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A vitimização como arma política – 3

Vergonha alheia

Não é, de facto, nada fácil tropeçar num qualquer discurso de ódio ou esbarrar num qualquer indivíduo que manifesta com toda a clareza o seu insuportável, asqueroso racismo.

É o mais do que flagrante caso do texto e da autora do panfleto que seguidamente se transcreve, adiantando desde já os inerentes pedidos de desculpa a quem tal coisa ler, porque trata-se efectivamente de (mais) um manifesto de pura lusofobia, mas desta vez sem qualquer espécie de filtro nem réstia de civilidade ou sequer um módico de educação. “Vergonha alheia” é uma locução do Português cuja definição não foi ainda fixada (ou “atestada”), mas que encontra na escrevinhatura desta Mariana plena explicação (semântica, apenas), através da multiplicidade de exemplos ilustrativos, as vagamente imaginativas formulações ressumando raiva, os dichotes tão cuspilhados quanto disparatados.

Curiosamente, e quanto a este particular seria necessário despacho de um verdadeiro especialista em Psiquiatria clínica, a paciente para a qual não há paciência nenhuma tece esta espantosa consideração (faz de conta que é uma “consideração”):

«O poder das palavras ainda é subestimado por muitos de nós, mas, historicamente, as palavras têm sido uma estratégia bastante eficaz para normalizar estereótipos e discursos de ódio destinados a determinados grupos de pessoas, e também para banalizar processos de exploração que foram projectos de Estado.»

E este pedaço, que bem poderia ter sido escrito por qualquer anti-acordista ou por qualquer pessoa a quem ao menos incomode um pouco o processo de aculturação em curso, surge no meio de um chorrilho de insultos à “terrinha”, de enxovalho à memória dos maiores (e também a dos mais pequenos) da nossa História, de ataque indiscriminado — já não apenas à Língua Portuguesa mas também — à nossa identidade colectiva. Tudo servido no costumeiro tom pseudo-lamuriento, por entre um murmúrio raivoso cheio de epítetos canalhas e “fatos” inventados, mas como de costume tentando fazer passar a ideia peregrina de que existe em Portugal contra os imigrantes brasileiros algo parecido com o que no Brasil é há séculos prática corrente em relação aos que lá estão e, por arrastamento, aos portugueses que (por sorte?) ficaram no seu próprio país. A vitimização brasileiresca, cada vez mais intensa e persistente, sempre contando com bajuladores, mercenários e vendidos tugas, ameaça já tornar-se na única face visível — ou seja, na máscara preferencial — do plano de linguicídio e extermínio cultural.

Por conseguinte, e mesmo quem não dispõe de licença passada pela Ordem dos Médicos poderá diagnosticar facilmente o caso, estamos perante uma manifestação mais do que evidente do conhecidíssimo fenómeno de “projecção”, o qual fenómeno ou a qual projecção — não sendo de todo suficientes per se para sustentar um diagnóstico minimamente credível — costuma indiciar um quadro clínico bastante “difícil”, digamos assim, que a prudência da seriedade e o recato do sentido cívico recomendam máxima discrição.

Não deve em circunstância alguma passar incólume nem esta nem qualquer outra manifestação de ódio, de xenofobia de sentido único, isto é, de lusofobia feroz (passe a redundância), de raiva alucinada contra Portugal e os portugueses. Mesmo tratando-se de um case study, algo mais calhado para profissionais de bata branca, que não seja por abstenção ou indiferença (que alguns “pacifistas” fingem ser menosprezo), que não seja pela cobardia instituída (sistemática ou esporádica, tanto faz), enfim, que não seja por falta de vergonha na cara — ao menos isso — que falte a quem escarra no nosso país uma resposta adequada… como, pelo menos, devolver aos remetentes os seus insultos. Caso alguém mais exótico pretenda adornar a devolução com um presente, então poderá embrulhar um colete-de-forças com as seguintes instruções: “depois de enfiar os braços nas mangas, peça a alguém que lhe aperte os lacinhos das costas; mas com força“.

Sentir vergonha alheia é o mínimo dos mínimos. Quem nem isso, como sabe qualquer garoto com a 4.ª Classe, não é preciso o juramento de Hipócrates ou de resto qualquer canudo, então não tem vergonha na cara. Nenhuma.

