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Página de opinião




Por Timor - um amor fecundo

A polémica que se estabeleceu entre o prof. Deus Pinheiro e o seu ex-adjunto, ora primeiro entre os ministros, é para mim o momento de esclarecer algumas questões sobre Timor.
Sublinhando a estima pelo prof. Deus Pinheiro, com quem pude contactar enquanto comissário europeu, penso que nesta polémica - que nada tem a ver com Timor - quem tem razão é o dr. Durão Barroso. De uma forma geral, a diplomacia e os responsáveis políticos portugueses, com as sabidas e honrosas excepções, não acreditavam na luta por um Timor livre e independente.
A questão que se me coloca, no entanto, é a de saber se o então secretário de Estado Durão Barroso não se comportava, há pouco mais de dez anos, como quem não acreditasse também. Sou um homem do concreto, não dos juízos teóricos sem relação com os factos. Deixo aqui, portanto, um tópico concreto. A vinda a Lisboa do primeiro cidadão não timorense a ter entrevistado Xanana no Timor ocupado. O australiano Robert Domm. Lembro o que na altura me disse, ao telefone de Sydney, o José Ramos-Horta, desesperado com as negativas que tinha recebido de toda a parte, Secretaria de Estado incluída, para que alguém pudesse pagar a viagem, de Domm, da Austrália a Lisboa. E como em dois dias reunimos um grupo de amigos, socialistas, que suportaram os encargos dessa viagem. Muito antes do massacre de Santa Cruz e da prisão de Xanana. Antes, portanto, das repercussões mediáticas desses eventos.
Como lembro, alguns anos antes, a edição - melhor, a reedição, porque ele já tinha sido editado nos anos 40 do século passado - pela minha pequena editora, do livro de Carlos Cal Brandão, Funo - sobre a ocupação japonesa de Timor e sobre a resistência de timorenses e portugueses deportados, numa lógica de solidariedade à resistência timorense contra a Indonésia. Bem como a realização, no pequeno escritório da minha editora, de uma reunião (de dia inteiro) de responsáveis dos vários movimentos, com monsenhor Martinho da Costa Lopes. Foi, se não estou em erro, uma das primeiras iniciativas de unidade dos timorenses no exílio.
Lembro, depois, o Espaço Por Timor. Lá está frente ao Parlamento, então aberto às obras do projecto oferecido pelo Nuno Teotónio Pereira, que não estavam ainda terminadas. Para recolher assinaturas a enviar ao secretário-geral das Nações Unidas, pela vida e libertação de Xanana, que acabara de ser preso em Díli. São muitos e inestimáveis os serviços que esse espaço prestou à causa da liberdade de Timor ao longo desses anos. Não são histórias, ou conversa, são factos e obra. Factos indesmentíveis.
Como indesmentível é o envio pela mão sempre incansável da Luísa Teotónio (e, a partir de uma ideia e iniciativa nossa, antes do massacre de Santa Cruz) do primeiro telefone-satélite ido de Portugal para a resistência.
Não esqueço intervenções em reuniões internacionais de autarcas e parlamentares sobre o tema de Timor. Em Kuala Lumpur, com asiáticos e europeus. Em Tóquio, com japoneses, a então líder do Partido Socialista e com o simpático velhote - veterano das tropas japonesas da Segunda Guerra Mundial -, que Ana Gomes me apresentou e que era o grande animador do comité de apoio à luta de Timor.
Não esqueço a viagem da UCCLA a Nova Iorque - era então o prof. Freitas presidente da Assembleia Geral da ONU -, com Pinto Machado e Alberto Laplaine, onde prestámos a Ramos-Horta a solidariedade devida.
Não esqueço esse momento único de felicidade que foi a atribuição do Nobel da Paz, bem como, depois, o da ida a essa cerimónia excepcional da entrega. Tenho memória e lembro todos esses momentos que são emoção, são muitas vezes palavra dita e escrita, mas são também, na esmagadora maioria dos casos, gestos, acção e obra. De quem sempre procurou traduzir em concreto os valores em que acredita.
