original publicado em http://terravista.pt/Guincho/7933/garcia1.htm; a reprodução em timor.no.sapo.pt foi autorizada pelo autor (ver Correio 08.01, nº83)

TIMOR LOROSA´E – UM ENSAIO (1)

Capitão Miguel Garcia 

   

 

RESUMO

Neste ensaio procuramos traçar um quadro genérico de Timor Lorosa´e, desde a sua localização geográfica, aos seus recursos, passando depois para uma breve análise histórica desde a chegada do Poder português à invasão da Indonésia. Posteriormente elaboramos uma breve análise cultural dos povos de Timor e da criação de uma identidade timorense. Estas análises, pensamos, levam-nos a uma melhor compreensão da situação social e política actual de Timor. Por fim, abordamos a presença militar portuguesa no território.

Índice

1. Enquadramento Geográfico

2. Análise Histórica

3. Povos e Cultura

4. Situação actual

5. A Peace Keeping Force

   

Nota prévia  

Não é usual um autor desculpar-se na apresentação de um ensaio das fraquezas do mesmo; porém, as dificuldades de fontes disponíveis no terreno obrigaram-nos muitas vezes a recorrer apenas à observação, ao relembrar de algum estudo prévio, ao consultar de alguns apontamentos emprestados, às conversas com os bons amigos jesuítas, alguns Liurais, o vendedor do mercado, o polícia, entre outros. Por isso as minhas humildes desculpas por eventuais erros ou imprecisões.

Agradeço com saudade à Beta e à Catarina pelos momentos ausentes e pelo apoio constante. Não posso deixar de agradecer a todos aqueles que me apoiaram de e em Portugal, aos Camaradas do Sector e do Batalhão português, pelo presença e ao Exército, pela oportunidade da missão em Timor Lorosa´e.

 

Introdução  

Um ensaio sobre Timor Lorosa´e impunha-se, não só pela actualidade do tema e pelo envolvimento de Portugal, mas sobretudo para poder "ajudar a uma compreensão do que é Timor”, para quem se desloca ao território em missão, para curiosos ou para os meus alunos da Academia Militar.

Este pequeno ensaio está dividido em cinco partes distintas mas que acabam por estar interrelacionadas. Com ele pensamos traçar um quadro genérico de Timor, onde fica, quais os seus recursos, passando depois para uma breve análise histórica desde a chegada dos portugueses até à instalação de um protectorado das Nações Unidas no território, passando ainda pela ocupação da Indonésia.

Para uma melhor compreensão dos problemas do território pensámos ser útil fazermos uma abordagem à parte cultural, de quais os povos, as suas tradições, a sua religiosidade tradicional, o processo de aculturação do catolicismo e a criação de uma identidade timorense. Estas análises, pensamos, levam-nos a uma melhor compreensão da situação social e política actual do território.

Por último, abordamos as enriquecedoras experiências no Quartel General do Comando do Sector Central e nos contactos estabelecidos localmente.

 

1. Enquadramento Geográfico  

Situada na vasta zona da Insulíndia, a ilha de Timor, com um comprimento de cerca de 470 quilómetros e 100 quilómetros de largura compreende uma superfície total de 32300 quilómetros quadrados, está situada entre 123º 25´ / 127º 19´de longitude Leste e 18º 17/´10º 22´de longitude Sul.

A Sul liga-se à Austrália através do mar de Timor, a noroeste, pelo mar de Savu distancia-se das ilhas de Sumba, Flores e Sabor, e está separada da ilha de Weter, pelo mar do mesmo nome.

Timor Lorosa´e ocupa na parte oriental da ilha  uma extensão de 14.924 km2, o enclave de Oé-cussi/Ambeno com 812 km2, a ilha de Ataúro, com 141 km2, e o ilhéu de Jaco com 13 km2.

O Clima é tropical, com duas estações, uma das chuvas, de Novembro a Abril, e uma seca, de Junho a Setembro. Os meses de Maio e Outubro são meses de transição. Na parte Sul e Leste da ilha, a estação das chuvas dura de Dezembro a Abril, a estação seca em Maio, ocorrendo chuvas frequentes de Junho a Agosto. Apesar deste quadro genérico, o clima é muito variado de região para região. O litoral é quente e húmido, oscilando as temperaturas médias e máximas entre os 19º e os 31ºc. Na região central  (Maubisse e Hatobuilico) o clima é mais frio, de alta montanha, chegando a ter mínimos de 4ºc. A nebulosidade média é mais intensa de Novembro a Maio e diariamente, após o meio-dia. A humidade relativa do ar oscila entre os 70% e os 90%.

O relevo é bastante vigoroso, tendo por espinha dorsal a cadeia montanhosa do Ramelau, com numerosas ramificações para Norte e para Sul. Na Costa norte, onde o declive é mais acentuado, as ramificações da cordilheira central prolongam-se, por vezes, até ao mar; na costa sul os contrafortes esbatem-se ao longo do mar, formando assim uma faixa litoral plana, constituída por formações aluviais planas. Na região oriental encontra-se o Pico mais alto, o Tat Mai Lau, com 2963 metros de altitude. À medida que caminhamos para Leste, o relevo suaviza, dando lugar a superfícies planálticas, de onde  por vezes emergem elevações de vertentes escarpadas. Dos planaltos os mais importantes são os de Baucau e Fuiloro, na parte leste da ilha.