“Recorte” de entrada wikipédjia lusôfuna traduzida automaticamente para Português.

 

Os brasileiros estão invadindo Portugal?

Quando as pessoas falam em invasão, esquecem que para conseguir “invadir” Portugal, os brasileiros precisam de um passaporte válido, de uma passagem aérea. Precisamos de ter uma justificação para estar cá e precisamos de ser aprovados por oficiais da imigração, muito bem-dispostos.


Imigrante há cinco anos, mestre em Psicologia Clínica. Trabalha com mulheres imigrantes em diversos países. Idealizadora do projecto ‘Brasileiras Não Se Calam’.

“Público”, 8 de Agosto de 2022

Sair à rua em Portugal e não ouvir os sotaques brasileiros tem-se tornado cada vez mais raro. Quando não escuto brasileiros conversando, escuto Caetano e Silva em cafés tradicionalmente portugueses, escuto Anitta nas rádios e discotecas, Ivete Sangalo e maracatu no Carnaval, existem encontros nas principais cidades do país para dançar forró e, noutro dia, fui assistir a um espectáculo de uma amiga portuguesa e dançaram o nosso samba e, pasmem, dançaram até CPM 22. Também estamos cada vez mais presentes na culinária: tapioca, pão de queijo, feijoada, farofa, e, claro, brigadeiro. Sem falar da nossa caipirinha, mundialmente conhecida e que também está presente nos bares por aqui.

Os nossos artigos e livros brasileiros, ou que foram traduzidos para o português do Brasil, estão nas listas de indicações de professores nas universidades e estão à venda nas livrarias. Os nossos filmes, novelas, séries e, actualmente, os vídeos de youtuberse ‘tiktokers’ (para o desespero de alguns pais portugueses) também têm bastante audiência. Movimentos em defesa dos nossos direitos, associações criadas por brasileiros, trabalhos académicos e livros focados nas experiências de brasileiros em Portugal também têm aumentado. No último relatório do Observatório das Migrações, relativo ao ano de 2020, havia 183.993 brasileiros residentes em Portugal e, no mês passado, recebemos quase 3 mil brasileiros por dia.
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A vitimização como arma política – 2

Gerundiando o estando ensinando

Como prevê expressamente o acordo cacográfico da língua brasileira, «há que procurar uma versão de unificação ortográfica que acautele mais o futuro do que o passado e que não receie sacrificar a simplificação também pretendida em 1986, em favor da máxima unidade possível.» Evidentemente, a expressão “unificação ortográfica” não passa de uma falácia repugnante, dado que as intenções subjacentes a essa “unificação” vão muito para além de tão impossível quanto absurda “minudência”.

As verdadeiras finalidades do plano estabelecido por meia dúzia são de carácter exclusivamente político-económico e geoestratégico: a anexação de Portugal — a sua soberania enquanto Estado, a identidade nacional, as suas Língua e Cultura — a um putativo potentado brasileiro de implantação mundial, através da criação da porta dos fundos para a União Europeia e à custa das outras sete ex-colónias portuguesas. O “acordo” de 1986 foi o ponto de partida negocial, sendo a oferta gratuita (a Língua Portuguesa e demais “facilidades”) oficializada através do AO90; a isto seguiu-se a invenção ad hoc da CPLB, em 1996, servindo esta “comunidade” (paga pelos contribuintes “tugas”) como cobertura política para os avanços da novel potência colonial e a referida versão final do “acordo” de 1990 funcionando como uma espécie de pretexto ideológico para atabalhoadamente “justificar” o golpe inicial por precaução e os subsequentes por antecipação.

Tem de facto costas largas, este “acordo” dito “ortográfico”. Largura essa que se resume ao ditame único “serve para tudo”. A pretensa “língua unificada” (a brasileira, claro) que teoricamente o justificaria serve como a camuflagem perfeita para a imposição selvática a Portugal (e PALOP) de uma língua alienígena — em todas as suas partes constituintes, não apenas numa única categoria gramatical — e para o esmagamento sumário, por arrastamento ou inerência, de todo e qualquer resquício da identidade nacional… portuguesa.