O escritório do Ramos-Horta, na Rua de São Lázaro, ainda lá está e penso que continua a ser útil.
Como útil, apesar de difícil e incompreendida, foi a visita que tenho orgulho de ter feito a Xanana, na prisão de Cipinang, em Jacarta.
Como útil foi e é a escola que em Timor se reconstruiu em Díli, por iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa, a que eu então presidia: o antigo Liceu Vieira Machado - e a escola primária anexa Canto de Resende -, que foi reconstruído de fio a pavio por uma equipa notável dirigida pelo Luís Pascoal (a quem escolhi e que acompanhei na obra, quase diariamente por telefone, e também lá em Timor, por duas vezes). Nessa escola estão, por nossa iniciativa, uma boa tipografia e uma biblioteca em língua portuguesa, como nunca houve outra na história de Timor. Esta arrancou com mais de 30 mil volumes. Para além de uma pequena mas moderna estação de rádio, que não sei se o meu amigo padre Filomeno, primeiro responsável da educação de Timor livre, já conseguiu pôr a emitir.
Obra, trabalho efectivo e não apenas sentimento e retórica mais ou menos inflamada.
Talvez por isso, não vou corresponder ao convite que recebi há mais de um mês de Sérgio Vieira de Melo e de Mari Alkatiri para assistir às cerimonias comemorativas do nascimento da República de Timor.
Estive lá, há dois anos, celebrei a passagem dos meus 50 anos ao som do Parabéns a você cantado em pleno congresso do CNRT. Assisti à cerimónia evocativa do aniversário do referendo e à homenagem prestada, no cemitério de Santa Cruz, às vítimas do massacre.
Há pouco mais de uma semana, o líder do meu partido e o líder do meu grupo parlamentar na Assembleia da República, os meus amigos Ferro Rodrigues e António Costa, formularam-me também o convite para que fosse lá, na qualidade de representante da bancada parlamentar do PS, integrando, nessa qualidade, a delegação do Parlamento que acompanhará o Presidente da República na visita que, depois, fará à Austrália.
Decidi não ir. Não irei nem a Timor, nem à Austrália, onde conheço bem a comunidade portuguesa, cujas associações visitei, quer em Darwin quer em Sydney. Mas desta vez não vou. Vai ser uma festa bonita, seguramente. Comovente também, por certo. Mas agora - que será mesmo só festa - prefiro não ir. Seguirei pela TV e nas revistas.
A Timor voltarei, espero, até ao final deste ano, para, com amigos timorenses, portugueses que lá vivem e outros como eu, idos da Europa, realizarmos uma, há muito programada, escalada do Ramelau - foi o ponto mais alto do império português e continua a ser uma lindíssima montanha (é favor não confundir com a subida ao Pico nos Açores e não interpretar indevidamente no plano político).
Timor é, para nós portugueses, um caso muito curioso de amor. Um amor profundo, intenso como poucos na história colectiva desta nossa terra, Portugal. Mas como todos os amores intensos, um amor muito complexo.
Não creio que no último século português, eu diria mesmo desde a crise do Ultimatum, tenha havido, na nossa terra, um movimento tão amplo, e tão social e ideologicamente transversal, como o que se gerou em Portugal por Timor. Ele foi também, porventura, nalguma medida, a sublimação das nossas culpas e frustrações em todo o processo de colonização e descolonização. Mas ele foi e é também, em muito larga medida, o produto do amor genuíno deste povo tão especial que somos, nós os portugueses. Por mim, procurei sempre que esse amor não fosse apenas platónico. Que ele pudesse ser, como devem ser todos os grandes amores, fecundo.