A cadeia montanhosa central serve de linha de festo e nela nascem praticamente todos os cursos de água de Timor. A principal bacia hidrográfica do território é a ribeira de Lois, resultante da junção de três outras ribeiras, a Be-Bai, a Morôbo, e a Lau-li continuada pela ribeira de Gleno. A sua foz encontra-se a 20 quilómetros a sudoeste de Maubara. A ribeira com maior extenção é contudo a Lacló (cerca de 80 quilómetros), com a foz a Manatuto. No território encontramos ainda algumas lagoas, destacando-se a Surobec, na ponta leste da ilha. Na foz de algumas ribeiras (nomeadamente na costa sul), como regiões susceptíveis de cheias, por vezes formam-se pântanos.

A divisão administrativa do território assenta em 13 Distritos (Kabupaten em bahasa Indonésio), incluindo o enclave de Oé-Cussi/Ambeno. Os Distritos estão divididos em 62 sub-distritos (Kecamatan em bahasa Indonésio), que por sua vez estão repartidos por 464 Sucos (Desa em bahasa Indonésio), que ou consistem num agrupamento de aldeias ou em bairros citadinos.

Ao nível das infra-estruturas, Timor possui 9 áreas portuárias (Dili, Hera, Karabela, Batugade, Suai, Beaco, Com, Pante Macassar), das quais se destaca a de Dili; 6 aeroportos (Dili, Baucau, Maliana, Suai, Los Palos e Oé-Cussi), sendo Baucau o único com capacidade para aviões de grande porte, e o de Dili, mais pequeno, mas com estatuto de aeroporto internacional; os restantes, são basicamente aeródromos. A rede viária, longitudinal e transversal a todo o território, foi sujeita a grande degradação, quer pelo efeitos das condições climatéricas, quer pela falta de manutenção, pelo que  a circulação rodoviária faz-se com dificuldade (com algumas excepções), sendo a distância medida em tempo e não em quilómetros.

Ao nível económico, Timor depende ainda de uma agricultura praticamente de subsistência. Produz-se café, arroz, batata, batata doce, milho e borracha. A riqueza deste sector provém ainda da pecuária, com os seus búfalos de água e os porcos; há ainda imensas aves de capoeira, nomeadamente galos, espalhados por todo o território. De notar que a grande maioria dos animais domésticos  são de pequeno porte e criados em regime de liberdade.

No sector secundário já estiveram em funcionamento uma unidade de produção de óleos vegetais, outra de sisal e algumas unidades de secagem de peixe. Ao nível do artesanato, assinala-se a tecelagem dos famosos taes, a cestaria, os adereços de prata e alguma estatuária.

O sector terciário desperta agora, nomeadamente pela mão de estrangeiros. São inúmeros os restaurantes, alguns bares, e hotéis. Os transportes são assegurados pelos inúmeros e privados pequenos autocarros e táxis.

Em Timor existe ainda gás natural e mármore em Manatuto, petróleo em Suai, Manganésio em Vemasi e Loi Lubo, ouro em Lacio e Elena e os futuros proventos do Timor Gap, com a exploração dos Hidrocarbonetos, constituirão certamente uma contribuição significativa para a evolução económica do novo país[1].

 

2. Breve análise histórica  

Portugal em 1494 assina o Tratado de Tordesilhas; quatro anos mais tarde, descobriu-se o caminho marítimo para a Índia e em 1500 foi oficializada a descoberta do Brasil, ficando aberta uma via marítima  para todo o hemisfério, das Terras de Santa Cruz até às Molucas. Graças aos novos descobrimentos e às novas navegações, os portugueses abriam novos mundos ao mundo, este ampliara-se espantosamente.

A acção de corso e a actuação dos calvinistas no Brasil, forçam D. João III a reflectir e a assumir  um conceito estratégico, que se traduziu na intenção de abandonar o Norte de África, de manter o possível no Oriente e exercer o esforço no Brasil (1548-1822).

A partir da conquista de Malaca pelos portugueses (1511), o caminho para as ilhas Molucas e outras zonas de especiarias ficaram acessíveis à causa lusa. Foi a procura do sândalo que conduziu ao primeiro contacto português com a ilha de Timor (1514). A soberania portuguesa sobre as ilhas de Solor e Timor, tal como noutras paragens, seria disputada durante os séculos seguintes com holandeses, espanhóis e ingleses.

Antes da chegada dos portugueses, Timor encontrava-se dividido em diversos "reinos" que se encontravam agrupados e sob influência dominadora de dois grandes Liurais (autoridade tradicional). Dezasseis "reinos" da denominada província de Servião (hoje Timor Ocidental), aceitavam a supremacia do régulo de Senobai, enquanto que 46 "reinos" da chamada província dos Belos (a que corresponde Timor Oriental acrescido do reino de Atambua hoje indonésio), reconheciam o predomínio do régulo de Behale.

Os "reinos" abrangiam diversos sucos chefiados por um chefe. Os sucos incluíam algumas povoações ou aldeias, designadas por leo, lissa ou ili, conforme o dialecto. Tanto os Liurais como os chefes de suco e mesmo alguns chefes de povoação eram datós (príncipes), e formavam a classe da nobreza e recebiam do povo o rai-ten (imposto da terra)[2]. Era tipicamente um regime feudal.