Os acontecimentos mais recentes envolvendo diversos episódios de supostos “racismo, preconceito e xenofobia”, dos quais vão resultando cada vez mais “queixas” que os media exploram até à náusea, servem na perfeição os fins em vista, ou seja, a cada vez mais descarada discriminação selectiva (dita “positiva”, em jargão politiqueiro), privilegiando com prerrogativas exclusivas os imigrantes de uma única proveniência em detrimento de todos os outros e das suas origens geográficas, culturais e identitárias — a começar pelos próprios portugueses, aos quais tais privilégios estão também vedados. Claro que, aliás na senda da narrativa habitual, a governamental hipocrisia e o proverbial mercenarismo dos órgãos de propaganda tratam imediatamente, munidos das suas pinças “ideológicas” de respeitinho a “eles, que são 230 milhões e nós somos só 10 milhões”, de produzir o máximo de ruído possível e de “tomar medidas” — sempre com os mesmos fins, os mesmos pretextos, os mesmos destinatários.

Em Portugal, de entre todas as comunidades de imigrantes (anglófonos ou francófonos e os provenientes de Ucrânia, Rússia, Roménia ou Moldávia, por exemplo) apenas os brasileiros se recusam sistematicamente a falar e ainda mais a escrever usando a Língua nacional; pelo contrário, aliás, os brasileiros fazem absoluta questão de impor aos nacionais a sua própria linguagem e não se coíbem sequer de manifestar irritação quando algum português se “atreve” a não entender o que dizem; fazem absoluta questão de jamais tentar sequer adaptar o seu linguajar às regras gramaticais mais básicas ou de usar um vocabulário inteligível ou as expressões idiomáticas mais comuns em Portugal. Nem quando eles próprios não entendem o que diz um português usam qualquer das formulações normais e usuais (como?, desculpe?, não entendi, como diz? etc.) ; em qualquer caso utilizam por sistema a interjeição que pelos vistos no seu país é a única: “oi”?

Este aparente pormenor é apenas mais um indício do bizarro fenómeno de “preconceito linguístico” ao contrário, ou seja, a imposição a quem está do “falar” de quem chega. Do “falar” e do “escrever”, bem entendido. Neocolonialismo de sentido inverso, portanto, uma horrorosa perversão politicamente motivada que vai muito para além do mero paradoxo semântico ou idiossincrático.

Estribado na pretensa língua “universau” brasileira (via AO90), o plano de erradicação da Língua e da Cultura portuguesas compreende a táctica de vitimização sistemática como forma de pressão acrescida para “agilizar” e “simplificar” — ou seja, abreviar — o esmagamento da soberania nacional. Esta táctica vai apresentando torções e contorções cada mais imaginativas e chocantemente óbvias, incluindo a vitimização por proxy e sempre contando com o precioso auxílio do chamado coitadismo militante: brasileiros queixam-se imenso de “racismo e xenofobia” e alguns portugueses correm a “solidarizar-se” com eles, coitadinhos, que são tão perseguidos, coitadinhos, e que até não são eles mesmos racistas e xenófobos nem nada, que ideia.

E depois, como seria mais do que previsível ainda nos anos 90 do século passado, a imposição ditatorial do AO90 tem vindo a revelar-se bem mais catastrófico do que aquilo que na altura foram capazes de prever alguns especialistas em linguística, História e pedagogia. Com o tempo, fomos verificando que afinal qualquer parecer seria redundante e frívolo, mero exercício de entretenimento político (todos eram contra, todos foram arquivados, nenhum produziu qualquer efeito); aliás, nem dez vezes mais pareceres e nem mesmo caso incluíssem áreas tão imprescindíveis como a sociologia e, principalmente, a psiquiatria (o “acordo” foi o alucinado resultado de uma obsessão esquizofrénica), pois nem assim serviriam para alguma coisa os estudos de ainda mais prestigiadas autoridades intelectuais. A decisão é política, foi tomada politicamente (mas nunca assumida como tal) e “portanto” a “legitimidade” conferida por uma minoria da população “autorizou” alguns políticos a cozinhar a sua abominável negociata e a impô-la sumária e abusivamente a todos os portugueses.

Algumas das consequências do desastre cacográfico e da submissão canina a uma potência estrangeira têm-se revelado das mais variadas e igualmente imaginativas formas, principalmente aquelas que se revestem de especial ridículo.