João Soares, deputado, Diário de Notícias - "Opinião - Tribuna", 14.05.02





A criancinha

Muita tinta tem corrido acerca dos alunos que agridem professores, quando, "o busílis da questão" está na criancinha. E nos pais da criancinha... Que, esses sim, merecem os bofetões!
"De pequenino se torce o pepino." A bem de todos: da criancinha, dos entes da criancinha, da Nação da criancinha.
O "psico" da criancinha passou a ser um bico-de-obra. São infindáveis, as teses e filosofias, a nublar a prodigiosa evolução do "rebento". Que nada perturbe a criancinha! À menor birra, espirro ou dor de barriga, fica tudo estarrecido e em transe a venerar a criancinha.
A criancinha berra a esperneia, no restaurante, deixa-se a criancinha berrar e perfurar os tímpanos a toda a gente; a criancinha não quer falar à prima, não se incomoda a criancinha; a crianchinha quer ir refastelada e de rabo tremido no autocarro, o avô que vá de pé e de bengala, jamais perturbar a criancinha; a criancinha berra: "Não gosto disto! Não como!" e faz-se logo outra mistela à vontade da criancinha; a criancinha prega um arremesso à mãe, e a mão fica uma hora a explicar à criancinha, "porque é que lhe vai dar um bofetão". E o bofetão fica de molho "para o Dia de São Nunca à tarde"!
A criancinha - quer, pode e manda. Tudo e mais alguma coisa. "Tudo, menos a educação." Anda aí freneticamente patrocinada dos pés à cabeça. O boné, a camisa, as meias, os boxers, as sapatilhas... Tudo é de marca ou tem "bichinho": cavalo, lagartixa, e sei lá mais o quê... Até as fraldas, da recém-nascida criancinha!
O quarto da criancinha, não é um quarto. É um armazém. Tem quilos de brinquedos a trepar pelas paredes, embrutecidos. Pergunta-se à criancinha se já pensou dar algum dos seus brinquedos, e a criancinha fica assarapantada só de imaginar que vai perder um dos milhentos brinquedos que ignora. E não se atrevam a dar uma bugiganga à criancinha. Arriscam-se a levar com ela na cachimónia, ou vê-la atirada a granel para um infindável saco de presentes. A criancinha não pode. Exige: "Quero uma mota, à séria!" Mas como é imberbe, leva logo uma imitação gigantesca dum valor incalculável. A criancinha quer computador e televisão no quarto, põe-se televisão, parabólica e computador no quarto à criancinha. Desde que não chateie! Mesmo que implique endividamento até à medula.
A criancinha é um portento. Tem aulas de tudo e mais alguma coisa: aulas de natação, aulas de dança, aulas de judo, aulas de computadores... E depois não tem tempo para nada. Nem para se concentrar. Chega ao fim do secundário a soletrar e a asnear, e a dizer que o Carvalhas é do CDS e que o Presidente da República é o Saramago.
Na escola, reina a "abominável criancinha". Não há vocação que aguente! Habituada a virar "o dente" aos pais, não se poupa em desancar o professor. O professor não pode dar uma lamparina à criancinha, mas a criancinha pode dar uma lamparina ao professor. E se o professor ralha com a criancinha, a mão da criancinha ralha com o professor.
Não eduquem a criancinha, não!... E vão ver um dia os professores fartos de pandemónios, a instituírem greves por tempo indeterminado e a deixar as criancinhas à deriva, a embrutecer, e a infernizar em casa a vida aos pais, tal qual infernizam a deles.
A criancinha no ensino público assiste à aula de óculos escuros, de pernas estendidas sobre a carteira e a brejeirar à professora os piores impropérios. Numa rixa entre alunos, a professora bem bule. Toca logo a campaínha.
Enquando isto, os pais continuam enfronhados nas carreiras. Exaustos. Ou, egoisticamente, "a leste do inferno". E a criancinha a medrar malcriada e frustrada. "Desalicerçada" de afectos.
Estamos feitos! Porque só os afectos, reais, incluem a educação e amainam ventos agrestes de frustração e mudança. Um dia destes, numa conversa entre pai e filho, num psicólogo, a criança de oito anos, de súbito exclamou: "Pai! Tu nem sequer me bates!..." Tirem as conclusões.