O enraizamento da presença lusa inicia-se com a missionação do franciscano António Taveira, em 1556, na ilha de Solor. Esta ilha foi a grande base da actividade missionária na região; a partir dela irradiou para as ilhas das Flores, Savu, Adunara e Timor. Em 1646 os portugueses edificam em Cupão (Kupang) uma fortaleza. Através da actuação dos missionários dominicanos, diversos Liurais (régulos) convertidos ao cristianismo iam-se colocando sob a alçada do Poder português. O forte de Cupão foi conquistado pelos holandeses em 1652, o que implicou a passagem dos portugueses para Lifau, no actual enclave de Oé-Cussi/Ambeno em 1670. Os holandeses, apesar de protestantes, "(...) não empreenderam propriamente um conflito religioso, mas uma guerra económica, que trouxe, como é lógico, implicações de natureza religiosa (...)"[3].

O primeiro e segundo governadores nomeados pela Coroa não conseguiram assumir funções  devido à actuação de António Hornay e Domingos da Costa, tendo apenas o terceiro governador oficial (António Coelho Guerreiro), em 1701, tomado posse em Oé-Cussi. Este governador procurou o entendimento com os Holandeses e iniciou a organização do território, integrando os Liurais na estrutura administrativa. De entre estas autoridades tradicionais também se passou a escolher os capitães-mores das províncias do Servião e dos Belos.

Diversas rebeliões e sublevações contra a Administração portuguesa ocorreram na primeira metade do século XVIII. Estas eram por norma instigadas pelos holandeses, sendo a revolta mais conhecida a de Cailaco em 1726. Neste período o comércio de sândalo conhecia o seu apogeu, sendo praticamente todo escoado para Macau, de quem Timor passara a depender, logo após a queda de Malaca (1641).

O Holandeses, a partir de Cupão avançavam para Leste, sendo detidos nos reinos de Oé-cussi e de Ambeno, que passaram a constituir um enclave no meio do território holandês, e em Atapupo, ocupado por estes em 1818.

A divisão da ilha de Timor entre Portugal e a Holanda foi feita pelo Tratado de 20 de Abril de 1859, porém apenas executado em 1861. Este Tratado atribuiu a Portugal a região dos reinos dos Belos (Timor Oriental), cabendo à Holanda a região chamada de Servião (Timor Ocidental).

Por convénio entre a Holanda e Portugal, a 10 de Junho de 1893, efectuam uma revisão das fronteiras, facto que só veio a acontecer em 1902, em Haia. A 1 de Outubro de 1904, através da ratificação da Convenção luso-holandesa, Portugal troca o reino de Maucatar pelo reino de Naimuti, definindo-se a linha de fronteira por acidentes naturais do terreno.

A administração indirecta do território conduziu a uma reduzida ocupação efectiva da ilha de Timor. Ao longo de todo o século XVIII limitava-se a algumas localidades costeiras, Lifau, Batugadé, Manatuto e Dili; esta, fundada em 1668, viria a ser capital a partir de 1769. Os Liurais governavam então livremente os seus territórios.

A afirmação da soberania portuguesa sobre a totalidade do actual território só foi possível em finais do século XIX, início do século XX, através dos Tratados em 1859 e 1893 com a Holanda e durante o governo do Major José Celestino da Silva (1894-1908), que instalou o regime de administração directa. Assim, podemos considerar que desde meados do século XVII até pelo menos meados do séc. XIX (altura em que foi criado o primeiro esboço de administração colonial no interior), Timor foi um mais um protectorado português do que uma colónia[4]. Contudo, a aceitação da soberania não foi pacífica, por vezes havia conflitos entre as forças dos reinos fiéis e a dos reinos sublevados. A defesa do território era assegurada não por militares metropolitanos, mas pelos arraiais de tropas levantados pelos Liurais. Foi o Governador António Coelho Guerreiro (1702/1705) quem atribuiu postos de Coronel aos Liurais, de Major aos chefes de suco e de Capitão aos chefes de aldeia; mesmo as chamadas campanha de pacificação foram efectuadas com tropas maioritariamente locais[5].

A instabilidade provocada com a implantação de república é aproveitada pelos holandeses para incentivarem uma nova revolta, desta vez em Manufahi, e questionar a delimitação das fronteiras (1911-1913). Os limites terrestres acabaram por ficar definidos por sentença arbitral a 25 de Junho de 1914.

A partir daqui inicia-se um período de estabilidade apenas perturbada em 17 de Dezembro de 1941, quando numa tentativa de criar uma “zona tampão”, em total desrespeito pela neutralidade e pela soberania portuguesa, australianos e holandeses desembarcam em Timor Leste. A condição para a sua retirada era a chegada do contingente militar que viria de Moçambique, contingente que partiu de Lourenço Marques a 26 de Janeiro de 1942, mas que acabou por ser desviado para o Estado da Índia, pois em 19 Fevereiro de 1942, véspera da data inicialmente prevista para o desembarque português, após intenso bombardeamento, os japoneses ocupam o território. O Governo de Salazar, aquando das negociações da base das Lages com os americanos, impôs como condição a ajuda americana na libertação do território. Com o fim da guerra a ilha é colocada sob controlo administrativo da Austrália, que devolve os poderes à Holanda e a Portugal.