É miserável mas não deixa de ser caricato o que vai sucedendo, por exemplo paradigmático, no assim dito “sistema de Ensino” indígena: evidentemente, visto que “eles são 230 milhões e nós somos só 10 milhões”, então há que — além de escrever como “eles” falam — “facilitar” e “agilizar” também o percurso académico “deles” (e só deles, para os alunos portugueses fica tudo na mesma), aceitando que escrevam como falam (ou como de resto lhes der na real gana). Este aparente conflito resultante da aculturação selvagem deixará de o ser de imediato, como que por milagre, com o estalar de dedos do costume — ou seja, via “orientações” internas da tutela, na secretaria da 24 de Julho, e de seguida com a consagração legal na respectiva linha de montagem, a São Bento.

Professores querem regra clara do Iave sobre variante brasileira em exames de Português para evitar desigualdades

Associação de professores vai levar tema a reunião ao conselho científico do Iave. A variante brasileira deve ser aceite em exames? Há professores que dizem que “a língua é a mesma” e quem defenda que alunos se devem adaptar, outros falam em “xenofobia linguística”. Alunos comentam: “Pode ser muito frustrante escrever na sua própria língua e ser penalizado, quando no seu país não era errado”.

 

João Rodrigues, professor na Escola Secundária Rainha Dona Amélia, em Lisboa, não corrigia exames de Português do 12.º ano havia alguns anos. Mas este ano teve que penalizar respostas escritas na variante brasileira de Português que não iam ao encontro da norma do padrão do português europeu. “É revoltante quando a expressão sintáctica está correcta [na variante brasileira] e tenho que penalizar. Revolta-me bastante porque sinto que estou a prejudicar e a discriminar os alunos”, afirma ao PÚBLICO.

Foi o que aconteceu com os estudantes cujos exames classificou, um deles poderia ter uma nota superior aos 12 valores que atribuiu: “Se não tivesse a penalização”, poderia ter chegado aos 14 ou 15, afirma. “Um falante da variante brasileira dificilmente consegue esquecer aquilo que é a sua norma, pelo que me parece muito injusto a aplicação deste critério.”

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A vitimização como arma política – 1

PROPOSTA DE LEI N.º 19/XV/1.ª
(aprovada 21.07.2022)

ALTERA O REGIME JURÍDICO DE ENTRADA, PERMANÊNCIA, SAÍDA E AFASTAMENTO DE

ESTRANGEIROS DO TERRITÓRIO NACIONAL

O Programa do XXIII Governo Constitucional assumiu como compromisso privilegiar o relacionamento com cada um dos países de língua portuguesa em África, América e Timor-Leste. O Acordo sobre a Mobilidade entre os Estados – Membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), assinado em Luanda, em 17 de Julho de 2021, e aprovado pela Resolução da Assembleia da República n.º 313/2021, de 9 de Dezembro, representa um contributo fundamental para a organização de fluxos regulares, seguros e ordenados de migrações, assim como para o combate à migração ilegal e ao tráfico de seres humanos a ela associado.

Este Acordo estabelece a base legal sobre a qual se construirá uma maior mobilidade e circulação no espaço da CPLP e constituirá um instrumento essencial para a regulação e a criação de condições para a entrada e permanência de cidadãos dos Estados-Membros da CPLP em Portugal.

Neste contexto, cabe criar as condições para a sua rápida implementação através das necessárias alterações legislativas na ordem jurídica interna.

Assim, com a presente proposta de lei, procede-se à alteração da Lei n.º 23/2007, de 4 de Julho, na sua redacção actual, que aprova o regime jurídico de entrada, permanência, saída e afastamento de estrangeiros do território nacional, a fim de se alcançarem os objectivos consagrados no Acordo e de se permitir que o mesmo possa ser aplicado a todos os Estados-Membros da CPLP, à medida que depositem os respectivos instrumentos de ratificação.

Neste âmbito, determina-se, nomeadamente, que a concessão de vistos de residência e de estada temporária a cidadãos nacionais de um Estado em que esteja em vigor o Acordo CPLP não depende de parecer prévio do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), sem prejuízo de a concessão de vistos ser comunicada ao SEF, para efeitos do exercício das suas competências em matéria de segurança interna.

