Legendagem Português/Brasileiro

[citação]«Ao fim e ao cabo, se nos abstrairmos de considerações subjectivas ou especulativas, o polvo é um simples predador, um caçador inveterado que selecciona sempre vítimas mais pequenas do que ele próprio, das quais se apodera com um abraço apertado, mesmo muito apertado, liquidando-as em seguida, inexoravelmente, com o seu espigão duro, esse bico tão rijo como um aparo.»[fim de citação]

Transcrevo este parágrafo de um texto que aqui publiquei, no dia 1 de Março do ano passado, apenas para ilustrar o que vulgarmente se designa como “perplexidade”. Pois, é verdade, estou perplexo. Bué da perplexo, posso afiançar. Mas será possível que alguém interprete aquilo que ali está como sendo uma “breve análise da anatomia do polvo”? Ó valha-me Deus! Anatomia? Análise? Vá lá, breve está bem, essa safou-se, mas…

Mas como é possível que alguém não tenha entendido a que “polvo” se refere o texto? Caramba, a coisa está assim tão mal escrita que possa originar confusões deste calibre?

Não sei se já disse que estou perplexo. Disse? Bem, pronto, então é melhor deixar-me de engonhanços e explicar porquê. Não sei se deva. Caramba, é que me custa! Bom… eu… enfim…

Ok. Isto é engolir em seco e tragar a pastilha. Lá vai: alguém no Brasil referenciou aquele texto, aquela coisinha mal amanhada, aquela alegoria (!), macacos me mordam, como fonte, como matéria pedagógica! E pespegam-me, os malandros, com o link no meio de outras “referências”, tudo materiais a consultar pelos alunos, sob a pomposa designação de “Aspectos sobre a Ecologia, Biologia, Gestão, Qualidades Nutricionais, Toxicidade e Potencial para Aquacultura do POLVO.”

A coisa insere-se, pelos vistos, num trabalho escolar sobre camuflagem animal, «destinada a alunos da 6ª série do Ensino Fundamental» e está assinado por quatro «Acadêmicos do 3º período do curso de Ciências Biológicas da PUC-MG».

Deus nos acuda. E agora? Como desfazer este tremendo, irritante, comprometedor equívoco? Como explicar o que é, para que serve e como funciona uma simples alegoria? Como definir “metáfora”, ainda para mais quando essa figura de estilo se apresenta em doses maciças e, pelos vistos, em quantidades altamente tóxicas?

Como se costuma dizer, uma destas só a mim! “Fonte” para o estudo da camuflagem, aquilo? Eu, eu mesmo, conhecido na minha rua e arredores por ser portador de uma coriácea modéstia, vir para aqui, assim nas calmas, e pôr-me a discorrer cientificamente sobre cefalópodes?

Nunca! Era lá capaz de semelhante desfaçatez! Bem, pelo menos na parte do “cientificamente”.

Pobres crianças. Ainda tão pequenas e já o polvo as agarrou com toda a força.