Operação Timor

Quanto à questão mais geral do activismo, Ricardo Silva e Francisco Godinho têm opiniões semelhantes, muito embora tenham fornecido perspectivas diversas. Ambos concordam que a mais bem sucedida de todas as acções, ao nível do activismo online, foi a mailing-list cujo objectivo era a realização de um cordão humano por Timor.

Francisco Godinho lamenta porém o facto dessa iniciativa ter "descambado logo ao fim de dois ou três meses", degenerando na melhor das hipóteses na adopção de outras causas pelos subscritores que "não eram capazes de actualizar um website, enfim... de fazer um mínimo de trabalho".

"Isto acontece no mundo real. E na Internet ainda é mais fácil ignorar os apelos porque as pessoas não se confrontam", desabafa Francisco Godinho. Uma das mailing-lists de Timor (eram duas), recebeu 200 a 300 adesões no primeiro dia, atingindo 400 a 500 adesões num mês.

"Ao fim do segundo mês tornou a descer drasticamente para 200 subscritores", conclui Godinho. "Quando verifiquei esses 200 subscritores (interrompi a mailing-lists para ver quantas reclamações me chegavam), das 200 pessoas inscritas restavam cerca de 80, os outros 120 eram contas de email já inactivas".

Para Francisco Godinho o activismo online requer "pessoas com algum espírito de voluntariado". Não basta encontrar pessoas que pensam que "enviar um email é uma arma espectacular" e "vão a todas".

"Não é difícil construir um site e colocá-lo online. Difícil é a parte que diz respeito à actualização e à sua dinamização", confirma Ricardo Silva que, pela diversidade das iniciativas apresentadas através do Guia serem muito diversas, considera que "o Guia do Activismo era tipo um SAPO para a área do activismo online".

"Lançar uma iniciativa é como lançar um produto no mercado. É necessário vendê-lo, contactar a Comunicação Social e - ao contrário do que muitas pessoas pensam - dar a cara, mesmo na Internet. Face aos Hoaxes (logros), por exemplo, é cada vez mais necessário passar uma imagem de credibilidade da iniciativa e dos próprios organizadores, uma vez que as pessoas andam muito desconfiadas dos emails 'apelativos' que surgem nas suas caixas de correio electrónico"

Como Francisco Godinho, Ricardo Silva retira-se com a sensação de dever cumprido. "Pela quantidade e diversidade de iniciativas listadas no Guia do Activismo as pessoas ficaram a saber que podem utilizar a Internet para protestarem ou conjugarem esforços por determinada causa".

Patrícia Calé e Carlos Coelho

Publicado em tek.sapo.pt, no dia 28.01.01. Autori "Casa dos Bits". Cópia autorizada; ver correspondência de Fevereiro 2002.


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João Pedro Graça

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