Em linha com o Programa do XXIII Governo Constitucional, a presente alteração procura, ainda, estabelecer procedimentos que permitam atrair uma imigração regulada e integrada, para o desenvolvimento do País, mudar a forma como a Administração Pública se relaciona com os imigrantes e garantir condições de integração dos imigrantes, destacando-se, a implementação das seguintes medidas:
(i) criação de um título de duração limitada que permita a entrada legal de imigrantes em Portugal com o objectivo de procura de trabalho;
(ii) simplificação de procedimentos;
(iii) possibilidade de os vistos de estada temporária ou de residência terem também como finalidade a prestação de trabalho remoto, bem como o acompanhamento dos familiares habilitados com os respectivos títulos, permitindo que a família possa, de forma regular, entrar em território nacional, entre outras medidas de promoção do reagrupamento familiar; e
(iv) aumento do limite de validade de documentos.

Neste contexto, a presente proposta de lei elimina a existência de um contingente global de oportunidades de emprego a fixar pelo Conselho de Ministros, para efeitos de concessão de visto para obtenção de autorização de residência para exercício de actividade profissional subordinada.

De igual modo, passa a ser permitido o exercício de uma actividade profissional remunerada, subordinada ou independente, a todos os estudantes do ensino secundário, estagiários, voluntários e admitidos a frequentar curso dos níveis de qualificação 4 ou 5 do Quadro Nacional de Qualificações, ou cursos de formação ministrados por estabelecimentos de ensino ou de formação profissional, que sejam titulares de uma autorização de residência, complementarmente à actividade que deu origem ao visto. […]

[Actividade parlamentar – “Debates” (cacografia brasileira corrigida automaticamente; acrescentei “links” a verde)]

Por exclusão de partes

Tendo em atenção os antecedentes, torna-se de novo perfeitamente clara a relação de causa e efeito entre o súbito surto de “queixas” por “xenofobia” e as consequentes “medidas” governamentais destinadas a, conforme diz a própria titular dos serviços que despacham leis, «facilitação da passagem de vistos de residência».

Portanto, à imagem e semelhança da “mecânica” já aqui profusamente ilustrada — e mais o que a seu tempo se verá — quanto mais abundante e espectacular for o coro de lamúrias a que os media dão cobertura, mais “generoso” será o “pacote” legislativo que a carimbadela parlamentar transformará de imediato em lei. Este imutável, repetitivo, geralmente encenado e sistematicamente rapidíssimo processo de vitimização-legislação, num país em que é “normal” que uma simples Proposta de Lei fique congelada durante mais de três anos até que finalmente não obtenha resposta, é um indicador seguro do enquadramento político (logo, económico) em que se insere desde 1986 o processo de demolição linguística e cultural em curso. De facto, desde que o AO90 foi aprovado e depois transformado numa espécie de regulamento interno para funcionários públicos, em 2008, o Parlamento (português) tem vindo a sucessivamente dar cobertura às diversas “medidas” governamentais de “facilitação” e de “agilização” (ou seja, de anulação sistemática de qualquer disposição incómoda para o efeito) do processo de feroz aculturação; em todas as “votações”, nesse mesmo âmbito, os chamados representantes do povo português votam sem pestanejar — e não poucas vezes sem fazerem a menor ideia daquilo que estão a aprovar — e por regra, como sucede neste caso do acordo de morbilidade, a aprovação foi quase imediata, o processo legislativo foi despachado num mês — para surpresa da própria jornalista brasileira que entrevista a Ministro especialista em Passos Perdidos.

Duas notas finais: primeira, escusado será repetir que os “queixosos”, os que se dizem “vítimas” de “racismo” e de “xenofobia, não são angolanos, moçambicanos, guineenses, cabo-verdianos, santomenses ou timorenses; segunda, que as “razões” aduzidas pela senhora Mendes não passam de mero exercício de verborreia; a uma tão previsível colecção de chavões e expressões “consagradas pelo uso” (como previsto no acordo cacográfico) não se costuma chamar argumentação, coerência, substância, conteúdo político ou sequer honestidade intelectual.

Não. Por exclusão de partes, tal chorrilho de lugares-comuns absolutamente desprovidos de sentido é aquilo que em política — e no quotidiano, entre pessoas decentes — se designa como demagogia. Pura demagogia.