Na sequência da Conferência de Bandung, os ideais independentistas surgem em todos os territórios portugueses no Continente africano. Em 1961, em Angola inicia-se uma guerra subversiva que alastra à Guiné (1963) e a Moçambique (1964), desgastando o Poder português.  Todavia, no território insular de Timor nunca se registaram actividades de movimentos independentistas. Estes surgiram apenas na sequência do golpe militar ocorrido a 25 de Abril de 1974 e que alterou a situação política em Portugal. Contudo, a admissão de que a solução das guerras no ultramar era política e não militar não foi imediata. A proclamação oficial do princípio da autodeterminação só surgiu após a aprovação por unanimidade pelo Conselho de Estado, da Lei N.º 7/74, de 27 de Julho, que esclarecia o alcance do N.º 8 do capítulo B do Programa do Movimento das Forças Armadas Portuguesas[6].

Em Timor os partidos e organizações políticas proliferaram. Surgiram a União Democrática Timorense (UDT), apologista de uma autonomia com vista a uma eventual independência, porém integrada numa comunidade lusíada; a Associação Popular Democrática Timorense (APODETI), a favor de uma integração na Indonésia; e a Associação Social Democrática de Timor (ASDT), depois  Frente Revolucionária de Timor Leste Independente (FRETILIN), conotada com a FRELIMO de Moçambique, defensoras da independência.  Surgiram também pequenos partidos como o KOTA (Klibur Oan Timur Aswai/Filhos dos Guerreiros da Montanha), apologistas da restauração do poder tradicional dos Liurais e o Partido Trabalhista, que pretendia mobilizar a classe trabalhadora.

Apesar do golpe militar, o Coronel Alves Aldeia, então Governador, foi mantido em funções, todavia o seu poder era diminuído pelos elementos da comissão do MFA. Após a sua demissão é substituído pelo Tenente-Coronel Níveo Herdade e mais tarde, já após a queda do General Spínola, pelo Tenente-Coronel Lemos Pires. Instalou-se um clima subversivo/revolucionário típico, que na sua essência conduziu[7]:

Ø       à desmoralização do Poder;

Ø       ao descrédito da autoridade, a qual acabou por ser vítima de uma “psicose da impotência”;

Ø       à ruptura no tecido social, através da organização de contradições entre as hierarquias estabelecidas e da constituição de forças polarizadoras paralelas.  

Em Janeiro de 1975 a FRETILIN e a UDT formaram uma coligação para conduzirem a transição de poderes e evitarem o maior dos riscos, a anexação pela Indonésia. A UDT acaba por abandonar a coligação, e a FRETILIM, na sequência do 11 de Março em Portugal Continental, que pretende ser reconhecida como único representante legítimo do povo de Timor, recusa-se a participar na conferência em Macau, onde se discutia o futuro do território, e começa a concentrar tropas na fronteira e a recrutar milícias.

Em Lisboa é entretanto publicada a 17 de Julho a Lei 7/75, que definia para o processo de descolonização de Timor a criação de um governo de transição até Outubro de 1978, presidido por um Alto Comissário, contando com a participação dos partidos timorenses. Era ainda proposta a formação de um Conselho do Governo de Transição.

Nas eleições desse verão quente de 1975 (Julho), a FRETILIN obteve 55% dos votos. No mês seguinte, a UDT, não aceitando os resultados parte para uma ofensiva que desencadeia a guerra civil no território (Agosto de 1975). O Governador português, face à falta de orientação política, de decisão na Metrópole e à sua avaliação da situação, retira para Ataúro a 27 Agosto de 1975, ficando Timor desprovido de qualquer tipo de autoridade.

No clima de guerra civil que então se vivia, Nicolau Lobato, líder da FRETILIN, a 28 de Novembro declara como um Estado Independente a República Democrática de Timor Leste (RDTL), tendo Xavier do Amaral como presidente. A  30 do mesmo mês, o ministro dos Negócios Estrangeiros indonésio, numa conjuntura internacional favorável e com apoio norte-americano, na presença de elementos da  UDT, APODETI, KOTA e Trabalhistas, assinam uma declaração que solicitava a integração de Timor Leste  na Indonésia, invadindo esta o território a 7 de Dezembro.

No início de Janeiro de 1976 o governo indonésio estabelece um governo provisório com elementos da UDT e da APODETI. Em Maio, este governo convida a Indonésia a proclamar a soberania sobre o território, que anexa formalmente como a sua 27º província (Timor Timur) em 17 de Julho. Portugal, que se declarava ainda como potência administrante, cortou relações diplomáticas com Jacarta e colocou o caso à ONU, que condenou a intervenção da Indonésia.

A integração do território na Indonésia seguiu um plano estratégico cauteloso e faseado, designado por "Operação Komodo". Algum alto clero no Vaticano teve conhecimento/apoio deste plano. A primeira fase consistia na Invasão/ocupação do território, seguido de uma segunda fase de consolidação/conquista das populações com o apoio, a partir da ilha das Flores, da Igreja Católica. Este apoio, entre outros aspectos, consistia numa tradução dos textos bíblicos para bahaasa indonésio.