veraroquette@sapo.pt

Vera Roquete, Lisboa, Diário de Notícias - "Veracidades", 04.05.02





Tempo de acabar com os tabus sobre Timor

Não se constrói um país sobre uma mentira. É preciso que os timorenses passem da fase de propaganda/guerrilha (que libertou o território) para a fase de construtores de uma nação com gente responsável e de boa fé.
Nunca houve 200 mil mortos em Timor, felizmente. O número final, desde a saída de Portugal, não chega aos 20 mil, incluindo os mortos na guerra civil, e já é muito. Hoje, 20 de Agosto, Xanana reconheceu pela primeira vez que só morreram 3000 guerrilheiros, o que constitui um primeiro passo para a verdade. Em Timor nunca houve campos de morte como no Camboja, nem Gulags como na União Soviética, nem campos de extermínio e câmaras de gás como na Alemanha nazi, nem campos atapetados de valas comuns como no Ruanda. A palavra genocídio deve ser empregue com extremo cuidado e não confundida com situações de guerra, como foi o caso de Timor durante 24 anos. Em Timor toda a gente se conhece e cada família sabe quantos mortos teve.
Chegou a hora de elaborar a história dessas pessoas, para que no futuro sejam olhadas sem ressentimentos recíprocos. Também morreram 4000 soldaddos indonésios, e também é tempo de os portugueses olharem para a Indonésia com outros olhos. A guerra no Aceh sempre foi pior do que em Timor, dado que a guerrilha sempre foi (e é ainda) muito mais forte ali. O problema é que neste tipo de conflito há o envolvimento da população, pró ou contra os rebeldes, e os resultados são sempre lamentáveis. Nós perdemos 10 mil homens nas colónias, mas quantos nativos morreram? E também convem lembrar que os portugueses nem sempre foram amados em Timor e que os timorenses são muito violentos. Houve duas grandes revoltas (uma no século XVII e outra em 1912) e em ambas a população portuguesa foi praticamente aniquilada. Assim, penso que chegou a hora de olhar para o futuro. A vitimização, que foi a melhor arma da causa timorense no exterior, neste momento está a ter resultados nefastos: os estrangeiros olham-nos como incapazes e primitivos, e não são nem uma coisa nem outra. Pertence aos verdadeiros amigos de Timor uma urgente mudança de atitude. Não se trata de revisionismo, mas de afastar a ignorância e o fanatismo, que só podem originar ódios. Haja coragem!

Vítor Vicente, Coimbra, Diário de Notícias - "Opinião (cartas ao Director)", 28.08.01





Limites para insultos e adulação

Tanto do Canadá, onde resido, como de Portugal - onde passo de um a três meses, por ano - poderia escrever, todos os dias, ao Diário de Notícias. Uma de minhas mais frequentes fontes de inspiração é o inefável Dr. Durão Barroso, que não se limita atacar os seus rivais e opositores políticos, mas também ofende a Pátria. Quando gritou "Viva a Madeira livre", no comício de Chão da Lagoa, em 1999, abalou a união nacional. E agora ofendeu a Nação portuguesa, ao comparar Xanana Gusmão com D.Afonso Henriques, demonstrando um desconhecimento abismal da nossa história. É que não há nenhum paralelo entre eles! D.Afonso Henriques, fundador da nacionalidade, primeiro, lutou contra a sua família (em interesse próprio) e acabou por fundar um país, cujo território alargou com conquistas aos mouros. Conquistas que foram cimentadas pelos seus sucessores, neste pequeno-grande país, que sempre teve as mesmas fronteiras. Xanana Gusmão, por seu lado, lutou contra os soldados portugueses, não pela independência, mas para facilitar a entrada da União Soviética - que apoiava a Fretilin, partido de Xanana. Da mesma forma, a Apodeti lutava contra os portugueses, para unificar a ilha de Timor, integrada na Indonésia. Eu acho muito bem que os povos autóctones expulsem do seu território as potências invasoras e reivindiquem a sua independência. Mas daí a comparar Xanana Gusmão com D.Afonso Henriques, há um abismo que qualquer português com um mínimo de conhecimentos pode perceber.
O Dr. Durão Barroso deveria saber que tanto os insultos como a adulação têm os seus limites.