O mesmo critério de exclusão de partes deve servir para destrinçar, de entre a selecção de auto-intituladas “vítimas”, qual é a única nacionalidade que usa a vitimização como arma política. E daí porquê ou para quê.

Casos de xenofobia existem, mas Portugal precisa da imigração, diz ministra

Ana Catarina Mendes defende novos vistos de trabalho e afirma que país acompanha episódios de discriminação

Giuliana Miranda

 

​Principal nome à frente da recém-aprovada reforma da lei de Estrangeiros em Portugal, que facilitou o acesso a vistos de trabalho para brasileiros, entre outros grupos, a ministra de Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, defende que imigrantes são essenciais para a sustentabilidade econômica e demográfica do país.

Deputada pelo Partido Socialista há mais de duas décadas, ela rebate críticas da oposição de que o projeto tenha tramitado de maneira apressada — o texto foi aprovado na última quinta (21), pouco mais de um mês após seu anúncio no Conselho de Ministros, mas já constava no Orçamento desde 2020.

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Tratado de vitimização

Movimentos anti-imigração em Portugal cada vez mais organizados

Investigadora do ISCTE nega que haja um sentimento xenófobo generalizado em Portugal contra os brasileiros, mas admite que os episódios têm aumentado. Thaís França lamenta ainda que o país não discuta abertamente o racismo e a xenofobia.

DN/Lusa
11 Novembro
2023A investigadora Thaís França alertou este sábado que os movimentos anti-imigrantes existem em Portugal e estão cada vez mais organizados, aproximando-se dos congéneres europeus, embora sem um impacto social equivalente.

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Nos grupos anti-imigrantes “há uma organização muito maior, muito mais forte, há muitos mais grupos aparecendo e cada vez mais organizados, com agendas mais claras, ocupando cada vez mais espaço, não só de movimentos sociais, mas também dentro da política partidária”, avisou a investigadora do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do ISCTE.
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Financiado pela EEAGrants Portugal, o estudo de Thaís França incluiu 20 entrevistas a activistas portugueses que se apresentam como anti-imigrantes e as conclusões apontam que a agenda é semelhante a outros países europeus.

“Esses movimentos anti-imigração existem em Portugal, mas não têm tanta visibilidade quanto têm noutros contextos”, pelo que há uma tendência para se dizer que o problema não existe em Portugal, o que “é mentira”, explicou.

Segundo a investigadora “começam a aparecer algumas manifestações de discursos de ódio, principalmente online, casos que se vêem na rua, de manifestação contra migrantes”, exemplificou.

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Reconhecendo que é “tudo muito pontual”, a investigadora diz que o seu estudo mostra que essas movimentações existem “de uma forma mais submersa e estão a organizar-se”.

Até porque, salientou, há um crescimento em Portugal do “espaço para essas reivindicações anti-imigração acontecerem, apesar de, até hoje, Portugal ter tido uma política muito aberta em relação aos imigrantes”.

O afluxo de estrangeiros ao país acentua a expectativa desses grupos de uma maior visibilidade, já que dantes, com a imigração tradicional dos países lusófonos, contribuía para que o “chamado choque cultural fosse muito menos intenso do que se poderia ter visto noutros países”.

A investigadora, de origem brasileira, foi confrontada com isso nas suas entrevistas. “[Os activistas anti-imigração] diziam que o meu caso é um caso de excepção, porque estou integrada na sociedade portuguesa porque estou a trabalhar e a contribuir”, numa espécie de “discurso da boa selvagem” em relação ao outro.

Esses grupos defendem um “controlo maior da entrada” de migrantes e criticam as políticas de “diversidade cultural nas escolas”, explicou a investigadora.

Trata-se de organizações que “advogam que Portugal precisa mudar as políticas, que são muito abertas para os migrantes, comparada com os outros países europeus”, com “agendas de reivindicação” muito semelhantes a outros grupos de outros países.

Em causa está o “risco de haver uma perda da identidade portuguesa, à medida que mais imigrantes vêm e à medida que Portugal começa a adoptar outros costumes culturais que não seriam os tradicionais”, explicou Thaís França.

As conclusões do projecto, que integra estudos semelhantes realizados na Noruega, Itália, Alemanha, França e Áustria, serão apresentadas no dia 29 de Novembro.

Apesar de o discurso anti-imigrantes estar latente na sociedade, Thaís França não acredita que as próximas eleições de Março dêem eco ao tema.