A população timorense reagiu a este processo, iniciando com as FALINTIL (Forças Armadas de Libertação de Timor) um movimento de resistência nas matas de Fatu-Beci, assente numa estratégia prolongada e no desenvolvimento de uma guerra subversiva atípica. A implementação das fases da guerra subversiva (cujo valor é relativo)[8] não simultânea na totalidade do território, procurou, em todo o caso, respeitar a lógica do esquema e evitar ser detida na transição do estado pré-insurreccional para o insurreccional.

Apesar de na clandestinidade, os resultados começaram a ser visíveis. Desenvolveram-se acções de propaganda de agitação, com o propósito de “ganhar” o apoio dos neutros, elevar o moral entre os subvertidos e seus apoiantes, minar a confiança no Poder indonésio e enfraquecer a moral das suas forças, procurando empolar ou canalizar os descontentamentos, modificá-los em indignação e cólera, transformando-os em agressão àqueles que eram considerados os responsáveis da situação insustentável. Fomentaram-se perturbações da ordem, surgiu o clima de medo, visando a desmoralização do Poder, o descrédito da autoridade, “(...) a ruptura aberta no tecido social, através da organização de contradições entre as hierarquias estabelecidas e da constituição de forças polarizadoras paralelas (...)"[9].

O status quo encontrou aqui o seu período crítico: ou respondia eficientemente (o que não conseguiu), ou já não controlava a evolução dos acontecimentos na generalidade, apesar de os poder controlar pontualmente, em determinados aspectos ou situações.

Aqui entrou-se na fase armada e a guerrilha emergiu como táctica para tomada do Poder. A subversão armada, através das suas actuações, procurou instaurar o clima psicológico, fomentar a agitação geral, mantendo a excitação emocional, tentando também provocar a reacção repressiva, criando mártires e preparando a subversão para provocar a unidade defensiva dos grupos visados; a organização clandestina consolidou-se; por outro lado intensificaram-se e generalizam-se as acções violentas (lembramos os acontecimentos em 12 de Novembro de 1991 no cemitério de Santa Cruz, em Dili, e a Prisão de Xanana Gusmão a 20 de Novembro de 1992).

Estas situações, retransmitidas ampliadamente pelos media numa engenharia de opinião, criaram a convicção pública de que, na generalidade, o Poder, além de opressivo, era repressivo.

Portugal e a resistência maubere procuraram obter apoios internacionais para a causa timorense. Findara a guerra fria em 1989 e a conjuntura internacional transformara-se. Em Novembro de 1991 ocorre o massacre em Santa Cruz e em 1996 Ramos Horta e o Bispo D. Ximenes Belo são galardoados com o Prémio Nobel da Paz. O massacre trouxe o problema aos olhos do mundo e o gesto de Estocolmo é tido como o marco do reconhecimento da Comunidade Internacional da causa timorense. Suharto é afastado do Poder na Indonésia. O novo presidente da Indonésia, Habibie, inicia uma política de reformas, cedendo mediante a pressão internacional, aceitando acordar com Portugal e com as Nações Unidas a realização de um referendo no território sob a égide desta última organização (acordo de 5 de Maio de 1999).

O referendo teve lugar a 30 de Agosto desse mesmo ano sob a responsabilidade da UNAMET (United Nations Mission in East Timor). O resultado do referendo (78,5% dos votos foram a favor da independência) desencadeou uma onda de violência sem precedentes por parte das milícias integracionistas, ainda hoje visível; grande parte dos edifícios públicos e das habitações foi destruída. Com o caos instalado, as Nações Unidas decidem constituir uma força internacional para repor a lei e ordem, forçando a paz. A INTERFET (International Force in East Timor) sob comando australiano e com o acordo de Habibie, entra a 20 de Setembro de 1999 em Dili.

A UNTAET (United Nations Transitional Administration in East Timor) estabelecida pela resolução do CS 1272 de 25 de Outubro de 1999, assumiu a administração do território sob tutela das Nações Unidas a partir de 28 de Fevereiro de 2000, constituindo aquela que é a primeira missão de country building da história da Organização. A Indonésia revogou a anexação da 27ª Província, Timor Leste, a 19 de Outubro de 1999.

 

3. Análise Social  

Quando os portugueses aportaram na ilha de Timor, as populações locais praticavam religiões tradicionais, não se verificando influências hindus ou muçulmanas. A organização social encontrada era hierarquizada, tipo feudal, com chefaturas locais (Liurais), tendo por base a família extensa, de cariz patrilinear[10].

Tradicionalmente o timorense dirige o seu culto aos espíritos dos antepassados (ancestrolatria), e aos objectos sagrados (lúlic), que pode ser materializado por pedras, uma árvore grande ou um animal, sendo sempre considerado com poderes sobrenaturais, inexplicáveis. Podemos considerar que os lúlic são intermediários entre Deus e o Homem, e são geralmente conservados nos locais de culto, os uma-lúlic[11].

Na religião tradicional timorense, o ente supremo, Deus, é designado em tétum por Marômac, que significa "o brilhante", a quem não se presta nenhum culto especial.