Augusto Ribeiro, Caldas da Rainha, Diário de Notícias - "Opinião (cartas ao Director)", 19.08.01





Indonésia: em nome da memória

Após a leitura de um artigo publicado no DN, gostaria de esclarecer os srs. jornalistas sobre a falsa notícia de que o general Susilo é um amigo de Timor. Está a ser divulgada por todos os media e só pode ter saído da embaixada de Jacarta via Lusa. Desde que os jornalistas portgueses se tornaram comissários políticos e só escrevem o que o Governo quer sobre Timor tivemos duas fases. A primeira foram estes dois anos de insano ataque aos generais indonésios. A segunda começa agora com a tentativa descarada de atribuir ao general Susilo o que não fez e méritos que não lhe pertencem. Nunca recebeu os timorenses, não é amigo de Xanana, mas conhece bem os milicianos. Pois bem, aqui vão informações para aclarar a vossa memória: Susilo era o responsável pelos assuntos políticos das TNI e braço direito de Wiranto. Se este é o mau da fita, Susilo também é. Mais, este senhor subiu à custa dos disparates de Wahid e era o ministro responsável por tudo o que ocorreu em Timor Ocidental durante este último ano. Já se esqueceram das acusações dos agora ditos "amigos", como Ramos-Horta? Para além de tudo, dentro de Estado-Maior, era ele que coordenava a ajuda aos milicianos e daí dar-se bem com Eurico Guterres. Como é, meus senhores? Ou os militares são culpados, e este senhor é um dos principais, ou não são e está na hora de pedir desculpas públicas. Não pensem é que vão continuar a manipular a opinião pública e a dizer que só Wiranto é culpado. Ele é de facto bem melhor que Susilo, que em 1998 queria instaurar um regime militar na Indonésia. Wiranto não deixou. Também não foi ele o reformador das Forças Armadas, mas apenas quem elaborou o plano de orientações, cumprindo as determinações de Wiranto.

Dionísio Sagres, Diário de Notícias - "Opinião (cartas ao Director)", 16.08.01





WORKAHOLICS

Amanhã é o Dia do Trabalhador.
Coerente com a data, também é um dia para não se fazer nada.
A verdade é que, pelo facto de cair numa terça-feira, hoje (segunda) é um dia que não existe.
O hoje nacional não passa de pura ficção. Metade do país viajou. A outra metade anda por aí a fingir que está a fazer alguma coisa.
Com a catadupa de feriados que estamos a ter, há quem já tenha ido para o Algarve e só volte em Setembro.
Não sei qual é o impacte disto na vida económica nacional, mas se um marciano aterrasse em Portugal pensaria que neste País ninguém trabalha.
Como dizia o Padre António Vieira: "nós somos o que fazemos. O que não se faz não existe. Portanto, só existimos nos dias em que fazemos. Nos dias em que não fazemos apenas duramos."
Pelos vistos, a maioria das pessoas que conheço prefere "durar" até à eternidade.
Já Albert Einstein tinha a seguinte teoria: "se A é o sucesso, então A é igual a X mais Y mais Z. O trabalho é X; Y é o lazer; e Z é manter a boca fechada."
(...)