O tema da anti-imigração está presente na agenda do Chega” e “tenta entrar noutros partidos”, mas a actual crise política “acontece dentro de um contexto de corrupção” e será esse o tema principal da campanha, vaticinou.

“Se tivesse sido uma saída normal do Governo, eu acreditaria que essa questão da migração apareceria com mais força na agenda, porque ela está presente na agenda dos partidos políticos também”, mas “hoje não me parece”, afirmou.

Casos contra brasileiros têm aumentado

A investigadora Thaís França considera que o aumento dos casos de xenofobia contra brasileiros mostra a maior visibilidade do tema junto de vários sectores da sociedade portuguesa.

Comentando o recente caso de um vídeo difundido online em que uma mulher portuguesa no aeroporto de Lisboa diz a uma brasileira “vá para a sua terra, estão a invadir Portugal, entre outras declarações xenófobas, Thaís França salientou que o tema está a crescer também pela visibilidade dada pelos protagonistas, embora admita que o número de casos tem aumentado.

(…)

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Capicrua

Implacável e rapidamente, a marabunta brasileirista estendeu-se a todos os graus de ensino, desde o Básico até ao Universitário. Do mesmo passo, a gigantesca máquina trituradora, pilotada por um grupinho de políticos devotos de Vera Cruz, engoliu e esmigalhou todos os órgãos de propaganda (vulgo, “media” ou OCS) do “governo gérau lócau” e contaminou vastas áreas dos sectores teoricamente privados, da indústria ao comércio, das tecnologias mais avançadas à lavoura mais primária, das Ordens e organizações profissionais às entidades não governamentais mais diversas — algumas das quais foram até criadas de raiz ou reconvertidas para colaborar na empreitada da “desportugalização”.
[Não agoirando agora]

Em qualquer dos casos, aquilo que o Ministério da tutela pretende, no âmbito das orientações político-partidárias da situação, é que o plano de erradicação da Língua Portuguesa seja cumprido sem hesitações nem percalços: primeiro, a “adoção” da transcrição fonética (check); em simultâneo, e por consequência, a transposição taxativa de um sistema de “ensino” alienígena, facilitista e promotor da ignorância (check); depois, a importação maciça de instrumentos de lavagem cerebral em massa (check) para aniquilar ab ovo qualquer veleidade de contestação ou solavanco de protesto (check); por fim, com a “revisão” do AO90, que o brasileiro, incluindo léxico, sintaxe e (ausência de) morfologia, substitua radical e definitivamente o Português; esta penúltima fase continua em curso e falta ainda a derradeira, aquela que ditará — caso em Portugal já não reste ninguém na posse das mais elementares faculdades mentais — o fim da história (e o fim da História), a solução final.
[
O Português é uma droga dura, dizem eles]

É de tal forma irritante que só lá vai com uma linguagem mais “juvenil”. Não se pode levar a sério uma garotada.

É que isto assim nem dá gozo. Seria como bater num “aleijadinho”, uma vergonha. Que diabo, os acordistas têm por lá umas quantas pessoinhas com mais do que um neurónio funcional, a gente sabe que têm, não havia necessidade de andarem agora aqueles tipos a largar por aí uns e umas idiotas com “argumentos” do mais imbecil que há. Mas afinal julgarão mesmo os brasileses que estão a lidar, além de uma massa amorfa à qual só interessa o Benfica, no que até têm alguma razão, convenhamos, com uma cambada de perfeitos cretinos, tão ou ainda mais mentecaptos do que a maioria dos seus próprios confrades brasileiristas?

Pois parece ser o caso desta senhora Capicua, valha-me Deus, salvo seja, que a não conheço felizmente de lado nenhum: burra todos os dias. Agora deu-lhe uma coisinha má, rebentou-se-lhe uma borbulha no neurónio, ou algo do género, e vá de publicar num jornal esta… coisa.

Não estando aqui em causa a dita “música” (sei lá se é, só aguentei uns heróicos 5 segundos daquele vídeo ali em baixo), bem entendido, já que a nada meiguinha adjectivação por mim alinhavada — com imenso esforço, devo confessar, até porque tive de ler aquela porcaria — se refere por inteiro ao seu dela textículo, à enxurrada de cretinices que nele regurgita e ao desespero de causa que demonstra ao tentar alinhavar umas “inverdades” de tal forma absurdas que não ocorreriam nem mesmo a alguém com mais uns dez pontinhos de QI, isto é, já perto da normalidade.