Os ritos da religião tradicional foram designados por estilos, e consistem essencialmente em sacrifícios, nos quais por norma se come a carne das vítimas (búfalos, porcos) dos estilos. O estilo mais exuberante é o do funeral (hacoi-mate) e destina-se a alimentar a alma do morto.

A religião tradicional timorense não tem uma hieraraquia constituída, porém podemos encontrar o dato-lúlic ou sacerdote, conhecedor profundo dos lúlic, e que presta serviço de consultoria a troco de alguma prenda. Não tão frequentemente, mas ainda é possível encontrarmos alguns matan-dooc (feiticeiro), que preside a alguns estilos, nomeadamente de adivinhação, e ainda os bruxos, ou buan, que, se identificados, são mortos à paulada.

O Cristianismo, como vimos, só foi introduzido em Timor na segunda metade do século XVI, principalmente com a actividade missionária dos dominicanos sediados em Solor desde 1562. A primeira referência a uma igreja em Timor data de 1590, no reino de Mena, perto do Oé-Cussi.

As missões locais atravessaram diversas crises de missionários, nomeadamente em meados do século XVIII, com a decadência das missões dominicanas, mas sobretudo com a extinção das ordens religiosas em 1834. Timor, a partir de 1875, passa a depender do bispado de Macau; até então dependia do Bispado de Malaca, que viria a ser extinto (1886), sinal claro da falta de capacidade para sustentar o esforço missionário nestas paragens.

O grande restaurador da acção missionária em Timor foi o Padre Medeiros, nomeado Bispo de Macau em 1885. A acção dos Jesuitas também foi de destacar. Estes, em 1898 criam o Colégio de Soibada, responsável pela formação de uma pequena elite timorense. Em 1940 o Estado Novo assina com a Santa Sé o Acordo Missionário e a Concordata. Estes documentos vieram dar um novo ímpeto à actividade missionária, sendo Dili erigida como Diocese nesse mesmo ano; contudo, D. Jaime Garcia Goulart, o primeiro Bispo, só tomou posse após o fim da II Guerra Mundial. Foi este Prelado também responsável pela criação do Seminário na Soibada em 1936,  transferido em 1954 para Dare (ao pé de Dili). Este Seminário seria confiado em 1958 ao Jesuítas.

A difusão do cristianismo foi então rápida, e em extensão, pecando por não ser profunda, pois ainda hoje, apesar de a grande maioria da população estar convertida ao catolicismo, subsistem elementos da religião tradicional; assim podemos considerar que apesar de o cristianismo ser mais um revestimento, constitui um dos pilares da identidade timorense. A realização dos actos litúrgicos surpreende qualquer português. Os cânticos na língua lusa ou em tétum praça são de uma melodia indescritível, assim como a organização com que se processa todo o ritual; também a profissão de Fé muito nos ensina.

Os missionários não foram apenas responsáveis pela assimilação da cultura portuguesa por parte dos timorenses, estes, em resposta ao processo de aculturação imposto pela Indonésia aquando da sua permanência no território, traduziram os textos litúrgicos para tétum praça[12] e mantiveram ainda o ensino do português nas suas escolas, bem como alguns cânticos religiosos. Esta atitude permitiu conservar não apenas a religião católica no maior país muçulmano do mundo, como preservar a individualidade de Timor Leste, bem como transformar o tétum praça em língua franca.

A Igreja local, como única estrutura subsistente, esteve sempre ao lado dos timorenses; aqueles que tinham dificuldades ou problemas com os indonésios recorriam ao auxílio da hierarquia religiosa. O papel desta instituição foi ainda determinante para a realização do referendo e para o divulgar da grave situação que se vivia em Timor durante a ocupação indonésia.

É falsa a ideia de uma identidade cultural timorense única e homogénea. Cada um dos vários grupos étnico-linguísticos, apesar de “aparentados”, possui um património cultural que sofreu, em maior ou menor grau consoante a localização, uma aculturação com elementos introduzidos inicialmente pelo contacto com a cultura portuguesa e depois com a indonésia.

A primeira foi trazida sobretudo pelos missionários, é mais nítida no aspecto espiritual (religião, língua e arte) que no material. Portugal conta com mais de 400 anos de  presença religiosa e cultural em Timor, sendo que esta presença precedeu em mais de um século a presença política; além do mais Timor não foi conquistado, foi abordado por mercadores privados, sendo o catolicismo aceite independentemente de qualquer relação de dominação. Assim a influência cultural portuguesa foi proposta e não imposta[13].

A influência da Indonésia deveu-se sobretudo à presença militar e à imposição da língua oficial, bahasa indonésio, e pelo peso da presença económica. Porém, e apesar da estratégia demográfica praticada e da proliferação de mesquitas, nunca conseguiu impor o islamismo. O Poder indonésio procurou depois conquistar a população apoiando a construção de locais de culto católicos (Catedral de Dili e Via Sacra do Cristo Rei), e não destruiu um único monumento referente à presença portuguesa; pelo contrário, foram conservados.

Em Timor a literatura, assim como a história, é essencialmente oral, tendo os seus textos sido conservados de memória pelos lia-na’in (senhores da palavra), que geralmente são os oradores oficiais das cerimónias tradicionais e guardiões dos lúlic. Podemos encontrar duas formas principais de texto: ai-cnanoic (memórias) em verso ou prosa e ai-cnanânuc (canções) em verso destinadas a ser cantadas.