Edson Athayde, Diário de Notícias - "Bate-Boca", 30 Abril 2001





DESEDUCAÇÃO

É do conhecimento geral que, nas nossas escolas, praticamente nada se ensina nem se aprende. Paradoxalmente, também é do conhecimento geral que, por dia, vindos da União Europeia, entram em Portugal mais de dois milhões de contos para o ensino. Porém, já não é do conhecimento geral que quem fica com a quase totalidade desses milhões é que faz com que não haja ensino em Portugal. Ironicamente, esses milhões destinam-se a investir na Educação e na Formação para que Portugal reduza o seu atraso em relação aos restantes países da UE. Como isso, de facto, não acontece, Portugal está cada vez mais atrasado em relação aos seus parceiros europeus.
Na verdade, a maior parte desse dinheiro serve para pagar a "formadores" que não têm formação de espécie alguma; a "orientadores pedagógicos" que, devido ao seu analfabetismo, nem tão-pouco chegam a ser desorientadores; a "directoras de turma" (muitas delas do sexo masculino) que não vão além de reles regateirecas; a elementos de "conselhos executivos", que têm como principal função a recolha de calúnias absurdas vindas de pseudo-alunos e dos seus encarregados de deseducação e de pseudo-professores, contra professores que, com o mínimo de rigor e de dignidade, procuram exercer a profissão que escolheram e para a qual se prepararam e se vão auto-preparando.
Depois das queixas caluniadoras reunidas, os presidentes dos conselhos executivos, não fazendo uso da inteligência, instauram "processos disciplinares" a pessoas decentes, a quem impedem de ser docentes. Associados à falta de uso de inteligência e de carácter, estes senhores manifestam igualmente, tal como todos os outros que com eles colaboram, uma incrível falta de profissionalismo. Também se lhes nota um alto nível de ignorância em tudo o que diz respeito a cultura geral, especialmente no que à Administração Pública concerne. Mesmo assim, os piores deles todos são os "inspectores pedagógicos" que nem tão-pouco inspeccionaram num dicionário o que é que pedagogia quer dizer. São estas criaturas inspectoriais que dizem aos membros dos Conselhos Executivos como devem proceder e, posteriormente, na defesa de toda esta nulidade parasitária instalada, aplicam sanções àqueles que, não obstante serem estupidamente perseguidos por analfabetos, incultos e carreiristas oportunistas, lutam digna e desinteressadamente por um Portugal melhor.
Como principal consequência do desensino que há cá, os nossos jovens, em vez de entrarem no mundo do trabalho, entram no mundo do crime. Entram no mundo para que esses irresponsáveis os prepararam. Infelizmente, os pais deles também são culpados, porque querem que os filhos não trabalhem. Foi para isso (para não trabalharem) que os mandaram para a "escola".
Os nossos parceiros da UE devem ser muito parvos: enviam para cá dinheiro para formar bandidos indigentes e mal agradecidos.

Manuel Rodrigues - Cacém, Diário de Notícias - DNA (cartas dos leitores), 22 Abril 2001




TIMOR

Sempre me senti culpado por Timor. Por não sentir nada em relação a Timor. Parece que há uma obrigação nacional em amar Xanana e a causa dele. Comigo, não. Depois do referendo - quando a coisa entortou e mataram meia dúzia - havia em mim uma terrível sensação de estranheza. Desinteresse. E tédio. Nada daquilo era comigo e tudo em volta me dizia o contrário: os panos brancos nas varandas, a excitação do povaréu, os cortejos, o ruído da turba, o sentimentalismo ordinário das massas. Não há maior tirania do que os sentimentos colectivos, empunhados pelo povo ignaro e boçal. Hoje, com a cabeça no balde, Timor interessa-me tanto como os aborígenes australianos ou os habitantes de Samoa. Sobretudo, não exerço sobre os desgraçados qualquer tipo de paternalismo pós-colonial, bem ao gosto da casa. O paternalismo é a pior das opressões, dizia Kant, e dizia bem. Não devo nada a Timor e aos seus habitantes, incluindo o patético e sentimental Xanana, homem iletrado que alguns comparam a Mandela (quá, quá, quá). São personagens de uma peça distante. Vejo por ver. Não me interessa como vai acabar. E não respondo aos masturbadores da corte. Sempre desconfiei daqueles que amam a Humanidade e a elegem como causa. Eu não amo a Humanidade e deploro quem o faz. Nunca amo aquilo que não posso ver, tocar, sentir, olhar de perto, abraçar ou afastar. Só amo pessoas concretas, com sentimentos concretos e formas concretas de vida. A distância é tudo. A proximidade é afecto.
João Pereira Coutinho, Revista MAXIM, nº1-Abril 2001, pág.44





Chusma de mercenários e parasitas

José Mattoso não burila termos quando apresenta a situação que se lhe deparou em Timor: "ir ao território", referiu ele na comunicação de despedida, "não é só visitar o cenário de uma interminável história de crueldade". Para o historiador, "é também assistir ao espectáculo, muito mais disfarçado, do monstruoso negócio internacional montado com justificações pseudo-altruístas para desviar, em favor de uma chusma de mercenários vindos de países ricos e pobres, a torrente de dinheiro criada pela chamada ajuda internacional". Segundo ele, "neste ponto a ONU e uma grande parte das ONGs entendem-se às mil maravilhas. Os especialistas da burocracia internacional criaram uma máquina perfeita em tudo menos na efectiva ajuda e que ainda por cima se tornou verdadeiramente indispensável". A sua amargura aumenta quando "ingenuamente se pensa reforçar a ajuda humanitária por meio de contribuições generosas" e se está, porventura, "apenas a sustentar os piores parasitas de todos, aqueles que vivem do sofrimento alheio".