Coisa que manifestamente a ela “não a assiste”, como com todo o desplante escarrapacha em plenas fuças do incauto leitor bolçando insultos deste calibre, por exemplo:

  • «falar com sotaque de um país onde não residem»
    Ah, que giro! “Falar com sotaque” é o mesmo que “escrever com sotaque”, então? Se um aluno do Porto recomendar a alguém que “veva menos binho” pode escrever assim? E se o aluno for um “destroce” (arrumador de automóveis) deve constar “destroce” na sua carteira profissional?
  • «imposição da nossa norma» e «não vejo razão para tomá-las como erros»
    Portanto, ora então generalizemos, todo o ensino, enquanto conceito e em toda a sua amplitude, não passa de mera “imposição”. Na Matemática, prizemplos, além de 2 e 2 serem “aquilo que um homem quiser”, até uma raiz quadrada poderá perfeitamente ser a dos melões pele-de-sapo, por exemplo, que essa não vem agarrada ao pepónio, por isso a gente sabe lá bem!
  • «polémica que surgiu há um par de anos»
    “Olhe que não, olhe que não.” A “polémica” já vem, assim mais a sério, desde pelo menos 2007, quando já se adivinhava a brasileirização forçada que adviria da aprovação parlamentar do AO90, cozinhada secretamente nos “mentideros” de São Bento.

E, além destas, “há lá mais cores”. No textículo, quero dizer. É cada cavadela, cada minhoca.

Mas a burrice tem seus perigos também para o portador da maleita. Na sonora opinião desta Capicua, afinal a base, a basezinha inventada pelos arqui-tetos (gajos mamalhudos) do AO90, pura e simplesmente não existe: a norma portuguesa e a “norma” brasileira mantêm-se, não houve “unificação” de espécie alguma. O que é rigorosamente verdade, aliás, como se tem vindo a reiterar ad nauseam desde pelo menos 2008. Não deixa de ser — ainda que vagamente — gratificante o facto de esta rapariguita, “música” profissional, com a sua profunda estupidez, aparecer assim declarando, por escrito, qual pregoeira involuntária da verdade, que aquilo em que dizem fundamentar-se os tais mamalhudos não passa de uma figura de estilo mal enjorcada, além de absolutamente inútil para os fins em vista, os quais se subsumem ao ditame único: a brasileirização forçada de Portugal e, por arrastamento, das ex-colónias portuguesas em África e na Ásia (CPLB).

Resta-me manifestar o meu voto de solidariedade para com aqueles — poucos, calculo — que se derem à excruciante maçada de ler a capicuada. Quem a tal se dispuser fica de antemão sabendo que irá deparar com um verdadeiro “caso de estudo”, já que terá de estoicamente suportar uma argumentação com a solidez de uma alforreca, a consistência do óxido nitroso (gás hilariante) e, em suma, na verdade, a ancestral, porém sólida, lógica da batata.

A norma

Capicua
Música

“JN”, 23 Janeiro, 2024

Após a última crónica, recebi algumas mensagens sobre a questão dos alunos que escrevem em português do Brasil nas escolas portuguesas. Algumas professoras disseram que não se avaliam as diferenças como erro de ortografia ou sintaxe, mas que muitas colegas “ mais conservadoras” são implacáveis na crítica quando a formulação de frase ou a grafia não correspondia à norma portuguesa. Algumas pessoas escreveram a dizer que eu, como “mulher das palavras”, tinha a “obrigação” de proteger a “integridade” da língua portuguesa e que isso passaria por defender a pulso a imposição da nossa norma nas escolas nacionais. Já uma mãe brasileira escreveu queixando-se de que a questão da língua afectava a autoconfiança da filha, que sempre fora boa aluna, mas que perante a reacção de alguns professores à sua escrita nos testes (por ainda escrever em português do Brasil em algumas ocasiões), desenvolveu algumas inseguranças que prejudicam o seu aproveitamento, nomeadamente porque não escreve tanto nas respostas a perguntas de desenvolvimento, com receio de dar “erros”. (mais…)