Os trajes tradicionais ou taes, muito simples, são panos elaborados em teares rudimentares de bambu e podem ser feitos pelas técnica de ikat ou pela teia de lavor. Normalmente são de algodão, com motivos decorativos diversos e cheios de cor. Os Liurais, quando em traje tradicional, além da espada trazem à cabeça o símbolo tradicional que dá pelo nome de Kaibauk (corno de búfalo).

Ao nível da música tradicional são utilizados essencialmente instrumentos de percussão, como os gongos de metal, os tambores de pele, o lacadou[14], e um instrumento de sopro, o pífaros de cana. Na música com influência cultural do exterior, os instrumentos mais comuns são o violino, o cavaquinho, o bombo, o tambor e os ferrinhos.

A dança popular que encontramos com mais frequência é o tebedai. Nesta dança, as mulheres avançam lentamente em linha ao ritmo dos tambores, circulando, enquanto os homens diante delas agitam lenços ou pequenos taes, ritmadamente. Uma outra dança é o tebe, em que os dançarinos formam um grande círculo, que se move lentamente sem acompanhamento de instrumentos, cantando ao desafio versos espirituosos. É curioso verificarmos que há uma dança chamada Lorosa´e, e que consiste numa demonstração da actividade guerreira para celebrar uma vitória; nos seus primórdios esta dança terminava com o corte das cabeças aos prisioneiros inimigos.

Um outro uso muito arreigado no timorense, assim como em todo o oriental, é o jogo. Por todo o território de Timor destacam-se as apostas nos combates de Galos. Estes, depois de verificada a vontade de combater, são equipados com um esporão extremamente afiado na pata. Soltos os animais, estimula-se o combate com a populaça formando  uma roda até acabar com a morte de um dos animais.

A par do cristianismo, outro pilar da identidade timorense é a língua tétum praça[15]. Isto apesar de no território podermos considerar 31 grupos etno-linguísticos distribuidos por seis agrupamentos: Bunak, Fataluku, Makasae, Maku´a, Mambae e Tetum.

No território encontramos duas grandes categorias linguísticas (austronésio e não austronésio), cobrindo 12 línguas, as quais podem ser divididas em 35 dialectos e sub-dialectos[16]. Apesar de a língua oficial ser o Português, este é falado e compreendido por uma pequena parte da população, geralmente de meia idade e dificilmente entre os jovens. O tétum praça e o bahaasa indonésio são a língua franca.

A língua portuguesa penetrou na Ásia pela acção colonial, pela influência dos comerciantes e da acção missionária. Ao longo da presença portuguesa, a língua de Camões não chegou nunca a ser a língua de comunicação oral, foi sobretudo a língua administrativa, clerical e de cultura, porém cimento aglutinador da identidade cultural entre as povos do Timor Oriental[17]. Hoje o Estado Português faz um esforço considerável para fomentar o ensino e difusão da língua portuguesa no território. Destaca-se o papel dos cerca de 160 professores espalhados por todo o Timor Oriental, da Rádio Televisão Portuguesa (RTP Internacional) e da Rádio Renascença.

O tétum (grupo de língua austronésia) é falado sobretudo em Dili, Liquiça, Suai, Viqueque, Galole, Manatuto, Laclubar, Mambai, Aileu, Ermera, Ainaro e Same. O tétum é falado com língua própria na região fronteiriça, ou seja é uma língua transfronteira. Este é um pormenor que não poderá ser esquecido pelo Poder em Dili.

O Bunak (grupo de língua não austronésio), é falado em Baucau, Lautem, Bobonaro, Kemak, Makassai, Viqueque, Dagada, Ambenu, Balkenu, Idate, Kairul, Laleia, Nldiki.  

Ao nível interno, em Timor podemos assim considerar as línguas locais, as línguas veiculares, a língua oficial de administração e as línguas de relação com o exterior, o inglês, o português e o bahaasa indonésio, pelo que podemos considerar que Timor apresenta uma situação linguística complexa.

No território encontramos ainda uma pequena comunidade muçulmana de rito xafeíta (os designados mouros timorenses); e uma miscelânea interessante de confucionismo, budismo e tauismo e algum catolicismo, que surge entre os chineses, que são essencialmente comerciantes.

Pelo exposto é-nos mais fácil compreender porque os indonésios eram considerados como estrangeiros.  



[1] O Timor Gap refere-se a uma área marítima entre Timor e a Austrália, rica em gás e petróleo. Em 1989 foi assinado um tratado entre a Indonésia e a Austrália que dividiu o chamado Gap em três zonas. A zona C, a norte era controlada pela Indonésia, mas com 10% dos proventos para a Austrália; a zona B, a sul com arranjo idêntico, mas dominada pela Austrália, e a zona A partilhada de 50% entre os dois países. O Maior depósito de gás está na zona A. Estima-se que no Gap exista uma reserva de cerca de 30 milhões de barris de crude, 175 milhões de barris de LPG, 230 milhões de barris de condensado e 3.4 triliões cúbicos de gás natural.

