. Teremos a nossa própria democracia. O importante é que estamos já a percorrer esse caminho. Temos um parlamento com plenos poderes. No passado o parlamento não tinha poderes. Estamos a desenvolver relações mais equilibradas com as várias regiões, ao nível da distribuição dos recursos.

Os movimentos independentistas, como em Aceh, refrearam as suas reivindicações com este novo processo de democratização?

Tudo isso acalmou com as novas políticas. Agora estamos concentrados noutras questões, nomeadamente as económicas, se bem que já há sinais de retoma na economia indonésia. Em 1997 batemos no fundo, com uma inflação altíssima e a moeda desvalorizada. Hoje podemos dizer que já não há fome no nosso país.

Quantos indonésios há em Portugal?

Somos muito poucos. Tirando o pessoal da embaixada e seus familiares, há alguns indonésios casados com cidadãos estrangeiros que vivem em Portugal. Somos talvez 40 pessoas. É muito pouco. Mas na Indonésia há muitos portugueses, conheço alguns muito bem colocados em grandes empresas.

Embaixadora em Jacarta, Ana Gomes, deve abandonar o cargo este ano. Quer comentar?

O que posso dizer é que vai ser muito difícil para o Governo português encontrar uma pessoa com a capacidade da embaixadora Ana Gomes. É uma pessoa com responsabilidades muito importantes em muitos dos progressos verificados na evolução das relações entre Portugal e a Indonésia e nas matérias que dizem respeito a Timor-Leste.




 A Cara da Notícia

HOME | NACIONAL | INTERNACIONAL | SOCIEDADE | CIÊNCIA | REGIONAL | DESPORTO | NEGÓCIOS | ARTE E MÉDIA | BOA VIDA | NET | TV RÁDIO | ÚLTIMA HORA | OPINIÃO