José Mattoso, in jornal Público, 20.12.01




A PSP também está em Timor

Serve este e-mail para informar a todos que a Polícia de Segurança Pública também está em Timor e que, por isso, muitos dos seus agentes passam também o Natal e Ano Novo longe de suas famílias. A única diferença é que não temos nem o bacalhau, nem as rabanadas, nem o bolo-rei, embora também sejamos voluntários, tal como os militares.
Mais, não vivemos em aquartelamentos onde não falta nada. Vivemos em casas alugadas, nas mesmas condições em que os locais vivem. Corrente eléctrica há de vez em quando, água às vezes. O nosso banho é tomado com o recurso a garrafas de água mineral de litro e meio.
A título de exemplo, gostaria ainda de informar que a GNR também cá está, mas eles até um padeiro trouxeram de Portugal para que o pão não lhes falte.
Poderia estar a enumerar muito mais situações, mas vou ficar por aqui.
Já agora, para vossa informação, lembro que a PSP anda nestas missões desde 1992, altura em que, em Krajina, na ex-Jugoslávia, havia uma guerra activa. A cidade onde estive, Knin, era bombardeada pelos croatas quase diariamente e não me lembro de ver por lá o exército português, que só começou nas missões de paz quando foram assinados os acordos de Dayton, em 1996, ou seja, quando o cessar-fogo entrou em vigor.

José Ventura, in Correio da Manhã, 31.12.01 (?)




Posta em causa a ajuda oficial aos timorenses

A chamada causa de Timor arrebatou as pessoas e despertou a nobreza de sentimentos e gestos que a tornaram intocável. O embevecimento colectivo teve algo de ingénuo e excessivo mas não deslustrou.
Quanto às ajudas a Timor, decorrentes de obrigações assumidas pelo Estado, não as contesto. Ponho em causa, isso sim, os apoios indiscriminados e continuados atribuídos a largas centenas de timorenses que por cá gozam de vida folgada e estrondosamente festiva, alojados e sustentados pela Segurança Social.
Em Alvalade, onde algumas dezenas desses timorenses foram instalados desde há quatro anos, o seu comportamento incivilizado e perturbador tem sido um flagelo para os vizinhos. Conhecendo os atropelos, a Segurança Social nada fez. Aliás, o destino que deu às habitações contraria o previsto no Dec-Lei 141/88. Nada de novo: o desprezo da Lei pelas entidades públicas é corrente entre nós. E a Segurança Social segue o mesmo caminho quanto aos direitos de personalidade consignados no art. 70º do Código Civil, entre os quais se compreende o direito ao sossego e bem-estar dos cidadãos.
Interrogo-me sobre o estatuto desses timorenses. Terão a nacionalidade portuguesa e dispoem de privilégios (habitação mobilada e equipada, pagamento de água,gás, luz, limpezas e sustento) nunca conferidos aos nacionais? Serão refugiados vitalícios? Ou estarão abrangidos por qualquer programa de formação, de latitude invulgar, e quiçá indefinido nos objectos e no tempo?
Quem souber que responda, se de facto alguém o sabe.
Na realidade, a questão diz mais respeito às instâncias oficiais do que aos timorenses. Como uma vez um deles disse, ao agente da Polícia chamado a intervir às tantas da madrugada: "a culpa não é nossa, é do Governo que nos meteu cá".
A meu ver, estamos perante mais um caso de vistas largas na gestão dos dinheiros públicos e de laxismo no controlo da situação, tudo mascarado de generosa solidariedade, palavra doce atrás da qual se oculta a bolsa aberta ao desperdício.

A. Gonçalves Raimundo, in "Meu Caro DN",Diário de Notícias, 01.01.02


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