[2] Nomes de reinos existentes em Timor Oriental: Alas, Ambeno, Ataúro, Athara, Atsabe, Balibó, Baríque, Baucau, Bibico, Bibiçuço, Bibiluto, Boibau, Caelaco, Caimau, Cairuhi, Cová, Cutubaba, Daicorele, Dilor, Diribate, Dotic, Ermera, Failacor, Fatumartó, Fatumean, Faturó, Fialara, Fohulau, Folofaik, Fohorem, Fúnar, Hera, Lacló, Laclubar, Lacluta, Laga, Laicor, Lalea, Lamekitos, Lautem, Leimea, Liquiçá, Luca, Mahubo, Manatuto, Manufai, Manumera, Marobo, Matarufo, Maubara, Maucatar, Montael, Naimute, Obulo, Ocusse, Raimea, Sama, Samoro, Sanir, Sarau, Suai, Turiscai, Tutuluro, Vemace, Venilale, Viqueque.

[3] Matos, Artur Teodoro de, "Timor Português 1515-1769. Contribuição para a sua História", p. 47, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Lisboa, 1974.

[4] Tomás, Luís Filipe, “Timor Loro Sae: uma perspectiva histórica”. In “Timor um país para o séc. XXI”, Instituto de Altos Estudos Militares, Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, 2000, p. 33.

[5] Idém, p. 32.

[6] O Programa do MFA, na sua versão definitiva, estabelecia no N.º 8: “(...) A política ultramarina do Governo Provisório, tendo em atenção que a sua definição competirá à Nação, orientar-se-á pelos seguintes princípios: a) Reconhecimento de que a solução das guerras no ultramar é política e não militar; b) Criação de um debate franco e aberto, a nível nacional, do problema ultramarino; c) Lançamento dos fundamentos de uma política ultramarina que conduza à paz. (...)”. A Lei N.º 7/74, no seu Artigo 1.º, especificava: “(...) O princípio de que a solução das guerras no ultramar é política e não militar, consagrado no N.º 8, alínea a), do capítulo B do Programa do Movimento das Forças Armadas, implica, de acordo com a Carta das Nações Unidas, o reconhecimento por Portugal do direito dos povos à autodeterminação. (...)”, acrescentando o Artigo 2.º: “(...) O reconhecimento à autodeterminação, com todas as suas consequências, inclui a aceitação da independência dos territórios ultramarinos e a derrogação da parte correspondente do artigo 1.º da Constituição Política de 1933.

[7] Monteiro, Fernando Amaro, “O Islão, o Poder e a Guerra (Moçambique 1964-1974)”, p. 25.

[8] Lembramos que numa guerra subversiva se podem distinguir dois períodos e 5 fases com limites frequentemente indistinguíveis, e que são o período pré-insurreccional, que compreende a fase preparatória e a fase de agitação, e o período insurreccional, que compreende a fase armada (de terrorismo ou guerrilha), a de Estado Revolucionário e a fase final.

[9] Monteiro, Fernando Amaro, “O Islão, o Poder e a Guerra (Moçambique 1964-1974)”. Porto: Universidade Portucalense, 1993.  p. 24.

[10] Tomás, Luís Filipe, “De Ceuta a Timor”. Lisboa. 2ª Edição, Difel, 1998, p. 631.

[11]  A uma-lulic é uma casa onde se conservam alguns lulic portáteis, in  Matos, Artur Teodoro de, ob. cit., p. 34.

[12] O tétum é falado com pequenas variações em três regiões descontínuas: na região central da vertente meridional da parte oriental da ilha, em Dili e seus subúrbios e na região fronteiriça de costa a costa. O tétum praça é falado em Dili, por esta cidade ser conhecida por Praça pelos nativos de Timor. Este dialecto é distinto das outras duas variantes, o tétum-téric e o tétum-lós. In Tomás, Luís Filipe, “De Ceuta a Timor” pp. 619-620.

[13] Tomás, Luís Filipe, “Timor Loro Sae: uma perspectiva histórica”. In “Timor um país para o séc. XXI”,p. 31.

[14] Espécie de cilindro feito de um troço de bambu, cuja casca cortada por incisões longitudinais fica formando tiras que, esticadas, se dedilham como uma guitarra.

[15] A língua Mambae é das mais faladas, porém, é o tétum a mais conhecida e mais importantes no território.

[16] Agrupamentos linguísticos:

Austronésio:

1º Grupo – Tétum, Tocodé, Mambai, Nògó Nògó, Uaimoa, Habo, Macassai, Midic, Nauhete.

2ª Grupo – Fataluco.

3º Grupo – Marai.

4º Grupo – Búnaque.

5º Grupo – Galóli, Idatê, Lacalei, Baiqueno

Não austronésio:

1º Grupo - Ra-Cluma; Rai-Eço, Duá; lolei; Daduá; Naunaga; Becais; Osso Moco; Maceler; Sa-Ane; Lovai-Epulo.

Fonte:Atlas de Portugal Ultramarino e das Grandes Viagens Portuguesas de Descobrimento e Expansâo. Junta das Missões Geográficas e Investigações Coloniais. Lisboa.1948. p. 107.

[17] Tomás, Luís Filipe, “De Ceuta a Timor” p. 648.

 

Continua

 

original publicado em http://terravista.pt/Guincho/7933/garcia1.htm; a reprodução em timor.no.sapo.pt foi autorizada pelo autor (ver Correio 08.01, nº83)